Morte no Condomínio Morgue escrita por Karina dos Anjos


Capítulo 1
Morte no Condomínio Morgue


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena versão minha para os Assassinatos da Rua Morgue de Edgar Allan Poe. Resolvi colocar num conceito mais moderno de perícia criminal, porque achei que seria mais convincente para os dias atuais.

As descrições gráficas dos corpos foram levemente inspiradas num ataque de um chimpanzé de estimação a uma mulher que aconteceu nos Estados Unidos.



Enquanto escrevia a história fiquei pensando se colocaria um chimpanzé como o autor das mortes, mas acabei optando em deixar o macaco do conto original.



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Lúcia chega ao condomínio Morgue e antes de se aproximar, vê que a frente do lugar está tomada por jornalistas, enquanto os carros da polícia garantem a entrada apenas de moradores e funcionários do lugar. 

 

Lúcia aproxima o carro da entrada e mostra a identificação de detetive particular a um dos policiais responsáveis que vai questiona:

 

— O que você quer aqui, moça? Aqui não é pra gente de fora da polícia, não.

 

— Pode deixar, eu chamei a moça aqui. Diz o chefe da investigação.

 

O chefe da investigação, um sujeito alto e magro, de pele bronzeada e cabelos e bigodes loiros cumprimenta Lúcia:

 

— Olá, Lúcia. Como é que vai? E como é que tá o japa?

 

— Eu e o André Kenshiro vamos muito bem, graças a Deus. E você, Gonçalo ? Como vão a Maria e as crianças? Eu tô bem surpresa de você ter me ligado no meio de uma perícia. Diz Lúcia.

 

— A Maria e as crianças vão bem. Te chamei aqui, porque preciso da sua ajuda na perícia e na investigação.  A cena do crime é a mais horripilante que eu já vi na minha vida e você sabe o quanto de coisa ruim a gente vê nesse trabalho. Eu nunca vi um troço daqueles antes. Mataram um velho de oitenta anos e a cuidadora dele. Diz Gonçalo.

 

— E onde fica a casa? Pergunta Lúcia.

 

— Há duas quadras daqui. Eu vou no meu carro e você me segue até lá. Vai ser fácil de achar por causa das viaturas na frente.

 

— E quem encontrou os corpos? 

 

—  Uma vizinha ouviu o barulho de vidro quebrando e uns gritos e chamou a PM. Segundo a tal vizinha, a coisa toda demorou quase meia hora, porque a PM levou um certo tempo pra chegar na casa. Os soldados ficaram muito abalados com o que viram, um deles até vomitou no local do crime. Diz Gonçalo.

 

— As vítimas têm algum parente próximo?

 

— A filha do velho tava viajando a trabalho e chega hoje de tarde. E o marido e a irmã da cuidadora estão lá fora. Tenho até pena só de pensar no que essa gente vai ver. Comenta Gonçalo indo para o carro.

 

Alguns minutos depois, Lúcia vê o isolamento policial na rua do condomínio e estaciona o carro atrás do carro de Gonçalo. Ambos descem de seus respectivos veículos e Gonçalo avisa a Lúcia:

 

— A gente vai seguir a pé daqui. 

 

Lúcia segue o chefe da investigação até uma casa, com plantas arrancadas pela raiz e os vidros das janelas completamente quebrados. 

 

— Pensei que todas essas casas tivessem vidros blindados. Comenta Lúcia.

 

— Nem todas têm. O corpo do velho tá na cozinha e o da cuidadora na escada. Só que o do velho tá mais estragado. Comenta o chefe da investigação.

 

— E roubaram alguma coisa? Inquire Lúcia calçando as luvas.

 

— Aparentemente não. Encontramos um cofre intacto e uma boa quantia em dinheiro no armário. O sujeito mexeu a adega  e bebeu um monte de vinho caro e também mexeu na geladeira e comeu bastante e deixou muita comida e frutas mordidas espalhadas. Diz Gonçalo.

 

Lúcia respira fundo e entra na casa e a primeira coisa que vê são os sofás rasgados e quadros rasgados com as molduras quebradas e muitos cacos de vidro e louça pelo chão.

