Um segredo obscuro - Dramione escrita por Aline Lupin


Capítulo 14
Capítulo 15




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Uma música tocava no carro. Hermione não conseguia distinguir o que era, pois o som estava baixo, quase um chiado. George permanecia estranhamente silencioso, desde que ela entrara no carro, com sua ajuda.

— Obrigada por vir me buscar – ela agradeceu.

— Sempre que precisar – ele disse, em um tom amigável, sem olhá-la – Eu nem posso acreditar que você recorreu ao Malfoy. Ele disse alguma coisa?

— Ah, nada demais – ela desconversou. Não queria lembrar do aviso dele. Parecia tão tolo. Ele apenas queria assustá-la. Talvez, fosse sua forma de manipulá-la. De fato, ele parecia obcecado por ela, o que demonstrava que não deveria confiar em suas palavras – Ele foi até que gentil – reconheceu.

— Sei – O tom zombador de George não passou despercebido por ela – Esse é jogo dele, na verdade. Ele se mostra muito educado e gentil, para depois fazer mal as mulheres que se envolvem com ele.

— O que quer dizer com isso? – perguntou ela, curiosa.

Lembrou-se instantaneamente do beijo que trocaram. A forma como ele a machucou, mordendo seus lábios. Sentiu um frisson estranho percorrer seu corpo. Um sentimento estranho e nada bem-vindo.

— Hermione, isso é estranho de falar com você – George disse, fazendo a curva, se afastando cada vez mais das montanhas e da mansão dos Malfoy – Mas, acho que deva saber. Afinal, ele não se importou com você sem um motivo.

— Ah, não? – indagou ela.

— Não – George negou com a cabeça, olhando-a de soslaio – Ele sempre a achou bonita – ela negou com a cabeça, franzindo o cenho – É verdade. Lembra no baile de inverno? O último que passamos juntos?

Ela sentiu o estomago embrulhar. Aquele dia fora horrível. Fora no mesmo dia em que Parkinson cortou seu vestido. Seu melhor vestido.

— Eu o peguei falando de você no banheiro, para os amigos dele – George continuou, alheio ao que Hermione sentia, ao se lembrar daquele evento – Ele a queria, Hermione. É isso que posso lhe dizer. Se eu continuar a falar sobre isso, não vai ser bom. Tenho vontade de estrangulá-lo – Enquanto falava, ele apertara o volante com força, até seus dedos ficarem esbranquiçados.

Hermione sentiu medo do lado violento de George. Ele não parecia estar brincando quando dissera que queria realmente fazer mal a Draco. De repente, o som do carro aumentara, assustando aos dois. George freou bruscamente, fazendo o carro deslizar na pista, quase ir adentro em um barranco. Não poderia estar acontecendo de novo, pensou ela. Não poderia ser mais um acidente. Mas, não acontecera nada, quando abriu os olhos, que havia fechado com força. George respirava profusamente, ainda segurando o volante com força, olhando para frente, onde havia uma floresta de pinheiros. Um clique veio a mente de Hermione, lembrando-se do que Draco dissera, sobre a morte de Harry ter sido ali.

— Você está bem? – perguntou Hermione, olhando para George.

Ele virou o rosto. Estava branco feito cera e o suor era visível em sua testa.

— Sim...eu...- ele olhou para o rádio, que agora estava estranhamente silencioso – Não sei o que está acontecendo com esse rádio ultimamente.

Ela teria dito que isso acontecera consigo, uma semana atrás que fora um dos motivos para ela ter batido o carro, mas simplesmente não disse. Permaneceu calada. Poderia ter sido uma alucinação. Contudo, ao olhar para frente novamente, viu Fred parado, ao lado de uma árvore, apontado com seu dedo indicador, para dentro da floresta. Hermione fechou os olhos, repetindo consigo mesma que ele não era real. Não poderia ser. O toque de uma mão em seu ombro a fez se sobressaltar.

— Ei, desculpe – George pediu, fitando-a com preocupação – Você está bem? Quem não é real?

