A Mulher da Casa ao Lado escrita por Cássia Novaes


Capítulo 1
Capítulo 1 — De volta a Forks


Notas iniciais do capítulo

Oi, tudo bem? Sejam bem-vindos a essa história!

Voltando a postar essa história com algumas modificações. Lembrando que essa fanfic será curta, com 10 capítulos no máximo, então aproveitem cada capítulo.

Boa Leitura!



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O verão mais quente da história dava adeus a pequena cidade localizada na península Olympic em Washington.

Um vento leve e muito agradável que vinha da janela do carro aberta, batia contra o rosto de Alice Brandon.

Ela observava as montanhas que cercavam a cidade onde nasceu conforme o veículo, conduzido por sua mãe, acelerava na estrada vazia.

A sensação era incrível, pensava. Estava com saudade da sensação de tranquilidade e alegria que Forks trazia. 

Havia passado as férias de verão em Seattle, na casa de sua avó paterna, como fazia todos os anos.

O objetivo era passar um tempo ao lado do pai, mas Eleazar quase nunca estava presente, sempre justificando sua ausência ao trabalho.

Quando mais jovem, Alice se importava muito com isso, chegava a chorar devido a falta de carinho do pai. Depois de um tempo percebeu que se lamentar sobre isso não levaria a lugar nenhum. Seu pai foi criado de outra forma e não conseguiria demonstrar amor da mesma forma que sua mãe. 

Eleazar era um ótimo pai da sua maneira e nunca deixou de cumprir suas responsabilidades. Em especial na área financeira, Alice nunca poderia dizer que algo lhe faltou. Além disso, gostava de passar esse tempo ao lado de sua avó, pois sabia que esses momentos não seriam eternos. Deveria aproveitar cada segundo ao lado dela.

Madeline é uma senhora adorável e muito gentil. Tratava Alice com carinho e preparava os biscoitos mais macios e saborosos de todos. Eles sempre eram acompanhados de algum conselho.

— Devo me preocupar com esse seu silêncio? — questionou Carmen, notando o olhar vago da filha.

— Não é nada demais — respondeu virando o rosto e lançando um sorriso forçado para sua mãe.

Carmen havia mudado o cabelo durante o verão. Os fios pretos e longos, agora estavam mais curtos e iluminados.

— Só estava pensando em Edward — Alice concluiu o que estava dizendo. 

— O que seu melhor amigo aprontou dessa vez? — Carmen sorriu ao falar aquilo.

Edward e Alice eram melhores amigos desde a infância. A família Brandon sempre residiu em Forks, e quando os Cullen vieram morar na cidade, não levou muito tempo para que os dois se aproximassem. Eles dizem que era como uma conexão de almas.

No início da adolescência, Alice chegou a questionar se esse amor de amigos não era outra coisa, mas logo esse pensamento foi embora. 

— Não aprontou nada. Ele só não responde minhas mensagens…  estou ficando preocupada.

A testa de Alice se franziu pelo desapontamento. Tinha tanta coisa que precisava conversar com Edward. 

— Ele deve estar ocupado, querida — garantiu Carmen, tirando uma das mãos do volante e tocando carinhosamente o braço da filha — Os Cullen 's foram viajar durante todo o verão. Não sei se voltaram ainda. 

— Sério? Que estranho… — Alice tentou lembrar da última conversa que tiveram e em momento nenhum houve menção sobre viagem ou intenção de viajar — Edward me contaria sobre isso. 

— Deve ter sido programada de última hora — disse Carmen — O importante é que as férias acabaram e vocês vão ter bastante tempo para colocar a fofoca em dia na segunda-feira. 

— Eu não vejo a hora — Alice disse, suspirando.

 

 

[...]



— O que aconteceu com os Newton 's? — perguntou Alice. 

Haviam acabado de estacionar em frente da casa amarela. A construção daquele imovel era de 1967 e quase nada mudou. A fachada era um dos seus marcos históricos, possuindo uma varanda que circulava todo terreno.

