Rebuild of Evangelion escrita por Riptile


Capítulo 1
REBUILD 1.0: Parte A.1 'O Ataque do Anjo'




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Ele parou de correr.

O Abrigo de Emergência 95. Para chegar até ele era apenas seguir a direção até Tokai e se houvesse prestado atenção em sua mãe, o que ele fez questão em não fazer, saberia dizer se deveria virar à direita ou a esquerda na entrada da rua Sakura-Dori – porém agora ele estava ali, xingando a qualquer coisa que pudesse ver na imensidão vazia que era Neo Tokyo-3.

“O que é isso que você falou?”

A doce voz foi um chamariz de escape em meio ao som incessante e irritante da sirene, porém, os alarmes eram um alto e cruel aviso do advento do anjo da ruína.

O que ele poderia fazer? O que ele poderia dizer? Para onde deveria correr?

Tudo se tornava mais desesperador pelo simples fato de ele não estar sozinho.

“Toji...” A dita doçura foi trocada por uma repentina manhã na voz insistente, enquanto a mão de dedos pequenos e inchados puxavam o tecido da jaqueta despojada que ele usava. “Toji, o que você falou?” Ela perguntou mais uma vez, trazendo uma birra manhosa em seu tom.

“Agora não, maninha.” Respondeu para pequena, tentando lembrar qual seria o caminho que lhe falaram, mas o que havia em sua volta nem mesmo era um ambiente reconhecível da sua cidade, a cidade que tanto já vagou antes e sabia se achar de olhos fechados.

Na estrada a sua frente não havia muito, nenhuma outra pessoa azarada como ele para dizer a direção a se seguir, apenas rachaduras no pavimento quente, com carros jogados para fora das estradas, alguns até mesmo capotados – deixando cacos de vidro esfarelados pelo asfalto que refletiam a forte luz do sol do dia de céu aberto.

“Maninha, se lembra qual direção a mãe falou para ir?” Nenhuma resposta. “Qual direção ela disse para ir naquela rua com o seu nome?”

Nada a garota respondeu, apenas o som da sirene que ele pôde ouvir.

Toji deu dois passos para esquerda e antes do terceiro sua ansiedade mandou voltar para correr a direita onde ao sexto passo sua insegurança lhe disse estar errado e, por fim, o garoto congelou antes mesmo de poder correr para mais algum lugar, quando a luz que antes iluminava foi trocada pela sombra inesperada.

Uma sombra tão grande que parecia ser um prédio movendo-se, capaz de andar – fazendo a terra tremer, fazendo sua irmã se agarrar com mais força nele e olhando para cima, o menino enfim viu...

REBUILD OF EVANGELION 1.0: NUMBERS

シン・エヴァンゲリオン小説 1.0: 数の本

Pegadas na areia rosada a beira da praia eram lavadas, provavelmente de um casal que correu para o oeste, as ondas carmesim que as roubariam para si, jamais as trariam de volta. Fora a quebra gentil destas mesmas ondas, o ambiente era silencioso – quase defunto, acima de tudo calmo. Irônico para um dia de desespero.

Miradas para este mesmo mar vermelho as centenas de canhões mantinham-se erguidos, como lâminas levantadas para declarar guerra ao inimigo que se aproximava. – Os longos canos de ferro das diversas máquinas de guerra que miravam esses canhões apenas pela única outra prova de vida ali, o perpetuo som das cigarras.

Insetos irritantes, que nunca eram vistos, mas sempre estariam ali para cantar naquele verão eterno.

Os tanques de guerra das Nações Unidas, enfileirados um ao lado do outro, ficavam parados como uma barricada de ilusão, trazendo uma falsa esperança de chance contra a ameaça que vinha do horizonte.

Nas águas mortas, não havia vida marinha desde o impacto, agora, os barcos em suas carcaças de ferro domavam as léguas marítimas, também postos contra o monstro que vinha, com suas armas apontadas para o sinal da primeira anomalia.

Em meio a isso tudo, desceu uma ave branca. Tão alva quanto as poucas nuvens que ficavam no céu, com seu bater de asas que desafiava o som das cigarras, o pássaro pousava sobre a ponta do canhão de um dos incontáveis tanques, mas antes mesmo de fechar suas asas, o animal partiu para o outro voo como reação ao estrondo que rugiu no horizonte.

Ao centro do mar vermelho que rodeava a cidade de Tokyo-3, tudo começou com uma explosão que levantou as águas escarlates em vasto pilar de sangue em meio ao oceano. O primeiro sinal de aviso.

Poucos prédios haviam na cidade, mas seria correto dizer que no momento poucos prédios eram expostos na cidade. Os edifícios que podiam ser vistos eram aqueles que não podiam ser escondidos, arranha-céus que agora pareciam torres empilhadas na terra, algumas caídas, outras até enterradas – todos marcados pelo vermelho que agora bordava o solo.

No povoado vizinho de Atami, pouco se podia ver. Semáforos que piscavam constantemente suas luzes carmesim, vidros de automóveis e janelas que se espalhavam na estrada, formando um mosaico não intencional e o som inesperado do motor de um Alpine Renault A310 que rondava por estas ruas fantasmas eram a única prova de vida na metrópole.

“Claro que tinha que parecer logo agora.” A apreensão em sua voz só não era mais visível que a ansiedade que ela tinha ao segurar o volante, com os olhos mirados na estrada onde ninguém passava, e algumas vezes se voltando ao GPS no console do carro antes de enfim mirar nos arquivos no banco ao lado – mais uma vez estudando a foto da criança escolhida. “Tudo que eu precisava.”

‘Desculpe, devido ao estado de emergência declarado todas as linhas foram desativadas.’ Ele esperou por segundos antes de terminar de ouvir o ruído na linha que marcava o fim da mensagem eletrônica.

Com um suspiro de derrota, o menino guardou o telefone em sua cabine, olhando a ambos os lados da rua vazia.

“Mas que droga. Meu celular também tá sem sinal e o pior é que os ônibus e os trens tão parados.” Apertando as alças da mochila em suas costas, o garoto segurou com a mão esquerda a mala ao seu lado, e novamente iludindo-se, olhou ao seu redor outra vez.

Cantos de cigarras. Prédios abandonados. Carros capotados. Estradas rachadas. Como em todo lugar naquela cidade. Shinji Ikari tateou o bolso, uma outra vez tirando a foto dobrada. Antes seus problemas se resumiam a encontrar a mulher na foto, agora eles cresciam em encontrar apenas uma única pessoa naquele distrito para lhe dar abrigo.

‘Para o Shinjinho, eu irei te pegar, então é só me esperar, okay?’ Essas palavras escritas de forma apressada eram finalizadas por um coração e a marca de um beijo com batom cor de rosa. Shinji gravou mais uma vez a imagem da mulher em sua mente – a pose da moça de cabelos violeta, deixando amostra as curvas do corpo com roupas que mostravam o bastante para imaginar agora faziam ele pensar se não era uma piada de mal gosto, mas só porque era duvidável que alguém que trabalhava com seu pai mandaria uma foto assim.

“É melhor ir procurar abrigo.” Vendo os ponteiros indicando a hora no relógio azul em seu pulso, ele concluiu que qualquer outra pessoa já teria tomado essa decisão a tempo, no entanto, até então ele havia insistido em ficar exposto. Não foi coragem, mas por insistência na ideia de encontrar seu pai outra vez.

Repetiu em sua mente como nem queria estar ali, porém isso não era uma realização, pois Shinji nem mesmo sabia onde gostaria de estar e ainda assim ele dizia a si que não tinha escolha, pois não devia correr.

O calafrio na espinha foi o que tirou dos pensamentos melancólicos, trocados pela sensação de ser observado. Procurando algo que juraria não encontrar naquelas ruas, foi por um momento que o menino pensou ver um alguém.

Não que ele tivesse visto muito para dizer quem, ou o que, era. – Nada mais que uma silhueta que lhe encarava de volta, imóvel ao meio do asfalto quente. Ramos de uma árvore negra deixavam a figura tanto escondida em faixas de sombras como também parcialmente expostas a traços da luz – mas a única caraterística que era tirada e gravada na mente eram os olhos tão carmesim quanto o mar que ele conhecia.

Olhos vermelhos.

Uma revoada batia em voo aos céus e com as aves se ia o vulto, sumindo em um piscar de olhos, Shinji viu-se no lado fácil do dilema de crer que era apenas uma trapaça de sua mente.

A questão ali não era uma miragem que desaparecia, mas a razão pelo qual os pássaros fugiam.

E a resposta chegou em um ruído, como um sopro longínquo, que cresceu para se tornar um estrondo ensurdecedor. A criança abandonada sentiu o vento, seus cabelos bagunçando enquanto os olhos azuis se fechavam ao mesmo tempo que cobria os próprios ouvidos.

As janelas que perduraram até ali rachavam, as portas de rolamento das lojas tremiam, enquanto os fios nos postes esvoaçavam, formando uma orquestra dos sons mais violentos para tornar a metrópole despovoada mais aterrorizante.

Inseguro, Shinji abriu os olhos para apenas testemunhar a sinfonia de abertura e vislumbrou além dos prédios, próximos aos montes da orla da cidade uma cena de filmes de ação e guerra. Dezenas de helicópteros de combate recuavam de algo até então oculto pelos prédios – algo de pesadelos.

Alta era a criatura que emergia, gigante na realidade, levava consigo o desconfortável aspecto humano em seu corpo – era fina, com braços alongados que desciam até abaixo dos joelhos torcidos que possuía.