— Fred...eu...- ela tentou dizer, olhando para frente mais uma vez. Mas, não havia nada lá.

Quando olhou mais uma vez para George percebeu que a expressão dele se tornara fechada. Aquele assunto não parecia ser do seu agrado.

— Eu sinto muito. Eu acho que estou tendo alucinações – ela tentou se justificar – Eu tenho visto Fred, como se ele ainda estivesse vivo.

George anuiu com a cabeça, evitando seu olhar.

— Deve ter sido o trauma, por tê-lo visto naquela casa – George disse, passando a mão pelos cabelos ruivos.

— Como sabe disso? – indagou ela.

— O xerife disse – George respondeu, dando de ombros – Fred era muito íntimo de você. Ele lhe disse alguma coisa? Eu nunca tive a oportunidade de conversar com você, depois de tudo...bom...

— Não, ele não me disse nada sobre o que estaria acontecendo com ele – ela omitiu. Sabia parte da verdade. Somente não esperava que isso o destruísse tanto – Simplesmente parecia bem, quando vinha me visitar. Não estava tão próxima em sua vida. Ele não permitia isso.

— Claro – George disse – Bom, vou tirar o carro daqui.

Contudo, ao dar partida com a chave na ignição, o carro não ligava. Simplesmente morria a cada vez que George tentava fazê-lo funcionar.

— Mas, que droga! – ele disse, frustrando, batendo a mão contra o volante.

— Ei, está tudo bem. Podemos ligar para um guincho – ela tentou acalmá-lo.

— Nem tudo pode ser resolvido, Hermione – ele a fitou com raiva, então sua expressão se alterou, para culpa – Eu sinto muito. Eu não deveria descontar em você minhas frustrações.

— Está tudo bem – Mas, não estava. Ela se sentia estranhamente assustada. Nunca viu um lado tão agressivo dele – Eu...que tal ligarmos para o guincho? Eu faço isso.

— Ok – George concordou.

Ela fez a ligação, enquanto olhava pelo para-brisa. A visão da extensa floresta era algo q ue nunca contemplou com tanta atenção. Na verdade, nunca dera atenção àquela cidade. Morara anos ali, para se sentir uma forasteira. Nunca sentiu que esteve em casa ali. Pensou na visão que teve de Fred. Poderia ser uma alucinação, mas ela queria investigar. Depois que conseguiu pedir que o guincho os encontrasse ali na estrada, o que demoraria pelo menos trinta minutos, ela resolveu que iria sair do carro e percorrer o terreno.

— George, será que você consegue me levar para fora?

— Sim, por quê? – ele perguntou, surpreso pelo pedido inusitado.

— Eu quero ver uma coisa, ali – apontou com o dedo indicador em direção a floresta.

Ele a fitou com estranhamento.

— O que tem ali? – indagou.

— Você nunca me contou que Harry morreu – ela mudou de assunto – Nem Fred.

O semblante dele se alterou. Ele ficou pálido de repente. Parecia nervoso.

— Eu não tinha contato realmente com você, Hermione. E é estranho Fred nunca ter dito a você nada. Apesar de que foi há pouco tempo – ele se justificou.

— Claro – ela aceitou sua resposta, afinal, não era amigos, como ela era de Fred – Por isso, quero ir lá. Malfoy disse que ele morrera nessa floresta – Era o que deduzia, na verdade.

— Eu acho seu pedido um tanto mórbido. Mas, vou com você.

George a ajudou a descer do carro e ela se apoiou nele, para descer o terreno íngreme. Escorregou algumas vezes, mas foi amparado por ele. O rapaz estava silencioso, como se estar ali fosse um martírio para si. Hermione apenas andou a esmo, por entre as arvores de pinheiro, sem saber onde procurar. Então, encontraram uma clareira, rodeada por árvores. Havia uma fita amarela, demarcando o local. Entre uma árvore e outra.

— Ali – ela apontou.

George a ajudou a chegar até lá. Ela fitou o chão de terra. Não viu qualquer vestígio. Nada. Talvez, a chuva tivesse varrido qualquer vestígio de sangue e de que Harry de fato morrera ali.