 Ao sair do veículo, os olhos de Alice se fixaram na casa ao lado. Lugar que foi o lar da família Newton durante muitos anos.

Eles eram um casal de idosos e mesmo que não fossem tão próximos, o primeiro pensamento foi que algo havia acontecido com eles.

A propriedade foi desocupada e uma nova pessoa parecia estar se mudando naquele momento.

A prova viva disso, era o caminhão de mudança estacionado na entrada. 

— Eles venderam a propriedade — respondeu Carmen, batendo a porta do carro ao sair — Aproveitaram as férias de verão e conseguiram uma boa oferta. Pelo que soube, o filho mais velho deles os convidou para ir morar no Alabama. 

Alice observou que algumas caixas de papelão estavam espalhadas pelo jardim. Nesse meio tempo, dois homens que vestiam a mesma logomarca do caminhão de mudança, passaram carregando um sofá cinza-escuro.

— Quem será nosso novo vizinho? — Alice perguntou na mesma hora. 

— É uma mulher — afirmou Carmen — Ela morava no Arizona, mas queria mudar de vida e como já morou em Forks quando criança, resolveu voltar.

— Como sabe tanto? Vocês por acaso conversaram? 

— Muito brevemente — respondeu Carmen, despreocupada — No dia que ela veio visitar a propriedade nos esbarramos e ficamos conversando por um tempo.

 Alice não estava surpresa com aquilo. Em uma cidade tão pequena as pessoas não tinham vergonha de perguntar sobre a vida uma das outras. Sua mãe era uma dessas pessoas, fazia amizade até com os animais da vizinhança. Muito diferente dela, que preferia ficar em casa e a aproveitar a companhia de sua cadela. 

Em Forks não era muito comum mudanças e sempre que chegava alguém novo na cidade, se tornava quase que uma celebridade e Alice estava curiosa para saber quem havia se mudado.

Ainda parada próxima ao carro, observou tudo o que acontecia na propriedade. Minutos depois, notou uma sombra na janela da frente, onde era possível ver a sala de estar. Coordenando aqueles mesmo rapazes que carregavam o sofá, estava uma mulher loira.

Levou alguns minutos para confirmar que de fato era sua nova vizinha, mas ficou claro quando a viu apontar para um dos lados da sala, lugar onde o móvel foi colocado pelos rapazes.

— Vamos entrar? — perguntou Carmen, notando a evidente distração da filha.  

— Claro, mãe — respondeu Alice, piscando.

Não havia notado que ficou tanto tempo parada no meio do jardim, observando a mulher da casa ao lado. 



[...]



Mais tarde naquele mesmo dia, Alice recebeu uma ligação de Rosalie, uma de suas amigas do colégio.

— Como foi a viagem? Conheceu o amor da sua vida? — Rose riu do outro lado da linha.

Alice era conhecida por evitar namoros. Apesar de ter muitos pretendentes. Quando foi questionada sobre isso, disse que estava esperando o amor da sua vida e seus amigos levaram isso como piada. Desde então, eles brincando sobre esse assunto. 

— Muito engraçado — Alice revirou os olhos — Fiz biscoitos e cultivei uma centena de plantas. 

— Que animador! — debochou Rose.

— Como foram suas férias?

— Um tédio. Meus pais não quiseram viajar e ainda criaram um clima horrível em casa. 

— Como assim? Eles brigaram de novo?

Fazia alguns anos que os pais de Rosalie não estavam mais em harmonia e por um fio do divorcio. Só que mesmo sabendo disso, insistiam em manter o casamento. Os seus dois filhos eram obrigados a conviver com discussões e brigas infinitas. 

— O que aconteceu dessa vez? — Alice quis saber — O que você aprontou?

— Eu não fiz nada — Rose se defendeu — Dessa vez foi meu irmão.

— Jasper?

Alice conseguia apenas visualizar um dos garotos mais populares da escola.

