Lupo escrita por Eira


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Trata-se de um projeto, esse seria o capítulo piloto, por assim dizer. Se houver maior interesse, desenvolvo em uma história maior.
Deixem reviews, ajuda muito :)

Boa leitura.



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O jantar podia ser definido por todos como delicioso, tranquilo e relaxante. Eira estava sentada na cabeceira da mesa, ao seu redor estavam Lupo e seu bando, os empregados da casa e Jane, sua fiel amiga. A líder sempre gostou de refeições com a mesa cheia, era gostoso ver todos rindo, conversando e apreciando a comida, desde que era pequena seu pai lhe ensinou a ter esse hábito com a família e convidados, e aqueles que trabalhavam na casa eram sua família. Era possível sentir a afinidade entre todos na mesa, algumas relações sendo criadas e outras sendo reforçadas, e o bando do Lupo sabia bem se integrar.

Juan já estava embriagado e contava centenas de histórias divertidas do bando, e nessa noite ele decidiu contar a épica história: a forma que conheceu Lupo e decidiu seguir viagem com eles. Como todos estavam curiosos, a mesa ficou em silêncio e o clima de expectativa era crescente em direção ao careca.

— Aqueles ingleses nojentos estavam vindo e todos nós sabíamos, - bebericou o copo. - iam nos roubar, estuprar e matar, e só para sacanear, iam mijar nas nossas covas e depois invadiriam as nossas casas para tomar o nosso chá... Dito e feito, na noite seguinte aqueles cachorros sarnentos invadiram minha vila, arrombaram a porta da minha casa e pegaram a minha mãe e Irmã, ah... Nunca vou esquecer a cara daquele soldado, ele passou a mão por debaixo da saia da minha irmã enquanto eu estava imobilizado no chão... - Bebeu de novo e bateu nas costas do Lupo. - MAS ESSE CAMARADA! MEU HERÓI! - Tentou dar um beijo no Lupo, mas ele se esquivou rindo. - Apareceu... E foi PA PA o cara que me segurava caiu, levantei-me e fui até o filho da puta que estava com a minha irmã... Madames, tapem os ouvidos porque vai ser desagradável. - Jane revirou os olhos e pediu que continuasse. - Não digam depois que eu não avisei. Bom, fui até o cara, ele estava em cima dela e ela gritando para ele parar, puxei ele, saquei um punhal e deferi diretamente naquilo que o torna homem. - Uma exclamação generalizada de agonia se passou pela mesa. - Eu avisei, - Esvaziou o copo e pediu para encherem de novo. - continuando: o desgraçado gritava e gritava, até que cortei-lhe as mãos e a língua, depois o deixei ir embora. Ainda tinham ingleses na vila, com o mesmo punhal fui ajudar o resto do pessoal, botamos todo mundo para correr, é ou não é rapazes? - Os cinco restantes bateram os copos. - Aí ele me convidou para juntar no bando e aqui estou, meus caros, sou um bêbado que adora trabalhar!

Ninguém pode conter a risada diante daquela história sensacional, que foi recebida com aplausos de todos, Juan até fez uma reverência em agradecimento.

— Bom... - Eira começou. - Eu gostaria de propor um brinde ao Juan, nosso herói corajoso, e a todos os outros que estão aqui. Um brinde à todas essas aventuras!

— Obrigado madame, agradeço o elogio e ao vinho. Não posso sair daqui sem perguntar, a senhorita se incomodaria se eu levasse algumas caixas quando formos embora? - Lupo o cutucou com o cotovelo.

— Lógico que não, mas isso é conversa somente para quando forem embora, agora bebam, divirtam-se e aproveitem o resto do jantar.

Ao longo do resto da refeição, todos foram mais bebendo do que comendo, várias garrafas já pendiam no chão da mesa e a conversa era mais alta e mais animada do que antes. Até Jane estava se divertindo, embora Eira não tivesse reparado, com Rafael - o italiano do grupo-, e foi quando eles saíram da mesa de fininho.

 ***

Eira entrou em seu quarto muito "feliz" graças ao legítimo vinho de sua região, trancou a porta e encostou o corpo na penteadeira, não conseguia parar de rir das últimas coisas que Salazar dizia, aquele cara era sensacional! E se sentou na cadeira.

Uma coisa não saia da mente da líder: o Lupo, aquele homem parecia quase impregnado na sua mente, ela se esforçou o jantar inteiro para não trocar tantos olhares. Apesar de não ter usado a máscara, ele ainda tinha um aspecto misterioso, aqueles olhos verdes tinham muitos segredos que intrigavam a mulher. O Lupo a olhava com uma intensidade que a deixavam naturalmente corada... A pergunta é: por quê?

Eira não tinha medo de homens e tão pouco ficava envergonhada perto deles, ao contrário, o jogo era ela quem fazia, conduzia-os por olhares e poucas palavras, tendo tudo sob controle, mas aquele homem... Não dava essa segurança toda a ela. A jovem se sentia até um pouco tímida.

Havia seis semanas que eles estavam em sua residência a mando da princesa Isabel, sua querida amiga, e adorava todos eles, além do que, percebeu que aqueles seis bagunceiros traziam alegria a casa. Cansada de pensar, levantou da poltrona e se serviu com mais vinho, tinha um estoque particular esplêndido.

— Posso pedir uma taça? - Eira ficou tão assustada que quase deixou cair o que tinha se servido.

