Guerras.

Estavam em volta disso o tempo todo. Não só literalmente nas lutas contra vilões em busca de salvar o mundo das maldades dos gananciosos e ambiciosos, mas também em lutas internas, lidando com suas próprias inseguranças.

Estavam começando a achar que nenhum vingador tinha final feliz, principalmente se tratando de vida amorosa. O único que não tinha esse problema era Tony, felizmente. Mas o resto deles… tisc tisc.

Wanda e Visão até tentaram mas, acabaram de quase serem mortos por seres de outro planeta, aliados de Thanos, atrás da jóia da mente.

As coisas tinham mudado desde Sokovia. Alguns foram presos, outros ficaram foragidos, e uns sumiram.

Nat passou um tempo fugindo, passou um perrengue com Dreykov e sua antiga família. Bruce passou dois anos sendo o Hulk sem ter consciência, num planeta completamente desconhecido e maluco. Totalmente diferente do que tinham planejado.

Tinham feito planos durante todo o tempo que passaram tentando deter Ultron, e nunca se sentiram tão vivos, tão completos, perto um do outro. Mesmo com o mundo desmoronando. Foi como se sentiram quando se beijaram, com pedras e blocos desabando. Sentiram que ficariam seguros se estivessem juntos. Se sentiram em casa… e já fazia um tempo que não se sentiam assim.

Arrependimentos os rondavam, sonhos inalcançáveis permaneciam, e tudo o que restava era saudade. Saudade do que não viveram.

Estava tudo de cabeça pra baixo e o mundo corria perigo mais uma vez. Felizmente, estavam aos poucos se juntando.

Após salvar Wanda e Visão e levá-los de volta à sede dos Vingadores em segurança, Nat teve uma surpresa ao ouvir uma voz conhecida atrás de si.

Era ele.

Depois de tanto tempo, estava frente a frente com Bruce Banner de novo.

Seu coração voltou a bater acelerado e ela quase prendeu a respiração sem nem perceber. Não achou que pudesse se sentir assim de novo. Mas lá estava ela, Natasha Romanoff, ainda apaixonada por ele.

— Oi, Bruce.

Ah, aquela voz! A voz doce e mansa que lhe recrutou aos Vingadores com charme e segurança, mesmo com certo medo. A voz que lhe assegurou que ele ficar bem e jurou com sua vida enquanto o via se transformar pela primeira vez. A voz que não lhe julgou por seus atos violentos nem sequer uma vez. A voz que lhe que causou arrepios enquanto preparava um drinque e flertava sutilmente. A voz que disse com todas as letras que o queria e que ele não era uma ameaça pra ela. A voz que ele queria ouvir todas as manhãs quando acordasse.

— Nat…

Ela deu um leve sorriso ao ouvir seu nome sendo pronunciado por ele mais uma vez. Que saudade! A maioria de seus amigos lhe chamavam de "Nat", mas era diferente quando Bruce o fazia.

Pairou um silêncio e eles ouviram Sam dizer "que constrangedor". Sorriram com o canto da boca e Bruce foi ouvido novamente.

— Bom, eu… suponho que não mereça um abraço, não é?

— Bobo!

Nat sorriu e não pensou duas vezes. Correu para seus braços.

Foi tão bom sentir aquele calor de novo, tão bom que dava vontade de prendê-la ali e nunca mais soltar.

— Você está bem?

— Estou sim.- ele sorriu e desfez o abraço. — E você?

— Ah, vou indo.- ela deu de ombros e sorriu daquele jeitinho que ele tanto amava, tentando esconder os dentes. — Que bom que voltou. Estávamos preocupados com você.

— É, eu… tive uns problemas. Mas… os de agora são bem maiores.

— Como assim?

Antes que pudesse responder, Bruce cumprimentou o resto dos amigos e alertou sobre Thanos e o que aconteceu com Thor.

Precisavam tirar a jóia do Visão sem que causasse dano a ele e, de acordo com Steve, naquele momento só conseguiriam fazer isso em Wakanda. Então teriam que partir pra lá.

Deram só um tempo pra galera se preparar pra viagem e pra luta também, pois claramente para pegar a jóia, os vilões iam tentar invadir Wakanda, então tinham que estar preparados com toda ajuda que pudessem.

Bruce aproveitou esse tempinho pra tentar conversar com Nat.

— Hey, eu… posso falar com você um minuto?

Mesmo surpresa, ela assentiu e foi com ele até um canto. Sentaram-se frente a frente em duas cadeiras.