Jasper chamava atenção devido ao cabelo loiro e por ser muito engraçado. Muito diferente de sua irmã gêmea, mau humorada. Jazz — como os mais íntimos chamavam — Não era o tipo de garoto que costuma arrumar confusão. Por isso, Alice não conseguiu imaginar nada que ele pudesse fazer que causasse uma briga na família Hale. 

Rose tossiu antes de falar.

— Sabe aqueles boatos sobre o Jazz? Então… não são boatos. 

Em uma cidade tão pequena era impossível as fofocas não se espalharem. Ainda mais quando envolvia o filho do prefeito. Caius foi eleito no ano passado e manter a moral e os bons costumes fazia parte disso. Depois disso, qualquer ação da família era monitorada e, então começaram os burburinhos sobre o quanto era estranho Jasper nunca ter namorado nenhuma menina. 

— Que merda! O que seus pais fizeram? — perguntou Alice.

— Meu pai ficou furioso e minha mãe chorou. Foi um caos.

— Que pesado, amiga. Sinto muito. 

Rose respirou fundo.

— Eu só queria que tudo isso passasse. Jazz é meu irmão e às vezes odeio a existência dele — Rose disse, brincando — Só que essa situação não faz o menor sentido. O que custa deixá-lo ser feliz? Deixa todo mundo falar. Ele quis conversar com meus pais e explicar tudo.. só que a mentalidade é tão pequena que só deixou tudo pior. 

— Como está a situação agora? Jazz está bem?

— Amiga, meus pais estão tratando isso como se fosse um crime, acredita? Colocaram Jazz de castigo o verão inteiro, tiraram o celular dele e nem podemos conversar.

— Meu Deus. 

— Por pouco não fui colocada de castigo também — Rose riu, mudando o rumo do assunto — Minha mãe quase pegou Emmett aqui dentro do meu quarto ontem. Tive que escondê-lo debaixo da cama. 

— Isso deve ter dado um baita trabalho. Emmett é enorme. 

O namorado de Rose é jogador do time de futebol americano do colégio, considerado o melhor do time, pois para derrubá-lo é necessário 5 outros jogadores. 

— É amiga, eu sei… — Rose riu, levando o comentário por um lado obsceno — Falando nisso, como as férias terminam neste fim de semana, Emmett organizou uma baita festa. Ele pediu para a convidar. 

Alice pensou no convite por alguns instantes. Emmett sempre aproveitava as viagens do seu pai para dar uma festa. Dessa vez, Alice só aguentaria uma festa dessas ao lado do seu melhor amigo. 

Naquele momento estava bem mais preocupada, mesmo com o comentário da sua mãe que os Cullen haviam voltado, não teve notícias de Edward ainda. 

— Prefiro ficar em casa essa noite. 

— Por quê? Sua mãe está de plantão essa noite. Você nem precisa inventar uma desculpa. 

— Eu sei, amiga. Só que durante as minhas férias, minha mãe notou um comportamento estranho em Maggie. Disse que ela chegou a vomitar algumas vezes. Preciso ficar de olho nela essa noite. 

A cadela levantou os olhos ao ouvir seu nome e se aproximou de Alice que estava deitada na cama com o telefone pendurado na orelha.

— Essa vai ser uma das melhores festas do ano. 

— É, eu sei.

— Se mudar de ideia me manda uma mensagem, tudo bem?

— Pode deixar. Boa noite! 

Ao desligar o telefone, Alice estendeu o braço sobre a cama e acariciou os pelos pretos e brancos de sua cadela, que ficou parada olhando para ela. 

Maggie empurrou a sua mão com o focinho gelado fazendo a adolescente rir. 

— Você está com fome… Qual é a novidade? 

Alice pulou da cama na mesma hora e desceu as escadas correndo acompanhada de sua companheira de quatro patas.

Ao chegar na cozinha, rapidamente lhe serviu uma boa porção de ração.