O Lupo estava sentado na janela encarando-a, não usava botas e tinha aberto a gola da camisa deixando a vista o peitoral.

— Como subiu aqui? É o segundo andar.

— Pela árvore. - Apontou para a altíssima árvore perfumada e colorida que tinha na frente da janela enquanto pegava a bebida. - Obrigado.

— Não precisa ficar na janela, sr. Lupo, pode entrar, fique à vontade.

— Não me chame de "senhor", por favor. - Brindou com a anfitriã.

— Tudo bem, Lupo. - Ambos se sentaram. - Agora me diga, por que veio aqui?

— Francamente, nem eu sei direito, - Deu um longo gole. - talvez tenha vindo agradecer a hospitalidade por essas semanas e dizer que a senhorita é uma pessoa muito acolhedora, receptiva e generosa. Aceite meus elogios como uma razão.

— Pelo amor de Deus! "Senhorita"? Fiquemos apenas com "Eira", e outra, ainda não entendi exatamente o que você quis dizer com "generosa", de onde tirou isso?

— Digamos que eu vim a Palatino na... Expectativa de uma receptividade e um comportamento vindo de você e acabei encontrando algo totalmente diferente.

— Você esperava uma nobre pomposa de vestidos longos de seda e renda, revestida de joias, preocupadíssima com a etiqueta e os modos, usando falas elaboradas, sem chegar perto do campo e tratando os empregados como se fossem lixo?

— É, até que resumiu muito bem. - Riu.

— Deus me livre! Estou bem assim, amo essas pessoas que trabalham comigo, adoro refeições com mesa cheia e não gosto muito de vestidos apertados com estrutura por baixo... E o que me diz a seu respeito? Um homem silencioso e contido, com vários fiéis a você...

— No início eu trabalhava sozinho, acreditava que não precisava de nada e nem de ninguém para viver, até que conheci cada homem que hoje me acompanham, cuidamos uns dos outros como uma família. Conheci e investi em cada um minha confiança e determinação, digamos que eu costumo ir atrás do que acho que vale a pena. - Revelou mais devagar, sentando mais na ponta da poltrona e aproximando-se de Eira.

— Jura? Eu não costumo ser tão segura, preciso de tempo para confiar. Meus empregados só tem minha confiança legítima e mútua porque os conheço desde criança, quanto ao resto, gosto de ter mais certeza de onde estou pisando antes de arriscar.

— Como pode perceber, sou mais inconsequente.

— Eu diria que você é mais afetuoso, é um bom homem e a inconsequência é um dos resultados desse comportamento. Engraçado... Você é cercado de várias histórias de aventuras e até mesmo de mistérios. É conhecido como um dos homens mais destemidos da Espanha, senão da Europa, e está aqui se assumindo inconsequente? Se eu pudesse registrar isso o faria.

— Fique a vontade. - Pregou os olhos nos doces castanhos da líder de Palatino.

Inicialmente, Lupo esperava tratar com uma daquelas nobres fúteis e moldáveis (com quem facilmente se relacionava, graças ao seu chamar galanteador), porém algo lhe chamou a atenção quando a princesa Isabel lhe conversou em particular:

"Lupo estava de frente com a princesa espanhola, que o chamou para conversar sobre a missão sobre a qual ele foi designado.

— Fique de olho nela para mim, com esses franceses à solta por aqui tenho medo de que ataquem Palatino e façam qualquer coisa com a minha querida amiga...

— Vossa alteza não tem com o que se preocupar, cumprirei minha missão em ficar atento em toda a região de Palatino.

— Fique com ela, Lupo. Ela é uma moça extremamente gentil e agradável e o receberá bem. - Os lábios da princesa franziram, como iria dizer? - Só não estranhe seu comportamento porque ela não é muito... Convencional.

— Perdão, Alteza? Como assim 'não convencional'?

— Ela é uma dama que sabe frequentar a sociedade e a corte, foi ensinada a isso desde que era criança. No entanto, Eira tem um espírito independente e é extremamente séria, não gasta seu dia pensando em vestidos e bailes. Ela não tolera mentiras, insolências e ordens, e isso a torna um pouco difícil de lidar, ainda mais quando há homens no assunto.

— Asseguro, Madame, de que não tenho pretensões.

— Lupo, falemos sério, sei de todos os seus casos nesta corte e conheço os tipos de mulheres com que costuma lidar, Eira não é assim. Estou te precavendo tanto para sua relação com a líder, quanto para sua relação com a mulher, e falando nisso... Devo alertar: ela não é casada, mas escolhe com quem vai se relacionar, nunca é escolhida.

— A senhora quer dizer...

— Exatamente, - cortou-o e inclinou a cabeça. - além do mais eu conheço vocês dois há muito tempo, querido. Sei quais são os anseios, modos e ambições de ambos, por isso achei que valeria o aviso.

— Princesa, acho que esta conversa está tomando um rumo que não deveria.

— Eu sei Lupo, mas meu pedido continua o mesmo: cuide dela, haja o que houver e não se esqueça de tudo o que lhe falei."

Agora o homem conseguia entender melhor a princesa. Estudou a mulher seis semanas e permaneceu observando tudo o que fazia, reparou em seus modos, por onde costumava ir e como se relacionava... Era encantadora. Lupo a via como uma feiticeira, a cada passo leve que a via dar, cada gesto firme e cada sorriso deixava-o intrigado:

Quem era aquela mulher?