No seu tronco, em contraste com a pele tão escura quanto a fuligem que levantava, havia um orbe escarlate, parcialmente ofuscado pelo bico do rosto feito de ossos, ligado uma face que lembrava o crânio de um pássaro – com dois buracos que não passavam de olhos vazios.

Um monstro que fazia helicópteros de guerra parecerem insetos, o que o menino trêmulo então se tornava perto daquilo?

Haviam poucas respostas e ainda menos conclusões para se chegar com o que veio em seguida. Os misseis teleguiados eram lançados pelos ínfimos helicópteros, passando por cima do garoto invisível ao cenário de guerra.

Fogo rugiu e minou os céus de Atami com as explosões, ofuscando o horizonte em luz e chamas – Mais janelas estouravam, concreto dos prédios cediam e vagões de metros abandonados eram levados no rastro de destruição, enquanto o monstro permaneceu erguido, limpo de qualquer sinal de ferida.

E em meio a tudo isso uma criança.

A fera no coração da pequena cidade ergueu seu braço e com as três garras abertas, na palma de sua mão, através de um pequeno orbe, um feixe de luz e energia desembainhou, empalando uma das máquinas de guerra ao ar, o monstro lançou o helicóptero, rodopiando como um brinquedo jogado para longe sem importância.

Shinji ficou estático, a aeronave capotando a poucos passos de distância dele, as hélices partindo contra o concreto e, por fim, o berro de terror vindo daqueles presos dentro do aço esmagado pelo pé da monstruosidade – irrompendo em mais chamas que se ergueram da explosão da máquina amassada.

“Ugh!” E no do caos que rugia, o menino encolhido – fechando aos próprios olhos e ensurdecido pelos violentos estrondos, ele não foi capaz de ouvir o som dos pneus do automóvel que chegava em meio a cena de batalha, entrando em atrito com a estrada, parando logo a frente dele.

“Tudo bom? Desculpa a demora.” Despojada era a voz. Em meio a opressiva cena de massacre, o veículo azul veio como um anjo para resgatá-lo, ele não gastou tempo para pensar se era ou não a moça de sua foto. Com a porta aberta para ele, o menino jogou-se no banco do copiloto.

Mas no fim, realmente era ela e ela tinha o filho de seu comandante no seu carro, assim Misato Katsuragi não tinha muitas desculpas para continuar ali – ela sabia que era uma zona de guerra e a batalha que lutavam não seria vencida com seu Renault de muitas prestações para ainda serem pagas.

Com as explosões ainda acima deles, ela afundava seu pé na embreagem, ouvindo o ronco do motor pedinte por aceleração, a marcha ré era alavancada e mais uma vez os pneus queimavam no asfalto com o movimento brusco, porém ligeiro e acima de tudo imprudente. Misato agradeceu mentalmente aos óculos escuros que usava, do contrário já seria cegada pelo show de chamas. Com suas mãos forçando o aperto no volante, ela manuseava o veículo enfrentando os abalos sísmicos, rachaduras do solo e de praxe se desvaria também da fatalidade de serem pisados pelo anjo.

Ela tinha apenas uma missão agora, chegar vivar na base.

‘O alvo continua firme. Está avançando para o perímetro de defesa de Neo Tokyo-3.’

Relatado pela voz contida era o que passava nos monitores, uma exposição de humilhação e sua derrota, testemunhada pelos olhos dentro do Centro de Comando. – As aeronaves ainda insistiam em sua missão, mais parecendo moscas que rodeavam o monstro que prevalecia sobre suas ofensivas.

‘A força área sozinha não vai conseguir impedir.’

“Ataquem com tudo, Quarta Divisão, não deixem ele avançar mais!” A única voz que até então realmente demonstrava emoção ordenou aos berros, enquanto outro cigarro mal-usado era amassado contra o cinzeiro, levantando a fumaça malcheirosa, abandonando a bituca cujo era deixada para trás e logo substituída por outra.

No coração do Comando, ensurdecidos pelos estrondos das explosões transmitidas pelo visor que eram rivalizadas somente pelos sons de alarmes de emergência, as ordens pareciam uma piada de mal gosto, de três homens em fardas não capazes de entender a situação que haviam sido colocados.

“Usem tudo que tiverem. Eliminem o alvo de qualquer maneira!” Outra das figuras berrava, em angustia partindo o lápis que tinha entre seus dedos. A frustração vinha de um homem ignorante, escondido atrás das medalhas que levava consigo – insígnias que eram irrelevantes, pois elas jamais deteriam o que era incompreensível para ele.

Dos mares. Dos céus. Da terra. Os disparos dos oficiais das Nações Unidas poderiam vir de qualquer direção, não mudaria o que era transmitido. Mais bolas de fogos que levavam consigo o que restava do povoado e ao que tudo se provava, Atami era um exemplo do que Neo-Tokyo 3 se tornaria. Cinzas.

Eles pareciam oblívios que aquilo mais feria a infraestrutura que eles deveriam preservar do que o monstro que buscavam matar.

O cenário se voltaria para o mesmo, pois quando a fumaça após a explosão começava a dissipar, apenas era transmitido, iluminado pelas chamas, a imagem da criatura – sem marcas em seu corpo, sem recuo em suas ações e sem um sinal compreensível de humanidade em algo que não era humano.

“Como assim?!” Outro berro desnecessário. O mesmo homem que antes quebrara o próprio lápis batia seu punho contra a mesa, derrubando maços de cigarro amassados em sua angustia, a voz já começava a quebrar. “Acertaram todos os tiros!” Ele disse, sentindo-se injustiçado.

Mas ele não podia entender o que o absoluto terror era capaz de fazer, ou melhor, capaz de preservar.

“Os batalhões de tanques são inúteis. Misseis e canhões não podem fazer nada contra essa coisa.” A primeira voz com emoção disse, o oficial cruzando os braços, tentando manter a postura falsa de domínio sobre a situação – mas quem sabe ele finalmente compreendesse.

“Que droga!” Novamente o angustiado se manifestava, sua birra vergonhosa, com seus murros na mesa sendo a única coisa mutável que ele poderia fazer ali. “Droga! É para atacar com mais força, ele não pode passar!”

Enquanto os ignorantes militares continuavam uma batalha inútil, os homens nas sombras deles não poderiam deixar de estudar, mas ao mesmo tempo não se surpreender, pois nada indivíduos comuns poderiam fazer contra um enviado dos deuses.

“Um Campo A.T como o esperado?” Disse a voz velha, acompanhada em sabedoria e forjada em autocontrole. Kozo Fuyutsuki havia adotado essa imagem a si, um preço inevitável da idade, mas uma máscara importante para se manter quando presente ao homem de seu lado.

“Sim.” Disse o Comandante do velho, em um tom rouco, porém assertivo. “Armas comuns são inúteis contra um anjo.”

Se Fuyutsuki era contido, Gendo Ikari atrás das lentes de seus óculos virava imprevisível e suas mãos juntas a frente da própria face lhe tornava alguém indecifrável.

E apenas homens ignorantes não saberiam dizer a significativa diferença entre essas duas características juntas.

Elas tornavam Gendo perigoso por ser incompreendido, mas ainda lhe rebaixavam a um homem, por ser incontrolável – um alguém que poderia deter os anjos.

“Entendido, senhor.” Falou o terceiro militar, até então calado, ao terminar a ligação com o superior ao outro lado da linha. “Vamos seguir com o plano B.”

Gendo e Fuyutsuki esperaram para ver mais uma das decisões estupidas sendo tomadas.

“O que é que tão fazendo...?” Misato indagou.

Parada já a muitos quilômetros de distância do monstro que agora era deixado nos arranha-céus, a capitã usava de seus binóculos para estudar o inimigo e a batalha, mas via apenas uma redução das forças das Nações Unidas – o que ela não sabia dizer pela falta de informações era se seus números já haviam se tornado cinzas ou se havia sido efetuado uma retirada estratégica.

Mas logo Katsuragi entendeu, a segunda opção que antes parecia inteligente, na verdade não passava de um erro.

“Não acredito! Vão usar as Minas N²!”

Imprudência como já falado era uma das suas características, uma qualidade vezes confundida como um defeito, mas Misato não pode deixar de pensar, não era ela que jogava ogivas em uma cidade habitada.

“Se abaixa!” Berrou a mulher, pegando o copiloto dentro do próprio veículo e jogando a si mesma sobre Shinji antes que o menino pudesse compreender. – Ele tinha si preso, com a metade inferior do corpo contra os bancos de couro gasto do carro, restringido pelos pulsos agarrados por Misato, que o prensava com o próprio corpo.

O menino pouco podia ver e menos ainda entender, resgatando com a visão nada mais do que o símbolo de uma cruz amarrada por um cordão, que ficava frente aos seus olhos.

Isso foi tudo que ele pode reconhecer antes de sentir o carro virando.

Como uma escusa estrela que caia do espaço, o projétil cruzou o caminho entre céu e terra. Somente quando tocando o solo, a festa em chamas rugiu em uma explosão, soltando os infernos para deter o emissário dos céus.

Terra emergia e vento soprava, a explosão luminosa a tudo levantava pois destruição com ela levava.

Os homens em farda não podiam pensar antes de ordenar? Cada chama que se levantava era questionamento do que fariam com essa decisão, as casas deixavam de existir, o pavimento era destruído e qualquer inocente seria vítima de uma execução desnecessária.

Apenas em uma ordem, o povoado de Atami foi apagado do mapa.

Do anjo ao centro não veio berros, mas também não sabiam se ele poderia gritar dor como um homem.

