A missão escrita por camibsva


Capítulo 6
O amor




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A guerra ou o prenúncio dela parece não apenas circular entre os boatos, mas também pelo mundo. O outono tem pedaços de escuridão caindo das árvores, fatias de noite em meio a nossos dias introvertidos, enquanto marchamos pelos corredores, em fila indiana, vezes para assistir alguma aula, vezes para comer a refeição disponível do dia, com pão mirrado e algo entre um suco de abóbora e água. Como sempre, as sansões alimentares continuam. A todo instante sentimos picadas de fome, feito uma reclamação incansável, circulando nas veias durante o dia inteiro. É depressivo.

Acho que Blásio Zabini sabia disso, porque aquilo estava ao pé da minha cama quando acordei. Sem fitinhas, sem lacinhos, apenas um pobre bilhete em pedaço de pergaminho. Fiquei imaginando, enquanto suspirava de cansaço, como ele teria contrabandeado aquilo para sala corvina sem a ajuda de alguém. Cho Chang ficou dando risinhos. Não é de hoje que ele inspira confiança na chinesa. Ela dizia, em nossas conversinhas de beira de cama, que eu estava sendo desconfiada e que deveria dar corda ao garoto.

“O que diz o bilhete?” - perguntou Chang, ajeitando as madeixas frente ao espelhinho da cômoda.

“Diz: Resgate pelo chocolate”. 

Chang ri, aquele jeito tímido. “Sinceramente, não dá para duvidar das intenções do Zabini, Angelou. Ele está tentando agradar, mas também é bastante sensível. Ele sabe que seu estômago anda roncando o dobro do que o dele, e também fez questão de entender qual é seu chocolate favorito.”.

“Você sabe o que eu acho sobre isso. Pare de fornecer informações, se possível pare de falar com ele. Não sabe do que é capaz, não sabe se é um bom Legimens. Simplesmente não sabemos”.

Chang continuou resmungando algo sobre ele ter questionado sobre chocolates e não sobre cobaias, mas o protesto logo diluiu-se frente meus pensamentos. Deitada em meio aos cobertores, cheia da preguiça da manhã, lá estavam em meus braços os riscos das navalhadas de Dolohov, rubros como se ainda queimassem no primeiro dia. Eu era inteira uma fratura exposta. 

"É bom". 

Comi um pedaço da barra, vencendo um grande orgulho. Fiquei ouvindo Cho a conversar sobre qualquer coisa que eu não pude mais entender, porque a imagem do símbolo da Sonserina não saia da minha cabeça. Dias atrás, Blásio Zabini chegou em minhas mãos com o lábio e as sobrancelhas entrecortadas. Segundo ele, tinha brigado com Crabble, embora o motivo não estivesse claro. Zabini ficou espalmado de dor a cada pegada de algodão em seu rosto, e semi encostado na maca, olhava para o lado, sem coragem de encontrar meus olhos.

Pomfrey falava do outro lado da sala, ocupada a enfaixar um aluno do primeiro ano. “No que depender de Dolohov, já teriam matado todos os alunos. Não foi o que ele tentou fazer com você, Zabini?”.

Foi a primeira vez que a enfermeira falou diretamente com ele; talvez porque estivesse iniciando o processo pelos qual todos subversivos ousavam passar. Aos poucos, Zabini murchava feito saco dentro das roupas, as marcas das escalações viajando por seus membros; a palavra “subversiva” escrita  em seus punhos. Esse rasgo descia feito cobra e desaparecia debaixo de suas roupas, de volta ao ninho.

“Não lembro de muita coisa daquele dia, eu acho que Dolohov só quis me convencer ao contrário. Calculou a dor para me fazer pensar duas vezes antes de me tornar um... Como escreveram em você? Subversivo. De todo jeito, embora concorde que Crabble deva ser punido, eu seria hipócrita em dizer que não instiguei a coisa toda”.

Nesse momento, quando instintivamente toquei em seu punho para abrir os botões, o bruxo me reteve. Eu disse: “já te salvamos de pegar uma infecção, agora pretende retornar aqui adoentado?”.

Zabini me soltou, um tom amargo na voz:

 “Preocupada comigo?” Ele riu. “Esse escrito não foi Dolohov quem fez, mas sim Avery. Me custou ter discutido sobre ciência com ele e tudo por causa de uma navalha de "occam”.

“Você confrontou Avery?”.

“Sei que você costuma pegar fichas de escalação de antemão para não ter de ouvir as baboseiras de Avery, Angelou. Mas em se tratando de uma matéria que se equipara a Estudos dos Trouxas, eu simplesmente não consigo não achar que deveríamos contribuir, mesmo rendendo algumas navalhadas”. Ele continuou a falar, enquanto eu ordenava minha maleta de primeiros-socorros, estendida na maca. - “O fato é que a maioria de meus amigos, antes de Voldemort, corroboravam com as ideias preconceituosas em relação aos não-maji. A questão era que antes não possuíam quem representasse. Quando Avery chega em sala com uma ciência distorcida me deixa louco. É um maldito.”

Vi que ele tinha os punhos fechados em raiva. Fechei minha maleta e, sem querer, transportei-me para sua indignação. Atrás de mim, notei pelo reflexo do espelho, Pomfrey balançava a cabeça. Passava agora remédio no joelho do calouro sapeca.

“Olha, você mesma viu o meu rosto. Crabble falava besteiras enquanto batia no peito, perguntou o que um traidor como eu fazia por ali. Brigamos. Daquele grupo mesmo, só tenho conversa com a Parkinson”. 

De alguma forma, porque Pomfrey lhe dirigiu a palavra e aceitava suas falas, Zabini realmente me pareceu alguém digno de conselho. 

“Eu te entendo, Zabini; mas  por favor, se for pagar de subversivo, comece por não usar os punhos. O resgate para nossa causa precisa vir por amor, não com porradaria" - lembro que ri ao dizer a última palavra. 

E agora o sonserino mandava chocolate com um bilhetinho manchado de um senso de humor que eu não sei se critico ou se gosto. Honestamente? Gostaria de poder confiar em Blásio Zabini, mas não  sei o que me segura, se apenas a missão ou os conselhos de Gina Weasley.


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