— Pronto, está satisfeita? – George perguntou, bruscamente.

— Estou. Mas, por que está tão irritado? – indagou ela.

Ele evitava olhá-la, enquanto ela o encarava sem entender o motivo para a mudança súbita de humor. Entretanto, deveria perceber que a morte de uma pessoa conhecida não parecia ser algo agradável.

— Eu não sei por que você está tão curiosa com isso – ele respondeu, dessa vez, a fitando com raiva – Parece que está se divertindo com essa situação. E não entendo o motivo para ainda estar aqui.

As suas palavras vieram com força, quase um soco, deixando-a atordoada. A dor veio em seguida, fazendo com que seus olhos ardessem. Ela não iria chorar na frente dele. Não. Por que seria tão fraca a ponto de chorar?

— Eu não tenho escolha – ela rebateu, se afastando dele um pouco. Se equilibrou na perna que não estava quebrada e agradeceu por não ter caído ao se afastar dele – Eu não queria ficar, se você quer saber. Eu odeio esse lugar.

George negou com a cabeça, ainda irado e então, passou as mãos pelos cabelos ruivos e espetados.

— Pois, você parece querer se meter em coisas que não entende, Hermione. Deveria apenas ir para casa – ele disse, em um tom sombrio.

— O que quer dizer? – ela perguntou, sentindo o coração opresso de repente. Parecia havia mudado sua atitude com ela de forma intempestiva, como se sua presença fosse incomodo.

— É o que já disse, Hermione – George retrucou.

O telefone em seu bolso começou a tocar. Ela puxou o celular, para ver o número do guincho. Eles já estavam ali.

— Vamos...vamos voltar. O guincho já chegou.

George anuiu com a cabeça, ainda parecendo incomodado. Hermione começou a caminhar de forma claudicante e ele veio em seu auxílio.

— Eu sinto muito – ela pediu – Não queria aborrecê-lo.

— Eu não quero mais tocar nesse assunto, Hermione – exigiu ele.

Ela anuiu, sentindo o peito arder. Nunca o virá tão temperamental e furioso. Quando chegaram perto do carro, o rapaz que veio buscar o carro fora uma ótima distração. Ele rebocou o carro, enquanto Hermione e George iam dentro do caminhão, que tinha espaço para três. A viagem fora silenciosa e finalmente, sem empecilhos. Contudo, Hermione não conseguia deixar de pensar no humor cáustico de George. E que talvez, ele estivesse escondendo algo dela.

 

**

— Hermione querida – Molly a recebeu, abraçando-a com força, na porta da frente.

George a deixou na casa de Molly, sem dizer nada, enquanto ia com o guincho, até a oficina. O carro simplesmente não funcionava, o que era um problema para ele.

— Oi Molly – Hermione disse, um tanto constrangida, ao seu afastar de seus braços – Sinto muito por vir assim.

George havia decidido que a deixaria com Molly, para depois levá-la a pensão. Decidiu tudo de forma rápida e sem consultá-la. Contudo, ela não poderia reclamar. Ficaria um pouco e pediria um táxi. Talvez, devesse começar a parar de pedir ajuda, pois ao que parecia, estava sendo um peso para as pessoas que recorrera. E depois da forma com George a tratara, não era melhor contar com ele.

— Ah, querida, eu não me importo – Molly disse, puxando a mala de rodinha de Hermione para a entrada da casa de dois andares – Venha, eu vou te ajudar com isso. Eu vou preparar um quarto para você. Tenho um aqui no andar de baixo. Vai ser perfeito.

Hermione não a contrariou, dizendo que não ficaria. Não queria magoá-la. Mais tarde, poderia dizer isso. Mas, por enquanto, estava gostando de ser bem tratada e ter a presença maternal de Molly.

Molly a ajudou a se instalar em um quarto pequeno, com janela para seu pequeno jardim de roseiras. A cama era de solteiro e havia uma cômoda. Era minúsculo, se fosse ser sincera. Mas, não pretendia ficar ali. Iria pedir um táxi e sair da cidade.

