Double Take escrita por LadyB


Capítulo 1
Eu não vejo nada além de você


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente.

Eu tinha começado esta one-shot faz mais de ano, inspirada na música "Double Take by dhruv", e só a finalizei hoje. Estou postando sem pensar muito porque estou com saudades do meu casal.

Espero que gostem.



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Aomine não via nada além dela, como sempre. Os cabelos longos caiam displicentemente pelas costas, as mechas rosas contrastando com o bege claro do terno, e o sorriso era quase contido; profissional. A coisa mais linda do mundo. 

Ele gostaria de dizer que estava feliz pela sua melhor amiga de uma vida inteira, mas isso seria mentira. Não quando o homem segurando a mão dela não era ele. 

Muitas pessoas sabem que estão apaixonadas, com todos os hormônios e a intensidade que só o gostar de alguém podem proporcionar, mas não foi o caso dele. Definitivamente não houveram borboletas no estômago ou uma ansiedade em apenas pensar nela, apenas segurança e tranquilidade, que Aomine interpretou como sentimentos normais quando se ama (fraternalmente) alguém.  

Por isso, nada de ficar acordado escrevendo músicas, poemas ou o que porcaria a sociedade falasse, ou pensar em casamentos e decorações de casas. Ele sempre havia gostado das coisas como eram: os dois sempre, entre brigas e sorrisos, vivendo uma vida completamente previsível e comum. O que Aomine não imaginava é que um dia iria aparecer alguém que a faria rever as prioridades de uma vida toda, que a levaria a planejar uma mansão,  bebês de lindos olhos grandes e, por fim, para longe dele. 

Ele já não seria a primeira pessoa a quem Satsuki contaria qualquer bobagem aleatória que tivesse pensado no caminho de casa. Nem os maiores medos ou alegrias, sonhos e lutas. E isso doeu como o corte da faca mais afiada, bem na alma. 

Foi assim que entendeu que o amor é muito mais que o fogo intenso e carnal que envolve duas pessoas. Que existem muitas formas e todas são igualmente poderosas e devastadoras. 

Quando mais jovem, pensara na sua melhor amiga em fantasias devassas e comprometedoras, mas atribuíra aquilo ao fato de ela ser uma garota bonita de peitos extraordinariamente sensuais e grandes. Por que haveria de pensar que gostava de peitos grandes justamente porque ela os tinha? Se ela fosse mais reta, provavelmente seria ídolo de qualquer modelo de passarela. Tudo sempre havia sido sobre Satuki. 

— Você vai querer algum refresco, Daiki? — Escutou a voz de sua mãe, que ergueu uma taça de um líquido salmão e estendeu em sua direção. 

— Não, estou cheio — respondeu, olhando em volta da mesa redonda com rosas demais para não parecer tumultuada e desceu até o prato branco e dourado quase cheio. — Comi antes de vir, achando que seria servido uma daquelas comidas chiques que não enchem uma colher — completou, baixo, tentando minimizar o quão raro era sua falta de apetite.

Sua mãe maneou a cabeça, ainda duvidosa e desconfiada.

E ele odiou estar ali. Seria pedir demais poder sofrer de dor de cotovelo em casa, ao som de alguma música deprimente e longa, com uma garrafa de sakê nas mãos? O sorriso de Satsuki não lhe trazer paz era assustador. 

— Dai-channn, — gritou ela, perto do painel de fotos, fazendo um gesto para que se aproximasse — vem logo!

Aomine comprimentou o noivo e o invejou por ter conseguido colocar aquele anel nos dedos delicados de Satsuki. O anel era pequeno demais para a personalidade extravagante dela, mas o pensamento mesquinho não apaziguava a sensação doentia que se alastrava mais e mais em seu peito. 

Ele tentou sorrir em todas as malditas fotos, retesando o corpo em agonia toda vez que Satsuki o tocava com toda aquela familiaridade que deveria ter permanecido apenas entre eles. A ironia é que as fotos ficariam boas, uma lembrança doce de uma festa de noivado celebrada por todos. 

Desejou as últimas felicitações e se virou, querendo veementemente não olhar para trás. E falhando. 

Queria beijá-la com ardor, acariciar os locais que ele sabia que ela gostava; descobrir aqueles que ainda não havia ousado tentar. Mas que direito ele tinha? 

O homem dos sonhos dela era um cara tranquilo, sorridente e suave. Tudo que Aomine jamais poderia ser mesmo que quisesse, que desse tudo de si, porque Satsuki sabia muito bem cada detalhe sobre ele. 

Uma mão pequena segurou seu braço repentinamente, tirando-o do próprio devaneio. Satsuki estava olhando para ele com um misto de curiosidade e impaciência. A perna inquieta, repuxando a saia justa e evidenciando a curva do quadril ainda mais.

— Dai-chan, eu não acredito que você vai embora desse jeito!  — ela exclamou rapidamente, gesticulando as mãos conforme as palavras saiam em um borrão. — Você não consegue ser minimamente agradável nem em um dia como esse?

Aomine sentiu o corpo entorpecido, e as palavras lhe faltaram. Como poderia dizer que permanecer ali quebraria o que havia restado do seu coração? Soaria ridículo. Era ridículo.

Um cara de quase dois metros e temperamento de um demônio da Tasmânia não deveria ter o coração partido.

Então permaneceu ali a olhando, calado, até que seus olhos colidiram por milésimos de segundo. Satsuki pareceu espantada com o que quer que tenha visto em seu olhar, e a mão dela caiu ao lado de seu corpo em um baque surdo. 

— Daiki? — ela perguntou, a voz sem a estridência anterior e com uma suavidade que raramente aparecia. 

Ele só pôde imaginar o que ela estava pensando, se havia mostrado demais. Com um suspiro profundo, ele riu sem humor, sabendo que não poderia decepcioná-la.  

— Vim tomar um ar fresco, todas aquelas flores me deram dor de cabeça. 

Satsuki pareceu querer falar algo, mas maneou a cabeça em afirmação. 

— Não demore a voltar, a apresentação das fotos vai começar e você precisa estar lá para me ajudar a contar todas as nossas histórias. 

Nossas histórias.

Ele acenou e deu de ombros, como se não fosse nada de mais. 

Satsuki se virou e começou a voltar para a festa. A sequência de arcos de flores acima de sua cabeça tornando a cena algo parecido com uma pintura renascentista. 

Por um momento fugaz, ele imaginou que ela iria embora se ele confessasse tudo ali. Que ela largaria todo o planejamento de uma vida, uma casa comprada, um casamento suntuoso. 

— Satsuki, você já pensou em.., eu…

As palavras se interromperam antes que ele pudesse concluir qualquer frase incoerente.

Ela voltou a atenção para ele, solene. 

— Não é nada, Satsuki. Volte antes que venham te procurar. 

Ele a observou por longos minutos de longe, reunindo toda a coragem que precisava para voltar para o lado dela como um mero espectador, não mais um protagonista da história que ela começaria a construir. Com passos lentos, ele fez refez o caminho de volta. 

No final das contas, Aomine era apenas um covarde.


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Notas finais do capítulo

Não editei nem betei a estória, então peço que me avisem se acharem algum erro, por favor.

Obrigada por ter lido até o final.



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