Devaneios que se tornaram reais escrita por Bolinho de Arroz Crocante


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capitão Jack Sparrow e seus amigos, William Turner e Elizabeth Swann, se encontravam no porto do Rio de Janeiro, localizado no Novo Mundo. O trio tinha se reencontrado em Tortuga, após saberem que Davy Jones estava de volta e buscava vingança contra tudo e todos. Receberam uma informação de uma bruxa qualquer, uma informação que Jack sabia ser de origem duvidosa e por isso decidiu ignorar. Confiava, estranhamente, apenas em seu pai, capitão Edward Teague, e a última vez que ouviram notícias dele foi exatamente aqui nesse, como diria o Sparrow: fim do mundo desconhecido.

— Que terra estranha - comentou Elizabeth. - São tão… selvagens.

A amizades deles não estavam lá essas coisas, o capitão do Pérola Negra evitava um aproximação, mas adorava escutar as histórias do amigo na época que era o capitão do Holandêss Voador, hoje sendo comandado pelo seu filho. Jack deu um muxoxo fraco em concordância, contudo Swann não pareceu se importar e continuou falando com o marido.

— Seu pai não está aqui, Jack.

— Percebi - tomo toda a sua cerveja na caneca numa vez só. - O que ele poderia fazer nesse lugar mesmo?

— Precisamos ir até o Conclave, talvez ele já esteja lá.

Jack não tinha tanta certeza. Pela primeira vez, estava sentindo como se tudo fosse o fim, desde que pisou nessas terras, essa sensação estranha não o deixava em paz.

— Nós vamos vencer, Jack - afirmou Will. - Já fizemos isso uma vez, podemos fazer outra.

— Mas, sabíamos o ponto fraco do Davy Jones e onde encontrar, agora… não temos ideia de como derrotar ele.

A mesa ficou em silêncio, pois o que ele tinha dito era verdade. Os quatro sentiram o peso das palavras em seus ombros, o casal mais ainda, pois seu filho também corria o risco.

— Vamos embora, Jack - chamou o mais velho. - Não temos mais nada para fazer aqui. Tenho certeza que seu pai estará no Conclave e com uma solução.

 

>>>

— Moço!! - Uma voz infantil gritou fazendo-o parar. - Oi! É… Oi?

— Olá? - Jack perguntou desinteressado.

— Vocês estão indo para o Conclave dos Piratas? - Jack se virou para a garotinha interessado. Percebeu que a menina tinha uns dez anos, seus cabelos eram volumosos e ondulados num tom acastanhado, a cor de seus olhos combinavam, possuindo um tom de cobre e um sorriso familiar. - Pode me levar? Eu pago.

O choque passou e Jack deu uma risada, Elizabeth tentou dizer que lá não era lugar de criança e que era melhor para ela ficar em casa segura.

— Além do mais - Jack concluiu -, já temos uma mulher a bordo. Não vou levar uma outra, ainda sendo criança.

— Se você não me levar, tenho certeza que encontro outro pirata para me levar. Aí… o senhor vai perder umas boas moedas de ouro.

A criança tirou um saco de moedas e mostrou para os adultos, provando que não estava mentindo. Balançou o pacote pesado provocando o pirata com um sorriso que assustou Jack.

— Você é uma ótima negociadora, menina. O que quer lá?

— Estou pagando pela carona. O que eu vou fazer lá ou deixar de fazer não é problema de vocês - Rápida na resposta deixou os três adultos espantados, ainda mais levando a idade dela. - Preciso encontrar meu tutor, Zhang. 

Will e Elizabeth trocaram um olhar pensando se deviam convencer Jack, ao mesmo tempo que o capitão tentava se lembrar de onde aquele sorriso era familiar, um arrepio tomou conta do seu corpo ao perceber quem dava aquele sorriso orgulhoso e só piorou ao saber o nome dela.

— Perdão, nem me apresentei. Sou Luna.

 

 

— Jack? - Angélica chamou pelo pirata, que apenas respondeu com uma palavra uníssona. - Você já se imaginou em outra vida sem ser pirata?

— Por que imaginar isso? 

O homem puxou a mulher para mais perto e passou a fazer um cafuné em seus cabelos, mas Angélica se apoiou no cotovelo para encarar o moreno.

— Imaginar não muda nada, querido. Às vezes você deve se permitir devanear. É assim que sobrevivemos, imaginando outras vidas, outras escolhas, futuros que não teremos. Ser realista é um passo para se tornar louco, e eu me recuso a isso. Sobrevivemos fantasiados. Sem ela, toda a humanidade está condenada.

Jack escutou cada palavra da namorada com atenção enquanto mexia numa mecha de cabelo dela. Sorriu apaixonado e concordou, afinal que mal faria imaginar uma outra vida?

— Tudo bem. Nunca fiz isso, então vai ter que me ajudar.