— Mais vinho? - Eira perguntou.

— Aceito, mas deixe-me servir dessa vez. - Recolheu as taças e levantou. - Eira, gostaria de fazer uma pergunta.

— Faça. - Pegou a taça.

— Por que nunca se casou?

— Hum... Nunca encontrei alguém digno para casar, embora quase o tenha feito uma vez, mas o desgraçado estava de caso com outra, então mandei os dois para o inferno e toquei a minha vida. Meu pai nunca fez questão que eu me casasse para manter as aparências, sempre deixou isso bem claro, então prefiro aproveitar o que a vida tem de melhor. - Deu um longo gole.

— Então... - Eira sorriu e sussurrou bem perto do rosto do homem.

— Querido... Nós dois somos assim. - Depositou a taça sobre a mesa e quase encostou seus rostos, se deleitou ao sentir seu perfume forte e se encantou ao ter os olhos verdes sobre si. - Você é um homem charmoso e livre, distinto em todos os sentidos, e eu sou uma mulher decidida, com vários desejos não reprimidos, tenho as rédeas da minha vida... Assim como você tem as da sua... Então... Lupo, - Pronunciou lentamente. - qual é a surpresa?

O odor do vinho então emanou por todo o quarto, Lupo intercalava o olhar entre os lábios entreabertos da moça e os olhos sedentos. Queria aquela feiticeira que estava deixando-o sem controle pera si, porém... Percebeu sua clareza e sinceridade quanto ao que iria acontecer, era a primeira-dama que não formulava jogos de manipulação, ela o levava sem qualquer duplo sentido, seduzindo-o com naturalidade e sem forçar algo que sabia não existir. Ela não tinha noção do tamanho do poder que tinha sobre ele naquele momento, ainda mais por estar enfraquecido graças ao vinho.

O Lupo puxou-a para si em um beijo ardente e segurou sua cintura com firmeza. Adorou ter os lábios da anfitriã para si, eram doces e tão inebriantes quanto o vinho. Por mais que a sentisse entregue, percebeu um elemento crucial daquela química: ela não era se deixava ser dominada, queria dominar.

Eira inverteu as posições rapidamente e se sentou em seu colo. Beijava-o com luxúria enquanto puxava os macios negros cabelos, permitiu-se explorar os ombros, peitoral e costas com as mãos hábeis e experientes. Enquanto ele desenhava sua cintura até os seios e voltava pelas costas. No meio daquele alvoroço de toques e carícias, ele desceu os lábios pelo pescoço e colo da dama, até que ela perguntou repentinamente.

— Lupo... Qual é... O seu nome? - Murmurou entre suspiros.

Ele parou e a encarou. Os olhares se cruzaram intensamente, ela séria e ele duvidoso. Deveria dizer? Talvez sim, talvez não, ambos estavam entrando em um jogo de análise, examinando um ao outro. Depois de alguns segundos, o Lupo abriu um sorriso no canto da boca e afastou as mechas cacheadas do rosto da moça.

— Quem sabe um outro dia.

— Outro dia para o nome? - Sorriu travessa.

— Com certeza. - E voltou a beija-la com o mesmo vigor inicial.

***

Eira estava com muito sono e Lupo a deitou em seu peito. A líder buscava em sua mente qual foi a última noite em que se sentiu tão bem. Estava deitada no vão do pescoço do Lupo, lugar onde distribuía beijos e onde descobriu uma queimadura.

— O que foi isso? - Dedilhou o rosto do homem.

— A queimadura? Essa foi uma das poucas que não ganhei lutando, - Riu fraco. - Foi algo totalmente diferente.

— Parece ser uma... Letra? - Ele assentiu. - "V"? Quem é? - Ele virou o rosto para o outro lado em direção à lua, ela respirou fundo e puxou pelo queixo, encarando-o no fundo dos olhos. - Quem é?

— Meu pai. - Eira arregalou os olhos e observou novamente a cicatriz. - Na minha família não eram aceitos muitos erros e muito menos eram esquecidos, então... Ganhei isso de presente, como uma lembrança para nunca repetir o mesmo erro. - A expressão dele endureceu, o maxilar trincou e o olhar ficou perdido.

Ela até queria perguntar o motivo, mas preferiu beijar a marca e lhe oferecer um sorriso sincero, se divertiu ao ver a face de confusão do homem e lhe depositou um beijo nos lábios.

Boa noite, Lupo.

***

No final das contas, começaram a se ver todos os dias nas mesmas horas. Lupo sempre subia a árvore e era recebido com uma taça cheia de vinho e os lábios da líder, ao passo que ela tinha sempre a certeza de que teria uma noite extremamente agradável. Não somente dormiam juntos, conversavam muito a respeito de várias coisas como histórias e alguns segredos, ganhando gradualmente a confiança um do outro. Além disso, brincavam e se divertiam, inclusive, uma das peripécias foi uma guerra de travesseiros.

Lupo confirmou suas expectativas: Eira era uma mulher sem igual, extremamente inteligente, mais habilidosa do que esperava, divertida, otimista, excelente observadora e cheia de bons palpites sobre as pessoas e seus sentimentos com bons palpites... Era cheia de opiniões firmes e desejos, demonstrava o que queria e quando deveria. Enquanto Eira descobriu um homem curioso, esperto e gentil, com um bom senso de humor, charmoso e sensual. Era incrível como daquela janela para dentro ele se transformava, passou a deixar a máscara de personalidade no piso térreo para o seu bando e para quem mais fosse, mas para si, demonstrava sinceridade e docilidade. Descobriu tristezas sobre a vida do rapaz e soube de histórias que a deixavam hipnotizada. Além de ter descoberto alguém que começava a entender sua independência e apreciava isso.