Do anjo ao centro não foi demonstrada ação para se defender, mas ele poderia entender o que seria a ogiva antes de ser atingido por ela?

Na luz, sombra não restou do anjo ao centro, apenas o dito inferno erguido, sem limites de onde poderia chegar.

E o que os homens em farda pensavam disso?

“Conseguimos!” O antes frustrado agora exaltava. Levantando-se da cadeira, em uma expressão de satisfação e vitória ao ver a transmissão em chamas que iluminava o Centro de Comando entre carmesim e dourado.

“Que pena, senhores, parece que não vamos precisar de vocês hoje.” Disse o outro militar, este mais sentindo vencer o desafio dentro da base do que o estrago fora dela.

O terceiro homem, o que havia comandando a Mina N². Era o único que não falava. O único que não se exaltava.

Gendo por outro lado, ainda na sombra daqueles com as medalhas, não tinha resposta, verbal ou física – seus olhos ainda na transmissão no grande telão. Assistindo as chamas eventualmente cessando e se tornando estática.

“Qual a situação do alvo?” Falou o terceiro militar após segundos quieto.

Enquanto os outros do Centro de Comando faziam seu trabalho para recuperar a transmissão, o militar que exaltava dizia.

“Você viu aquela explosão, acabou.”

‘Imagens retornando.’

Novamente os tons carmesim iluminavam o centro e os três em fardas ficavam de pé em espanto.

A imagem transmitida, agora muito mais distante que previamente, mostrava as chamas que permaneceram, o fogo ainda de pé, o céu fechado em nuvens escuras pela fumaça negra – e no centro de tudo a silhueta do inimigo colossal.

Da sua carne não havia sinais de desmembramento, apenas algumas bolhas escuras que sequer pareciam para a criatura feridas superficiais – ele ainda ficava de pé, ignorante sobre a destruição ao seu redor, ignorante quanto a tentativa de execução, inerte por longos segundos, mas após isso, ele voltava a se mover.

Seu crânio trêmulo, com os buracos obscuros que eram seus olhos virando-se – as bolhas na carne negra estourando e o corpo finalmente mostrando alguma reação, partindo a pele abaixo do bico de ossos a face alva se contorcia, dando espaço a algo que nascia para além das entranhas – um segundo rosto.

Um novo crânio onde dessa vez um brilho escarlate vindo dos olhos era registrado pela transmissão, indicando que não veio morte a fera, mas sim vida. Trazendo não vitória aos homens, porém derrota.

O anjo havia evoluído.

O primeiro homem em farda sentou-se de volta, sem palavras para dizer.

“O nosso trunfo...” Exaltou o homem que havia comandado a Mina N² murmurou. “Não serviu de nada.” E o segundo em fardas também jogou-se na própria cadeira.

“Monstro desgraçado!” E o exaltado por fim, rendido, porém retornando a sua façanha de frustração, apenas deu um último murro na mesa.

A derrota havia sido declarada.

“O quinto anjo.” Fuyutsuki declarou, juntando suas mãos em suas costas, ele não pôde deixar de apertá-las em apreensão. No entanto, sua cabeça continuava erguida para a transmissão e em suas rugas, não podia ser demonstrada a menor expressão de insegurança.

Pois com isso chegava a primeira vitória.

“Ele tem uma capacidade de regeneração impressionante.” Constatou, vendo a manifestação evolutiva da criatura.

“Estamos lidando com uma forma de vida quase perfeita. Um ser auto suficiente, isso é o esperado de todos que comeram o fruto da vida.” Gendo respondeu.

“Sim. E o que nós, ínfimos seres do fruto do conhecimento, poderíamos entender?”

“E ai, você tá bem?”

A naturalidade com que Misato era capaz de questionar isso a Shinji indicava duas coisas, ou ela havia vivido muito para considerar os campos de areia que se tornavam a estrada e até mesmo enterravam seu carro algo normal, ou ela simplesmente era idiota demais para ver tudo de errado que havia na situação.

Shinji por outro lado fez o melhor para esconder sua apreensão. Murmurando preces trancadas enquanto se levantava após sair rastejando do veículo, se levantando com a ajuda da acompanhante.

“Acho que sim. Só tô com a boca cheia de poeira.” O eufemismo foi lançado, bem no fundo ele estava aterrorizado e a poeira e areia estavam na realidade em toda parte.

“Ah, se é só por isso então tá tudo bem.” Sentindo a areia invadindo o espaço entre os dedos do pé a cada passo, ela caminhou até o Renault enterrado. Ajeitando a bainha do próprio vestido preto, Misato flexionou as pernas, expostas das coxas para baixo, enquanto firmava suas costas no carro e mãos na lataria. “Vem, Shinji.”

O menino atendeu ao chamado, a tropeços na terra, ele repetiu os mesmos movimentos de Misato, ambos apoiados no veículo e invocando toda força que podiam ser capazes, eles sentiram o teto de aço em suas costas, com os pés afundando mais na areia ao começo do esforço.

“Pronto, vamo lá. É só empurrar.”

Com grunhidos de esforço, juntos eles fizeram o que nenhum poderia realizar sozinho, empurrando o carro para trás. Com o som da lata-velha firmando com suas quatro rodas mais uma vez no chão, Shinji soltava pequenas tosses com a nova nuvem de poeira que surgia.

Ela por outro lado estudou o estado do carro. A lataria havia levado um bom estrago, amassados no corpo inteiro, partes que pareciam ir soltar só da menor alavancada, mas nada que um pouco de fita e carinho não fizesse o trabalho por ora. Katsuragi bateu as mãos, limpando a poeira enquanto virava-se pro menino ao lado, limpando o pó nas calças.

“Valeu pela ajuda, até que foi fácil.” Misato afirmou com simplicidade.

“Que isso. Eu que devo agradecer, senhora Katsuragi.” Shinji respondeu e Misato finalmente entendeu o modo do menino falar. O tom baixo e rouco já contavam que ele era do tipo tímido, mas ainda assim, era uma cópia do pai, só mudava a intenção na voz dele.

“Pode me chamar de Misato. E é um prazer te conhecer, Shinji.” Enfim tirando os óculos escuros, Misato deu um sorriso cativante ao menino, cerrando seus olhos castanhos expostos a luz do sol antes de estuda-lo bem. Por fim, a mulher de escuras mechas violetas olhou novamente para o carro.

“Prazer.” Shinji respondeu e com isso ela confirmou que estavam prontos para continuar.

“Ai. Ai. Ai. Dedos cruzados... pro meu carrinho ainda funcionar.” Cantarolava Misato, virando a chave do carro açoitado pela quarta tentativa, o ronco insistente do motor era um hino de esperança que ela insistia em ouvir, rezando mentalmente para não escutar o automóvel engasgar outra vez.

E então um solavanco.

“Pelo menos ainda tá funcionando.”

Falou, deixando Shinji apenas mais curioso com Misato e seu tom despojado, questionando a si como ela podia ser tão despreocupada.

“Se quebrasse ia ser péssimo, no caminho de te pegar eu tava contando, ainda tem doze prestações pra pagar. Duvido--” Ela disse uma vez, e então batendo a palma da mãos várias vezes no aro do volante com uma raiva inesperada, completou. “Mas eu duvido que aqueles mercenários do seguro iam cobrir os danos.”

E essa era Misato Katsuragi, de repente uma seguradora parecia mais maligna que o monstro que destruía a cidade.

Shinji por outro lado hesitava em falar até então. Misato era animada, de uma forma que ele não sabia como responder, pois não sabia dizer se essa animação era fruto da natureza dela, ou da pessoa que pediam para ela ser – quais eram as chances dele descobrir uma farsa e se machucar?

“Vou pedir um transporte direto pra gente não se atrasar.”

Continuou a motorista, presa em um conversa de um lado só. As estradas de areia ficavam para trás e o asfalto retornava em uma trilha entre as montanhas da orla de Neo-Tokyo 3, onde o tráfico era inexistente.

“E você, hein...” Misato falou, finalmente chamando diretamente a atenção de Shinji. “Tá muito quietinho, tá tudo bem?” Os olhos da despreocupada mulher deixavam a estrada, não se incomodando com um tráfico que não existia e olhando bem para o menino.

“O que?” Shinji indagou, piscando seus olhos algumas vezes antes de falar, talvez por incerteza. “Tá tudo bem.”

“Tem certeza? Pensei que ia perguntar um monte de coisa.” Insistiu Katsuragi.

“Não, não... me desculpa.” Shinji respondeu, encolhido enquanto constantemente colocava seus olhos na estrada e então se voltava para sua motorista distraída.

“Não precisa pedir desculpa por nada.” Misato falou, trazendo uma risada fraca e forçada, junto a um sorriso inocente. Esse jeito do menino era fofo para ela. “Mas é que... sei lá, sabe o que era aquele negócio gigante? É que quase explodiram a gente-- curiosidade seria uma reação natural, não é?”

As perguntas uma atrás da outra, e preocupação, por mais que superficial, finalmente haviam pego a Shinji. Misato esforçava para manter a face de otimismo, mas a verdade era que isso trazia uma curiosidade insaciável para ela – principalmente sobre que alguém sabia tão pouco sobre coisas tão grandes.

“Bom...” Shinji começou, colocando ambas as suas mãos na mochila que levava em suas pernas juntas. “Eu pensei que você não fosse responder mesmo que eu perguntasse.”