— Claro que já fez, só não percebeu. Imagina, por exemplo… algo bem extremo. Algo que sabemos que não vai acontecer. Tipo… que temos uma filha.

— Você está grávida? Alguém veio falar que eu tenho uma filha? - Jack se levantou da cama se encostando na cabeceira. - Eu não tenho nenhum filho, muito menos uma filha.

— Calma, Jack. Não é nada disso - sorriu. - Estamos imaginando só, é para isso que serve a brincadeira. Imaginar algo impossível. Imagino que você seria um pai babão se tivesse uma filha. Ou tem algo diferente que você queira imaginar?

— Você tem certeza que não está grávida?

— Não, Jack! - deu um tapa em seu peito. - Eu não quero ser mãe. Então, não se preocupe que eu não tenho a menor intenção de engravidar. Muito menos de você. Não esqueço que você logo irá partir e uma gravidez só vai me atrapalhar de encontrar meu pai.

Jack notou na sua voz adolescente um pingo de esperança misturado na dura realidade que aquilo não passava de um devaneio e que o pirata jamais ficaria com ela. Ele sempre deixou claro, que um dia iria embora, e apesar disso sabia que partiria seu coração, mesmo Angélica dizendo que não.

 

— Luna!! - um garotinho da mesma idade veio correndo em sua direção e tirou o homem de seus devaneios.

Parou ao lado dela cansado com a mão nos joelhos tentando controlar a respiração. O menino é uns dois ou três centímetros maior que ela, possuía cabelos negros e olhos azuis limpidos. 

— Tudo bem, irmão? - ele assentiu. - Na verdade, são duas passagens, uma para mim e outra para meu irmão Edward.

Jack teve um choque e se virou para o mar, deixando a mente vagar através do oceano. Subiu para o convés do seu navio sem falar nada, o que deixou os amigos preocupados.

Era muita coincidência. Não podia ser real. Pensava, afinal, ele se lembrava muito bem da última vez que teve com a Angélica e não foi em busca da fonte da juventude. Mas, estava tão óbvio. Parecia ser tão certo…

 

— Eu não seria um pai de menina babão - decidiu voltar para o assunto, para fugir de outro.

— Seria sim. Você a mimaria de todo jeito, não deixaria nenhum menino chegar perto dela, mataria quem a fizesse chorar. E principalmente, não a abandonaria.

— Por que diz isso?

— Você não seria como nossos pais - Angélica deitou em seu peito. - Tenho certeza que seria um ótimo pai, porque não desejaria o mesmo para ela.

Jack concordou em silêncio, percebeu que tudo o que ela falou era verdade. Ele não tinha percebido tudo isso até ela colocar as palavras que sua consciência não conseguia formar para fora. Era por isso, que não desejava ter filhos. Não queria que eles vivessem a sua vida de pirata. Contudo… não tinha certeza se seria esse bom pai que ambos imaginavam. Mas, a brincadeira era essa, não? Imaginar.

— Como ela se chamaria? - sem perceber se afundou ainda mais no devaneio.

— Luna! - responderam juntos, após alguns segundos pensando.

Ambos sorriram com a coincidência, chamariam a filha deles de Luna. Jack sempre amou a lua, sua fase preferida era a lua minguante, então achou justo colocar o nome da menina de Luna. Angelica, apenas achava o nome bonito.

— Ela seria como você - começou a descrever. - Lembraria você em tudo, Jack. Cabelos castanhos e a cor dos olhos iguais aos seus. Também teria seu jeito, seria amigável, gentil, impulsiva, que adora se envolver numa confusão e inexplicavelmente sempre se safa… Não pareceria em nada comigo.

— Teria sua força e determinação, sendo fria em situações quando necessária. E, é claro, seu sorriso - Angélica não gostou do início, mas sorriu ao final. - Esse sorriso.

— Mas, você seria o preferido dela. Qualquer coisa que acontecesse ela correria para seus braços, porque a mamãe seria brava demais.

Jack beijou a mulher, que se deixou levar pelo momento. O que surpreendeu foi ele ter continuado com o futuro inventado.

 

— Jack? Está tudo bem? - Gibbs pergunta ao ver o estado do chefe.

As crianças se encaram surpresas ao saberem o nome dele.

— Jack? Por favor, não seja Jack Sparrow - murmurou o menino.

— Sim - respondeu o amigo que escutou o murmuro. - E vocês estão no Pérola Negra.

— Luna, deixa eu falar com você a sós - o irmão puxou-a para se afastar, ambos mexidos demais com a descoberta.

— Luna e Edward - Jack murmurou.

Gibbs, que observava os gêmeos, tentava entender quem o garotinho lembrava e o nome ajudou-o.

— Edward? Jack… sabe quem aquele garoto me lembra? E não só por causa do nome.

— Edward Teach.