 

— Céus! Isso não parece coisa de um ser humano! Comenta Lúcia.

 

— Pois é. E você ainda nem viu os corpos.

 

Os peritos da polícia continuam trabalhando sem se importar com a presença de Lúcia e Gonçalo.

 

Lúcia respira fundo quando caminha até a cozinha e vê os primeiros respingos de sangue e o que parece um pedaço de couro cabeludo no chão. Ela desvia o olhar o mais rápido que pode ao ver o cadáver com o rosto e as mãos mutilados no chão da cozinha.

 

— Eu disse que era uma cena horrível. Diz Gonçalo.

 

Lúcia respira fundo e toma cuidado ao se aproximar do corpo e começa a observar o melhor que pode.

 

— Parece que o rosto dele foi dilacerado por um animal selvagem. E a mandíbula do bicho é poderosa, mas só um veterinário ou um legista pra dizer exatamente que bicho fez isso. Diz Lúcia.

 

— Pois é. Será que realmente foi algum bicho? Tem uns doidos que fazem umas coisas horríveis. Comenta Gonçalo.

 

Lúcia percebe as frutas espalhadas pelo chão e vê um melão pela metade, com marcas de uma mordida muito grande e comenta com Gonçalo:

 

— Esse melão tem que ser catalogado como prova, pela marca se percebe que isso não é a dentição de um ser humano.

 

A detetive olha para o chão e nota um fios de cabelo longo e diz:

 

— É melhor pedir aos seus peritos pra darem uma olhada nesses fios de cabelo.

 

— Certo.

 

De repente um policial militar chega na cozinha e diz:

 

— Doutor, a gente achou uma jaula lá na garagem da casa. 



— É melhor você ver isso também, Lúcia. Diz Gonçalo indo na frente para a garagem da casa.

 

Lúcia vai logo em seguida e não pode deixar de notar mais algumas gotas de sangue e lixo espalhado pelo chão. Até que a detetive percebe uma foto no meio da bagunça. Na foto uma mulher aparentando uns quarenta anos e um senhor de aparência bem conservada sorriem com um orangotango no colo.

 

— Esse na foto é dono da casa? Pergunta Lúcia.



— Deve ser não tem como reconhecer o coitado que tá morto lá na cozinha. 



— Eu tenho um suspeito e só vai precisar da confirmação do legista. 

 

— De quem você tá falando?

 

— Do orangotango da foto. Ele é o nosso criminoso. É bom acionar a ambiental pra capturar esse bicho.



— Tava muito melhor quando o suspeito era um ser humano. A imprensa vai encher o saco com isso.



—  É só um palpite meu, mas só o legista pode confirmar isso. Cadê o outro corpo.



— Primeiro vamos ver a tal jaula. Diz Gonçalo.



Gonzalo caminha com Lúcia até a garagem ampla e sem nenhum carro e logo percebem as grades de uma jaula relativamente grande. 

 

— Pensei que fosse contra as regras do condomínio colocar grades nas janelas ou nas portas. Diz Lúcia observando que a janela da garagem está gradeada por dentro e fica encoberta por um arbusto.



— É sim. E pelo que alguns vizinhos comentaram, o morto lá na cozinha era contra a  de jogadores de futebol e artistas morando no condomínio e também não se dava bem com a maioria dos outros moradores. Com todo o respeito, mas o cara parecia um chato. Talvez algum vizinho tenha feito isso. Diz Gonçalo.

 

— Poderia ser, mas aquele ferimento no rosto da vítima não foi feito por um ser humano. Insiste Lúcia.

 

— Essa teoria do macaco não vai convencer a imprensa. Já imaginou aqueles urubus pegando no pé da Polícia chamando a gente de incompetente e blá,blá? E ainda tem aquele povo que gosta de bancar os protetores de animais. Vai ser um fuzuê. Diz Gonçalo num tom de cansaço. 

 

— É possível que alguém tenha entrado na casa e matado o senhor e o animal atacado depois, mas não acho provável. Um bandido teria roubado os objetos de valor ou com armas mais comuns. Qual é mesmo o nome dele? E o da cuidadora?

