Uma Queda Inesquecível escrita por Pandinhakk


Capítulo 7
Capítulo sete




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Quando abri meus olhos, pensei que estaria em Paris novamente, no saguão do hotel que estava hospedada, ou talvez no meu quarto.

Porém, o mundo todo estava branco, como se uma neblina intensa tivesse o atingido, entretanto, não tinha cheiro ou ardia meus olhos.

Era como se isso fosse algo do além, algo que estava tentando me impedir de passar para o meu mundo.

Talvez esse lugar soubesse que não queria ter feito aquilo, apenas queria me despedir da minha família e voltar, talvez até trazê-los comigo.

Mas Dumbledore acabou com as minhas esperanças, já que ele só me deu uma opção e não dava para fugir com tantos bruxos ali.

Aquele filho da puta me pegou de jeito, que desgraçado manipulador!

Ah, se não tivesse acionado o vira-tempo...

Toquei meu pescoço e ele continuava ali, inteiro.

— Ainda bem. - Dei batidinhas nele, tentando me acalmar. _ Tem alguém aí? - Devo parar de assistir filmes de terror.

Porque só pessoas idiotas perguntavam essa frase quando estavam em um lugar desconhecido e sem possibilidade de enxergar o próprio pé.

Claro, não é como se o Jason fosse aparecer com seu facão ou o Jigsaw fosse aparecer com aquele gravador e dizer: I want to play a game?

Realmente preciso parar de assistir esses...

A névoa dissipou-se, forçando-me a dar um passo para atrás, apenas para ser confrontado por uma vastidão de telas gigantes que surgiram, quase me esmagando com as imagens que saiam.

Algumas permaneciam em preto e branco, congeladas como frames tentando reproduzir em uma internet de merda, enquanto outras eram tão vívidas que me causavam arrepios.

Aproximei-me de uma das telas e a toquei, fazendo que o som saísse da imagem sorridente do Tom, mas ele não estava comigo... Não eram as minhas lembranças e sim, de outras realidades.

"Coelhinha, não faça isso comigo, sabe que a amo, não sabe?"

Tirei minha mão dali, tentando processar o que havia acabado de ver e escutar.

Sabia que o Tom poderia ter sentimentos, apenas que cresceu sem e que não sabia como eles deveriam ser, o entendia muito bem. Até demais.

Mas isso não me deixava chateada e nem mesmo enciumada, apenas fiquei feliz pelo Tom dessa realidade ter a pessoa que amava.

Talvez todas essas telas sejam outras realidades que o Tom era feliz com sua companheira.

E talvez, apenas talvez, esse mundo estivesse me mostrando aquilo que estava com medo de acreditar, que poderia ser feliz ao seu lado como sempre sonhei e desejei tanto.

Dei alguns passos para o lado, tocando a tela que havia várias crianças e até mesmo Harry e Neville, que estavam sentados ao redor da mesa.

"Tenha cuidado, a mamãe está grávida."

Tom cuspiu seu chá e aquilo me tirou uma boa risada, mas logo retirei minha mão dali.

Poderia ver as outras realidades, poderia sentir a felicidade daquele homem e de como cada pessoa o completava de uma maneira diferente.

Claro, teria aquela que o completava de qualquer forma, seja na loucura ou até mesmo o colocando em primeiro lugar.

Teria aquela que apenas o usaria para alcançar sua vingança e no final, acabaria se apaixonado.

Talvez tivesse uma que caiu no livro, como eu, e mesmo gostando dele, teria que ficar longe para sobreviver.

Existiam várias possibilidades e posso criar a minha, e criarei.

— Será que você pode me dizer algumas coisas? - Girei em meus próprios pés. _ Como, por exemplo, quem é você? Você é apenas uma sala ou é a pessoa que me trouxe para cá?

Um barulho se fez na sala, fazendo que as telas se fossem, mas apenas uma ficasse.

Ela se aproximou, ficando bem a minha frente e fiquei esperando algo, como palavras desconexas ou uma pessoa saindo desse lugar.

— É para tocar? - Levantei o braço e olhei em volta. _ Não sou boa nisso. - Sussurrei, enquanto tocava a tela.

Uma pessoa apareceu, não tinha rosto e era bastante parecido com aquele Deus de Fullmetal Alchemist... Por favor, não seja um desgraçado que vai me prender aqui para todo o sempre.