“Ahn, então você é daquelas pessoas pessimistas.” Misato realmente não era do tipo que via a clareza das barreiras entre as pessoas, por isso não era a do tipo que conseguia se comunicar a não ser de uma forma. “É muito novo pra isso.”

Com um suspiro Shinji fez seu olhar se encontrar com o dela, mas logo se voltou para ver a estrada que a motorista evitava, com uma frustração clara vinda do comentário dela.

“Não, eu não sou muito novo. Eu só tô fazendo o que meus professores me ensinaram.”

“Sei... então tá.” Misato murmurou algo inaudível, acompanhando Shinji e voltando-se novamente para estrada. “Mas aquela coisa que você viu é uma forma de vida que a gente chama de anjo.”

“A partir de agora o comando da operação inteira está com a sua equipe.” Afirmou o derrotado oficial, posto na sombra de Gendo Ikari. “Mostrem o que vão fazer.”

“Sim senhor.” Gendo disse, de pé em frente as três figuras que já haviam perdido uma batalha que não deveriam ter almejado começar.

“Já ficou claro que as nossas armas não tem efeito. Agora vocês são a última linha de defesa, Ikari. Sendo assim...” O militar colocou suas mãos a frente do rosto. “...Vocês conseguem vencer essa coisa?”

Gendo levantou sua mão enluvada na direção de seus óculos, obscurecendo sua face por trás das lentes alaranjadas, o homem provou-se uma figura muito mais imponente.

“Foi para isso que a NERV foi criada, senhores.”

O tom soturno cujo Ikari mostrava a confiança em sua organização não era a voz de persuasão que os oficiais precisavam para serem despistados de uma vez, apenas uma demonstração que eles naquele momento perderam suas posições no tabuleiro.

‘Atenção, comportas fechando.’

“O que é NERV?” Shinji indagou, enquanto os portões de ferro fechavam após a passagem dele e de Misato. Ainda dentro da lata-venha, a penumbra emergiu sem a resposta da mulher, que a princípio não pareceu se importar com a pergunta, mas quando as luzes vermelhas ligaram, ele entendeu que ela só procurava por onde começar.

“É uma organização secreta que responde diretamente a ONU.” Explicou, apoiando seus braços no volante.

“Meu pai trabalha aqui, né?”

“Trabalha.” Com um solavanco, o carro passou a ser levado pela plataforma que havia sido estacionado sobre, levando a Shinji e Misato em um túnel subterrâneo. “Sabe o que seu pai faz, não sabe?”

Realizar que nem mesmo sabia com o que o próprio pai trabalhava, mais uma vez Shinji fechou seu semblante, franzindo a testa em angustia.

“Eu só sei que é alguma coisa muito importante pro futuro da humanidade. Meu professor me disse isso.” Silêncio a não ser pelo soturno ruído da plataforma se movendo e com a falta de conversa, uma crescente expectativa nele, que a criança não pôde deixar de questionar. “Quando a gente chegar lá meu pai vai tá esperando?”

“Não sei, mas acho que vai sim.” Ela respondeu, olhando o próprio reflexo no espelho de bolso, avaliando os estranhos da jornada até ali.

Encontrar seu pai. Parecia mais provável ele ter se confundido do que realmente ter entendido, a ideia quase impossível de ser concebida e com ela as lembranças do abandono, de ser deixado em uma estação de trem vieram. De sua mão levantada em um dos olhos para tentar esconder seus prantos inúteis, assim como nesse momento.

Encontrar seu pai. Parecia mais provável ele ter se confundido do que realmente entendido, como se a ideia fosse quase impossível de conceber e então as lembranças de ser deixado em uma estação de trem vieram.

Os seus prantos inúteis.

A mochila deixada do seu lado.

Aquele aparelho enrolado no próprio fio em sua mão.

E então algo quebrava nele.

“Pai.”

“Ah, acabei de lembrar.” Misato falou, tão repentina, com sua voz de despreocupação e naturalidade enfiada entre seus devaneios. “Seu pai te mandou o crachá?”

“Sim.” Shinji reclinou-se no banco, tirando da mochila entre suas pernas um pedaço de papel, colado em fitas. “Isso aqui?”

“Isso, obrigada.” Misato pegou o papel e depois estudou. A folha havia sido rasgada em pedaços e então colada de volta, quanta coisa havia entre esses dois afinal? O bastante para Shinji parecer ser incerto de qualquer ação que envolvesse Gendo Ikari.

Mas o quanto isso era problema dela?

Não o bastante para ela ter que se envolver no momento além das ordens que foram lhe dadas. Pegando o crachá preso a ponta do papel ela inclinou-se para o banco de trás, esticando seus dedos, resvalando em algumas tentativas antes de conseguir pegar o caderno deixado por Ritsuko ali.

“Toma.” Falou, jogando o caderno ao colo do menino. “Melhor ler isso.”

Shinji estudou bem antes de segurar e ponderou muito antes de tocar. – Na capa dizia algo tão trivial, ‘Bem Vindo a NERV’, ao lado de uma marca vermelha, com o nome da organização.

“Deus em seu paraíso, está tudo certo com o mundo.” – Murmurou o rapaz, encontrando em seguida a marcação que pediam descrição máxima das informações nas páginas ali. Não demorou para ele concluir no que estava metido. “Pera ai, então... quer dizer que eu vou trabalhar pra eles também?”

Misato pela primeira vez naquela viagem escolheu calar-se, deitando a cabeça no estofado de couro, ela parecia agora se envolver no seu delírio distante, mas era provável que fosse de suas ordens não falar muito do assunto.

“Não me surpreende, eu duvido que meu pai me chamaria aqui se ele não precisasse de alguma coisa.” A ferida de Shinji reabria.

Mais alguns solavancos da plataforma, e Misato pode finalmente entender o que acontecia com aqueles dois.

“Você e seu pai.” Sua voz era doce, com uma compreensão quase invasiva, que fazia Shinji questionar o que ela poderia entender do assunto. “Não se dão muito bem né? Já temos alguma coisa em comum.”

E isso fez Shinji indagar o que aconteceu para ela entender do assunto.

Os tons escuros, com lâmpadas de luzes escusas foram sendo deixados, e no lugar tons de dourado foram dando forma e com uma luz que fez Shinji cerrar os olhos, eles estavam agora não mais em uma trilha apertada, mas suspensos no ar sobre o teto de uma ampla construção de forma circular.

“Caramba!” O menino exclamou, finalmente mostrando surpresa e descrença, com seus olhos postos contra o vidro da janela. “Olha, aquilo é um GeoFront!”

A caverna subterrânea era vasta, tão vasta que com as próprias pernas ele não tinha certeza se acabaria se perdendo se caminhasse de uma orla para outra – o formato era de um domo, onde ao centro de seu teto havia uma cidade de aço pendurada, arranha-céus que apontavam não as nuvens e sim para o solo.

Em terra, árvores o bastante para formar uma floresta haviam sido plantadas, provavelmente sustentadas pelos raios solares que adentravam por escotilhas entreabertas, assim como pelo lago posto ao centro, onde uma pirâmide negra era posta orgulhosa como o coração da caverna.

“É. E aquela ali é a base secreta subterrânea.” Apontou Misato, confortável com o lado amistoso e inocente de Shinji, indicando para ele a pirâmide. “A sede da NERV. A chave principal para reconstruir o mundo e garantir a sobrevivência da humanidade.”

‘Fase-2 de resfriamento completa.’

Tons de carmesim que escureciam na descida. Bolhas de ar daqueles mergulhados ali com ela serpenteavam para cima, encontrando o oxigênio acima desse fosso que impregnava o odor de ferro – poucos eram os tolos que seriam confundidos como corajosos que afundavam com ela, menos ainda eram os sábios abaixo do líquido que realmente entendiam o que faziam ali.

Não. Ela era a única que sabia o que realmente fazia, sendo assim, ali e somente ali, mesmo acompanhada, sempre estaria sozinha – entendendo o significado verdadeiro das placas de aço desse deus criado pelo homem, que até hoje fora ofuscado.

Homeostase.

‘Equipe voltar para superfície.’

Admirar o feito da sua amada ciência em sua frente, segura em seu isolamento, ou emergir novamente e se render à realidade das próprias obrigações que ela se deu – Ritsuko sabia que pouco à vontade dela importava. No entanto ela também sempre foi muito cínica de acordo com Misato.

Seu corpo boiou até submergir e assim viu-se rodeada pelas paredes de ferro da gaiola. Com algumas braçadas, ela aceitava a ajuda de um dos seus colegas de trabalho que nem mesmo se importava em reconhecer no momento – No entanto era irônico, pois quando focada ela poderia citar informações de todos os membros da NERV sem dificuldades, mas sua mente ainda estava com seu deus abaixo do líquido avermelhado.

Arrancando a máscara de mergulho, ela sentiu um pouco dos fluídos respigarem sobre sua face, desenhando o caminho do lado de seu rosto. – Ritsuko inspirou e então soprou, como se desse uma tragada imaginaria em um cigarro inexistente, uma tentativa fútil de se lembrar da atividade em seu descanso.

Os olhos dela no entanto, se distraiam com outra coisa – as suas pernas, que ainda trajadas as vestimentas de mergulho, boiavam na vermelhidão gelada. Por fim, ela viu uma mão estendendo uma toalha rosada a ela e não demorou a agradecer.

“Obrigado, Maya.” Voltando-se a sua equipe, sua voz foi decidida e formada atrás da autoridade que ela sabia que possuía. “Terminem de derreter os condutores do braço esquerdo. Quero tudo pronto em três minutos.” Revisando todas as etapas em sua mente presa em um frenesi constante, ela enfim finalizou. “E não se esqueçam da apoptose no processo.”

