Destino de Lestrange escrita por Pandinhakk


Capítulo 3
Capítulo dois




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810256/chapter/3

— Está um pouco melhor? - Nossa posição já havia mudado, não estávamos em pé, abraçando um ao outro.

Estávamos sentados nesse piso gelado que meus pés tocavam, mas a única pessoa que estava sendo acalentada como um bebê chorão era eu.

Minha cabeça dizia que se alguém invadisse esse banheiro, iria nos pegar em uma posição constrangedora para pessoas que não conversavam há anos.

Entretanto, queria continuar sentada no colo do Bas, ouvindo seu coração batendo rápido apenas por me ter em sua posse.

Queria continuar alisando minha bochecha em sua roupa macia e sentir o cheiro que há muito tempo não sentia.

Mesmo que meu rosto estivesse em um estado deplorável, com ranho sendo contido por um lenço, olhos tão inchados quanto uma picada de pernilongo e com as minhas roupas maltrapilhas.

Ainda me perguntava como meu corpo conseguia se encaixar com tamanha perfeição no corpo dessa pessoa, que me abraçava e me apertava, tentando tirar toda a minha aflição.

Agarrei seu terno já amassado e observei seu pescoço, tinha algumas cicatrizes ali, não eram feias...

— Não queria ter sumido... - Mordi a bala em minha boca, mas minhas palavras foram consumidas por ele.

— Eu sei, você teria convidado para seu casamento secreto, ou talvez teria avisado que mudaria de país. - Fechei meus olhos.

Dolohov foi perfeito em tudo, casou comigo sem que meus amigos soubessem, me trancou em uma mansão em um país desconhecido.

Mas depois de alguns anos, quando percebeu que todos estavam com raiva de meu distanciamento, nos trouxe novamente para a Inglaterra.

O que ele não pensou? Bom, que teria uma amante e isso acabaria com seu plano de me usar para ter sua herança, ainda agradecia a Merlim por acordar.

Entretanto, as palavras que deveria sair da minha boca para dizer que fui obrigada a fazer isso, não vieram, então, apenas falei:

— Odeio vomitar.

— Você sempre odiou. - Ele sempre estava lá a qualquer momento que precisasse.

Queria ter sido mais presente em sua vida, como ele foi na minha...

Suspirei, tentando tirar os meus cabelos do meu rosto, afinal, já estavam me irritando esses cabelos armados devido à falta de inteligência na hora de me arrumar.

Entretanto, meus cabelos foram suspensos enquanto mordia a bala e acabava com ela em minha boca, a deixando refrescante.

— Obrigada. - Vejo pelo canto do olho algo amarelo em meu ombro e sei que não era a alça do meu vestido.

Peguei aquilo com os dedos e a fita de seda me levou até 72, quando tirei a fita que prendia os meus cabelos enquanto estava em Hogwarts.

— Você guardou? - Não havia percebido antes.

— Sim, foi um presente dado por você, não poderia deixar que isso fosse destruído ao longo dos anos.

Pensei que já pudesse estar puída ou até mesmo com aquelas bolinhas de uso, mas estava em perfeita condição.

Mas minha atenção foi desviada dos sentimentos que brotavam em meu coração, para ver seus cabelos ondulados em seu rosto que tapavam a visão dos seus olhos.

Levantei minhas mãos, fazendo que meus dedos arrumassem um pouco os seus cabelos escuros, enquanto sentia a textura aveludada.

Alguns fios não queriam ficar escondidos atrás de suas orelhas, fazendo que aquilo ficasse atraente.

— Ficou melhor assim, minha senhora? - Engoli em seco.

— Sim, depois posso devolver a fita. - Por que ele era tão encantador?

— A use quanto quiser, ela era sua afinal. - Discordei. _ Você já pensou no motivo de ter vomitado?

— Não. - Funguei.

— Provavelmente deve ter sido o caldo de camarão que você comeu, algum elfo deve ter comprado com um vencimento próximo.

Sabia que ele estava me vigiando, afinal, nosso olhar se encontrou antes disso acontecer e Dolohov até me disse que estávamos sendo observados.

Então, apenas segurei o meu sorriso e perguntei:

— Você estava me vigiando? - Seu pescoço ficou avermelhado, me dizendo que estava envergonhado.

— Sim. - Ele nunca mentia para mim. _ Tinha muito tempo que não nos víamos e quando você saiu correndo, fiquei preocupado e ameacei vir aqui.