Dali um mês, combinaram de chegar uma hora mais cedo do combinado porque ele alegava que tinha algo sério a dizer.

Saiu do banheiro vestindo somente uma camisola branca de seda com rendas pretas na parte do busto, os longos cachos perduravam molhados em volta do pescoço e a pele corada pelo calor do banho dava um ar de meninice à mulher.

— O que você precisa me contar de tão urgente?

— Podemos conversar? - Apontou a poltrona e sentou-se frente a ela, tentando ignorar seu estado. - Temos um problema.

— Em nome de Deus, fale logo! - Segurou as mãos dele.

— Amanhã virá o dono de algumas terras vizinhas para conversar com você, ouvi dizer que ele abriga espiões franceses. - Ela ficou muda. - Ao que parece, ele virá aqui para tentar te convencer a ajudá-lo.

— Por quê? Todos sabem que sou leal à família real.

— Talvez o pai dele soubesse, mas faleceu semana passada, esse é o filho dele: D. Flávio Veiga, ele é o único herdeiro e tem uma dívida com alguns nobres franceses, por isso está acolhendo-os.

— Como sabe de tudo isso?

— Rafael me disse, andou investigando algumas pessoas daqui de Palatino. Hoje ele estava jogando cartas com alguns soldados e comerciantes até que um deles soltou essa informação.

— Pode ser um blefe?

— Todos bêbados, acho difícil.

Eira respirou fundo e tratou de pensar, andou até a janela e ficou olhando um ponto qualquer ali fora; embora soubesse que era em direção da árvore. Não era segredo para ninguém de que a influência da região pertencia a Palatino, e consequentemente, Eira se tornava a nobre mais importante da região. No entanto, há alguém acoplado com o inimigo que está disposto a vir pedir ajuda para a amiga mais íntima da princesa espanhola... Não poderia ser mais ridículo... Espera, estava ridículo demais! Aquele homem iria justamente para ela pedir esse tipo de ajuda, sabendo que a Espanha está quase entrando em guerra com a França e que a Coroa estava lidando constantemente com espionagem. Dom Flávio viria a sua residência... Para poder tentar alguma coisa a mais.

— Eu conheci o D. Túlio Veiga, meu pai negociava com ele, e depois eu mesma tratei negócios diretamente, era um homem inteligente e astuto, que Deus o tenha.

— Onde quer chegar?

— A família Veiga não é burra, D. Túlio sabia que meu pai era leal à família real, e duvido muito que o filho dele não saiba, não percebe? Está ridículo demais, provavelmente ele vai usar alguma coisa contra mim, um documento ou um segredo qualquer. - Voltou o olhar para o homem que agora estava em pé bem ao seu lado. - D. Flávio Veiga acha que tem algum domínio sobre mim e pensa que vou ceder para aqueles franceses nojentos.

— Quer que barremos a vinda dele? Podemos impedir a passagem para a província.

— Não... Tenho uma ideia melhor e só poderei executá-la pessoalmente. - Falou baixo.

— Desculpe, qual é a sua ideia?

— Sabia que o melhor jeito de lidar o inimigo é fazendo-o se contorcer a sua vontade? Eu vou ditar a música e aquela cobra vai dançar, isso será fácil. - Eira não percebeu que Lupo fechou a expressão e trincou o maxilar. Para ele, aquela conversa estava tomando um rumo que não deveria, e começou a pensar em insinuações possíveis que aquele plano teria.

— Como pretende fazê-lo se contorcer? Uma cobra só dança se for seduzida. - Eira abriu um sorriso e tornou a fitar o Lupo.

— Só precisarei de persuasão, meu querido. D. Flávio é jovem e mimado, como a maioria dos mais afortunados, e será fácil entregá-lo por traição à Coroa se confessar estar abrigando franceses. - Sorriu. - Acredite, essa partida de xadrez eu sei jogar e não será necessário o uso da força. - A líder foi até o estoque particular de vinhos, um armário de madeira polida com o brasão da casa, sacou uma garrafa de vinho avermelhada e a posicionou em cima de uma mesa.

— Veneno?

— Lupo, que tipo de pessoa acha que sou? Não é veneno, isso é um vinho doce e delicioso, porém, com um teor alcoólico muito alto. Essa garrafa veio diretamente do norte da Itália, numa fazenda pequena chamada "Patovia", onde são feitos os vinhos mais fortes do mundo, é o equivalente a tomar duas garrafas num único copo.

— Uma pequena curiosidade: por que você tem uma garrafa dessas?

— Esse bárbaro do Veiga não é o primeiro a aparecer para me importunar, muito menos para tentar me chantagear e é por isso que tenho essa garrafa, para conseguir o que eu quero e quando quero sem machucar ninguém. Além do mais, um dos efeitos dessa garrafa específica é facilitar que o usuário não tenha qualquer lembrança do que falou e pesa tanto que a pessoa dorme facilmente. - Eira se aproximou sorrateiramente do homem e envolveu seu pescoço. - O que você acha?

— Você é quem tem que saber - Abraçou sua cintura. - e não eu.

