A noite adentrava em sua escuridão mais sublime naquele dia, especificamente naquele dia ele estava vestindo roupas pretas também, enquanto dirigia por Londres ele sentia que uma chuva torrencial atingiria a cidade, porque era assim que ele se sentia, como uma tempestade de verão.

Nas últimas horas James segurou tudo que tinha para dizer dentro de si, nas últimas 24 horas que se passaram tão rápido que ele ainda não processara a informação.

Ele deixou o pub duas noites atrás, fechou a porta bem em sua cara. Agora ele tinha que abrir aquela porta pesada de madeira para a ver ali.

Ao empurrar a porta, a primeira coisa que os olhos de James focaram foi naquela caixa entalhada de madeira no meio do altar, guardando uma Rose serena e sem vida.

Ele engoliu em seco, por um momento sentiu a vontade de sair dali, de fugir, mas isso não era quem ele era mais depois de tudo, depois de perder ela.

Caminhou com passos pesados e lentos até o lado dos seus parentes, Lily fora a primeira a ver o irmão e lhe dar um abraço carinhoso.

— Você está bem, maninho? - Perguntou Lily antes de levantar o rosto para o analisar

James nada disse, apenas assentiu, avistando Alvo logo atrás, Lily se afastou para que o irmão pudesse o abraçar, Alvo lhe deu um abraço apertado, era possível notar seus olhos inchados, Alvo provavelmente estava chorando desde o segundo em que recebeu a notícia, ele já tinha assimilado, James pensou.

Mais a frente Hermione e Rony estavam sentados nos primeiros bancos, Dominique vinha trazendo um copo de água para Hermione e deu um sorriso pesaroso ao ver o primo, os olhos de Hermione não desgrudavam do caixão.

Era aquilo que era, um caixão, aos poucos James ia se alimentando da ideia, da nova realidade, ele percebia.

Como se sua ficha ainda não tivesse caído ele foi até ela, deixando uma última olhada que Alvo compreendeu e permitiu que o irmão se afastasse.

Engoliu em seco mais uma vez, chegando próximo ao caixão.

Lá estava ela.

Pálida como nunca, a única coisa que ainda restava cor era seu cabelo, seus cachos cobriam todo o travesseiro onde sua cabeça descansava, eles fizeram um bom trabalho em disfarçar a pancada que provavelmente Rose levara na cabeça ao ser atingida por um caminhão a 24 horas atrás.

As sardas ainda estavam ali embaixo dos seus olhos, suas bochechas rosadas agora eram cinzas e sua boca praticamente roxa.

O estômago de James embrulhou, a sensação de levar um murro em sua barriga fora arrebatadora, ele levou a mão ao coração, estava ficando sem ar, aquilo não podia ser possível, ele desejou com todas suas forças que aquilo fosse um sonho, que fosse um filme igual o da Branca de Neve ou o da Bela Adormecida.

Ele desejou com todas suas forças que a dois dias atrás não tivesse fechado a porta na cara de Rose por ela tentar se justificar, Rose tinha partido seu coração em mil pedaços ao ficar com outro cara naquela noite, aquilo não devia ser nada, afinal eles tinham combinado de ser uma relação estreitamente ligada aos sábados a noite e somente. Ou pelo menos era isso que Rose tinha decidido.

Suas palavras ainda ressoavam na sua cabeça, “Você nunca me quis assim, James” dissera ela com os olhos cheios de lágrimas.

E agora era engraçado como as coisas tinham se desenrolado, James estava com os olhos marejados ao lado de seu corpo morto também.

Ele não soube dizer a ela que a queria mais que tudo no mundo, que não a trocaria por nada, mas Rose era ocupada, estava sempre com a cabeça no trabalho, construindo sua carreira como uma cleptomaníaca, tudo isso para acabar sem tempo no final.

Ele fugiu pela última vez naquela noite no pub, porque a 24 horas quando soube que Rose sairia para encher a cara com Karen e Riley ele correu para lá, mas era tarde demais, talvez ele demorara demais para recorrer.

E era por isso que o universo o estava culpando, porque agora não restava Rose para que ele pudesse dizer o quanto a amava, pois ele a amava de um jeito que agora estava morto por dentro junto com ela, no momento que recebera a ligação toda a vida que existia em si esvaiu, todo o brilho que um dia emanou simplesmente apagou.