— Ameaçou? - Franzi o cenho.

— Levantei alguns segundos depois que você se foi, mas como disse, meu irmão me impediu, dizendo que não era certo.

As palavras depressivas de minutos atrás, dizendo que foi melhor assim, se foi, me trazendo um gosto amargo no céu da boca.

— Talvez realmente não fosse, porém, me sinto feliz por você estar aqui, comigo. - Alisou meu rosto.

Seu dedão deslizou pela minha bochecha, até que seus dedos estivessem molhados pelas minhas antigas lágrimas.

Mesmo sua mão parando de ser macia ao toque, quanto antigamente. Queria que essa mão continuasse em meu rosto, me fazendo tremer ao sentir cada dedilhar em minha pele.

— Nunca deixaria ninguém me dizer o que fazer, quando a pessoa em questão, é você. - Sorriu e uma chama bem pequena, incendiou meu coração. _ Ainda não me respondeu.

— Estou melhor, mas estou com fome. - Seu corpo tremeu, estava rindo. _ Você não tem mais o riso esganiçado...

— Você achava meu riso esganiçado? - Estava incrédulo. _ Você magoa os meus sentimentos, cordeirinho. - Tento esconder meu rosto em suas vestes.

— Esse apelido. - Minha voz saiu abafada. _ Senti saudades de você me chamando por ele, gelinho. - Cutuquei seu peito, o fazendo pegar minha mão.

Entrelaçando nossos dedos, como antigamente, me fazendo sentir um pequeno formigamento em meu corpo.

Nem o piso gelado, o cheiro de lavanda do banheiro, a luz forte ou a torneira pingando, desfazia a sensação de que esse momento estava me proporcionando.

Acho que mesmo que minha mente tenha parado no tempo, meu coração também havia parado e não me arrependo disso, apenas me arrependeria se isso tudo fosse um sonho.

— Também senti saudades de implicar com você. - Ri, fazendo que meu corpo relaxasse.

— Você não mudou nada, o carácter, quero dizer. - Seu pomo de adão subiu e desceu, ele estava nervoso.

— Mas você mudou. - Acho que sim. _ Estou falando de beleza, você continua linda, mas sua altura aumentou, ou foi pelo salto?

— Não brinque com a minha altura, você parece um urso. - A gargalhada potente me fez ficar surpresa e nostálgica.

— Merlim, cordeirinho, você realmente continua exatamente como antes. - Sorriu de lado, dessa vez não poderia ver sua covinha.

— Isso é ruim? - Discordou. _ Mas você mudou muito.

— Espero que seja para melhor, quero continuar bonito em seus olhos. - Semicerrou os olhos, fazendo que uma escuridão aparecesse.

—Bom, sua barba não é apenas alguns pentelhos...

— Destiny, por Merlim, não me envergonhe. - Não conseguia. _ Estava em minha fase de crescimento.

— Tudo bem, me perdoe. - Revirou os olhos, apertando minha mão. _ Mas você continua gostando de sorvete de creme com kiwi?

— Não, não me lembre desse passado trágico. - Continuei rindo, o fazendo me acompanhar. _ Lembro que foi devido a esse gosto horrível que você passou a me chamar de gelinho.

— O que você queria? Você comia tão rápido que gemia de dor por congelar o cérebro. - Bufou.

— Não, você me chamava de gelinho porque não queria me chamar de kiwi...

— Ah, ou ribbon. - Ficamos nos olhando, fazendo que aquela intensidade não fosse apenas ilusão.

Era como se estivéssemos no corredor de Hogwarts, sentados no chão para observar a lua que se desprendia entre as nuvens.

Enquanto um pote de sorvete de creme com pedaços de kiwi estava entre nós.

Eram coisas infantis e idiotas, que nos fazia relembrar de bons momentos, queria que a gente continuasse assim, não relembrando o passado, mas contemplando um futuro entre nós.

Mas não sei se esse homem se casou, se ama outra pessoa ou se apenas estava sendo gentil com sua antiga amiga, não queria saber e acabar com esse momento.

Então ficarei assim, apenas gostando da nostalgia impregnada em cada partícula ar desse banheiro.

— Lembra quando a Bella puxou você pelo pulso e nos apresentou? - Concordei. _ Você estava pulando e parecia tanto um cordeirinho...

— Merlim, Bas, não me castigue com essas lembranças.

— Você me castigou com o sorvete, é uma troca justa. - Colocou minha mão em sua gravata e já sabia o que deveria fazer.