— Não estou sozinha nessa situação, eu gostaria da sua opinião, você já se envolveu em casos parecidos.

— Confesso que nunca pensei em embebedar alguém e fiquei surpreso com a ideia, pelo menos é melhor do que eu pensei que você ia fazer.

— O que passou pela sua cabeça? Que eu ia para cama com aquele cachorro? - Proferiu irônica, mas reparou que o homem ficou mudo e se desvencilhou. - Quem você pensa que eu sou? Uma garota que consegue manter tudo o que tem por deitar com nobres?! Acha que eu não sou capaz de lidar com os problemas que me caem no colo?! - O guerreiro ficou sem reação e logo se arrependeu, mas já era tarde. - Pois escute bem isso, Lupo: não sou uma prostituta! - Se deteve nessas palavras e engoliu seco. - Nunca precisei apelar para conseguir algo de alguém com sexo, todos com quem dormi foi porque EU queria!

— Desculpe, não quis ofender...

— Pois ofendeu. - Destrancou a porta do quarto e a abriu. - Vá embora, agora quero ficar sozinha. - Sem dizer uma palavra, o homem seguiu porta a fora e Eira tornou a tranca-la.

A líder se pegou perplexa, como ele podia pensar essas coisas a seu respeito? Levou os dedos aos lábios e sentiu a rudeza das palavras que proferiu, pensou na mulher que mais respeitava e admirava, aquela que foi obrigada a servir a vida quando era muito jovem... Sua leal amiga, Jane.

Lágrimas subiram aos olhos de Eira, sentou-se na cama e sentiu a tristeza tomar conta de si e sentiu o quarto frio. Foi quando percebeu que não foi a raiva que lhe dominou, mas sim a tristeza e a decepção. Fechou a janela, se embrulhou nas cobertas e dormiu, quase não pode evitar os piores pesadelos que lhe acercaram: os franceses invadindo suas terras, Jane voltando a ser prostituta e o Lupo sangrando à beira da morte.

Enquanto isso, no térreo da casa, alguém estava andando sem rumo no meio da madrugada, o sono não lhe vinha, quando fechava os olhos, só vinham as frases cuspidas de Eira. Ao se pegar revendo a cena, percebeu que a tratou de uma forma totalmente descabida, conviveu com Eira e sabia que ela era astuta, mesmo a própria Isabel tinha lhe dito isso, então por que pensou que ela apelaria para isso? Por qual razão seus pensamentos o traíram com a ideia de que ela dormiria com o duque? Quando soube por Rafael a respeito do Veiga, teve instantânea certeza que ela saberia o que fazer por ser uma boa estrategista.

Aqueles olhos raivosos para si deixaram Lupo se sentindo o pior dos homens, no entanto não sabia que se sentiria tão mal por tanto tempo, ao ponto de retornar à mansão e ficar encarando a altíssima árvore. Na verdade, nunca parou para reparar na planta. Possuía um casco grosso e resistente, era repleta de galhos contorcidos para todos os lados, tinha todas as folhas verde-vivas e diversas flores desabrochavam no alto: amarelas, rosas, lilases e azuis.

Lupo pensou por dois segundos, quando percebeu estava no galho em frente ao quarto de Eira, e ficou observando-a dormir. A boca estava entreaberta, o cobertor cobria até a metade das costas e o cabelo estava todo esparramado pelo travesseiro, a jovem estava deitada de frente para a janela, de modo que o homem reparasse nela dormindo... Percebeu que ela estava agitada, tinha o cenho franzido, não parava de apertar o cobertor e seus olhos estavam... Úmidos, aparentemente. Mas mesmo assim, vê-la tão vulnerável e tão linda o deixou ali parado por mais uma hora, desejando a todo instante poder invadir o quarto e apertá-la contra os braços enquanto sussurrava que tudo ia ficar bem. Até que se viu obrigado à ir para seus aposentos oficiais.

***

No dia seguinte, três batidas foram ouvidas no escritório da mansão.

— Eira? - A correspondente levantou os olhos dos papéis espalhadas sobre a mesa e abriu um sorriso.

— Olá, Jane. - Convidou-a para sentar-se.

— Chegou essa carta para você, é do filho do D. Túlio. - Entregou.

Ao ler o conteúdo da carta, Eira franziu as sobrancelhas e logo abriu um sorriso, voltou o olhar para a amiga e disse.

— Jane, providencie para que a Senhora Paola faça um jantar esplêndido hoje à noite e mande todos arrumarem a casa até as 19 horas.

— Por quê? O que diz a carta?

— Minha querida... Nós teremos um convidado esta noite. Ah, antes que eu me esqueça, chame o Sr. Lupo e seus homens, preciso conversar com eles, é urgente.

— Sim senhora, já volto.

Ao som do bater da porta, Eira desfez o sorriso e abriu a janela do escritório. Não tinha dormido bem naquela noite, sentia as pálpebras pesarem e o corpo reclamar do tempo constante de tensão, pensou que um pouco de vento lhe faria bem à cabeça. Se permitiu fechar os olhos e deixar a pele ser aquecida pelo sol, como se aqueles raios recarregassem sua energia interna.

Desfrutou do momento o quanto pode até ouvir outras três batidas na porta, sentou e permitiu a entrada. Lupo, Rafael, Juan, Pierro, William e Salazar adentraram a sala, todos estavam bem dispostos e curiosos para saber do que Eira gostaria, exceto Lupo, que apesar da rígida postura, demonstrava cansaço.