"O que você quer saber?"

Não sabia dizer se era um homem ou uma mulher, uma criança ou um adolescente, parece que a voz era tudo, mas, ao mesmo tempo, nada.

A coisa branca parecia estar me observando, como se estivesse escutando os meus pensamentos e não duvido muito disso.

— Foi você quem me trouxe para esse mundo? Não aqui, mas onde o Tom está. - Discordou.

"Foi ele, a magia dele, para ser exato."

— Pensei que fosse algum tipo de ser sobrenatural que tivesse me trazido até aqui. - Suspirei.

"Pensei que já soubesse disso, já que você supôs sobre o seu sangue mágico devido a ele."

— Era apenas uma suposição. - Que se tornou real.

"É só isso que quer saber?"

— Não. - Fiquei ansiosa. _ Por que ele não conseguiu colocar uma trava em minha cabeça e como Dumbledore não viu minhas memórias?

"Bom, a magia de seu amado não afeta mais você, já que se tornou parcialmente uma bruxa."

Não fiquei surpresa, já que tomei aquela poção para esse propósito, mas o que isso adiantava? Nada, terei que tirar essa magia do meu corpo para sempre.

"E Dumbledore não conseguiu acessar suas memórias porque pedi a uma conhecida que impedisse isso, apenas por alguns minutos."

Essa pessoa é tão poderosa que pode impedir outros de acessar minhas memórias? Estou conversando realmente com um Deus e não estou sabendo?

Certo, se estou conversando com um Deus preciso perguntar outras coisas, como...

— Você pode me dizer sobre a profecia? - Parecia pensar, mesmo que não tivesse rosto para interpretar isso.

"Ela não existe, apenas inventei isso com a Destino para que algumas coisas acontecessem."

Essa coisa só está me deixando ainda mais confusa com tudo isso, ela pode até mesmo falsificar uma profecia.

Isso era realmente possível? Não, não preciso dessa resposta já que estou nesse lugar e posso ver tudo que desejar.

Sei que esse ser não está mentindo, apenas preciso respirar e continuar...

"Você tem a magia dele, por isso que não sente muitas coisas."

— O que quer dizer? - Pisquei algumas vezes.

"Quero dizer o que quero dizer."

— Pare de ser a merda de uma coisa estranha e fale palavras com coesão. - Bati na tela, fazendo aquela coisa branca se assustar.

"A magia dele está em você, o que a faz imortal nessa realidade."

— Ah... - Estava nervosa. _ O quê? - Quase gritei.

Não, isso está tudo errado, isso não deveria estar acontecendo, mas está e merda! O que devo fazer agora?

Na minha infância sempre quis ser imortal e era algo descolado na época, ainda mais pelos vampiros e aquela coisa de ficar para sempre com o seu amado.

Mas não estamos mais nos anos 2000, tecnicamente, nem estamos nele ainda.

Suspirei e fiquei observando aquele ser que nem olhos e boca tinha, o que me fazia ter pensamentos estranhos em relação a isso, mais que já tinha.

"A magia que a trouxe está em você, ela não conseguiu voltar, afinal, ela gostou de você."

— É tipo um parasita? - Riu.

"Você é engraçada."

— Não acho que esse seja o momento para me dizer isso, mas obrigada. - Até que essa coisa era gente boa. _ Certo, sou imortal apenas nessa realidade, tudo bem, ele já me faria imortal mesmo.

"Então por que surtou?"

Era uma boa pergunta que não tinha resposta, talvez porque não queria viver para sempre como pensava quando era criança.

Ou apenas acho que viver para sempre é uma merda que a sociedade criou, ou que... Tenho medo de me separar e ficar sozinha nesse mundo que não tinha ninguém, além de duas pessoas.

Sim, estou contando Severus como amigo, ele era uma pessoa carismática quando não resmungava ou dava coices por aí.

— Tenho que saber de outra coisa? - Mudei de assunto.

"Como você tem a magia dele, você conseguiu entrar na mansão Slytherin."

— Acho que isso era meio que previsível, né? - Na época não fazia sentido, mas até que agora faz. _ Bom, era só isso?

"Se você voltar, nenhum dos seus medos se tornarão reais, é só isso que posso te dizer sobre o futuro."

Ótimo, então não serei uma pessoa divorciada com mil anos, ou morrerei com uma estaca no coração como os vampiros morreram naquela série.