— Se sua mãe visse o que você está fazendo, ela iria repreendê-lo.

Revirou os olhos, me fazendo puxar sua gravata para que seu pescoço estivesse livre desse pedaço de pano.

Ele odiava roupas formais, odiava roupas que prendia seu torso... Na verdade, ele odiava roupas e ainda não sabia o motivo.

— Mamãe já sabe que odeio essas coisas, ela não iria brigar. - Continuei o observando. _ Não tanto.

— Você ainda tem medo de sua mãe? - Negou.

— Não tenho, mas a respeito, ela que faz a nossa família caminhar de um jeito pacífico e sem ser estranho.

— Acho que ela tem um dom. - Fechei novamente os meus olhos, sentindo a paz irradiar de cada fibra do meu ser.

— Mas você vai me repreender por querer tirar essa coisa que me faz perder o ar?

— Não, você sempre foi assim. - Semicerrei os olhos, enquanto soltava minha mão para desfazer alguns botões de sua camisa.

Queria que ele a tirasse para poder conferir como uma boa amiga se tinha mais cicatrizes, ou para sentir com uma certa precisão se seu peito realmente era forte...

Meus pensamentos vacilaram quando uma certa mancha negra em seu peito me chamou atenção, fazendo que minha mão fosse mais rápida que meu cérebro a impedindo de se aventurar em sua pele.

A pele quente em meus dedos se arrepiou e um pequeno gemido audível saiu de sua boca, quase me fazendo olhá-lo.

Mas continuei observando aquela mancha que, na verdade, era uma tatuagem belíssima.

Era um corvo, bom, dois corvos, um em cada canto de seu peito e isso me surpreendeu, já que nunca imaginei esse homem se tatuando.

Mesmo que Bas fosse uma pessoa com pensamentos fortes sobre a vida trouxa, ainda era um puro e...

— Cordeirinho, se continuar assim, acabará me despindo. - Sua voz estava sôfrega, como se minhas mãos o queimassem.

— Apenas fiquei curiosa para ver e, bom, gostei dos corvos. - Não conseguia ver tudo, apenas as cabeças erguidas e soberanas. _ É o símbolo de sua família.

A surpresa em seu rosto ficou aparente, deixando a vermelhidão de seu pescoço subir para alguns cantos de suas orelhas.

Ele poderia ser um grande urso, mas seu coração era feito de manteiga derretida, o que o tornava mais irresistível.

— Não sabia que você se lembrava dessas coisas.

— Lembro-me de muitas coisas. - Ainda mais se tiver você no meio. _ Só existe essa?

— Não. - Sua voz ficou rouca. _ Tenho a marca, essas... - Tocou o peito. _ Mas existem outras em algumas partes do meu corpo.

Iria perguntar quais lugares, tentando inutilmente não pensar em um Rabastan nu, me fazendo um desfile para apreciar cada tatuagem em sua pele.

Talvez se beijasse as... O que estou pensando?

Ainda sou uma pessoa casada e mesmo que Antonin tenha me traído, ainda queria preservar minha dignidade para não me rebaixar ao nível daquele homem.

Preciso me controlar, mas como posso fazer isso se sua mão estava na minha, a direcionando para os botões que faltava de sua camisa (?)

— Se quer ver mais, apenas veja. - Esse homem iria me matar!

— Bas... - O que poderia dizer nessa ocasião?

Ele estava me seduzindo de tal maneira, que me deixaria ser conduzida nessa dança já ensaiada sem pensar nas consequências dos meus atos.

— Desculpa, estou sendo desrespeitoso. - Tentou se afastar, mas neguei, fazendo que meus dedos desfizessem os botões.

Cada botão era uma batida errada do meu coração, fazendo que minha mente suplicasse para beijar aquela pele a minha frente.

Mas não me rendi, sou mais forte que esses pensamentos intrusivos, bom, acho que sou.

Afastei a camisa e meus olhos foram direto para os corvos, fazendo que meu dedilhar em sua pele me afetasse como gasolina em combustão.

O que esse homem está fazendo comigo? Isso era estranho, era como se tudo fosse perfeito para que quebrássemos essa barreira que criei.

Apenas queria agarrar seu rosto e beijá-lo como nunca beijei... Merda, por que tive que acordar logo hoje? Tudo bem, respira fundo e continue observando os corvos, não pense em mais nada.

Observei a tatuagem e era majestosa, e pareciam estar brigando pelo poder de algo que desconheço, cada um estava em um lado, lutando pelo que acreditava.