 

— Josué Lourenço. Ele é primo de um juiz. Da cuidadora, uma vizinha disse que é Cida.  Diz Gonçalo.

 

— Acho que o rebuliço em cima do caso  vai ser grande, ainda mais envolvendo ataque de animais, vai ser muito grande. Comenta Lúcia.

 

— Se for mesmo o bicho que matou o velho e a cuidadora, vai ser um inferno. Quer saber? Quando esse caso acabar, vou precisar de um feriado prolongado. Diz Gonçalo.

 

Lúcia examina a grade por dentro e encontra um grande número de fios ruivos.

 

— Seu suspeito deixou vestígios pra todo lado. Comenta Lúcia.

 

— Você tem que ver o outro corpo. Lembra Gonçalo.

 

— Eu realmente preciso ver o outro corpo. O do senhor está terrível. O outro como está?

 

— Também tá muito estragado. 




Lúcia e Gonçalo vão se aproximando do local onde está o outro corpo e encontram um dos peritos ainda examinando.

 

— Encontrou alguma coisa interessante? Pergunta Gonçalo ao perito.

 

O perito  tenta não olhar para o corpo com a expressão de horror por causa dos olhos esbugalhados e um grande rasgo na bochecha de onde pode ver o músculo enquanto faz o trabalho e comenta:

 

— É a mesma coisa do outro corpo, chefe. Não parece coisa de um ser humano. Nenhum ser humano tem um dente forte desse jeito. 

 

— Porque não foi mesmo. Foi um orangotango criado pelo dono da casa que fez tudo isso. O legista vai confirmar tudo. Diz Lúcia ao perito.

 

— Então eu acho que bicho atacou a coitada a mordidas, mas por algum motivo parou e fugiu. Diz o perito.



De repente Gonçalo recebe uma mensagem no celular e diz:

 

— Parece que você acertou, Lúcia. Os bombeiros e a guarda ambiental foram chamados pra recolher um orangotango que tá inconsciente num parque a quinhentos metros da daqui.

 

— Deve ser o orangotango daqui. É bom levar um perito pra tirar as amostras dele.

 

— Vamos até lá.

 

Dois homens chegam na casa e um dele avisa:

 

— A gente veio pra levar os mortos pro IML.



Cinco minutos depois, Gonçalo, Lúcia e alguns peritos chegam ao bosque onde a Polícia Ambiental encontrou o macaco. 

 

— O bicho tá morto, doutor. Diz um dos policiais. Os dedos do bicho estão sujos de sangue.

 

— É melhor o senhor mandar o veterinário fazer uma autópsia nesse bicho e mandar os resultados pro IML. Vai confirmar as minhas suspeitas e as dos seus peritos. 

 

— Tá bem, leva o bicho pro doutor Maurílio e pede pra mandar as amostras pro doutor Lucas lá no IML. Diz Gonçalo.

 

— Acho que eu já vou pra casa. O senhor pode enviar um PIX quando a teoria for confirmada.



— Pode deixar. Você devia voltar a trabalhar na polícia. Precisamos de mais peritos como você, Lúcia.



— Muito obrigada pelo convite, mas não tenho mais paciência pra acatar ordens. O senhor tem excelentes peritos ao seu dispor. Até mais. Despede-se Lúcia entrando no carro.

 

Gonçalo observa a ex-subalterna e ir embora e comenta muito mais para si mesmo do que para o policial a sua frente:

 

— Às vezes eu acho que essa mulher é mais bruxa que uma perita treinada. 




Quinze dias depois, os resultados da pericia são divulgados na mídia  que discute sobre a criação de animais exóticos de maneira ilegal, pois foram encontradas grandes quantidades de álcool no sangue do animal, que morreu de coma alcóolico.

 

Gonçalo manda a secretária vir ao seu escritório e diz:

 

— Diga aos jornalistas que eu saí numa grande viagem e que só volto daqui a quinze dias. Aproveite e envie o PIX da senhorita Lúcia de Assis.



— Eu já enviei o PIX da senhorita, senhor.

 

— Ótimo! Sabe do que eu preciso, Dona Gertrudes? De um feriado prolongado. E vou começar hoje mesmo.



 


























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Notas finais do capítulo

Espero que gostem.



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