Dei batidinhas na tela e fiquei pensando nas outras perguntas que deveria fazer.

— A brecha que Tom queria, sou eu, não é? - Concordou. _ E se eu voltar, a guerra será vencida por ele. - Era uma afirmação. _ Bom, posso ir para a minha realidade e depois voltar?

"Por quê? Pensei que odiasse aquele lugar e só tivesse girado o vira-tempo devido a Dumbledore."

Não estava errado, mas estava, como poderia dizer isso?

— É que quero pelo menos dizer para as pessoas que me amam que estou bem e que estarei segura. - Ainda mais por provavelmente não poder vê-los depois disso.

"Você é estranha, tem pessoas que vão para esse mundo e esquecem que tem sua família e amigos, mas você, você não se importou, mas no final se importava."

— É a minha família, como não posso me importar? - Funguei. _ Mesmo sendo idiotas, ainda amo eles. - Cocei o nariz que pinicava.

"Mesmo que você não me perguntasse, você poderia voltar."

— O quê? Mas Dumbledore disse que o...

"O vira-tempo iria quebrar quando você chegasse no lugar que deveria estar, sim, eu me lembro. Mas seu lugar nunca foi lá, com sua família."

— Então por que você está aqui? - Entendi. _ Não, não precisa responder, isso foi idiotice. - Ri. _ Você não vai me perguntar se quero ou não ficar?

"Já sabemos que você quer ficar, mas apenas quer se despedir, então não quero gastar saliva com isso."

— Quem é você? - Deu de ombros.

"Apenas uma pessoa que ocupou o lugar de um Deus."

— Você deve ser uma pessoa muito foda. - Riu. _ Onde que passo para voltar? - Apontou e uma porta giratória apareceu. _ Obrigada por tirar todas as minhas dúvidas.

Tirei minha mão da tela, mas a pessoa não sumiu, apenas que sua aparência não era branca e esquisita, era linda. Tão majestosa e parecia tanto com...

"Não me descreva, ainda é um segredo."

— Ah, desculpe, é que você é tão perfeita que não me contive. - Riu. _ Você também é uma...

"Por favor, quando voltar, cuide do coraçãozinho dele, posso ter me casado com ele nessa dimensão, mas ele é sensível em todas que passei a conhecer."

Mesmo já sabendo que ela era uma das companheiras daquele homem, nunca imaginei que ela iria me ajudar, acho que nem todas são tão ciumentas como as histórias diziam.

Bom, as fanfics diziam, não que eu saiba de muita coisa dessas dimensões que apareceram.

— Cuidarei. - Dei alguns passos para trás. _ Posso saber pelo menos seu nome? - Olhou para trás e parecia que estava vindo alguém, mas falou:

"-----"

— Vou me lembrar do seu nome. - Aproximei-me da porta e a vi pela última vez. _ Até algum dia.

"Ah, antes que me esqueça, você não vai voltar no dia que você definiu no vira-tempo, boa sorte." - Deu tchau, me deixando paralisada por alguns segundos.

Suspirei e me virei para a porta, a segurando enquanto aquela primeira sensação de cair fosse refeita.

Mas ao invés de cair, estava subindo, e a luz que testemunhei desvanecer enquanto caía, assim como Alice em um buraco dimensional, agora piscava.

O ar gélido que experimentei inicialmente transformou-se em uma brisa calorosa e acolhedora, e os pensamentos infindáveis que apareceram da primeira vez simplesmente não se manifestaram.

Estava preparada para aparecer onde deveria aparecer, na verdade, estava ansiosa para abraçar minha família e dizer que os amava tanto.

Bom, se conseguisse dizer isso antes deles pegarem a vassoura para quebrar em minhas pernas por desaparecer...

Espera, e se meu desaparecimento não tiver ocorrido? E se eu voltar no mesmo dia que despareci? Merda, terei que viajar de Paris para o Brasil, algo que não queria fazer.

Mas os meus pensamentos sobre isso se foram, me fazendo secar o suor que escorria pela minha testa.

Meu corpo estava esquentando tanto que até pensei em tirar as minhas roupas restantes, mas se fizesse isso, iria aparecer seminua em algum lugar de Paris.

Respirei e minha respiração ficou presa nos meus pulmões, fazendo que ardesse e meus olhos ficassem marejados.

