A Química do Amor escrita por MisuhoTita
― Como vai, Regininha? – eu a cumprimento.
Ao invés de me responder, ela volta a sua atenção para o seu irmão, para então dizer:
― Eu tenho que ir agora, Rafinha. Tenho pacientes para atender, mas, assim que possível eu volto para te ver.
― Sei que sim, Regininha. – responde Rafael – Pode ir tranquila cuidar das suas crianças, saiba que eu não vou sair daqui.
Não consigo desviar os olhos de Regininha, enquanto ela se despede do irmão e dos pais e deixa a UTI, meus olhos simplesmente não desgrudam da figura dela, até a porta se fechar.
― Edan. – ouço a voz de Rafael me chamando e, volto a minha atenção para o meu melhor amigo.
― O que é? – eu pergunto.
― Limpa a baba, meu amigo. Ela está escorrendo.
― Filho da mãe. – me vejo dizendo, e, em seguida, começo a rir.
Ali estava o meu amigo, acordado, e, pelo visto, voltando a ser o mesmo engraçadinho de sempre.
― Você deve me agradecer, Edan. – a voz de Rafael me tira de meus pensamentos – Pensa bem, se eu fosse qualquer outro irmão, não ia querer você nem perto da Regininha. Mas não, olha eu aqui, torcendo para você se acertar com a Regininha e, como se diz por ai "shippando" vocês. Qual outro irmão faria isso?
― Menos, Rafael. Menos, por favor.
Rafael simplesmente parece não me levar a sério, e, começa a rir, para o alívio de Theodoro e Fátima, que se aproximam do filho.
Vejo que este é um momento entre os três e deixo a UTI, a fim de dar privacidade a eles. Sigo até a cantina, onde compro um café e procuro uma mesa vazia a fim de me sentar, feliz, por, finalmente, depois de dias de pura aflição, saber que meu amigo despertou.
Sei que, por conta da paraplegia, a vida de Rafael não será a mesma, mas conheço meu amigo e sei que ele vai dar um jeito, e, pela forma como ele falou comigo, tirando um barato com a minha cara por conta da irmã dele, sei que o bom humor não o abandonou, o que é algo bom.
Termino de tomar o meu café, e, estou pronto para deixar o hospital quando o meu celular toca, olho a tela e vejo que é uma mensagem de Rafael, pedindo para que eu volte a UTI. Sem perder tempo, volto para a UTI e encontro meu amigo conversando com Theodoro e Fátima e, pela expressão dos dois, consigo ver alívio, principalmente pelo fato do filho estar acordado.
― Mãe pai, vocês se incomodam de me deixarem sozinho com o Edan? – pede Rafael.
― De forma alguma, Rafa. – responde Fátima, sorrindo para ele.
Theodoro e Fátima então deixam a UTI e, tão logo estamos sozinhos, não perco tempo em dizer:
― Rafael, agora que estamos só nós dois, eu preciso saber. Como você está com tudo isso? Você sabe que não precisa me esconder nada, não é mesmo?
― Não vou esconder. – me responde Rafael – Por isso pedi a meus pais que me deixasse sozinho com você.
― Estou ouvindo.
― É estranho, acredite, não sentir as pernas. E também saber que eu nunca mais vou andar. Mas, se você acha que eu vou sair chorando e perder a vontade de viver, não vou. Você me conhece, Edan, isso não é do meu feitio. Eu gosto de viver, gosto de estar vivo, e isso não vai mudar, só vou ter de aprender a viver de outra forma.
― Você sabe que pode contar comigo para o que precisar, não é mesmo?
― Acha mesmo que vai se livrar assim de mim tão fácil, Edan? Você vai ter que me aguentar por muitos anos ainda, porque eu não quero morrer tão cedo. E nós ainda vamos fazer juntos o nosso doutorado, só vamos ter que adiar um pouco, porque eu preciso me acostumar a esta minha nova condição.
― Eu te espero o tempo que for necessário, sabe disso. Mas, creio que não foi para isso que pediu para seus pais nos deixarem sozinhos, não é?
― Não foi mesmo. O negócio é o seguinte, preciso que você chame o meu médico, tem algo que eu preciso perguntar para ele, mas, não queria fazer isso na frente da minha mãe, para ela não ficar constrangida.
― Já até imagino o que você quer perguntar. – começo a rir.
Não perco tempo e, faço o que Rafael me pede, chamando o médico que está cuidando dele. E, enquanto os dois conversam, me celular toca, e, eu não perco tempo em atender, pois vejo que é Patrícia, do escritório da ONU.
― Alô. – falo, ao atender o telefone.
― Edan. – a voz de Patrícia é de pura felicidade – Tenho uma novidade que creio que você vai gostar.
― Estou ouvindo.
― Se lembra do trabalho sobre derretimento das calotas polares que você me entregou dias atrás?
― Sim. Até avisei que terminei o trabalho sozinho, por conta do acidente de Rafael.
― Ele foi aceito na convenção de Aquecimento Global de Nova Delhi. Pode fazer as malas, reservar um voo e hospedagem, pois você vai apresentar o trabalho na Índia.
― Quando será isso mesmo? – me vejo perguntando, ainda sem acreditar que o trabalho foi aceito.
― Daqui a uma semana. – me fala Patrícia – Sei que é pouco tempo, mas sei que você consegue, Edan. Tenho que desligar agora.
― Mais essa agora. – me vejo dizendo, após desligar o telefone.
― O que foi? – me pergunta Rafael, desviando sua atenção do médico por um momento.
― Patrícia acaba de me ligar, avisando que daqui a uma semana tenho que star em Nova Delhi. Isso é muito pouco tempo para conseguir um voo, hospedagem e estudar para a apresentação do artigo.
― Está falando daquele nosso artigo sobre o derretimento das calotas polares?
― Esse mesmo. Terminei ele enquanto você estava em coma. Para falar a verdade nem sei como ele foi aceito e nem sei como vou apresentar isso em tão pouco tempo. Fora o problema com voo e hospedagem, como eu já disse.
― Faz o seguinte, Edan. Tira essa semana para estudar e deixa que eu resolvo sua passagem e hospedagem.
― Obrigado, Rafael. Não sei o que seria de mim sem você.
― Pois é, amigo. Eu também não sei o que seria de você sem seu amigão aqui para resolver os seus problemas. Mas falando sério, não se preocupa não, vai dar tudo certo.
― Eu espero mesmo que dê tudo certo, meu amigo.
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