“Sim, senhora.” Os funcionários ao seu redor disseram em uníssono.

Enrolando a toalha em seus ombros, Ritsuko sentiu o gotejo em seus cabelos caindo enfim no tecido sobre seus ombros, enquanto levantava seus olhos para ver – em um encaixe perfeito com a gaiola estava o ombro do constructo de aço, uma das poucas partes não mergulhadas.

Enfim ela se lembrou a razão de não descansar, em seu trabalho estava seu prazer.

‘Atenção, Doutora Akagi. Tenente-Coronel Katsuragi, de operações do Setor-1 e outro individuo chegando pela Rota-8.’

A voz reverberou e Ritsuko fechou seus olhos.

“Não pode ser.” Ela indagou em voz alta, se surpreendendo ainda com dos comportamentos mais previsíveis de uma mulher previsível. “Ela se perdeu de novo.”

Eles já haviam abandonado o carro, e agora confiavam nas próprias pernas – e nas trilhas automatizadas por esteiras que estavam e se espalhavam por toda sede – para fazer seu caminho dentro da pirâmide negra no centro do Geo-Front.

No entanto, isso não significava que eles iam para a trajetória correta. Mais e mais portas de ferro se abriam com um estalo, em seguida trazendo um sopro para uma nova passagem na constante trilha de túneis. Novamente paredes com iluminações escusas, com vigas e canos que respectivamente sustentavam e eram sustentadas pelo concreto. O som das engrenagens rolando e a dita esteira que permitia passagem rápida nesse labirinto moderno eram outra constante, seguindo assim a cada passagem que nova exploravam.

“Deixa eu ver, ‘...chegando pela entrada oeste vire pela direita no portão norte-3, chegando pela Rota-8.’”

Falando como se enfim desvendasse o enigma que era trilhar o Dogma-Central, Misato dessa vez leu, sendo essa a décima tentativa, com muito cuidado as palavras que descreviam o caminho até o objetivo deles – ponderando e desafiando seu próprio senso de direção.

O caminho automatizado já os fazia o trabalho de levá-los até a próxima passagem, mas a Tenente-Coronel franzia sua testa, estudando com muito cuidado a descrição marcada nas comportas, encontrando a sigla ‘R-08’, se isso significava Rota-8, eles se encontravam no precipício de uma a vitória, a expectativa formando uma crescente, até o momento que ela leu a descrição abaixo ‘PORTÃO OESTE-12’.

E assim a Tente-Coronel reconheceu que ela nem mesmo poderia desbravar o seu próprio território na guerra que travava.

Com mais uma comporta se abrindo, Shinji levantou seus olhos, vendo o que haveria em frente agora, mas imediatamente os fechando ao sentir o sopro subsequente, porém, quando os re-abriu, finalmente testemunhou algo diferente.

Para trás ficavam os túneis, canos e vigas, agora eles eram suspenso em plataforma que os levava em um local que eles simplesmente não podiam dizer se olhando para baixo o quão fundo estava o solo e voltando-se para cima o quão alto estava o teto. Essa imensidão era surpreendente a ele, no entanto era frustrante para Misato – pois ela nunca havia entrado nesse lugar antes.

“Sério, parece até que fizeram tudo confuso de propósito.” Incomodada, Katsuragi levou a mão que não estava ocupada com suas anotações de trilha até a cintura, revisando no pedaço de papel mais uma vez o caminho, ela achou mais provável a possibilidade de terem mudado a descrição das rotas.

Afinal aquele lugar era uma base submersa, onde eles tinham referências para seus sensos de direção? As pessoas que construíram aquilo já deviam ter perdido a própria planta a muito tempo. A Tenente-Major fechou seus olhos e agitou a cabeça em concordância. Isso para ela era o mais provável. Satisfeita com a conclusão tirada de lugar algum, ela enfim disse.

“Mas eu tenho certeza...” Reconhecendo um pouco a situação corrigiu-se. “...Eu acho que tenho quase certeza de que estamos no caminho certo.”

Shinji estudou outra vez a vastidão do local. Sem fim e nem começo – uma penumbra que não deixava o olho resgatar uma direção, condenados e suspensos por aquela esteira que deveriam confiar para ser sua fuga dali. Seus olhos foram ao teto, nada. Seus olhos desceram ao fundo, e além da negritude ele pode distinguir na penumbra o que se assemelhava há um cilíndrico corpo de ferro.

Provavelmente não passava de peças esquecidas na construção daquele lugar. O menino voltou-se a moça de cabelos violetas, com coragem para questionar, não afirmar, o que ela não tinha coragem em admitir.

“Pera ai, a gente tá perdido?”

A mão ainda na cintura de Misato apertou ao próprio corpo, enquanto ela franzia a testa com um semblante desconfortável para o menino.

“Eu sou nova aqui, tá?” Justificou. “Mas enfim, se continuar uma hora a gente chega.”

Erguendo o queixo, Misato olhou em frente, enquanto Shinji retraia o próprio corpo para voltar ao manual da NERV – que a cada momento se tornava menos chamativo se comparado ao fato que eles estavam perdidos ali.

Com o passar de um minuto, enfim a escuridão revelava o extremo oposto da trilha aberta que eles seguiam – uma parede de ferro tão vasta quanto a que passaram originalmente, onde ao fim da trilha automatizada, novas comportas se abriam para eles, no entanto, dessa vez não dando passagem a um túnel de aço, mas sim um cubículo.

“Viu, já achamos um elevador, isso tem que significar algo.”

Decidida, Misato foi a primeira a entrar, sem pestanejar, enquanto Shinji seguiu receoso sua comandante – olhando para cima e então para baixo ele avaliou, quatro paredes, um teto e um chão. Havia até mesmo uma iluminação normal.

Tirando pelos pequenos estalos periódicos do marcador dos andares que eles subiam – começando pelo vigésimo segundo e agora já chegando trigésimo nível, a viagem enfim seguiu quieta. Um silencio milagroso vindo de Misato, porém, o mais próximo de ficar inquieto era Shinji, que alternava seu olhar das páginas do caderno entregue a ele para ver o andar em que estavam agora. – Realizando que cada clique representava a aproximação do encontro com seu pai.

A companheira por outro lado parecia tão segura quanto antes, novamente levantando os olhos para acima do manual que praticamente nem mais lia, Shinji teve um vislumbre da mulher de costas para ele, vendo seu reflexo nas portas fechadas quase foscas do elevador. – O incomum silêncio sendo cortado por um cantarolar dela, uma música que ele nem podia distinguir qual era, provavelmente sendo algo de antes do Segundo-Impacto, da antiga geração, enquanto ela tinha um sorriso confortável mirado ao nada, ou ao menos a nada que ele pudesse saber o que era.

Sentindo o movimento vertical do elevador cessando, internamente Shinji acalmou-se, haviam chego em algum lugar ao menos.

Ouvindo o sinal do elevador, em seguida um ruído das portas prateadas se arrastando enquanto se abriam, o reflexo sorridente de Misato foi lentamente rasgado em dois antes de ser enfim apagado – revelando o que lhes esperava do lado de fora.

Uma outra mulher, frente a Misato, com expressões fechadas que contrastavam as despretensiosas dela. Apresentando uma seriedade moldada em uma feição incômoda, clara em sua irritação.

Misato piscou os olhos uma vez, e o sorriso bobo se tornou algo torto.

Misato piscou os olhos uma segunda vez, e o sorriso torto cedeu-se para se esconder, com ela enfim falando em um nervosismo.

“Oi, Ritsuko.”

A Doutora manteve a expressão fechada, deixando as mechas louras criarem uma sombra seu olhar já normalmente soturno, dando um passo para dentro do elevador, foi o bastante para fazer Misato dar dois passos para trás.

Vestida a nada mais que um traje de mergulho e um jaleco levemente molhado, ela escondia uma mão em um dos bolsos. O outro braço, porém, enganchava um casaco de couro vermelho, mas Shinji pouco se importou, distraído em estudar a mulher capaz de intimidar Misato Katsuragi. – Ele olhou dos olhos verdes, com um distinta pinta em meio ao rosto alvo, assim como os dourados cabelos bagunçados.

“Atrasou doze minutos, Tenente-Coronel Katsuragi.” Com a voz severa, mergulhada em autoridade, Shinji entendeu porque Misato se intimidava.

Com a mulher em jaleco dentro do elevador, as portas mais uma vez se fechavam. “Agradeça que eu vim atrás de você...” Repentinamente uma leveza era agora exposta em Ritsuko, que com mais paciência completou. “...mais um minuto e iam mandar uma equipe de busca para procurar vocês.”

“Foi mal.” Com uma despretensão falsa que não parecia considerar a gravidade no que Ritsuko tentou até o momento em muitas formas demonstrar, Misato ofereceu uma piscadela para amiga e o pedido de desculpas mais improvisado, porém, verdadeiro possível.

Akagi inspirou e enfim bufou, mais uma vez com seu cigarro imaginário, perdida no dilema de zangar-se mais com Misato ou simplesmente desistir de fazer a amiga tratar toda situação como um caso leviano.

A ciência perdia suas batalhas para alguns tolos.

Ritsuko poderia perder alguns combates para Misato contanto que não fossem os importantes.

Estendendo o casaco vermelho ainda ao braço, Ritsuko expos o traje para Misato, que agradeceu com um assentir de cabeça enquanto passava colocar a vestimenta, por um momento expondo os dedos enfaixados em curativos da Doutora. Ela imediatamente escondeu a mão no bolso do jaleco.