James sem muito pensar soltou um grito do fundo de sua alma, ele caiu de joelhos em frente a caixa de madeira.

Lily cogitou ir até o irmão, porém Alvo segurou sua mão.

— Ele precisa disso - murmurou o moreno olhando para o irmão com tristeza

Então as lágrimas vieram, o sufoco em seu peito e a falta de ar chegaram, o arrasando por dentro, ele não queria aceitar.

Seu coração batia descompassado, sentia que podia parar a qualquer momento, ele desejou que parasse, desejou tão forte que morresse junto com ela, se sentia assim, ele tinha morrido também.

A melancolia se instalou no ambiente, todos ficaram perplexos quando Hermione levantou e caminhou até o menino, ela se ajoelhou levemente ao seu lado, o envolveu em seus braços, ela entendia sua dor, James apertou forte a madrinha enquanto suas mãos tremiam, seu corpo inteiro tremia enquanto ele desmoronava.

— Ela se foi - Ele sussurrou - E eu não pude fazer nada.

Suas palavras soavam como facadas que afundavam em seu coração cada vez mais fundo.

— Ela sabia, James - Hermione respondeu, erguendo o rosto do menino para olhar em seus olhos.

As lágrimas corriam descontrolavelmente em seu rosto, ao mesmo passo que uma chuva começava a cair do lado de fora, uma tempestade de verão às oito da noite.

— Ela sabia o quanto você a amava, ela me disse - Hermione disse acariciando o rosto do menino

Mas aquilo era pior do que ele poderia sustentar, porque se Rose sabia, então ela sabia que ele estava fugindo de suas mãos.

— Eu nunca vou me perdoar por isso - Ele sussurrou voltando para o abraço apertado de Hermione.

Se aquilo fosse um filme, igual os que Rose amava, ela ainda estaria ali, ela voltaria com um beijo de amor verdadeiro.

Se fosse um filme, Rose provavelmente apareceria na porta e riria da situação como sempre fazia, pois ela adorava pregar peças nos outros, então seus olhos brilhariam e ela abriria o seu sorriso reconfortante.

Contudo, Rose não levantaria dali, Rose não iria sorrir ou rir mais nenhuma vez, ela nunca teria uma ideia brilhante novamente, nunca escutaria seu nome sendo pronunciado pela sua doce voz, ela estava congelada no tempo, nada mudaria a partir dali.

Ele não encontraria mais um beijo em seus lábios rosados, muito menos as suas piadas sem graça enquanto fazia o café da manhã no domingo, não poderia deitar ao lado dela e deixar um beijo no topo de sua cabeça quando ela repousava em seu peito, não iria sentir mais o cheiro do seu perfume que incendiava todo o ambiente.

Se aquilo fosse um filme ele ainda poderia pedir desculpas por todas as vezes que deixou Rose ir embora, por ter fechado a porta na sua cara, poderia dizer que nunca mais a deixaria, que cada batida de seu coração pertencia a ela, que seus sorrisos eram potencialmente pensando nela, que suas risadas mais sinceras eram ao seu lado, que ele brilhava quando estava com ela, eles brilhavam juntos, todos sabiam daquilo, todos já tinham aceitado, em todo caso, James fora o último a perceber que precisava dela.

— Volte para mim, Rose - ele disse em soluços sabendo que aquela era a última vez e a primeira que dizia isso para ela.

Em algum lugar entre o antes e o agora Rose ainda perdurava, viva somente em suas memórias incansáveis que iam e vinham o tempo inteiro.

Mas nada disso ia acontecer mais uma vez, ele estaria mentindo para si mesmo se quisesse acreditar naquilo.

James não podia conviver com aquela nova realidade, ele não tinha mais um lar para voltar no sábado e em nenhum dos dias da semana, nunca mais.

Tudo acabou como um sopro, ele estava quebrado para sempre, porque aquilo não era um filme, era a vida real, era tudo que tinha restado.

No final quando se ergueu e depositou um beijo na testa de Rose ele realizou que estaria esperando por ela pela eternidade, pois para ele, apesar de estar quebrado e sem vida, Rose era pra sempre.