Ela estava linda.

Realmente linda.

O longo vestido branco a fazia parecer etérea.

Os longos cachos esverdeados estavam presos em um coque.

Olhos verdes, aqueles olhos esverdeados e gentis brilhavam de uma forma que ele nunca havia visto, continuavam olhando para frente.

As bochechas com sardas estavam coradas.

E o sorriso, o sorriso repleto de amor não dava sinais de que desaparecia tão cedo.

Mas tudo aquilo não lhe pertencia. Todo o amor que emanava de Midoriya Izuku não era dele.

"Izuku." Suave. A voz de Todoroki era suave, um tom de voz que ele usava apenas para chamar o nome da mulher de cabelos verdes. Olhos heterocromáticos estavam fixos nela como se ela fosse o sol, admirando cada detalhe e gravando-os em sua mente e coração.

Todoroki estendeu a mão.

"Shouchan." Amoroso. A voz de Izuku estava transbordando de felicidade quando ela disse o apelido do homem, um nome que apenas ela tinha permissão para usar, porque era algo especial para eles.

"Sejam felizes." All Might, o herói aposentado e mentor de Izuku, era quem a conduzia em direção ao altar, como um pai, e a entregava a Todoroki.

Midoriya aceitou a mão de Todoroki.

Eles sorriram um para o outro, enquanto o homem de cabelos divididos meio a meio entre vermelho e branco ajudava Izuku a subir os últimos degraus para ficar ao seu lado.

O sorriso de Deku estava realmente radiante.

Katsuki não pôde deixar de se perguntar do lugar em que estava sentado...e se…

…

Durante o segundo ano deles na U.A., algumas semanas depois que a guerra terminou, quando apenas ele e Deku estavam deitados naquele quarto de hospital privado...uma simples frase poderia ter mudado tudo.

"Kacchan, eu te amo." Deku confessou naquele dia.

Ele lembra de seu coração, aquele que Edgeshot concertou com o custo de sua própria vida, enlouquecendo. Seu coração disparou, e sua mente ficou em branco com apenas aquelas três malditas palavras.

Eles ficaram em silêncio por um segundo, olhos verdes fitando os olhos vermelhos, esperando pacientemente por uma reação e talvez uma resposta.

"Eu..."

Talvez ele tenha entrado em pânico, ou talvez simplesmente não estivesse pronto para confrontar seus próprios sentimentos, de qualquer forma, ele disse algo e nunca corrigiu.

"...não te amo."

Ele respondeu tão baixo que não tinha certeza se a garota o ouviu, mas quando um sorriso forçado, um que nunca combinou com Deku, apareceu em seus lábios e uma lágrima solitária rolou pelo seu rosto, Katsuki soube que sua resposta foi ouvida clara e nitidamente, como se ele a tivesse gritado.

Ela riu, como se estivesse envergonhada, uma mão brincando com as pontas de seu cabelo.

"O-obrigada por sua sinceridade, Kacchan."

Ele não havia sido sincero.

"Eu...eu só queria...dizer em voz alta e ter certeza de que eu..." Ela fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas para se expressar. "...quando eu te vi...caído durante a guerra, pensei que era o fim, que nunca seria capaz de dizer essas palavras. Então...como eu tive outra chance, decidi viver sem arrependimentos, não importa se dói ou não, eu só queria te dizer como eu me sinto."

Ele era um covarde e viveria com arrependimento.

"Espero que...ainda possamos ser...amigos, Kacchan."

"Sim... claro."

…

Agora quando ele relembra aqueles dias, agora que é mais velho e mais sábio, Katsuki pode dizer que não foi pânico ou sentimentos confusos. Seu estúpido eu de 17 anos ainda era muito orgulhoso e idiota para admitir que tinha sentimentos por sua amiga de infância, que virou sua vítima de bullying, mais tarde rival e por fim amiga novamente.