Os olhos esmeralda dela deixaram da visão da velha amiga para mirar o terceiro indivíduo no elevador, a criança até então calada que apenas as observava. Ela não demonstrava surpresa, porém não entregava nenhuma espécie de decepção.

“Então esse é o garoto?” Indagou, mesmo já sabendo a resposta.

“É.” Misato respondeu, puxando a manga vermelha ao terminar de trajar o que a amiga trouxera, juntando-se a Ritsuko, ela mirou seus olhos em Shinji, enquanto cruzava os braços abaixo do peito.

“Ritsuko Akagi, diretora do Projeto-E, divisão de tecnologia Setor-1.” Ritsuko ponderou por alguns segundos até dizer. “Muito prazer.”

“Prazer.” Respondeu Shinji, brevemente tirando seus olhos do manual da NERV ainda em suas mãos.

“Vou deixar o resto com você.”

Essa frase, dita por Ikari mais vezes que o Fuyutsuki poderia se lembrar, era algo que o velho professor se acostumava a ouvir quando o trabalho pesado seria deixado a ele, porém, dessa vez a história provaria tomar um rumo diferente, ao menos era assim que Kozo poderia assumir.

A pequena plataforma instalada ao lado da locação do Comandante da NERV desceu, levando Gendo consigo conforme Fuyutsuki formava um escuso sorriso na evasão de Gendo.

“É a primeira vez que se veem em três anos.”

Murmurou a si, indagando, essa realização dita em voz alta por ele compreendia o significado do desejo dela nesse encontro, mas da tragédia que poderia se tornar com o escárnio que era Gendo. No fim, o que deveria importar para eles é que através do que foi aprendido nesses anos, as intenções de Yui estariam de alguma forma no que Ikari procuraria ter de seu filho.

Era algo infeliz para o Vice-Comandante o fato do que pai e filho fizeram um do outro desvirtuaria a situação.

Com um novo sinal de alerta, ele voltou-se para a realidade do ataque e de suas funções naquele centro de comando. – Haviam responsabilidades que Gendo Ikari havia confiado a ele.

“Vice-Comandante,” Disse um dos membros da inteligência da NERV, resgatando a atenção de Fuyutsuki, que não se virou, contido com nada mais que um deslizar dos olhos. “...confirmaram que o alvo está se movendo.”

“Entendido.” Disse o velho, aumentando seu tom de voz para todos ali ouvirem. “Todos para a formação de batalha, posição um.”

Com os seguidos solavancos Shinji segurou-se no cinto, procurando ali toda a segurança do mundo, enquanto tinha a urgência de chegar até onde desejavam levá-lo. Misato não explicou muito para ele depois do encontro com Ritsuko no elevador e ele decidiu por si que só incomodaria as duas se perguntasse mais. – Mais ainda seria um estorvo se demonstrasse o quão apreensivo estava no momento.

Não tinha nada a ver com seu pai, agora sua ansiedade vinha por outra razão.

Respingos carmesim eram jogados ao lado dele, enquanto as batidas da lancha que Ritsuko dirigia o faziam questionar sua segurança – para ir encontrar seu pai era tão necessário passar por tudo aquilo?

As bombas, o monstro, trilhos e agora navegar pelas entradas desse Geo-Front.

Lentamente tudo se tornava muito.

No entanto Misato não parecia se preocupar, mais concentrada na pequena cruz do cordão que levava consigo e a Dra. Akagi, que dirigia a lancha, prometia a ele que estavam no fim de seu trilha. Passando entre as paredes de aço cinzentas, enquanto ela navegava pela piscina vermelha abaixo deles, que poucas vezes o menino tinha a coragem de olhar para baixo, para se perder em um vislumbre da vermelhidão cujo se tornava uma interminável negritude.

Ele odiava coisas fundas. Ele detestava a ideia de mergulhar. Ele repudiava a sensação de estar ali pelo risco de se afogar.

E ainda assim seus olhos voltavam de tempos em tempos para olhar aquele fosso vermelho. Quase sempre encontrando o temível nada que o fazia tontear, mas em um momento Shinji pode jurar ver algo... uma silhueta grande de um braço, que se perdia nas profundezas daquilo.

‘Repetindo, todos para a posição de batalha, posição um. Preparem-se para interceptar o alvo.’

O comando de uma voz feminina desconhecida reverberou pelas paredes de ferro e Shinji escapou de seu devaneio, levantando o rosto para encontrar o que havia em frente.

Um último paredão de ferro, formado por várias placas de aço onde algumas em especifico se destacavam por novas cores além dos tons cinzentos ou vermelho do líquido abaixo deles, mas ele não sabia destacar o era.

Em maior parte era uma grande placa preta, com certas pontas tendo encaixes esmeralda, enquanto outros extremos eram contornados por uma coloração roxa.

Foi só quando Ritsuko diminuiu a velocidade que Shinji percebeu a doca ao lado da estrutura estranha. Receoso, ele continuou sentado no veículo por mais alguns segundos, sentindo o balançar suave de Misato e Akagi subindo a plataforma – as duas por fim, esperando o garoto.

Ele não era tolo o bastante para voltar agora, nem mesmo era sábio para considerar retornar e muito menos corajoso para deixar Katsuragi e Ritsuko o esperando por mais tempo, com os olhos de ambas as mulheres lhe encarando enquanto terminavam de discutir sobre algo que até mesmo poderia ter sido para ele, Shinji rendeu-se e subiu a doca com elas, trocando a instabilidade da água pela segurança de uma superfície solida – e assim, a passos ocos no ferro, os três caminharam para uma entrada além da parede de aço.

Ironicamente agora eles caminhavam para uma penumbra semelhante a que o menino tanto temia na imensidão vermelha de antes, mas a diferença sendo que ele tinha seus pés no solo – ele poderia aceitar isso sem problemas.

Mas o silencio de ambas o deixava desconfortável.

Com os últimos passos delas, atrás de ambas, ele também parou de caminhar. Com seus cabelos violetas voltados ao menino, Misato continuou de costas. Encarando Shinji com seus olhos verdes, ofuscados pela penumbra, Ritsuko abriu seus lábios, enquanto as comportas de ferro atrás deles se fechavam.

Escuridão propagou, enquanto a voz de Ritsuko Akagi ecoou.

“Shinji Ikari... eu vou te mostrar uma coisa.”

Com um clique de algo que Shinji não pôde identificar, uma frágil luz escusa raiou entre os três – trazendo um ponto de luz perdido na penumbra.

Em seguida, com um estrondo, o brilho de luminárias mais fortes penduradas acima deles trouxeram luz a tudo e revelaram ao menino o que era escondido ali.

Shinji cambaleou, assustando-se ao encontrar o que não poderia imaginar estar ali – há poucos passos de distância dele, nem mesmo uma dúzia, uma criatura forjada em ferro que fazia ele sentir-se minúsculo, pois lentamente o garoto realizou que tudo o que podia ver era apenas uma pequena parte de algo maior.

Boquiaberto, tomado em pavor, manteve-se estático – pois seus pés que em primeiro instante tentaram correr, renderam-se parados, seus berros foram contidos por um grito sem voz, já que não havia palavras para aquilo e enquanto piscava seus olhos, buscando entender, mais ele podia compreender que não sabia de nada.

Mesmo com tudo que havia passado até ali, com o que não sabia de seu pai além dele estar envolvido em ‘um trabalho dito ser importante para humanidade’, Shinji não pôde deixar-se aterrorizar antes de admirar. Imaginar o que encontraria ao fim do caminho não correspondia com o que havia na chegada, era imprevisível.

Um gigantesco constructo de ferro, protegido no que ele poderia chutar ser uma armadura roxa, que a primeiro instante ele achou a própria pele. Em suas dimensões, em seu tamanho, as proporções do que ele podia ver daquela coisa se tornavam tão esguias, com sua largura não correspondendo a altura. Os olhos eram torcidos, porém de um estranho formato triangular – algo que mais a diferenciava de uma coisa humana, pois como o monstro lá fora, eram olhos que pareciam no fim trazer à tona que esse “robô” mais era uma aberração.

Entre ambos os olhos, um único chifre erguido no lugar de onde estaria o nariz e abaixo, uma mandíbula monstruosa curvada para frente. Descendo, ele podia ver apenas um pouco dos ombros com mais placas daquela armadura e o resto estava escondido abaixo do líquido vermelho.

Misato caminhou para ficar ao lado direito de Shinji e muito diferente do menino ela não surpreendeu, mas manteve-se com a cabeça erguida, olhando com uma diferente perspectiva a criatura.

Ritsuko por outro lado, continuou permanecendo ao lado esquerdo do garoto. Escondendo as mãos uma outra vez ao terminar de revelar o constructo, com a cabeça em frente, não erguida: sem medo e sem naturalidade, respectivamente como Shinji ou Misato.

“Essa é a arma mais poderosa e avançada criada pelo homem.” Buscando o menino de seu súbito espanto, ela manteve o tom de sua voz forte, pois não havia espaço para distrações que uma criança poderia trazer no momento. Afinal, por vontade de seu pai, esse garoto seria exposto ao que apenas ele poderia fazer. “O humano artificial, Evangelion.”

No que Ritsuko falava, Misato cruzava seus braços e ainda portava a imagem de quem entendia, ou precisava demonstrar entender, o que acontecia ali. Muito diferente de Shinji, que ainda mantendo seus olhos naquilo, se tornava avulso quanto ao ambiente que estava e confuso quanto as razões da sua presença ali.