— Bom dia, cavalheiros. Serei franca e direta: hoje receberemos a visita de um duque espanhol chamado D. Flávio Veiga, ao que me consta, Rafael e Lupo já imaginavam isso. Bom, ele virá lá pelas 20 horas, me enviou uma carta dizendo que gostaria de me visitar para "tratar de assuntos relacionados ao falecido pai", que tinha negócios aqui em Palatino. O "porém" é o seguinte, ele abriga espiões franceses nas pendências de suas terras, embora saiba-se disso, a família real não pode fazer nada pela falta de provas. Sei que ele quer minha ajuda para esconder os franceses e vai tentar me chantagear para isso, mas eu tenho um plano e gostaria de compartilhar com vocês e também pedir ajuda. - Todos assentiram. - Provavelmente alguns dos guardas que o acompanharão até aqui são espiões, e vão querer dar voltas na propriedade e conversar com os funcionários, ou estarão perto do duque. Quero que Juan fique disfarçado na cozinha, Salazar e William se vistam de garçons para nos servir o jantar, Pierro e Rafael sirvam de apoio para ficar com os guardas lá fora e cuidem dos cavalos, e Lupo... - Respirou fundo e prosseguiu. - quero que se passe por um primo distante.

— Com licença, mas do que adiantam nossos papéis? - Questionou Juan.

— Simples: Juan, você ficará de olho nos guardas que investigarem os funcionários; Salazar e William ficarão de olho no movimento térreo e se certificarão de que ninguém subirá as escadas, além de contribuírem para oferecer um específico vinho ao duque; Pierro e Rafael puxarão assunto com os guardas externos, sendo Pierro um francês, ele saberá identificar um sotaque; e Lupo será meu auxílio para lidar com Veiga. Nós, - Apontou para si e para Lupo. - conseguiremos arrancar informações do desgraçado, incitando-o a fazer menções ao homem que pediu abrigo aos espiões, e vocês - Apontou para o resto. - vão garantir de sequestrar um único francês, assim mandamos o Veiga para a forca e expulsamos outro acampamento traíra daqui. - Respirou fundo. - Sem vocês não conseguirei fazer nada disso, preciso de ajuda. - Foi quando finalmente um deles se pronunciou.

— Não se preocupe senhorita Eira, nós a ajudaremos. - Afirmou Lupo.

***

— Vocês foram incríveis, rapazes! Amanhã levaremos esses três à família real e mal posso esperar para presenciar a forca.

— Você é cruel madame, - Sorriu o careca. - e eu gosto disso. Pois saiba que sempre pode contar conosco, madame!

— Sei disso, Juan. Agora, quero que todos vocês vão descansar, todos merecemos um dia de descanso depois dessa noite. - Então uma empregada perguntou se Eira gostaria de uma bacia de água quente em seu quarto para poder molhar os pés e ela recusou.

Mesmo que já fosse meia-noite, os empregados se puseram a arrumar a casa, havia inúmeras coisas quebradas e espalhadas por todo o chão. Trabalhavam com tamanha pressa e avidez que impediram Rafael em apertar o passo para encontrar Jane, ele queria tratar os machucados dela pessoalmente, até que foi parado por Eira.

— Rafael, tenho algo a mais para te pedir.

— Pode dizer, minha senhora.

— É sobre Jane. - O rapaz se viu alarmado e quis abrir a boca para se justificar, porém a líder o parou. - Eu já sei de tudo, Rafael, não se preocupe, só peço para que você cuide dela. Entenda, ela é a irmã que eu nunca tive, é doce, gentil, inteligente e extremamente forte, não é qualquer um que passa por tudo que ela passou e permanece firme, certamente sabe do que estou falando. - Sorriu triste. - Ela conheceu muitos homens ruins e cruéis, nenhum que merecesse a mulher que ela é, e eu diria que qualquer homem que a tivesse deveria erguer as mãos aos céus. - Segurou o rosto do moço. - Meu querido, hoje percebo que ela encontrou alguém digno de merecê-la. - Por mais que quisesse manter a postura fortificada, não pode impedir que lágrimas teimosas escorressem, o que fez Rafael sorrir. - Então, cuide da minha menina, sim? Chega de conversa! Vá atrás dela. - Não precisou dizer duas vezes, o homem evaporou atrás da amada.

Eira estava exausta e subiu ao seu quarto sem conversar com mais ninguém. Sentia cada milímetro de seu corpo doer, principalmente o pescoço e a extensão das costas. Tirou as joias, soltou a presilha do cabelo e jogou os sapatos. O vestido, na ideia de enaltecer o busto e o colo, estava muito apertado, quando ia tentar desfazer os laços, sentiu duas mãos puxando a fita para afrouxar. Virou-se assustada e viu que era o Lupo.

— Que susto! - Apoiou-se numa cadeira para recuperar o fôlego. - Não te esperava aqui.

— Desculpe, só vim ver como você estava. - Enfiou as mãos nos bolsos da calça.

— Não... Não precisa se desculpar, aliás, obrigada por puxar a fita do vestido, estava começando a doer para respirar. Desvantagens de ser mulher: somos traídas por nossas próprias roupas.

— Como você está?