— É você e o seu irmão? - Sua cabeça tombou para trás, fechando os olhos.

— Sim, o mais feio é ele. - Eram iguais. _ Ele também tem uma igual, representando a nossa irmandade. - Zombou. _ Como se fossemos bons irmãos.

— Vocês são, apenas tem aquelas típicas brigas de... - Minha voz se perdeu ao constatar uma cobra enrolada em um texugo em sua costela. _ Texugo?

Não queria criar expectativas, não queria entender que esse homem ainda me amava como eu o amava.

Talvez sua esposa ou namorada seja uma pessoa da Lufa-Lufa, ou ele apenas gostava da casa amarela.

— Gosto de texugos. - Não abriu os olhos. _ Seu olhar está me queimando, Tiny...

— Não me chame assim. - Sussurrei, enquanto observava as cicatrizes sem um padrão coerente. _ Continue me chamando de cordeirinho.

Seu pomo de adão subiu e desceu, me fazendo ansiar por chupar aquela parte sensível de seu pescoço, até que uma vermelhidão ficasse em sua pele.

Queria continuar deslizando meus dedos pelo seu torso, sentindo a textura desigual de certas partes.

Sabia que ele vivia sendo enviado para o campo de batalha, para assassinar quem seu mestre queria, mas nunca imaginei que cada cicatriz, era a morte batendo em sua porta.

Ele poderia ter morrido...

— Por que está com esse rosto? - Funguei e não queria olhá-lo. _ Odeio quando você faz essa carinha, parte meu coração. - Inclinou-se, beijando minha bochecha.

— Você sobreviveu tanta coisa. - Suspirei. _ E olha essas cicatrizes...

— Você não gostou delas? - Merda, não queria que ele pensasse assim.

— Na realidade, gostei, mas depois pensei que você sobreviveu a tanta coisa que... - Uma tristeza me assolou. _ Você poderia ter morrido. - Solucei, deixando meu choro tomar conta da ocasião.

Seu olhar ficou perplexo e seus dedos tentavam desesperadamente secar meu rosto que se inundava em lágrimas.

Não sabia o motivo de estar chorando, estava rindo com ele poucos minutos e agora, tudo parece depressivo e angustiante.

O que ele não deve ter sofrido para ser o terceiro melhor Comensal do Lorde? Merlim, queria ter protegido ele e acalentado sua dor.

Ele deve ter se sentido tão solitário em sua jornada, sempre se escondendo e esperando que sobrevivesse por mais um dia.

Talvez continue se sentindo assim e isso me deixava mais triste, não pude estar presente em sua vida e agora que acordei, queria entrar e atrapalhar essa pessoa.

Não posso fazer isso com ele, mas...

— Não chore, cordeirinho, isso me deixa sem saída. - Estava aflito, não sabia o que fazer.

Mas seu tratamento era como se eu fosse uma boneca de porcelana.

E mesmo não gostando de ser uma boneca em uma caixa bonita, pelo menos não tinha cordas me comandando.

— Desculpa, estraguei o clima. - Discordou.

— Isso é impossível de acontecer. - Tirou mais um lenço do bolso para secar meu rosto. _ Seu nariz é uma bolotinha tão fofa. - Sinto minhas bochechas esquentando, mas felizmente ele nunca saberia da minha vergonha.

Encostei minha cabeça em seu pescoço, fugindo de seu olhar carinhoso, não merecia esse olhar tão autêntico e confortável, mesmo que ansiasse por ele.

Porém, percebi que estava exausta, queria apenas um pouco de comida e dormir, pelo menos uma hora.

Precisava voltar para a mansão Dolohov, mesmo que para isso tenha que dormir no mesmo quarto que aquele homem.

Mesmo tendo recobrado a consciência e um medo persistente assombrasse minha mente, deveria voltar.

Precisava ver se a chave do meu cofre estava naquela casa, tinha documentos importantes que estava guardando, minha varinha e tinha meus pais.

Ainda não sei o que aconteceu com eles, se eles estavam vivos, mortos ou se apenas esqueceram de mim, e não posso encher o Rabastan de perguntas agora, ele iria desconfiar.

Aguentaria apenas mais alguns dias, até que minha mente tivesse todas as minhas memórias.

Não ficaria na mansão Dolohov por mais um mês se quer, iria embora, mesmo que o meu futuro tentasse me impedir.