Essa não era a sensação que senti quando cai, então por que voltar era tão doloroso? Parecia que estava arrancando algo de mim, enquanto me partia ao meio

Era como se estivesse tirando o pouco de magia que existia no meu corpo.

A luz no final do túnel estava se aproximando e estava preparada para cair em algum lugar duro que faria os meus pulmões reagirem novamente.

Mas não caí em uma mesa ou no chão, apenas dei de cara com o vidro da porta giratória.

Massageei meu nariz, enquanto empurrava a porta e olhava ao redor, provavelmente as pessoas iriam reparar em uma garota toda descabelada de pijama.

Mas parecia que era apenas um fantasma entre os dois mundos, existo aqui, mas, ao mesmo tempo, não.

É tão confuso viagem no tempo que mesmo lendo e vendo várias coisas desse tipo, não entendia completamente.

Talvez Ultimato tenha fritado os outros miolos que restavam em minha cabeça, já que os outros o Tom fez o favor de acabar.

Arrastei meus pés pelo saguão, tentando não olhar para os lados e dar a entender que não era para estar aqui, mesmo tendo que estar.

Cocei meus olhos e continuei caminhando para apertar o botão do elevador, talvez pudesse descansar um pouco antes de voltar, ou posso voltar e dormir com o Tom, como já estava fazendo.

— Ficou sabendo? - Eram brasileiros. _ Uma garota desapareceu nesse saguão e as pessoas estão dizendo que ela pode estar nas catacumbas. - Tão mórbido.

— Mas tem alguma passagem que leve até lá? Claro, sem aquelas que todos conhecem. - Fiquei mexendo nos meus dedos, até que o barulho do elevador me fez olhá-lo.

Não me importava com o que as pessoas estavam falando sobre mim, e nem me importava quem eram essas pessoas.

Provavelmente não seriam Sam e Dean tentando achar algo sobrenatural nesse hotel...

Olhei para eles e não eram nada parecidos com os dois. Bom, talvez sejam eles e os autores mudaram algumas características e até a nacionalidade para proteger os indivíduos.

Ou apenas estou sendo paranoica por pensar que tudo que já vi irá se tornar realidade.

Espero que a maioria das coisas continue apenas na ficção, não quero derrotar Thanos... Contudo, bem que poderia, assim o Tony não morreria.

As portas do elevador abriram e entrei, sendo seguida por eles. Procurei o número do meu andar e o cliquei, vendo-os se aproximarem e clicarem também.

O ambiente ficou em silêncio, nem parecia que três pessoas estavam nesse lugar.

Bocejei, secando as lágrimas que deslizaram pelo meu rosto, mas cada segundo que se passava, os bocejos ficavam piores.

— A noite deve ter sido ótima. - Sussurrou.

— Foi. - Comentei, e os escutei engasgar-se.

O elevador parou e confirmo se era o meu andar, e era.

Saio do elevador e pensava que deveria ter trazido o cartão de entrada, talvez assim não daria um susto na Lufana.

Mas não estava pensando muito naquele momento, na verdade, não estou pensando muito desde o momento que sai daquele lugar branco.

Bocejei novamente e parei na porta onde me lembrava ser o nosso quarto.

Respirei fundo e quase bati à porta, mas minha mão ficou paralisada no ar, enquanto ouvia as pessoas conversando.

— Tenho trabalho para fazer, não posso abandonar tudo apenas porque a Maëlle sumiu! - Gritou e reconhecia essa voz.

Como não poderia? Era a voz do meu pai que nem mesmo me enviou uma mensagem.

— Você não está preocupado de que ela possa ter sido sequestrada? - Os gritos estavam ficando piores. _ Cuidei dela a vida inteira, e você não pode fazer a obrigação de pai?

— Mãe, se você continuar gritando assim, sua pressão vai subir. - Lety, até você está aqui?

Devo ter atrapalhado a faculdade dela e talvez ela tivesse provas nesse período, e está perdendo por minha culpa.

Atrapalho a vida de todos até quando não foi a minha culpa de cair em um lugar estranho.

Alisei a porta dourado, mas não bati, apenas continuei escutando aquela confusão que não tinha mais volta para se tornar algo pacífico.

Minha família estava aqui, atrás dessa porta e brigava por minha causa, o que não era novidade. Nunca fui a melhor neta ou filha para essas pessoas, mesmo tentando ser.