“O último trunfo da humanidade.” Akagi enfim completou, seca em sua pronuncia, mas decisiva no que intitulava ser a criatura. Da ironia de nomear a arma mais poderosa, a salvação da vida e existência.

Porém, não era com essa filosofia que a testa de Shinji franzia, pois os olhos azuis do menino, ainda penetrando e gravando a imagem em sua frente – concluíam o que ele já começava a entender.

“Então esse é o trabalho do meu pai.” Ele não foi corajoso em confirmar, não querendo estar errado, mas não compreendendo o significado em estar certo.

“Exato.”

Essa voz que ecoou pelos comunicadores da gaiola foi diferente das outras que acompanhavam Shinji até ali, veio mais abafada, no entanto completamente clara. Reverberando como um coro de um ser só, o tom trouxe a sala já gélida uma frieza que não vinha do ferro, mas sim de um homem que carregava poucos sentimentos consigo.

Simplesmente abrupto.

Shinji ao reconhecer essa voz sentiu-se encurralado. Novamente expressões sem voz eram berradas por ele, boquiaberto e relutante o garoto levantou seus olhos, encarando o que estava além do robô a frente dele – encontrando-o na câmara ao cume da gaiola de aço.

Ainda presente, porém ainda afastado.

Acima de todos ali, o homem mantinha-se de pé em uma postura rígida, em sua presença representando algo que almejava ser incompreendido. Apenas uma das mãos escondida ao bolso, enquanto a outra, enluvada, tinha seu punho fechado e mesmo olhando aqueles abaixo dele, a cabeça mantinha-se erguida – não se dando ao trabalho de se colocar, ou reconhecer, o nível daqueles que vinha de encontro.

Mesmo que seus olhos descessem para ver a seu filho, Gendo Ikari ainda escondia-se atrás dos óculos de lentes alaranjadas que ofuscavam sua expressão objetiva e nas suas feições, não haviam desenhos de qualquer emoção se não rigor.

“Há quanto tempo.” Completou, trazendo o contraste da falta de qualquer emoção.

Do filho, do rosto aos olhos eram erguidos para ver a imagem do pai e nas joviais feições da criança, qualquer emoção podia ser resgatada – pois ele não sabia o que sentir. Apenas reconhecia que mesmo no reencontro, a distância era continua.

Em seus lábios, palavras não saiam, o mesmo receio em soprar qualquer coisa.

Poderia soltar lágrimas?

Continuaria com a pena de si mesmo?

Conseguia ter raiva?

“Oi, pai.” Resumiu-se a isso, trazendo a insegurança. Era isso que ele queria ouvir? Era isso que ele queria dizer? Ainda com seus olhos erguidos para ver Gendo, Shinji reduziu-se a não saber o que fazer.

Tantas palavras que ele treinou em sua mente iam embora.

Quantas vezes teria que ver seu pai o olhando por cima?

Os ombros do menino caíram, os olhos azuis forjados em angustia eram encobertos pela franja de cabelos castanhos – Shinji olhava para os próprios pés, na borda da plataforma suspensa. Ele não podia parar de tremer e nem mesmo realizava o quanto o ambiente e as descobertas tornaram-se irrelevantes com a presença do pai.

A mágoa de Shinji, capturada pelas câmeras da gaiola e transmitida para Gendo, eram ignoradas pelo mesmo – ele se tornava oblívio ao quanto sua presença afetava o menino. Se havia qualquer demonstração de importância, ela seria ofuscada com maestria.

Sob a câmara, ele permaneceu segundos estudando algo que ninguém ali poderia capturar o que era – e no fim, um sorriso moldou-se a face de Ikari.

“Lançar Eva.”

“Lançar Eva?” Diferente do homem, Misato Katsuragi repetiu as palavras com espanto. Ela virou-se para Ritsuko, perdida na armação de seu comandante e procurando respostas na pessoa que julgava ser mais esperta naquela sala. “Mas a Unidade-00 tá suspensa... não está?”

Silêncio. Apenas o eco da voz da Tenente-Coronel. Gendo não importou-se em responder, enquanto Ritsuko não viu necessidade.

E Misato, em pouco tempo entendeu. Seus olhos olharam para a resposta forjada ao lado dela, e nisso, veio outras perguntas que a mulher se via incapaz de compreender, ou na verdade, ela não queria entender.

“Não. Você não pode estar pensando em usar a Unidade-01.”

Ritsuko pareceu finalmente reconhece-la, virando-se para encarar a velha amiga com seus olhos verdes – elas mantinham a visão uma contra a outra, porém a doutora mais uma vez não demonstrava nada se não severidade.

“Não tem outra opção.”

Katsuragi dessa vez ficou sem voz. Quebrando o contato visual com Ritsuko, ela estudou bem Shinji, com a franja ainda cobrindo aos próprios olhos, ela viu o menino que tentava se tornar avulso, perdido provavelmente em um penhasco de decepção. Misato pensou em qual devaneio ele tentava se agarrar, qual emoção ele buscaria para se acolher – era agonizante o quanto ela podia ver de si ali.

“Shinji Ikari.” Ritsuko continuou, voltando-se ao garoto cabisbaixo.

“Huh? Oi.” Como se acordasse em súbito de um pesadelo, Shinji ergueu o rosto e lembrou-se de tudo aquilo que o rodeava, olhando Akagi, mas se agarrando ao próprio braço enquanto via nela mais um olhar frio.

“Você vai pilotar.” Afirmou a doutora, com simplicidade, escondendo as próprias mãos aos bolsos, enquanto trazia o peso do mundo nas costas do menino.

Ele não deu resposta. Mas tudo nele demonstrava a negação, agarrando-se mais forte ao próprio braço, Shinji – entre Ritsuko e Misato, olhou novamente para a máquina que eles chamavam de ‘Evangelion’ e quando em nenhuma das três figuras encontrou respostas, ele voltou-se a quem lhe deveria dizer algo.

“Pai.” As palavras ecoaram, enquanto os cacos de confiança se juntavam. “Por que me chamou aqui?”

Novamente, acima dele, acima do Eva, Gendo se mantinha, completamente distante dele.

“Acho que já ficou bem claro o porquê.”

“Mas como assim, pai?” Shinji encolheu-se mais uma vez. Sua voz quebrando, enquanto a repulsa era cuspida em cada palavra. “Você quer que eu entre nesse negócio e lute?”

“Exato.”

“Isso é um absurdo, pai!” Despido de qualquer amarra, Shinji levantou seu rosto outra vez, com pequenas lágrimas voando ao lado de seu rosto enquanto as feições dele formavam a raiva que não era mais contida. “Por que você tá fazendo isso?!”

Uma súplica formada em um berro seco que ele apenas queria que chegasse até Gendo.

“Eu pensei...” Novamente a voz de Shinji quebrou, engolindo em seco antes de continuar. “Eu pensei que você nem me quisesse por perto!”

“É porque agora preciso de você.”

Shinji não podia deixar de se sentir humilhado pela forma que Gendo falava isso a ele. Palavras quebravam antes dele conseguir dizer qualquer coisa – seu pai não precisava dele por amor, sim por necessidade. Baixando o próprio rosto as sombras, ele tentou continuar, insistindo em algo que não encontraria ali.

“Por que eu?” Repetiu. “Por que eu, pai?”

“É impossível para qualquer outra pessoa.”

“É impossível pra mim também.” Shinji disse, reduzindo-se ao que mais achava obvio. Ainda sem levantar o rosto. “Eu nunca tinha visto um negócio desses-- Eu não sei pilotar essa coisa!”

“Eles vão orientar você.”

“Não dá...” Ele tentou mais uma vez, como se explicasse o obvio. Como se ensinasse o que deveria ser claro a todos – mas também era como se todos se recusassem a ouvi-lo.

E para Shinji, não era apenas isso. Também havia a verdade que ele não precisava gritar para todos entenderem.

Ele simplesmente tinha medo.

“Eu disse que não dá.” Fechando aos olhos e berrando ao ponto que sentir a garganta rasgar, o menino berrou para ecoar na gaiola de aço. “Eu não vou pilotar essa coisa!”

“Se vai pilotar, anda logo.” A imagem de sua prole refletia nas lentes de Gendo e em seus olhos, o desgosto moldava tudo que era construído pela decepção em sua frente. “Se não vai, vá embora!”

As palavras do comandante foram muito além das suplicas de Shinji, tanto pelas paredes de ferro, quanto os pedidos do próprio filho jamais chegariam na consciência de Gendo.

Expurgado pelo pai, Shinji enfim desistiu até mesmo de tremer, ficando apenas estático. Ele era uma figura que se não pelo próprio corpo, era inexistente naquele ambiente.

Reconhecido apenas pelos olhos que pairavam sobre, todos lhe dando uma vergonhosa pena. Alguns outros impaciência e escondido entre estes muitos aqueles com desgosto. Shinji sentia tantos olhares sobre si, fosse de Misato, a doutora Ritsuko ou outros que ele não se deu ao trabalho de reconhecer dentro da gaiola – até mesmo sentia o julgamento da máquina a sua frente, que inerte, incapaz de dizer nada, ainda assim o menino a sentia esperar algo dele.

Por que os olhos dessas pessoas que nem mesmo o conheciam – nem mesmo do próprio pai que de fato o conhecia, mas nunca se importou em o entender – se viam no direito de esperar qualquer coisa dele?