Sentou-se na cama pensativa, quando Molly a deixou, dizendo que iria preparar o almoço para as duas. Estava se sentindo uma pessoa péssima. Talvez, uma parasita, por estar ali mais uma vez, mendigando ajuda, quando nunca tentou conversar com aquelas pessoas que fizeram parte da sua vida por muito tempo. Era uma pessoa horrível por fazer isso. Mergulhada em autopiedade, não percebeu que a porta estava entreaberta.

— O que você faz aqui? – a voz de Gina a tirou dos seus devaneios.

Ela engoliu a seco, vendo sua melhor amiga. Aquela que um dia jurou proteger e que nunca a abandonaria. A mesma que a fitava com misto de raiva e desprezo.

— Eu já estou de saída – Hermione disse, com a garganta dolorida. Não gostava da forma como Gina a olhava. Ela tinha suas razões, mas parecia desprezá-la de maneira profunda.

— É melhor ir – Gina disse, em tom cortante – Ninguém a quer aqui. E você já deveria saber disso.

— O que está insinuando? – Hermione se colocou de pé, começando a se irritar com o tom duro de Gina.

A ruiva a encarou com um ar repleto de desdém. O que havia acontecido com ela, enquanto estivera fora? Por que Gina mudou tanto?

— Eu sei muito bem o que tem acontecido com você. Recebeu diversos avisos e parece não entender.

Hermione cruzou os braços, sentindo que aquela conversa continha mais do que Gina queria dizer. Havia algo no ar. Algo que ela não conseguia captar.

— Foi você que sabotou meu carro? – ela atacou, sem pensar.

Gina deu de ombros, sem morder a isca. E talvez, realmente não fosse ela. Com certeza, ela já deveria saber dos boatos e o que houve consigo.

— Um acidente deveria tê-la feito perceber que você não deveria estar aqui – Gina disse em tom sombrio.

— Então, você admite que tem relação com meu acidente? – Hermione insistiu, tremula. Não poderia acreditar nisso. Não poderia acreditar que aquela garota, a mesma que um dia dividiu segredos, poderia tentar matá-la.

— Eu não sei do que está falando. Apenas quero que vá embora. Depois de tudo que fez, deveria saber que não é bem-vinda – Gina replicou – Não tente bancar a boazinha com minha mãe. Ela não percebe a pessoa que você é. Interesseira.

Hermione engoliu a seco, respirando profusamente. Tremia tanto, que não conseguia pensar direito. As acusações feitas de forma tão cruel feriam como faca. Contudo, ela não estava tão errada sobre sua pessoa. Apenas não esperava ouvir isso de Gina.

— O que está acontecendo aqui? – escutou a voz de Molly do corredor.

— Nada, mãe – Gina respondeu, mudando sua fisionomia. Era como se não estivesse mais irritada. Parecia calma e plácida.

Hermione a fitou conversar com sua mãe de forma tão tranquila, que quase não acreditou no que estava presenciando. Era como se Gina nunca tivesse perdido a calma. Como se nunca a tivesse a atacado. O seu olhar, ao deixar o quarto, no entanto, não passou despercebido por Hermione. Era algo que nunca iria esquecer. Aquela mulher realmente a odiava. Mas, por quê?

— Sei que Gina está chateada com você, querida – Molly disse, se aproximando do batente da porta, com um olhar triste – Ela passou anos remoendo isso. Posso perceber o quanto sua partida a abalou.

— Eu sinto muito – Hermione somente conseguia dizer isso, porque não havia mais o que ser dito.

As palavras de Gina ainda ecoavam, enquanto ela foi deixada sozinha no quarto. O remorso calara fundo, mas a forma como fora tratada por Gina, a fazia pensar se ela teria alguma relação com seu acidente. Balançou a cabeça, rindo do próprio absurdo disso. Gina não faria mal a ninguém. Estava apenas magoada com Hermione. E infelizmente, ela nunca poderia reparar o que fez, ao sumir de sua vida.


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