— Vocês não deveriam brigar nessa situação, a Mal está desaparecia há semanas e vocês só sabem culpar uns aos outros. - Lufana, senti tanta sua falta.

— Ela está certa. - A escutei fungar. _ Minha neta não gostaria de ver todos brigando, apenas ligaremos para a polícia novamente e...

— Preciso ir, deixei a minha família no Brasil e preciso voltar para o meu serviço. - Nunca se preocupou comigo, não será hoje que irá se preocupar. _ Quando ela aparecer, pede ela para me ligar.

Não será necessário, papai. Sumirei de sua vida como você sempre tentou fazer desde que fiz dezoito anos.

Deveria ter feito isso há anos, mas preferi ficar me machucando e pegando qualquer tipo de migalha que você me dava, para não tirar mais uma pessoa da minha vida.

Acho que se o Sev estivesse aqui, ele entenderia o motivo de ter dito para ele esquecer a Lily, porque passei e ainda passo por algo do tipo.

Entretanto, aposto que se o Tom estivesse aqui, ele já teria matado aquela pessoa que chamei de pai.

Respirei fundo e bati à porta, fazendo que todos ali dentro ficassem em silêncio.

Dei um passo para trás e me preparei para ver as pessoas que realmente me amavam, deveria apenas me atirar em seus braços e dizer que senti saudades.

Mas a pessoa que apareceu não foi nenhuma das três mulheres que daria a minha vida, era o meu...

— Maëlle! - Rosto rígido e feições antigas, era o meu pai. _ Sabia que você não estava desparecida, você sabe o quanto suas brincadeiras já acabaram com a minha família? - Engasguei-me. _ Sua irmã está prestes a entrar no ensino médio e você...

— Chega! - Gritei e senti meu peito doer, nunca gritei com ele. _ Estou cansada de ser comparada com a minha irmã. - Nunca gritei com ele e nunca falei o que sentia de verdade.

— Mal... - A olhei, ela estava chorando, mas se quero sair desse lugar sem peso na consciência, todos precisam saber o que sinto.

Empurrei o homem e fechei a porta.

— O que deu em você? - Ri.

— O que deu em mim, pai? - Suspirei. _ Estou cansada de ser perfeita para você, tentando inutilmente não dizer que você não sabe mais nada sobre mim. - Meus olhos ardiam. _ Quando quebrei meu pé, você disse que não havia quebrado porque não estava chorando o suficiente.

— Olha o respeito, ainda sou seu pai. - Apontou seu dedo indicador para o meu rosto, me fazendo recuar.

— Não, não é mais meu pai desde que você parou de ser presente. - Discordei. _ Na verdade, você nunca foi presente, né? Apenas aparecia em ocasiões especiais, festa junina, aniversário e esses dias comemorativos.

— Sempre fiz o que você queria. - Balancei a cabeça, deixando as lágrimas deslizarem.

— Você nunca me deixou ser eu mesma. - Funguei. _ Sempre guardei que odiava ir naqueles eventos de carros porque eram chatos, mas eu ia para te agradar, porque se eu não fosse, você não me veria por pelo menos três meses! - Gritei.

— Você deveria ter fal...

— Estou falando! - Recuei mais uma vez, me encostando na porta.

Tinha medo de seu olhar, aprendi sempre a obedecer e recuar quando era necessário, se não, iria apanhar e odiava que me agredissem.

Papai nunca me bateu, mas me desprezou com esses olhos tão negros quanto minha alma.

Mas a mamãe... O que poderia dizer daquela vadia? Ela o queria, ela me manipulava para tentar fazer essa pessoa voltar para ela, para termos uma família feliz como dizia.

Entretanto, nunca fiz, não queria ser a vilã da história dessas pessoas, mas eles me colocaram nessa situação e me fizeram assim.

Cada um pegou um pedaço de minha alma, a moldando para ser o que eles queriam que fosse, e quando percebi que não sabia mais quem eu era, tudo mudou.

Deveria ser perfeita...

— Por que não posso ser mais a sua princesinha? - Solucei. _ Por que você não olha mais para mim como sua filha, mas apenas como uma obrigação?

— Maëlle. - A observei, a vovó não estava entendendo o que estava acontecendo.

Mesmo que as lágrimas em seu rosto enrugado a fizesse parecer mais velha, não queria parar de dizer tudo que senti durante esses anos.