— Eu queria te pedir desculpas…

Ela fez menção a interrompê-lo como se fosse dizer que tudo já passou, que era melhor deixar pra lá, que não importava. Ele sabia o que ela ia dizer, e importava sim.

— Não, Nat, por favor…- ambos suspiraram com pesar. Era um assunto doloroso. — Eu… eu não lembrava o que tinha acontecido. O Hulk… ele… foi parar num planeta maluco, eu passei esse tempo todo fora da terra sem fazer a mínima ideia disso.- notou nela uma expressão de grande surpresa e talvez até auto revelação. — Thor me encontrou, ele que me disse quanto tempo se passou, que me explicou onde eu estava. Nat… eu juro que não lembrava de ter ido embora…

Natasha sentiu a garganta fechar e os olhos arderem, mas segurou. Então ele não foi embora por causa dela? Ele não sumiu porque desistiu dela? Deles dois?

Como ela não conseguiu dizer nada, tentando digerir tudo o que ele dizia, Bruce continuou seu relato.

— Eu fui o Hulk todo esse tempo. Sabe como eu voltei a ser o Bruce?- ela engoliu a seco sem desviar os olhos dele, esperando a resposta. — Eu voltei por sua causa…- aquela frase pegou em cheio nela. — Eu voltei porque vi você.

— Vo-você… me viu?- piscou várias vezes pra tentar mandar as lágrimas embora.

— Thor achou a Quinjet, e enquanto tentava ligar, ele acessou uma mensagem sua… daquele dia…- Nat puxou o ar, ansiosa por ouvir mais, e ao mesmo tempo nervosa. — Você estava falando com o Hulk, daquele seu jeitinho…- ele soltou um leve sorriso que a fez fazer o mesmo. — Eu olhei pra você, eu ouvi você, depois daquele tempo todo, e voltei. Estava confuso e a primeira coisa que eu perguntei foi se você estava bem, se Sokovia tinha sido salva. Foi aí que ele disse o tempo que tinha se passado desde então.

Bruce respirou com dificuldade, estava sendo difícil falar tudo aquilo e ver a reação dela. Dava pra ver o quanto a magoou sumindo do mapa, largando ela depois de tudo o que passaram. Puxou a cadeira para mais perto dela e a viu puxar o ar de novo.

— Eu sinto muito, eu não controlo ele. Eu queria ter voltado pra você, eu estava decido, nós tínhamos planejado ficar juntos, eu nunca abandonaria você assim.

Natasha já não conseguia segurar as lágrimas.

— Eu pensei que…- fungou secando as teimosas gotinhas salgadas. —... você estava furioso comigo pelo que eu fiz, que tivesse pensado que eu tinha escolhido a missão ao invés de ficar com você… Eu juro que não, Bruce, eu só… não quis ir antes de terminar o trabalho.

— Eu sei…- ele sorriu e segurou as mãos dela, acariciando para ela ficar tranquila e se livrar daquela culpa. — Não foi culpa sua, não era certo fugir e deixar a equipe com a responsabilidade.

Os dois respiraram fundo e Nat tentou se recompor. Soltou as mãos dele e secou o rosto.

— Bom, o que importa é que está tudo bem agora. Deus sabe o que podia acontecer com você num planeta desconhecido.

— Pois é, eu dei sorte…- ele sorriu meio sem jeito, mas falou mesmo assim o que queria desde que seus olhos bateram nela depois de tudo. — Eu sei que… já se passou muito tempo e você já deve ter esquecido de tudo aquilo…

Natasha sabia onde ele ia chegar e o impediu de continuar.

— Bruce… eu nunca esqueci.

Ele a olhou surpreso e ela lhe presenteou com um sorriso acolhedor e fofo.

— Estava com tanta saudade de você!- ela se jogou para frente e enlaçou seu pescoço num abraço forte.

Ainda surpreso, mas com um sorriso no rosto, Bruce correspondeu ao abraço com alívio. Era tudo o que ele queria ouvir. Era tudo o que ele queria ter. Uma segunda chance.

Natasha se afastou e tocou o rosto dele. Sem aviso, seus lábios já estavam um no outro. Um beijo breve, porém saudoso.

Não cabiam em si de felicidade e nem tinham o que dizer depois daquela reconciliação, depois de tudo ter sido esclarecido, depois de descobrirem que mesmo depois desses anos longe, eles sempre se quiseram.

Bruce quebrou os instantes de silêncio.

