Luigi saiu para a varanda, apreciando o ar da noite. Ele ergueu os olhos para o céu, vendo as estrelas brilhando entre as nuvens escuras. Ele já tinha se acostumado às notes no Reino Koopa, sim o céu era normalmente mais nublado ali do que no Reino Cogumelo, mas talvez era por isso que ele gostava do lugar; o fazia se lembrar, mesmo que pouco, do céu noturno de Brooklyn e os sons da cidade lá em baixo (bem mais barulhenta que a Cidade Toad de noite) adicionava mais realidade àquele sentimento.

   Ele riu. Ele nunca imaginou que iria acabar sentindo falta de seu lar antigo, ou que sequer acabaria gostando tanto do reino em que morava agora, mas olha só pra ele!

   Luigi se voltou para seu quarto, observando a forma grande de seu marido dormindo na cama, e não pôde deixar de sorrir.

   Ele se lembrou das coisas que eles tinham feito naquele dia e quão divertido e cansativo tinha sido. Desde o momento em que Bowser adotou oficialmente os Koopalinhos como seus filhos, tanto a rotina deles quanto sua relação se tornou muito melhor. E Luigi só podia sorrir, vendo como eles se tornaram uma família de verdade.

   Para falar a verdade, foi preciso bem pouco tempo para as coisas mudarem entre eles, mas Luigi já tinha aprendido que Koopas eram criaturas de emoções poderosas, o que queria dizer que eles usavam cada momento como se não houvesse amanhã.

   No começo tudo tinha sido um pouco demais para o pobre encanador, com os Koopalinhos o tratando de modo mais amigável, mas até o momento em que Luigi se tornou o consorte do rei, ele já tinha se acostumado à eles.

   Mas, sim, ele tinha que admitir que, até agora, o que mais o pegava desprevenido era ouvir os Koopalinhos o chamar de pai. Ou então de "mama" (mas ele tinha quase certeza de que eles o chamavam assim só de brincadeira).

   Honestamente, A família de Luigi já era bem grande e difícil de lidar, então não era como se ele já tivesse pensando em criar sua própria família. E sendo que ele normalmente mal podia imaginar sua vida fazendo qualquer outra coisa além de acompanhar seu irmão mais velho, se casar ou ter crianças nunca tinha sido algo em seu radar.

   Isso é, até ele acabar em um outro mundo, e então Luigi se encontrou apaixonado por Bowser, e de repente ele tinha um bando de crianças (bem, adolescentes) para chamar de seus.

   E, honestamente, ele estava feliz com as coisas sendo assim.

   Por um tempo ele se perguntou o que Mario pensava sobre aquilo, sobre ter uma família só dele.

   O que o lembrava...

   Há um tempo atrás, em sua última visita ao Reino Cogumelo, Mario mencionou algo sobre como ele e Peach tinham falando vez ou outra sobre filhos. Eles não tinham certeza quando ou se eles sequer queriam expandir a família, o que terminou em Mario explicando para Luigi que nesse mundo, aparentemente, as pessoas não tinham filhos como humanos do planeta Terra tinham, o que o deixou confuso...

   Luigi foi arrancado de seus pensamentos com o som de algo logo atrás dele. Ele se virou, notando uma figura se erguendo sobre ele.

   Luigi fez um som baixo e pulou para longe, erguendo o olhar para ver melhor o que, ou quem, era. Demorou um pouco para ele processar que era um pássaro, bem alto e magro, de pé na beirada de pedra da sacada.

   "A-ah... Olá...?" O homem murmurou, nervoso, sorrindo para o pássaro silencioso.

    O pássaro o encarou com dois pequenos olhos escuros, que pareciam quase tão nervosos quanto o humano se sentia. Ele se inclinou para frente e Luigi se perguntou como ele não tinha notado que ele carregava algo grande em seu bico - parecia até ser pesado demais para a pobre ave.

   Luigi reagiu mais por reflexo do que qualquer outra coisa quando o "pacote" deslizou do bico do pássaro, o segurando antes que pudesse atingir o chão. Ele quase perdeu a força nas pernas com o peso, mas conseguiu se manter de pé. Não era de se admirar que o pássaro estava tendo dificuldades carregando aquilo!

   Mas antes que ele pudesse perguntar o que significada aquilo tudo, a ave abriu suas longas asas e voou para longe, o deixando com o "pacote".

   "E-ei, espera!" Luigi chamou, confuso, mas não foi capaz de fazer nada além de observar enquanto o pássaro sumia ao longe no céu noturno.

   Luigi desviou os olhos para o pacote, tentando processar o que tinha acontecido, e notou que tinha um papel preso ao nó que mantinha o pacote fechado.

   Com cuidado, ele moveu para apoiar o pacote em uma perna, o segurando com segurança com um braço só para poder dar uma olhada no papel.

   Nenhuma cegonha faz uma entrega para o Castelo Koopa em anos! Isso é assustador demais pra mim, é meu primeiro ano nesse trabalho! Sinto muito! Mas, meus parabéns!

   E só então Luigi ligou os pontos.

   "Oh... Mamma Mia..."

   Uma pássaro enorme, carregando um pacote, o entregando no castelo, e dizendo "meus parabéns"... Ele se lembrou de novo da conversa que teve com Mario e de uma outra conversa que tinha tido com Bowser logo em seguida...

