Eu não sei onde estou !

Eu olho em volta tentando usar algum sentido de pombo correio , mas nada acontece .Eu não me lembro de ter dormido . Então como posso estar sonhando ?

Isso é um sonho . Tem que ser .

O  vento queima meus olhos e minha pele , não me dando opção a não ser abaixar a cabeça e fechar bem minhas pálpebras . Ele me empurra para frente , e é tão forte que não sei como ainda não me tirou do chão . Está chovendo . Sinto o sangue das feridas que fiz tropeçando aqui e lá arder . Eu estou mancando devido a um machucado qualquer que fiz em meu tornozelo . Meu rosto está cheio de hematomas que não faço idéia de como consegui .Tudo dói . É só o que consigo sentir. Não existe medo , não existe raiva . Só dor .

Como eu me meti numa burrada dessas ?

Eu me lembro de tudo antes ! Era simples . Eu estava em meu quarto fazendo as lições que Diego tinha deixado em casa . Ele parecia ... estranho .

- Rê ! – ele havia dito quando abri a porta para ele .- Senti sua falta !

E ele tinha me abraçado muito forte . Muito forte mesmo . Mas sua mão na estava em minha cintura , que seria o lugar certo para ela em um abraço . Ela estava um pouco mais abaixo ...

- É , senti sua falta também . – eu tinha falado , enquanto me desvencilhava de seus braços .

Ele tinha se sentado no sofá da sala , e deu um tapinha no lugar do lado dele , pedindo para eu me sentar .  

Assim que encostei no estofado ele me puxou para seu colo .

Não me leve a mal . Eu até gostava quando criança . Porque nós éramos amigos de infância . E ele sempre fazia isso. Mas agora era tão desconfortável ...

E ele não queria me largar .

- Então . – ele falava enquanto eu me retorcia – Eu achei que você tinha me trocado pelo tal de Péty ...

Congelei . Ninguém sabia o nome dele . Ninguém sabia que eu andava com ele .

Ninguém , a não ser Diego .

- Como você sabe o nome dele ? – disse rouca- E como sabe que ele andava comigo ?

Senti meu amigo enrijecer . A voz dele saiu quebrada quando tinha dito :

- Ora , todo mundo sabe ...

Senti a mentira em suas palavras .

- Não . Ninguém sabe ! Eu liguei para a Carol hoje ! Ela sequer sabe o nome de Peter !

Ele se levantou e eu cai no chão .Olhei para cima chocada . Me deparei com um Diego furioso , com uma mão perto da cintura como se fosse pegar uma espada .Ele tremia .

- Não . Diga . O . Nome . Dele . – rosnou .

- Por que não ? Peter Fintynni , Peter Fintynni, Peter Fintynni! É só um nome !

Ele me olhou com fogo nos olhos e disse:

-Seu dever está na mesa de entrada ,mas eu não devia ter trazido ... Afinal o seu querido Péty podia ter trazido , não ?

- É Peter !

Ele virou as costas e andou até a entrada .

- E repita aquele nome que você morre . – falou .

E bateu a porta com força .

Eu tinha ido para o quarto , os olhos fixos no problema de matemática indecifrável a minha frente . E lembro de ter olhado em volta com olhos sonolentos e pensar para mim mesma :

“Depois dessa , chega de tentativas de assassinato . “

E eu estava ali .

Eu ouvi algo . Uma risada ou algo assim . E então a dor aumentou .

E os sons cessaram .

E eu não via mais nada . Não ouvia . Não sentia .

Estava a deriva na escuridão .