Por alguns minutos analisou a embalagem de comida. Leu o rótulo e verificou os nutrientes. Lembrou de todos os sintomas que sua mãe havia notado e ficou refletindo por alguns minutos. O andar um pouco mais lento, barriga inchada e Maggie chegou a vomitar no carpete da sala de estar.

O que deixou Carmen muito furiosa. 

Apesar de ter usado essa situação para se livrar de uma noite cheia de adolescentes bêbados, estava bastante preocupada e pretendia levá-la ao veterinário assim que fosse possível.

Em mais uma noite sozinha em casa, devido a rotina de enfermeira de sua mãe, Alice procurou algo rápido para que pudesse comer.

Escolheu algo atípico — cereal com leite — estava com preguiça de preparar uma refeição decente e quente.

A sua mãe costumava deixar o jantar pronto na geladeira, mas como havia voltado de viagem naquela manhã, Carmen não havia se preparado para voltar à rotina com a filha em casa. 

Carmem trabalha em plantões de doze horas, muitas vezes fazendo dupla jornada. 

Era muito tempo afastada de casa, pensava Alice. 

Durante o tempo em que comia o cereal — parada de pé na cozinha — ouviu um barulho estranho vindo do quintal dos fundos.

Imaginou que a culpa fosse do ranger da porta do jardim se abrindo.

A sua mãe prometera chamar alguém para verificar o que estava acontecendo. Talvez a chuva tivesse amolecido os parafusos e fosse necessário trocá-los. 

Curiosa, Alice apenas espiou através da janela. 

Mesmo por sobre as sombras, ela conseguiu enxergar claramente a figura laranja remexendo na terra do jardim. 

O cachorro caramelo retirava a terra com as patas dianteiras, tão rápido que a sujeira estava se espalhando por todo piso cimentado. 

— Vira-lata! — ralhou ao vislumbrar aquilo.

Apesar do comentário, Alice notou que o cachorro era bem cuidado, e dificilmente era um cachorro de rua. O pelo dele era lustroso e brilhante, coisas que somente um animal bem cuidado teria e isso lhe fez perceber que o labrador pertencia a algum morador da vizinhança. 

Ao seguir na direção da porta para flagrar o meliante foi impossível não fazer barulho. O cachorro ergueu a cabeça e a encarou ainda na porta. 

Meio segundo depois, o animal estava correndo na direção dos arbustos.

Alice achou a atitude do labrador ousada e sem pensar decidiu que ia descobrir onde ele morava.

Sempre praticou esportes no colégio e correr atrás dele pelo jardim seria muito fácil. 

A única coisa que sentia era a grama molhada raspando em seus dedos dos pés, protegidos apenas um chinelo, mas aquilo parecia lhe dar impulso e quando menos percebeu estava no quintal da casa ao lado.

Alice previu que o cachorro morasse em uma casa próxima, mas não imaginou que fosse tão perto assim. 

A adolescente não sabia nada sobre a sua nova vizinha e apesar de não querer causar uma má primeira impressão, teria que lhe contar sobre a situação chata que havia presenciado e pedir gentilmente que ficasse de olho no seu labrador para evitar que as suas plantas voltassem a ser destruídas.

Se sua mãe visse aquilo, também ficaria furiosa. 

Pensou por um minuto se aquilo era uma boa ideia. Já eram quase dez horas da noite, mas para sua sorte as luzes da casa estavam acesas — sinal que a moradora ainda estava acordada — quando alcançou a metade do jardim, o labrador parou nos degraus da entrada e meio minuto depois a porta de abriu. 

Não houve tempo para que Alice processasse a situação ou pensasse melhor no que deveria falar primeiro. 

Uma voz feminina soou muito antes disso. 

— Oi! Tudo bem? 

A mulher saiu da casa e ficou parada, talvez surpresa pela presença dela ali. 

O cérebro de Alice parou de funcionar por alguns minutos, não conseguia se mexer, ficou parada, olhando para mulher na sua frente. 

