— É só ser firme, Naruto - o rapaz repetiu para si mesmo antes de abrir a porta.

O laboratório de ciências costumava estar vazio durante aquele horário. A maioria das outras turmas estariam tendo aulas em outros andares, e muito raramente algum funcionário ou aluno se aventurava pelo terceiro andar durante a manhã. O dia ainda amanhecia lentamente - apesar de já serem quase sete da manhã — e os raios de sol que passavam pelas persianas iluminavam pequenas porções da sala, como as prateleiras com instrumentos químicos e o esqueleto que os alunos carinhosamente chamavam de Josias.

Naruto entrou na sala, fechando a porta atrás de si, e se virou. Ela estava lá, olhando pela janela, serena. O loiro engoliu em seco. Ela estava linda, como sempre. Sentada em uma das carteiras, os cabelos negro-azulados refletiam a claridade que vinha do tímido Sol enquanto os olhos, de uma cor tão exótica que era até difícil de descrever, apenas observavam o movimento no pátio. O uniforme da escola, uma saia preta comum, uma camisa social branca comum com uma gravata preta comum, com toda certeza não ficavam comuns nela. “Nada naquela garota era comum” pensou Naruto. 

Assim que Naruto deu um passo adentrando a sala, ela se virou e assim que o viu, sorriu. Um sorriso tímido. “Tímida, ha”, Naruto afrouxou um pouco a própria gravata e sentiu um frio percorrer seu corpo quando ouviu a voz doce ecoar pela sala. 

— Achei que você não iria vir, Naru - ela sorriu no fim da frase.

“Concentra, Naruto” ele lembrou a si mesmo.

— A gente não pode continuar com isso, Hinata - Naruto tentou fazer sua voz soar o mais firme possível - Eu vim aqui apenas pra dizer que eu não vou voltar a fazer isso.

Mesmo com a distância, Naruto pode perceber a boca da jovem fazer um “Oh” silencioso, e então a expressão dela mudar. “Merda”, Naruto sabia o quanto ele estava encrencado. Hinata se levantou, calmamente, ajeitando a roupa, e fitou Naruto. Ele reconheceu aquela expressão felina que ela carregava, enquanto vinha em direção à ele. Como um predador prestes a encurralar a presa. Ele era a presa.

— Eu não entendi, Naru… - ela andava como se desfilasse pela sala, passando os dedos pelas carteiras enquanto se aproximava - Acabar com o quê, exatamente?

Naruto subitamente tentou focar em um ponto aleatório na sala a fim de evitar os olhos lilases que o fitavam. 

— Esses… Esses encontros, Hinata - ele suspirou - Eu não quero mais isso.

Hinata estava frente a frente com ele, mesmo ele olhando para outro lugar ele sabia que ela estava ali. Ela sabia impor sua presença, e sabia que sua presença era forte. Ela deu uma risadinha. 

— Tudo bem, eu entendo. Então… - ela tocou o queixo dele, levemente movendo o rosto de Naruto para que ele a encarasse - Pode ir embora se quiser, Naru.

Ela o encarou, olho no olho, e Naruto sentiu a respiração ficar um pouco fraca. Aqueles olhos, de um lilás tão claro que pareciam brancos, passavam a sensação de que enxergavam sua alma. Podiam ver os seus anseios, seus segredos e desejos mais profundos. E ela sabia. Sabia que, mesmo tentando negar, Naruto a desejava naquele momento.

— A porta está logo ali, Naru… - ela ainda mantinha um sorriso inocente no rosto. - Pode ir.

Hinata começou a se mover, fazendo que seu corpo guiasse Naruto até que ele encostasse na parede e não tivesse mais para onde ir. 

— Eu… Eu…. - Naruto começava a se esquecer do que tinha ido fazer ali conforme sentia a mão da jovem acariciar seu rosto - É sério....

— Sim, eu sei que é sério. - Hinata pressionou o corpo contra o de Naruto, e sentiu o corpo do rapaz tremer quando deu um beijo casto no peito dele por cima da blusa - As outras vezes que você me disse isso também eram sérias, nunca duvidei de você, Naru.

Naruto abriu a boca para contestar, mas sabia que ela falava a verdade. O cheiro do perfume dela invadiu suas narinas, e ele piscou duas vezes para sair do transe e continuar focado. Lavanda, como sempre.

— Mas dessa vez eu vou. - Ele soou firme e a fez o encarar. Os olhos azuis do Uzumaki travaram um confronto silencioso com as pérolas da Hyuuga. - Não há nada que você possa fazer para me forçar a isso.

Hinata sorriu.

— Você sabe que eu nunca te forçaria a nada. Você esteve aqui por todo esse tempo porque quis. Pode ir. - a jovem se inclinou, sussurrando sedutora no ouvido de Naruto - Eu não vou te impedir, Naruto-kun.

Ouvir Hinata o chamar daquele jeito, somado ao fato dos lábios dela roçarem levemente no seu ouvido fez com que a mente de Naruto desse pane total e ele se esquecesse de tudo que em algum momento tinha tentado. A mão veloz alcançou a nuca de Hinata enquanto sua boca tomava a dela com desejo. Ele a sentiu dar uma risadinha antes de retribuir o beijo. Ela sabia, ela sempre soube que iria ganhar. Ela tinha razão: Nunca forçaria Naruto a nada. Ele estava ali porque queria, por mais que quisesse negar ele sabia que era por vontade própria que ele continuava com esses encontros secretos com Hinata Hyuuga, a filha do diretor e garota mais popular da escola. Ele era apenas um bolsista e sabia de todo o risco que corria se fosse pego, mas tudo sumia quando estava com ela. Sabia que ela apenas usaria seu corpo e depois iria fingir que nunca o tinha visto antes quando se cruzassem pelos corredores do colégio. 

Mas ele também sabia que voltaria, inebriado e sem um pingo de remorso, quando recebesse a mensagem de texto pedindo para que fosse até o laboratório ou qualquer outro lugar reservado. Era como um drogado nela, e mesmo que quisesse parar bastava apenas ter o mínimo que fosse para que tivesse outra recaída. Naruto nunca iria admitir em voz alta, mas era um viciado. E Hinata Hyuuga era a causadora desse vício.