A piscina carmesim que tinha continha o corpo do constructo soprou diversas e pequenas, ondulações. Ao mesmo tempo as placas da estrutura da gaiola vibravam como se tivessem vida e das paredes até ao teto de aço um tremor ecoou, enquanto o abafado som das explosões ao lado de fora do Dogma-Central serviam como um martírio, a vinda do monstro que acima deles explodia Tokyo-3.

O ataque do anjo não havia cessado em meio a isso tudo, pois a criatura não os esperaria para decidir. Não se tornava uma questão do quão rápido iriam revidar, mas sim por quanto em meio a essa discórdia poderiam sobreviver.

“Droga.” Gendo rosnou, assistindo as luminárias acima deles balançarem suspensas por seus finos cabos que as ligavam ao teto, sendo testados pelos constantes impactos, enquanto eles perdiam e recuperavam sua luz. “Ele sabe onde nós estamos.”

Um segundo tremor. Eram os tambores da destruição que cantavam a vindoura ruina da humanidade.

‘Armadura oito da primeira camada destruída.’ A voz comunicou.

‘Incêndio no Bloco-D. Funcionários, liberar para a evacuação do local.’

Assim como seu comandante acima dela, Ritsuko também olhava as luminárias sobre ela, que recuperavam e perdiam sua luz mais uma vez. De todas as respostas que a mente fundada na lógica era capaz de considerar, o desespero a desvirtuava para se voltar ao menino em sua frente.

“Shinji, nós não temos muito tempo.” Da forma mais controlada ela implorou, tentando manter o controle sobre si, mas sua voz não parecer chegar ao garoto.

Shinji realmente esforçava-se para não se importar. Dentro de si, a briga para manter sua cabeça baixa e falar algo era violenta, ele apenas queria aqueles que fingiam depender dele irem para longe. Não prestaria mais atenção no que era dito pelos comunicadores, nos relatos de destruição que vinha das vozes calmas que se tornavam aflitas.

Ignoraria os tremores de destruição, pois ninguém se importava com o bem estar dele ali.

Porém ao pensar nisso, ele não pôde ignorar a única que até então lhe ofereceu calor naquela sala fria. Temerosos, seus olhos se voltaram para Misato, como se procurassem apoio e ajuda, mas ao ver a mulher de cabelos violetas, antes vivida e alegre, achou apenas outro olhar gélido.

“Entra no Eva, Shinji.” Com os braços cruzados agora acima do peito, Katsuragi falou, revelando-se tão autoritária quanto Ritsuko era capaz de ser e assim o menino encolheu-se outra vez, reconhecendo enfim estar encurralado com pessoas que só usavam dele.

“Eu não quero. Então eu vim aqui só pra isso?” Ela não lhe respondeu. “Não é justo comigo!” Ele bradou

Misato enfim entregou o que ele procurava: aproximação. Shinji sentiu o calor dela mais uma vez, enquanto tinha um vislumbre dos cabelos violetas chegando ao canto de sua visão, enquanto ela agachava suas pernas para ficar ao nível dele, ainda severa, mas se voltando a criança como uma igual.

“Por que você veio?” Uma incitação incomodada no tom de Misato. “Por que você veio se não foi pra isso?” A dúvida que ela lhe lançou ela traiçoeira, pois a forma que ela falava era o tom que Shinji procurava, mas a pergunta era o que ele queria escapar.

Misato sabia o que era necessário ali, pois tinha noção que todos estavam com uma responsabilidade para carregar e com seus olhos procurando dos de Shinji, ela podia ver o que o menino queria esconder – que ele passava a reconhecer sua parte naquilo tudo.

Uma criança que fugia não por ser incapaz de entender, mas por não ter o que desejava com compreender.

“Não fuja.” Aproximando-se, ela sentiu o esforço de Shinji para não corresponder ao seu olhar. “Não fuja de seu pai. Nem de você.”

“Eu sei.” Ainda sem encará-la, preso com a visão aos próprios pés, ele respondeu, mas com os dentes cerrados e punhos fechados, continuou. “Mas o que vocês estão pedindo é impossível.”

A voz quebrada de derrota brandiu como um ponto final e com isso, Misato também desistiu de tentar, mesmo que fosse amaldiçoando a si mesma por isso – ela declarou a si que talvez simplesmente não encontraria o que procurava nele, mesmo que até então, pensasse ver uma semelhança em Shinji Ikari.

Forçando as mãos nas próprias pernas ela ergueu-se novamente, pensando no quão egoísta era por achar que poderia entender completamente alguém.

Gendo havia se cansado daquilo. O pai teve um último vislumbre de seu filho com os próprios olhos antes de voltar-se aos projetores ao seu lado da câmara superior, assistindo agora a imagem da prole espalhada na tela.

“Fuyutsuki.” Anunciou o comandante, vendo um dos projetores tornando-se estática antes de mostrar o Vice-Comandante. “Comece a preparar a Primeira Criança.”

‘Ela está pronta?’ Através da tela, o Vice-Comandante mostrou receio, mas em sua voz ele estava apto a seguir com o que Ikari julgasse o mais adequado.

“Claro, ela não está morta.”

Por outro lado, Gendo manteve sua face inexpressiva para o velho, que poderia lê-lo muito bem através das palavras, por mais que na sua voz fria não houvesse sinal de raiva, era palpável seu descontentamento.

Silêncio. Fuyutsuki o encarou através da projeção, como se pensasse em discordar da sua decisão, no entanto, antes que a abertura para tal fosse feita, a voz de Ritsuko cortou o diálogo entre seus superiores acima dela.

“Senhor, eu não penso que a Ayanami esteja boa--” Akagi falhou em fingir calma em sua voz e se amaldiçoou por isso quando Gendo voltou-se a ele. “Como avaliadora do tratamento dela, não penso que a Primeira Criança pode ser usada agora.”

“Tem algo de valor a dizer?” Ikari replicou em sua imagem lúgubre. “Você tem coisas mais importantes para fazer do que se preocupar com o estado da Primeira Criança.”

Ritsuko foi acolhida pelo próprio arrependimento. Batalhando para fechar a si própria de qualquer fraqueza que Gendo pudesse usar mais tarde, ela queimou ao conter-se em falar mais. Olhando para Misato, ela pode testemunhar até mesmo o estranhamento da amiga normalmente ignorante.

Apenas os impactos das explosões ao lado de fora falaram pela situação, enfim, nenhum deles tinha algo mais a dizer.

‘Entendido.’ Fuyutsuki rendeu também, antes de aventurar-se em uma batalha perdida que não tinha mais idade para travar.

Com estática substituindo a sua própria imagem, Gendo esperou até o projetor mudar uma projeção de tela branca, descrito em letras negras ‘SOUND ONLY’.

“Ayanami?” Ikari chamou, sua voz ainda fria como momentos antes, mas agora, demonstrando antecipação em ouvir a voz ao outro lado da comunicação.

“Oi.” Falha foi a resposta de uma voz normalmente já frágil.

“Não podemos usar o reserva, ele é inútil. Você vai entrar de novo.” Ikari despojou-se de qualquer receio em afirmar a incompetência do filho e sem expectativa aguardou a resposta que já esperava de Rei.

“Tá.”

Derrotada, Ritsuko olhou bem o filho de Ikari e ponderou quanta verdade havia na afirmação do pai. Como se estudando um espécime falho, ela franziu a testa e voltou-se para os comunicadores da gaiola.

“Atenção! Vamos trocar o núcleo da Unidade-01 para a Unidade-00. Depois reativem.”

‘Entendido. Interromper procedimento atual. Trocando núcleo. Iniciando transferência de núcleo.’

As travam hidráulicas soltavam o que eram feitas para prender e as engrenagens rodavam novamente, enquanto passos apressados de ambos os lados ecoavam. As peças da NERV, seus homens e mulheres que faziam o corpo que era a organização funcionar, redobravam seu trabalho no ecoar dos impactos acima deles – pessoas que viveram um fim do mundo e com suas mãos batalhavam para não testemunhar um segundo.

Estas pessoas que faziam o mundo voltar a girar para sobreviver lhe faziam o trabalho designado após a falha, a transferência de núcleo era realizada no Evangelion Unidade-01.

Ritsuko por um segundo olhou novamente a criança e virou-se tensa, recuando quase como se não reconhecesse mais a presença de Shinji ali, dando na plataforma passos lentos e pesados. Sobretudo, transtornados.

Misato, por outro lado, foi diferente por insistir por mais tempo. Encarando a Shinji, mas não dizendo outras palavras. Com um primeiro passo para trás, ela manteve-se esperançosa em ver alguma reação do menino desolado. Em um segundo passo, ela novamente realizou que foi derrotada por sua ingenuidade em tentar saber do conhecia dele. Com seus passos pesados, ela deixou um som de arrependimento, indo a direção oposta de Akagi.

E ao centro de tudo, ainda permanecia Shinji Ikari, ouvindo o andar de decepção que em sua mente eram odes a sua imagem.

Eu sabia que eu não sirvo pra nada.

Mordendo ao lábio inferior o menino deixou os cabelos esconderem uma segunda vez as lágrimas que ele não queria deixar cair.

Ninguém me quer.

As lembranças do abandono, de ser deixado em uma estação de trem vieram. De sua mão levantada em um dos olhos para tentar esconder seus prantos inúteis, assim como nesse momento.

A mochila mais pesada do que ele era capaz de carregar deixada do seu lado.

Em sua outra mão aquele aparelho enrolado no próprio fio.

E então algo quebrava nele.

Eles todos o viam como uma criança, não digna de viver ao lado deles.

つづく


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