— O Capitão Barba Negra? - Will quis saber, afinal ele não conhecia o temido pirata.

Jack encarava as crianças conversando que às vezes dava uma olhada pelo canto do olho. E Gibbs sentiu um calafrio estranho por ter, talvez, um Teach a bordo.

 

— E se fosse menino?

— Quer continuar com isso? - perguntou surpresa.

— É legal. Se a menina vai parecer comigo, acho justo o menino parecer com você.

— Talvez. Acho que ele herdaria os olhos do avô. Cabelos pretos e olhos azuis. Um verdadeiro príncipe.

— Arrasaria o coração das mulheres como o pai - Jack levou um tapa da namorada. - Todas as mulheres iriam adorar ter nosso filho, mas ele seria como você: Bravo, fechado, e nada amigável. Seria inteligente, calmo, honrado, íntegro e maduro. Te protegeria de tudo, seria Deus no céu e você na terra.

— Concordo. Seria protetor com a irmã também. E apesar disso, no fundo tem um bom coração, tendo sua humanidade.

— Seriam as cópias perfeitas de nós - completou Jack e Angélica concordou.

— E o nome?

— Hummm - a morena apoia o queixo em seu peito divagando. - Seu pai se chama Edward, não? Meu pai também. Acho que seria legal homenageá-los, apesar de não serem lá pais exemplares.

— Luna e Edward. Não é ruim. Gostei da nossa família imaginária.

— Luna e Edward - Repetiu o pirata.

— Felizmente, vai ficar só na imaginação - Angélica se levanta vestindo um robe. - Eu nunca serei mãe e você nunca será um pai… pelo menos que você saiba.

A futura pirata deu uma risada debochada, contudo Jack percebeu que talvez ambos tenham se envolvido demais no devaneio e uma pequena parte deles desejavam essa família. Jack puxou a namorada de volta para a cama distribuindo alguns beijos em seu pescoço e arrancou risinhos dela.

 

— Então… capitão Sparrow - Edward falou. - Não queremos mais incomodar o senhor, obrigado por seu tempo. Vem, Luna.

Os gêmeos deram meia volta e estavam quase descendo, quando Jack os impediu.

— Esperem! E-eu levo vocês.

Luna e Edward se entreolharam com culpa. Edward sabia que era uma péssima ideia ir junto com o pai numa viagem, a mãe deles com certeza não acharia legal. Mas, afinal, que escolha eles têm? Angélica fora sequestrada por sabe-se lá quem, Teague sumiu e o responsável pela proteção deles também desapareceu.

— Edward, é a nossa melhor opção. A gente só tem 10 anos e estamos sem o Kauan. Pelo menos… você sabe… é nossa melhor opção.

— Melhor não é, mas é a única viável - Edward pegou o saco de moedas e se aproximou do mais velho onde estendeu o pagamento. - Aqui, capitão! Receberá a outra metade ao chegarmos em segurança no Conclave. Tudo o que eu peço é que minha irmã possa ficar na cabine longe dos outros marujos.

— Não precisa pagar - a resposta pegou todos de surpresa, mesmo com a insistência do pequeno Jack rejeitou. - Os dois podem dormir na minha cabine.

— Obrigado, capitão!

— Obrigada! - Luna deu o mesmo sorriso que Angélica.

— Vai ser legal ter mais uma mulher nesse navio - Elizabeth se aproxima com Will. - Sou Elizabeth, e esse é meu marido, Will.

— Tudo bom? - estendeu a mão para o garoto que ignorou, levando um peteleco da irmã para ele ser mais agradável. Sparrow percebia cada vez mais que aquele garoto era um Teach, conseguia imaginar Angélica tendo a mesma reação.

 

 

Jack saiu para o timão acompanhado de Gibbs que percebeu que havia algo estranho. Os gêmeos pediram algumas horas para poderem avisar a tia da partida e pegar algumas coisas em casa.

— Jack… aquelas crianças… Jack! Ele é a cópia do Barba Negra… o jeito dele é o Teach puro. O jeito como ele te olha. Você vai trazer a bordo o filho do seu inimigo, irmão de você sabe quem. Jack!

— Eles são só crianças. 

— Você está preocupado com duas crianças, Gibbs? - Will pergunta. - Você enfrentou piratas mortos, Davy Jones e Salazar e está com medo de duas crianças?

— Não são crianças qualquer. Podem ser filhos do barba negra… 

— E?

— E que o Jack não tem uma relação amigável com os Teach.

— São crianças, Gibbs - Swann falou. - Não é como se eles fossem tentar algo contra o Jack no navio.

— E outra - Jack se pronuncia. - Se eles fossem um Teach, tenho certeza que Zhang não seria tutor deles. Os lordes piratas odeiam mais que tudo qualquer coisa do Barba Negra.

— Espera! - Gibbs diz de repente quando sozinho. - Dez anos? Dez anos…


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