— Você parece cansada. - Meus pensamentos se encerraram. _ Você ainda quer comer, ou... - Concordei. _ Tudo bem, vou pegar alguma coisa para você, fique aqui e...

— Você acha que vou embora? - Sua expressão ficou dividida.

— Mesmo imaginando que você vai, espero que quando voltar, você continue aqui. - Olhei em volta.

— Não se esqueça que estamos em um banheiro, não é nada higiênico. - Seu corpo tremeu, fazendo que uma gargalhada potente se sobressaísse.

— Merlim, aqui está tão confortável que pensei que estávamos em outro mundo. - Sua bunda provavelmente estava doendo, a minha já estava. _ Pedirei ao Lorde que me conceda a possibilidade de abrir alguma das salas.

— E se ele não deixar? - Abriu e fechou a boca. _ Isso não passou pela sua cabeça?

— Não. - Foi sincero. _ Você ficará aqui até eu voltar? - Toquei meu cabelo e sinalizei para a fita. _ Isso responde o suficiente.

Levantei-me do seu colo, me distanciando um pouco para que ele se levantasse e arrumasse suas roupas, o que acabaria com a minha visão de seu peito nu.

— Você tem outras pelo tronco? - Seu olhar ficou quente, mas não respondeu de imediato.

— Tenho uma nas costas e no cóccix. - Concordei e me encostei na pia. _ Só essas, por enquanto. - Sorri e cruzei os braços.

— Não traga coisas estranhas.

— Prometo que não trarei sorvete de creme e kiwi. - Revirei os olhos, mas falei.

— Poderia. - Aproximou-se da porta, mas parou quando me ouviu. _ Não acharia ruim. - Girou a maçaneta, mas não se foi.

— Tenho tanta coisa para contar. - Esperava que não fosse o que estava pensando. _ Vou correndo e já volto, fique aqui.

— Ficarei. - Dessa vez não vou a lugar nenhum. _ Mas, posso sair daqui? - Olhou em volta. _ Mesmo que o banheiro esteja com um cheiro maravilhoso, ainda não quero...

Aproximou-se e pegou os meus sapatos no balcão, me estendendo a mão logo em seguida.

— Quer fugir comigo? - Quero, era o que iria dizer, mas apenas falei:

— Hoje não. - Peguei sua mão e fiz o que fazíamos antes, as entrelacei. _ Não se acostume. - Suas orelhas continuavam vermelhas, mas conseguimos sair desse lugar.

A luz confortável do banheiro deu lugar para tochas e uma penumbra confortável, nem mesmo a lua poderia proporcionar um momento tão nostálgico.

— Correremos para fugir dos elfos zangados? - Perguntei, o fazendo rir. _ Eles jogaram uma colher de pau em sua cabeça e achei tão...

— Engraçado? - Era uma pergunta retórica. _ Quando a dor passou, foi realmente assim.

O som dos seus sapatos fazia minhas memórias transbordar e me motivar a continuar ao seu lado, talvez o que sinto não seja amor, afinal, já passou tanto tempo.

Talvez seja apenas arrependimento e saudades daquele tempo que não volta, mesmo que tivesse a oportunidade de contar os meus sentimentos para ele, não contaria agora.

Estou sendo infantil? Acho que sim, mas não quero magoar essa pessoa a minha frente.

— Bas, você me disse ter muitas coisas para me contar. - Parou de andar, estamos perto da porta.

— Em primeiro lugar, não gostei que você ficou triste, não queria que essas cicatrizes e meu trabalho fosse tão... - Tapei sua boca.

— Merlim, já falei que apenas fiquei chateada por não estar ao seu lado nessas horas. - Levantou a sobrancelha. _ Como amiga, ainda somos amigos, não somos? - Segurou minhas mãos, retirando de sua boca.

— Claro, para sempre. - Sorriu e não parecia triste. _ E em segundo lugar, não queria contar isso assim, queria pelo menos fazer você comer alguma coisa.

— Não me importo se estamos no meio do corredor mal iluminado ou que estamos em um banheiro com cheiro ótimo, só quero saber mais de você.

Olhou para baixo e apertou os meus sapatos em seus dedos, fazendo que aquele ato não passasse despercebido por mim.

Talvez ele não quisesse contar ou apenas comentou aquilo para que eu não fugisse de si, tínhamos tempo para que ele me contasse e...

— Aí estão vocês. - Olhamos para a pessoa e suspirei. _ Destiny, seu marido está procurando por você, parece que está um pouco irritado. - Merda, a mulher não foi? Não pensei nisso por enquanto.

