Losing escrita por Amelina Lestrange


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Um conselho: tudo o que te deixa dúvidas ou confuso é um não; o sim sempre vai ser cristalino.



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Faça alguma coisa, amor, diga alguma coisa… perca alguma coisa, amor, arrisque alguma coisa… escolha alguma coisa, amor, eu não tenho nada em que acreditar, a menos que você me escolha… pare, você está me perdendo

You're Losing Me - Taylor Swift

.

Uma parte sua clamava por deixar essa história silenciada. Estava silenciando muitas coisas ultimamente, fosse com álcool, a sua medicação para a ansiedade ou simplesmente só dormindo. A rejeição em si não era uma desconhecida, já a havia encarado diversas vezes e sabia acenar quando a via, porém, dessa vez teimava em não ver. Negava que ela existia apenas por não ter sido propriamente dita. Ou talvez educadamente recusada soasse menos ofensiva ao seu orgulho. Não doía ser rejeitada, mas doía o modo como reconhecia que os seus sentimentos tinham sido feitos de passatempo em momentos quando não havia algo melhor para fazer uma vez que agir como se tivesse interesse era pior que o próprio desinteresse. O interesse poderia ser driblado, mas as expectativas criadas sobre o faz de conta eram mais dolorosas. 

Sabia que ele não era seu para que perdesse, mas o perdeu mesmo assim, mesmo sabendo que nunca seria escolhida e essa era a sua perda, essa era a sua raiva… essa era a sua mágoa. Não havia o que cobrar porque era tudo seu: o seu desejo, o seu sentimento, a sua ilusão, e na sua cabeça alguma mínima coisa talvez um dia tivesse sido real porque sonhava acordada pensando nisso… tudo seu, menos ele.

O gosto do beijo era fantasioso, mas indescritível, pois sabia qual era, embora não conseguisse verbalizar como era. O abraço e os afagos seguiam o mesmo raciocínio. Tinha estado nos seus braços duas vezes, mas apenas para cumprimentos e despedidas. Sentiu outras mãos tocando o seu corpo, contudo, a curiosidade era saber das suas tocando o seu rosto e reclamando o beijo que estava guardando há tanto tempo.

Estava nas entrelinhas, sob todo o discurso e a desfeita… estava lá o tempo todo, mas não conseguia acreditar porque simplesmente não aceitava que pudesse ter sido tão rejeitada depois de tanta entrega. Se conhecia e sabia como era, tinha se entregado a esse desejo e o viu se tornar maior e ocupar um espaço tremendo na sua rotina.

Ele era um bom pai. Imaginava ser um bom marido. Mas não era seu para que o desejasse assim como sabia que a sua entrega também não poderia ser plena. Ainda desejava, ainda sentia, mas não podia fazer mais nada com isso quando já havia feito tanto, arriscado tanto e se transformado no fantasma do que foi um dia. Entretanto, o que mais machucava fisicamente o seu corpo agora era a invalidação do que estava sentindo pois por mais que da sua boca saíssem palavras contrárias a isso, era o que a escutava em cada segredo que contava ao espelho, vendo os seus dedos vermelhos e machucados por ter deixado a sua raiva e tristeza saírem para passear. Não era mais quem era pois tinha deixado o seu querer entrar e fazer morada, tomando conta de cada canto da sua carne, coração e espírito. 

Olhava as imagens salvas de forma clandestina e informações parciais que se misturavam às suas paranóias e criava histórias sobre gostar dos seus olhos verdes vivos sob os óculos ou do seu cabelo cor de vinho tinto solto e caído sobre os ombros brancos, sobre jogar conversa fora vendo um pôr do sol no terraço de um prédio ou apenas trocando letras de músicas estando vermelha e suada após fazerem amor. As conversas nos aplicativos não existiam mais pois era doloroso reler o que queria que tivesse sido verdade em todos os sentidos. E sabia que naquele momento não era melhor que ela… nunca seria melhor em nenhum aspecto.

Era sincera a sua vontade de beijar, era real a sua vontade de trocar toques e carícias, era verdadeira quando dizia essas coisas embora soubesse que tinha razão quando desconfiava da sua própria carência. Buscou afeição no lugar errado, em braços que não deveriam tocar o seu corpo e beijos que não deveriam ser seus. Quanto mais revisitava o que tinha acontecido, mais tinha certeza de que em algum momento tinha sido recíproco, mas também vinha a vergonha e a humilhação pelo desdém do que quis entregar, e o seu corpo e o seu carinho eram tudo o que tinha de bom para oferecer. Agora só tinha as suas lágrimas e a sua raiva e não havia bom uso para elas.

Ao mesmo tempo que não haviam promessas, sabia que alguma coisa tinha acontecido e se contentar com as migalhas era ainda mais vergonhoso do que admitir que estava desesperada. Sabia que gostava da aprovação dos outros e patologicamente vivia a pressão de agradar, ser perfeita, mas doía entender que isso nunca seria o suficiente para os seus olhos ou as suas mãos ou o seu coração. Era desesperador querer por dois já que sentia que as coisas tinham se tornado isso.

Sentia que havia já perdido, mas uma parte do seu coração era egoísta e desejava que ele também estivesse lhe perdendo no processo. Provavelmente não era o caso. Talvez nunca fosse.


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