— Quase toda dolorida, o guarda apertou meu pescoço com certa força e está sensível, e minhas costas estão se recuperando dos impactos contra a parede. Sei que logo terei meu corpo recuperado… E como você está? Esse corte está feio. - Apontou para o rosto dele.

— Não foi nada demais, já passei por coisas piores, acredite. Posso examinar suas costas? De repente eu precise colocar alguma coisa no lugar. - Quando percebeu que ela iria recusar, levou o dedo aos lábios e a virou de costas. - Eu insisto. - E começou a tatear as costas, sentiu o próprio coração acelerar, então respirou fundo e continuou. Percebeu que tudo estava em ordem, mas sentiu uma sensibilidade ao ouvir alguns gemidos de dor. - Está tudo bem, você só precisa de uma massagem, panos quentes para compressa e boa noite de sono.

— Acho que sim, não estou acostumada a tantas aventuras. - Se aproximou e verificou a profundidade do corte, desenhou toda a região aberta e o viu fechar os olhos, aproveitando o toque. - Esse corte é superficial, graças a Deus, não é nada demais. - Sorriu e afastou as mãos. - Obrigada por conferir minhas costas, amanhã peço para trazerem os panos... Na verdade eu gostaria de agradecer por tudo hoje, você foi incrível na mesa, me ajudou muito.

— A ideia do vinho foi sua, e, diga-se de passagem, foi genial. - Sorriu com o canto da boca.

— Obrigada, embora eu também deva agradecer por ter me salvado. Por alguns segundos, pensei que aquela adaga ia fincar fundo no meu pescoço... Nunca fiquei com tanto medo na vida. - Disse em um fio de voz. Lentamente, ele segurou seu rosto com delicadeza, quebrando a barreira formada entre ambos na noite anterior.

— Não me agradeça, nunca deixaria aquela adaga penetrar um milímetro da sua pele, Eira. - Aproximou o rosto da dama. - Não poderia permitir isso. - Envolveu delicadamente seu rosto e sua cintura, trazendo-a para mais perto. - Perdoe-me por ontem.

— Lupo, acho que não devi...

— Alejandro. - Sussurrou.

— O que disse? - Encarou-o no fundo dos olhos.

— O meu nome é Alejandro Esperanza, nascido e criado em Santiago de Compostela.

— Por que você está me contando? - Murmurou preocupada e perplexa.

— Não tenho motivos para esconder de você, posso confiar em você assim como pode confiar em mim. - Encostou as testas. - Fique comigo Eira, eu sinto que... Eu preciso... - Ele se calou ao senti-la erguer seu queixo para cruzarem olhares.

Encararam-se longamente. Alejandro desceu as mãos e segurou levemente a cintura de Eira enquanto ela segurava seu rosto. Inúmeros pensamentos circundavam a mente de ambos e havia algo em comum nesse meio: nenhum dos dois queria estar em qualquer outro lugar. Ela o percebeu de uma forma diferente, pela primeira vez ele estava frágil e de coração aberto, afinal até lhe entregou uma arma: sua própria identidade.

Instintivamente Eira o puxou para um beijo apaixonado, e até onde seu corpo permitia, o puxava para mais perto possível. Aquele homem bagunçou sua mente e seu coração, sentiu-se entregue e vulnerável naquele instante, permitiu-se receber o carinho que ele estava disposto à oferecer.

Ele segurou a nuca da mulher e sentiu o perfume das flores primitivas de Palatino no cabelo, queria ter certeza de que Eira ainda estava ali com ele e que assim permaneceria. Lupo a virou e puxou linha por linha de seu vestido, tirando-o delicadamente de seu corpo, logo a ergueu nos braços e a depositou gentilmente na cama. Tirou a camisa e começou a depositar vários beijos ao longo do corpo dela, aproveitando cada sussurro abafado de Eira. Ela vibrava com os toques e logo o puxou de volta, tomando-o em outro beijo, sentindo-o passar as mãos delicadamente por sua lateral e subindo do pescoço à nuca. Até que ele parou, tirou o cinto e a calça, e manteve seu corpo suspenso para não machucá-la.

Alejandro Esperanza era o Lupo de dia, mas trazia seu espírito selvagem a noite. Eira era a líder que daria a vida pela sua terra, era um pedaço da mais pura raiz que lá havia, uma árvore que se estendia ao dia e recolhia seus tortuosos galhos para ser tocada pela brisa. Aqueles elementos da natureza provaram ser uma combinação perigosa, acharam um no outro a paixão e a gentileza, e então, os apaixonados desafortunados, amaram-se por toda a noite, até que não restou mais nada.

O dia clareou, e eles continuavam entrelaçados. Eira já tinha acordado há um tempo e ficou apreciando o belo homem...

Ela nunca foi uma mulher de querer ficar com alguém, era séria e cheia de obrigações desde seus 17 anos, o que podia fazer? Era a tarefa que seu pai a havia designado antes de morrer, então fazia tudo o que podia para manter as terras e para ajudar a família real. Quase se casou aos 19 com um membro da realeza espanhola, até que descobriu o canalha enamorado de outra nobre, não podia competir com isso, virou as costas para o cafajeste e continuou sua vida administrativa. Desde nova, afirmava a si mesma que não dependia de nada nem de ninguém, sabia que se tornou adulta no momento em que foi obrigada a enterrar o pai, já que sua mãe faleceu quando deu a luz, porém, a maturidade lhe trouxe os hormônios e a solteirice trouxe sua liberdade. Era uma mulher muito cautelosa e sedutora, tinha uma alma solta e avoada, mas uma enorme prateleira cheia de corações apaixonados -apenas corações solteiros, é claro-.