   Luigi voltou para o quarto com passos apressados, segurando o pacote com cuidado e o carregando até os sofás em um dos cantos do quarto. Ele pousou o pacote contra os travesseiros, ainda processando o que estava acontecendo. Ele desviou os olhos para Bowser, ainda dormindo na cama, e se perguntando o que ele podia dizer para o rei.

   Uma cegonha. Eles foram visitados por uma cegonha. Uma cegonha trouxe para eles um...

   Luigi se voltou para o pacote, pensando no peso e na forma sólida que ele ele tinha sentido em baixo do pano. Nervoso, mas curioso, ele puxou no nó que mantinha o pacote fechado, como se estivesse abrindo um presente de Natal, e se sentiu sem ar por um momento.

   Era um ovo. Grande e de um verde profundo, coberto com largas pintas vermelhas.

   Vivendo no Reino Koopa, Luigi já tinha visto ovos de Koopas - embora ele nunca tivesse visto um ovo sendo entregue por uma cegonha. O ovo era parecido com os outros que ele já tinha visto, mas ainda assim era diferente, como era de se esperar para o Rei dos Koopas.

   Falando em Bowser...

   Luigi tinha falado com ele sobre cegonhas antes, uma vez que ele estava curioso depois do que Mario tinha lhe contado. Ele ainda não entendia como aquilo funcionava, mas ele tinha uma ideia. Mas não era como se Luigi estivesse desejando ter um filho, e ele também não esperava que Bowser estivesse desejando o mesmo, especialmente tendo os sete Koopalinhos ali com eles.

   Será que Bowser...? Luigi não sabia no que pensar enquanto encarava o ovo à sua frente. O ovo do Bowser. Dele? Deles?!

   "Bowser..." Ele chamou, mas não recebeu resposta alguma. Ele não conseguia desviar os olhos do ovo no sofá, como se ele pudesse desaparecer a qualquer momento, e tudo o que pôde ouvir foi um murmúrio baixo e o som de Bowser se movendo na cama, mas só. "Bowser! Acorda!"

   O mesmo murmúrio e antes ficou mais alto e ele pôde ouvir o som reconhecível de Bowser se sentando na cama.

   "O que?!" Ele quase rugiu, um som que ocasionalmente ainda fazia Luigi pular, mas no momento ele não se importou com aquilo. Bowser sempre era um pouco rabugento quando acordava fora do horário normal. "O que foi, verdinho?"

   Luigi fez um gesto com a mão por cima do ombro, fazendo sinal para que o rei se aproximasse. Aparentemente Bowser não podia ver o ovo do lugar onde estava o que deixava Luigi um pouco mais nervoso. Ele sentiu os tremores dos passos de Bowser enquanto esse vinha em sua direção.

   "Luigi, o que foi? Por que você me acord-" Ele interrompeu sua própria sentença ao parar do lado do encanador.

   Luigi finalmente se voltou para seu marido. Bowser encarava o ovo com olhos arregalados e confusos. Ele se perguntou o que se passava na mente do Koopa e se eram a mesma coisa em que ele tinha pensado.

   "É..." Ele começou a dizer, mas não parecia encontrar as palavras certas. "Onde você arranjou isso?"

   "Uma cegonha deixou aqui." Luigi explicou.

   "O que?" Bowser se virou para seu marido, tão chocado quanto esse.

   A esse ponto, Luigi não se incomodava com o olhar poderoso do Koopa, e tudo o que fez foi passar para ele a mensagem que tinha vindo com o pacote. Ele esperou enquanto o rei lia, estudando sua reação e vendo como sua expressão, ainda chocada, aos poucos se suavizou.

   Bowser piscou, uma, duas vezes, antes de se voltar para Luigi mais uma vez. O encanador não sabia o que fazer ou o que dizer. O ar brando ainda estava presente naqueles olhos vermelhos e Luigi o reconhecer como o mesmo olhar que ele via nos olhos do Koopa enquanto esse observava os Koopalinhos. Era até similar ao olhar que Luigi as vezes notava nos olhos de seu pai. Ele sentiu tanto seu peito quanto suas bochechas se esquentarem de modo confortável.

   "Bowser?"

   "Nosso ovo..." Bowser disse.

   Luigi sentiu seu corpo tremer e ele não sabia se era uma reação às palavras ou ao tom de voz de Bowser.

   "Temos um novo Koopalinho." O rei adicionou e alguma coisa na voz dele fez o coração de Luigi saltar.

   Luigi já conhecia Bowser bem o bastante para saber que, lá no fundo, ele era alguém sensível, uma alma emotiva, que se defendia com um exterior duro assim como sua carapaça. Ele já tinha visto o Rei dos Koopas em vários momentos e humores diferentes, incluindo aqueles momentos que eram limitados apenas para aqueles mais próximos de Bowser.

   Esse parecia ser um desses momentos.

   Honestamente, Luigi ainda não sabia como se sentir em relação à tudo isso. Eles já tinham sete Koopalinhos, mas agora mais um apareceu. Será que já não era o bastante? Será que eles tinham sem querer desejado por mais um? Tinha sido Bowser? Será que ele tinha desejado ter um filho com Luigi?

   Era demais.

   Luigi respirou fundo.

   Ele tinha que ir mais devagar.

   Luigi pousou a mão sobre o ovo, sentindo a textura porosa da superfície desse e o leve calor que emanava dele. A mão muito maior de Bowser pousou sobre a sua, apertando ambas contra a casca do ovo e, por algum motivo, aquilo parecia tão comum que Luigi sentiu seu corpo relaxar.

   "Eu me perguntou como os Koopalinhos vão reagir..." Ele murmurou.

—-