Mas mordi meus lábios e continuei olhando para o Rodolphus, como eles poderiam ser irmãos se eram tão diferentes?

Um era tão fino e o outro tão robusto, Dolphus se vestia com porte e elegância, mas Rabastan queria rasgar essas roupas.

Eram diferentes... Mas como os mesmos olhos.

— Parece que o que ele tinha que resolver já foi resolvido. - Sorri, segurando a bile que ameaçava a subir. _ Bas. - O observei. _ Desculpe, acho que nosso jantar deve esperar mais algum tempo.

— Não se sinta culpada, foi ótimo revê-la e saber que você está feliz. - Minha respiração ficou presa. _ Aqui. - Ajoelhou-se e dei um passo para trás, tentando entender o que estava fazendo.

Mas os meus sapatos ficaram na frente dos meus pés e compreendi o que pretendia, era apenas um ato bondoso de me ajudar a colocar meus saltos.

Aproximei-me novamente e os sapatos foram cuidadosamente colocados em meus pés, fazendo que o frio se tornasse quente por alguns segundos.

— Obrigada. - Levantou-se e lembrei de algo. _ Você está esquecendo de algo. - Tirei a fita dos meus cabelos e o entreguei. _ Ela não é minha, então deve continuar com o dono e na verdade, prefiro verde.

— Você sempre preferiu. - Segurou a fita. _ Espero vê-la novamente. - Também. _ Não vou acompanhá-la, acho que Antony tem ciúmes de mim. - De todos.

— A noite ficou melhor com sua presença. - Beijei sua bochecha, sentindo a barba raspar os meus lábios. _ Até. - Olhei para o outro e dei alguns passos em sua direção. _ Não brigue com ele, seu irmão só quis me ajudar.

Dei um soquinho em seu braço e não olhei para trás enquanto colocava o anel de volta em seu lugar.

Entrei no salão e procurei aquela pessoa, tentando inutilmente não chamar tanta atenção.

— Onde estava? - Segurou meu braço com força, fazendo meu coração soltasse pela boca. _ A procurei por todo esse salão.

— Merlim! Quer me matar do coração, Anty? - Engoli em seco.

Olhou para os lados e me puxou para os fundos do salão, que era protegido por cortinas grossas e que impediam que os outros pudessem ver com clareza o que estava acontecendo por aqui.

Tentei voltar ao meu personagem, segurando mais uma vez a raiva impregnada em meu sangue.

— Anty, está machucando. - Empurrou-me para a parede e me equilibrei a tempo.

Antes de me virar, tive que suspirar, então, me virei e vi que estávamos perto o bastante para que os nossos narizes se tocassem.

— Onde estava? - Arrumei meu vestido e o observei. _ Responda-me, Tiny! - Sussurrou, mas havia um sorriso em seu rosto.

— Apenas fui ao banheiro, precisava respirar um pouco. - Era como se estivéssemos tendo uma boa conversa para os outros, como pombinhos apaixonados.

— Tem duas pessoas faltando nesse salão, sabe quem são? - Discordei. _ Lestrange. - Olhei para o salão e voltei a olhá-lo.

— Juro, Anty, não o vi e você me disse para não conversar com eles, fiz o que me pediu. - Segurou meu rosto, mas para os outros estava apenas me acariciando.

— Não pedi, eu ordenei. - Sorri, sentindo minha língua pinicar para falar. _ Se alguém me contar alguma coisa, você sabe o que farei?

— Não.

— Vou colocá-la naquele lugar que você adora. - Fincou suas unhas em minha pele. _ Farei você implorar por não ter nascido e ter me impedido de tudo.

— Anty...

— Espero que você não tenha falado com ninguém, sabe que não quero puni-la. - Concordei. _ Boa garota, você sabe que estou fazendo isso pelo seu bem, não é?

— Claro, você apenas quer me ver feliz, já que eles me odeiam. - Quero matá-lo.

— Isso, e você sabe que o único que a ama verdadeiramente sou eu, não é? - Maldito!

— Você é o único em minha vida, Anty. - O único que não deixarei ninguém colocar as mãos antes de mim.

— Isso. - Alisou meu rosto. _ Agora, vamos voltar para casa, Tiny. Você precisa comer. - Segurou minha cintura e me conduziu para algum lugar.

Talvez ter acordado não fosse a melhor alternativa no momento...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destino de Lestrange" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.