Ainda mais que não vou ficar, vou embora desse mundo para nunca mais voltar.

Segurei o vira-tempo em meu pescoço, tentando roubar um pouco de força que deveria existir nesse objeto.

— Não queria ter crescido cedo demais, vovó. - Tranquei a porta. _ Queria ter sido uma adolescente normal, e ter continuado sem entender o que é crédito e débito aos treze.

Franzi o cenho e a dor em minha garganta ficava pior, mas o nó que existia nela não queria sair, nem mesmo a dor que se fazia no meu peito.

Minha cabeça começava a doer por estar chorando e deixando tudo acabar com as minhas forças, mas não poderia fazer muito.

— Tenho inveja de você. - Olhei a única garota cacheada. _ Você conseguiu entrar na faculdade e sempre se esforçou, mas sou apenas a garota que esqueceu de viver. - Discordou, segurando o choro.

— Isso já está indo longe demais, Maëlle. - O observei. _ Você sumiu e enlouqueceu? Acho que precisa se internar. - Mordi a língua, enquanto alisava meus lábios com ela.

— Você me amou em algum momento de sua vida? Ou realmente nunca gostou de mim?

— Não preciso responder isso. - Aproximou-se. _ Sabe que a amo, você é a minha filha. - Discordei.

— Não, sou apenas a obrigação que um dia você chamou de filha, faz um favor para nós dois? Apenas esqueça que você teve uma filha. - Mordi meus lábios. _ Faça igual aquela mulher, apenas finja que morri e viva sua vidinha insignificante.

— Mal, isso já está indo longe demais. - Nem mesmo a olhei, ela sabia como era o meu relacionamento com a minha família.

Destranquei a porta e me aproximei da pessoa que chamei de pai por anos, o observando pela última vez.

— Acho que nunca o amei, apenas queria ser amada para saber como era isso. - Dei tapinhas em seu ombro. _ Espero nunca mais vê-lo. - Sorri, mas meus lábios tremiam.

Seus olhos diziam mais que sua boca fechada, mas tudo bem, já cortei os laços com a minha mãe e isso não seria pior que aquela janela quebrada em meu rosto.

Sequei meus olhos, enquanto escutava a porta se abrir e se fechar, como meu coração fez para tirar mais uma pessoa do meu peito a força.

Dizer que estou bem com isso seria uma mentira, mas é melhor tirar as facas que esse homem colocou nas minhas costas agora, do que ir com elas para aquele lugar.

Para remoer o meu passado e continuar me esquecendo de viver, afinal, lá é o mundo bruxo e não posso contar para uma psicóloga que atravessei dimensões e cai em um livro.

— Você finalmente falou. - Ela sorriu, fazendo que as rugas fechassem seus olhos verdes. _ Sempre falei que era melhor falar do que deixar tudo nesse coraçãozinho.

Funguei, e fui até ela, que estava sentada na cama.

Ajoelhei-me no chão e abracei suas pernas, tentando deixar tudo desabar e chorar como uma garotinha que não sou mais.

Mas infelizmente não consigo chorar, aprendi a colocar tudo dentro de mim e sufocar até que isso se torne meus pesadelos.

Estou bem, estou bem, estou bem... Era isso que minha mente dizia para me manipular e me jogar no poço logo em seguida.

— Pode chorar, se quiser. - Neguei. _ Onde esteve? - Alisou meus cabelos. _ A vovó ficou preocupada.

— Em um lugar melhor que aqui. - Não a olhei. _ Desculpa por dizer aquilo.

— Tudo bem, você está certa, não deveria ter colocado as minhas obrigações em suas costas. - Meu queixo tremia. _ Você era apenas uma criança quando perdeu sua mãe em vida.

— E era apenas uma adulta tentando esquecer que não era mais uma criança quando a perdi para a morte. - Completei. _ Odeio aquela advogada. - A Lufana se aproximou e se agachou, colocando sua mão em minhas costas.

— Pelo menos ela disse uma frase boa, dá para fazer um livro com isso, quer voltar as suas origens, Mal? - Neguei, enquanto ria. _ Você está uma pouco melhor? - Concordei.

— Então. - Olhei a Lety. _ Onde esteve? E você parece estar bem, fisicamente, mas você... O que aconteceu? - Suspirei.

— Eu caí. - Ficaram confusas. _ Bom, tudo começou quando tive uma queda inesquecível...


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