— Adorei o cabelo.

Amava o ruivo do cabelo dela, mas tinha que admitir, aquele tom claro também combinou muito com ela. Nat era linda de qualquer jeito.

Ela lhe sorriu, o sorriso mais lindo do mundo, e tocou os fios dele.

— Estamos combinando.

Ele então percebeu que ela estava falando de seus fios grisalhos. De fato estavam combinando um pouco no platinado. Riram do comentário dela.

— Como está seu relacionamento com o grandão agora?

— Péssimo. Ele não quer aparecer de jeito nenhum, a gente não está se entendendo.

— Algo me diz que não vamos precisar da canção de ninar por um tempo.

— Eu tento me entender com ele depois. Não vai mais se livrar de mim, agente Romanoff.

Ela sorriu.

— E quem disse que eu quero?

Mais um sorriso e mais um beijo vieram, porém, instintivamente olharam pra trás ao ouvirem um pigarro.

— Eu juro que não queria interromper, estava muito fofo.- Steve sorriu. — É que temos que ir.

— Claro!- os dois se levantaram juntos e um tanto sem jeito por estarem sendo observados.

No jato, eles aproveitaram os últimos momentos de paz antes da guerra e Nat contou a ele o que passou com Yelena, Melina e Alexei. Bruce teve vontade de conhecê-los e Nat só conseguia imaginar as piadinhas que ia ouvir, como se ela fosse uma adolescente apresentando o primeiro namorado, principalmente de Alexei que não cansava de ser incoveniente. Se quisessem evitar passar vergonha, era melhor não irem até a outra família de Nat… mas até isso eles queriam experimentar juntos.

Chegando a Wakanda, Visão foi levado até a ala médica e Shuri se preparou para tirar a joia dele. Wanda ficaria ali para protegê-lo junto com alguns guardas e assim que a joia fosse retirada, sua missão era destruí-la. O resto ia para o campo de batalha, pois os inimigos já estavam a caminho.

Como Hulk não queria dar as caras para ajudar, Bruce teve a ideia de usar Veronica, a armadura grandona de Tony. Ele nunca a usou, mas já foi derrotado por ela, então era porreta.

Só teria que pegar a manha.

Já todos equipados com armas e comunicadores, eles e os guerreiros de Wakanda seguiram até o local da barreira em alguns veículos voadores. Banner vinha atrás.

— Como é que está indo aí, Bruce?- Nat quis saber se ele estava bem na armadura.

— Eu acho que eu estou pegando o jeito.- ele então tentou voar e fez isso de forma meio desengonçada. — Ah! Isso é maneiro demais!

Natasha achou fofíssima a empolgação dele. Se empolgou tanto que não viu uma pedra, tropeçou nela e caiu sendo julgado pelo olhar de Okoye.

Logo ele se recompôs.

— Eu estou bem… estou bem.

Nat não aguentou e deu risada.

— Deixa pra destruir a armadura na luta, Bruce.

— Engraçadinha!

Ela riu de novo.

O clima descontraído não durou muito, a luta foi difícil, mas felizmente deu tudo certo. Conseguiram tirar a jóia do Visão sem matá-lo, Wanda a destruiu e Thanos não conseguiu pegar nem ela nem a jóia do tempo. Ninguém morreu, apenas alguns feridos e doloridos, mas nenhuma perda.

Quando tudo acabou, eles se reuniram em meio a tantos corpos de monstros mortos, para verificar se estava todo mundo bem. Bruce saltou da armadura e correu até Nat que se jogou em seus braços. Bruce a ergueu por um instante, mas logo a colocou no chão tocando seu cabelo.

— Tudo bem?

Nat disse que sim e se afastou para olhá-lo. Ele estava com o lábio cortado e escorria um pouquinho de sangue. Ela limpou e estranhou o jeito que ele lhe olhava.

— Que foi?

— Isso é sangue azul na sua roupa?

— Espirrou na minha cara também, é que eu limpei.

Ambos fizeram careta e riram.

— Bom… Fim de batalha. Vitórias devem ser comemoradas.

— Tony é o rei das festas pós batalhas.

— Eu estava pensando em outro tipo de comemoração.

Bruce ficou vermelho na hora.

— Aí!- Sam chamou a atenção deles de longe. — Vai rolar outro momento de constrangimento?

— Não.- Nat sorriu. — Vai rolar uma segunda chance.- ela então voltou a olhar para Bruce. — Acho que todos merecem uma.