Eira já ouvira falar do Lupo, várias histórias incríveis de aventura rondavam aquele homem. Era conhecido por sua máscara negra, por sua bravura e pelos seus cinco companheiros (agora espalhados por outros quartos da mansão). Ela nunca havia cogitado a hipótese de conhecê-lo, mas quem diria, estava com o corpo entrelaçado no dele. Lembrou-se do trotar de cavalos próximos enquanto estava sentada no escritório, da correria para ver quem se aproximava daquelas terras, e lá vinha Torus, o corcel ébano de Alejandro, acompanhado de outros trotes... E agora ele estava ali, pronto para servir a coroa contra a espionagem Francesa ao mando da princesa Isabel para a província comandada pela amiga.

Ela tentou levantar, porém um par de braços a puxou de volta, Eira abriu um sorriso para conter a risada enquanto ele continuava a dormir profundamente. A luz que entrava pela janela era muito intensa, por isso se desvencilhou discretamente do homem. Fez um pequeno esforço para levantar mas não escapou do gemido de dor, enrolou o corpo num lençol que estava no chão e fechou as pesadas cortinas vermelhas, de modo que parecesse noite novamente.

Antes que pudesse voltar para a cama, viu que Lupo tateava o colchão em busca dela com o cenho franzido, até que abriu os olhos. Ele estava um pouco tonto e ia se sentar, mas uma mão macia e delicada o impediu, e viu que Eira continuava lá.

— Volte a dormir, querido. - Enrolou-se no edredom e o abraçou.

— Fiquei preocupado... Não te encontrei na cama. - Falou arrastado, trazendo-a para seu peito, até que ouviu uma reclamação. - Desculpe, acho que não fui muito delicado... Pensei que... Tivesse ido embora. - Embora estivesse com os olhos vermelhos e quase fechando, sabia estar consciente de cada palavra. Como estavam abraçados, Eira acariciou seu rosto.

— Lu... Alejandro, - Corrigiu. - não pretendo ir embora. - Sorriu. - Aqui é o meu lugar. - Sabia a ambiguidade que essa frase carregava. - Estou me sentindo como nunca me senti antes, parece que alguma coisa em mim mudou... E sei a causa disso. - Acariciou o rosto do cavaleiro. - Contudo, sei que você é livre para um dia pegar o Torus e ir embora da província.

— Acha que eu quero fazer isso? Ir embora sem olhar para trás?

— Não sei, talvez. - Engoliu seco e deixou de encarar seus olhos. - Você é um homem que pertence à vida e suas aventuras, pode querer ir para conhecer outros lugares e outras mulheres... E talvez, escolha ficar com uma delas, sabe-se Deus onde, e assim... - Mordeu o lábio inferior. - Você sabe, esquecer todo o resto...

— Eu concordo, Eira. Sou um homem que serve a vida e a quem aparecer nela, creio que já conheci muito do mundo e muitas pessoas. Mas se engana ao pensar de que ainda não escolhi uma mulher para ficar, e se ela aceitar, com ela vou viver. - Sorriu e ela voltou a encará-lo, com o coração batendo forte. - No momento em que a princesa Isabel me enviou para cá conheci pessoas novas e encontrei um lugar que quero ficar, nenhum lugar no mundo mais me atrai do que esta província e a líder dela.- Eira arregalou os olhos e sentiu o coração acelerar. - Quando vim para Palatino, pensei que seria uma missão simples como qualquer outra. Isabel falou sobre você antes de me enviar, sempre soube da "pouca convencionalidade", não pensei que iria encontrar uma bela mulher, diferente em todos os aspectos, dona das próprias regras... Realmente acha que eu tenho algum motivo para ir embora?

— Mas... E a história do Lupo? - Ele se pôs a acariciar seus cabelos.

— Eu ainda não sei o que vou fazer, quando acabar esse conflito todo da Espanha com a França, verei isso. Mas te garanto uma coisa, minha querida, não vou embora. - Eira sorriu e beijou Alejandro com muita paixão, afinal sentiu o coração borbulhar com as palavras do homem. - Como estão as costas? Ainda sente dor?

— Um pouco de mal estar, mas bem melhor do que ontem.

— Logo vou buscar panos quentes para você, aí você ficará 100%.

— Não acha que vão estranhar você saindo do meu quarto?

— Não se eu me vestir e disser que dormi no sofá, enquanto a senhorita Eira descansava em pleno repouso e imóvel. Quando quer que levemos os traidores para a Coroa?

— Eles podem esperar um dia para serem levados, ainda me sinto exausta e você não está melhor, precisamos descansar mais.

— Se é assim... Quem devo levar na equipe?

— Como é questão de duas semanas para levá-los e enforcá-los, eu vou também. Iremos: eu, você, Juan e Salazar. William, Pierro e Rafael devem ficar e guardar Palatino, essa divisão não trará problemas para o palácio, porque os três são os únicos não Portugueses ou Espanhóis, e todos ficarão seguros.

— Concordo, devemos preveni-los de qualquer perigo ou mal-entendido.

— E também preciso de pessoas confiáveis para guardar minhas terras, não confiaria elas à qualquer um. Conheço-os bem o suficiente para saber que gostam daqui, principalmente Rafael.

***


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