A loira deveria estar perto dos seus trinta anos e também parecia alguém que era pelo menos 10 centímetros mais alto do que Alice, que com os seus 1,47 de altura, estava acostumada com isso.  O cabelo dela era loiro, mas nitidamente tingido, e estava cortado na altura do queixo. Os seus dentes quase brilhavam de tão brancos. 

De perto, era bonita — muito bonita, pensou — mas Alice suspeitava que ela soubesse daquilo.

Perdida em pensamentos, a adolescente abriu a boca para dizer algo, e depois a fechou novamente percebendo haver esquecido o motivo de estar ali.

— Pelo visto conheceu o Bruce.

A loira continuou a falar naturalmente.

— Diga oi, amigão! 

O cachorro estava sentado sobre as patas traseiras, relaxado e contente, e quando o encarou outra vez, desviando os olhos da mulher, Alice rapidamente se lembrou do motivo da sua visita. 

O labrador era fofo, muito fofo, mas deveria ser melhor supervisionado. 

— Acredito que não fomos apresentadas. Sou Bella Swan. 

A adolescente sentiu suas bochechas corarem e uma pontada de incerteza ao fitar aqueles olhos castanhos.

Não estava ali para fazer amizade, mas cortesia e os bons modos estavam no seu sangue, e sem perceber, respondeu-lhe.

— Sou Alice Brandon.

— É um prazer conhecê-la — disse Bella.  

— É claro! 

Alice tentou cruzar os braços ao dizer aquilo, mas inconscientemente levou as mãos ao quadril.



[...] 

 

Olhando para a adolescente parada na sua frente, percebeu na mesma hora que ela estava irritada.

Sua boca estava curvada levemente para baixo, os músculos tensionados, como ela já havia visto em muitas de suas ex-namoradas.

De algum modo sabia que aquela raiva era direcionada a ela, embora não fizesse ideia do porquê e talvez por isso estivesse tentando ser o mais gentil possível. 

Também foi inevitável não reparar em seus traços tão lindos.

O seu cabelo preto era liso e descia até o meio de suas costas em uma leve ondulação. Os olhos eram castanhos e o nariz bem fino.

Uma combinação excelente para o seu rosto triangular. 

Depois de um tempo, ainda encarando, Bella apontou com o polegar por cima do ombro.

— Quer entrar? A casa ainda está um pouco bagunçada, mas… 

— Por que você pensa que quero entrar na sua casa? — vociferou Alice.

Bella apertou os olhos, confusa;

— Pensei que você tivesse vindo fazer uma visita?

— Sim… não… — Alice gaguejou.

A adolescente precisou de alguns minutos para organizar os próprios pensamentos.

— Você está bem? — Bella perguntou, preocupada.

— Estou ótima! — respondeu com a voz ríspida — Eu vim aqui porque queria falar com você… 

— Se for sobre a cesta. Muito obrigada! 

— Cesta? Que cesta?

Alice franziu o cenho.

— Alguém deixou uma cesta de boas-vindas na varanda. Pensei que tivesse sido vocês…  Os cookies eram uma delícia. 

— Não, não deixamos cesta nenhuma — disse Alice, sem ter muita certeza se sua mãe havia feito aquilo — Mas o que estou tentando dizer é que…

— Um momento — Bella interrompeu — Já volto.

Dando as costas para adolescente, Bella entrou na casa.

Alice suspirou desejando poder acabar logo com aquilo, visto que aquela mulher estava fazendo com que tudo aquilo saísse completamente do controle e ela odiava isso. 

Alguns minutos depois Bella voltou trazendo uma cerveja gelada nas mãos. Abriu e tomou um gole encarando aqueles olhos brilhantes.

— Eu vim aqui porque queria conversar com você… — começou Alice outra vez, pretendendo falar tudo calmamente, seguindo regra daquilo que o senso comum dizia sobre ser uma boa vizinha.

A loira levantou as sobrancelhas.

— Você já disse isso.

— Eu sei! — disse Alice — Estou tentando falar, mas você não me deixa terminar!