Para seu orgulhoso e idiota eu de 17 anos, amar alguém, amar Deku, era inaceitável, porque...quando ele havia se tornado tão fraco a ponto de se apaixonar por... Deku?

Sim, ele era realmente um imbecil. Mesmo depois de seu grande discurso para trazer Deku de volta para a U.A., uma parte dele ainda estava presa ao passado. Ele precisava de um pouco mais de tempo para se acostumar com isso e aceitar.

Mas Deku confessou, ele a rejeitou, e o tempo passou sem que ele corrigisse suas palavras.

E então...ela seguiu em frente, porque não tinha arrependimentos. E Katsuki? Ele tinha um.

Todoroki estava ao lado de Izuku naquela época. Ele recolheu cada pedaço do coração quebrado de Izuku e os colocou juntos novamente. Seu coração tinha uma nova cicatriz, mas Todoroki não era alguém que se importava com cicatrizes.

Algumas cicatrizes desaparecem com o tempo, cicatrizes no coração desaparecem quando alguém está disposto a cuidar delas. Todoroki tinha amor suficiente para curá-la e nunca teve medo de mostrar seus afetos por Deku.

É por isso que ele está lá em cima. Katsuki pensou amargamente. Não o entendam mal, ele estava feliz pelo casal, eles eram dois de seus amigos mais próximos. Ele apenas estava amargurado e irritado consigo mesmo.

E se...

Essas palavras doíam.

Elas doíam porque abriam espaço para diferentes caminhos.

Elas doíam porque abriam espaço para diferentes resultados.

Elas doíam porque…

…

"Eu te amo também.” Ele disse, com os lábios se curvando em um pequeno sorriso.

Deku sorriu, um sorriso que estava radiante, mesmo com lágrimas, lágrimas felizes, escorrendo de seus olhos verdes.

…

Elas doíam porque abriam espaço para futuros diferentes que você pode imaginar, mas não pode ter.

…

"Deku-channn..."

Ele revirou os olhos quando Uraraka, que estava sentada ao lado dele, começou a chorar durante os votos de casamento e agarrou seu braço.

"Vaza, Uraraka!" Ele sussurrou agressivamente, tentando soltar seu braço do aperto da mulher. Desde quando ela havia ficado tão forte?

"Mas estou tão feliz por ela e pelo Todoroki-kun!" A morena continuou, sem se importar com o olhar furioso de Katsuki.

"Tá, tá, tanto faz! Só diga isso a ela mais tarde e solta meu braço, porra!"

Não importava o quanto ele insistisse, Uraraka não estava ouvindo suas palavras, ocupada demais chorando pela melhor amiga que agora era uma mulher casada.

Katsuki bufou e desistiu, decidindo apenas assistir ao casamento de Deku e Todoroki se desenrolar.

Não valia a pena pensar nos 'e se', ele estava mais do que atrasado. Ele deveria seguir em frente, assim como Deku fez.

O casal trocou alianças e se beijou, as pessoas começaram a gritar, assobiar e aplaudir. Midoriya Inko estava chorando tanto que sua própria mãe, Bakugou Mitsuki, e a mãe de Shouto, Todoroki Rei, tiveram que ir acalmá-la.

Entre tentar libertar seu braço de uma Uraraka que continuava chorando e olhar ao redor da igreja, seus olhos vermelhos encontraram os verdes de Izuku.

Ela sorriu para ele, e por um segundo Katsuki parou de respirar.

Deku estava sorrindo para ele, um sorriso bonito e brilhante como sempre.

Obrigado por vir, Kacchan. Foi isso que ele captou daquele sorriso.

Bem, dane-se os 'e se'. Enquanto Izuku pudesse sorrir assim, qualquer resultado estava ótimo.

Ele realmente não era do tipo que sorria sinceramente, era mais do tipo que dava um sorriso irônico, mas não havia como ele não sorrir naquele momento.

Seja feliz, Deku.

Ele esperava que a mensagem na forma de um sorriso tivesse alcançado ela.