Não sabia o que a havia deixado irritada daquela maneira e depois de um segundo a Alice começou a falar. Um pouco hesitante no começo, como se esperasse que fosse interrompida novamente, mas Bella não fez isso e aos poucos encontrou seu ritmo. As palavras saindo cada vez mais rápido.

Alice contou sobre como foi tedioso passar as feriás na casa da sua avó paterna e que o seu pai era um idiota e parecia odiá-la. Depois o assunto começou a se desviar para seu melhor amigo e como ele havia sumido durante todo o verão.

A fala se tornou repetitiva e alguns fragmentos e momentos de sua vida continuaram a aparecer, fazendo com que Bella —  ainda bebericava a sua bebida — ficasse ainda mais confusa. 

As coisas mudaram quando o assunto se desviou para para Bruce.

A adolescente começou a gesticular na direção dele e falar várias coisas que pareciam desconectadas e distantes uns dos outros, com explosões de raiva focadas aleatoriamente nela e em seu cachorro.

Parecia que Alice estava falando por uns 20 minutos, mas Bella sabia que não poderia ter durado tanto tempo assim. 

Não era fácil receber tantas acusações de uma estranha e ficar calada. Também não gostou da maneira como Alice falava de Bruce. Seu labrador era o cachorro mais perfeito do mundo.

Às vezes Alice parava de falar, nesses momentos Bella tentava responder, sem sucesso. A adolescente imediatamente voltava a gritar novamente.

Por fim, decidiu ouvir — pelo menos nos momentos em que ela não a insultava o seu cachorro — pois sentiu sinais de desespero e confusão sobre o que estava acontecendo em sua vida.

Após o longo monólogo Alice tomou fôlego um pouco trêmula.

— A questão é a seguinte: o que você vai fazer?

Bella hesitou, tentando saber o que ela se referia, exatamente.

— Em relação a quê?

— Ao meu jardim! O seu cachorro destruiu as minhas plantas! 

Bella conseguia ouvir a raiva dela começando a ferver novamente e levantou as mãos na tentativa de acalmá-la. 

— Vamos começar pelo começo — disse agachando para colocar a lata de cerveja vazia em um dos degraus — As suas plantas não são venenosas, né?

Na mesma hora, Alice abriu a boca de seu cão, verificando os requisitos das flores ali presente.

— Claro que não! Jamais ia colocar a vida de Maggie em risco. 

Nessa hora Bella olhou na direção da border collie parada ao lado da adolescente. 

— Ei, garota! — Bella estalou os dedos no ar e em segundos a cadela se acomodou, toda desajeitada, com a bunda no colo dela. A língua para fora e as patas da frente batendo.

— Maggie deixa a moça em paz! — disse Alice, irritada com o fato da sua cadela estar tão animada com aquela desconhecida.

— Pode deixar. Ela é tão linda… 

Na mesma hora, Maggie lambeu seu rosto. 

— Você a levou ao veterinário?

Bella ergueu os olhos na direção da adolescente.

— O quê?

— A barriga dela está um pouco dilatada e os mamilos também.

— O que você quer dizer com isso?

— Nada — Bella continuou acariciando o pelo macio do animal — Só acredito que talvez sua cadela esteja prenha.

— Se Maggie estivesse grávida eu saberia.

— Tenho muita experiência com cães. Na verdade…

— Aposto que tem — disse Alice, interrompendo-a — Caso isso seja verdade, aposto que é culpa desse seu cachorro fedorento. 

— Tenho certeza de que Bruce não fez isso. Não estamos na cidade a tanto tempo e… 

— Já está tentando fugir da sua responsabilidade?

As sobrancelhas de Bella se uniram.

— Não, mas você deveria saber que…

Alice balançou a cabeça furiosamente. Aquilo era um comportamento típico das pessoas. A gravidez era sempre um problema feminino. Irritada demais com aquela conversa, deu as costas para a mulher e seguiu na direção da sua casa.

 


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Notas finais do capítulo

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