Trancada dentro de seu quarto, com as janelas fechadas, Tenten dançava uma das suas músicas preferidas, do Billy Idol – Dancing With Myself – enquanto experimentava algumas roupas para a festa que haveria na casa de Shikamaru Nara na sexta-feira.

Ela estava particularmente animada, afinal o Nara era famoso pelos lendários jogos de verdade ou consequência e a morena esperava secretamente que alguém a desafiasse a beijar Neji. Muitas pessoas, inclusive, acreditavam que eles eram um casal, já que passavam mais tempo juntos do que o necessário. Era coerente que os fizessem se beijar durante aquele jogo, né?

Jogando os cabelos de um lado para o outro e estalando os dedos, a Mitsashi encarava-se no espelho com um grande sorriso nos lábios. Estava seriamente cogitando surpreender seus melhores amigos e tentar um visual mais feminino e provocativo já que normalmente ela se vestia como uma skatista dos anos 80.

Ela não tinha o menor apreço por moda ou literatura – como boa parte das personagens principais de filmes e seriados – e passava mais tempo colando de Neji do que estudando.  Suas notas eram medíocres e a vida dela não era nada interessante, mas por outro lado, ela não tinha nenhum maldito drama adolescente acontecendo na sua vida com quem se preocupar.

Rebolando em frente ao espelho, Tenten girou sorridente, jogando os cabelos castanhos de um lado para o outro, estalando os dedos. Os seus pais trabalhavam o dia inteiro, então ela atormentava os seus vizinhos o dia inteiro com seu gosto musical eclético que incluía desde banda de rocks a bandas indies, pops, kpop, reggae entre outros.

Ela estava dançando completamente à vontade, quando percebeu seu celular vibrar incessantemente sobre a mesa. Piscando os olhos, a Mitsashi aproximou-se da escrivaninha e desbloqueou a tela do seu iphone.

[Rock Lee]: Você vai mesmo para a festa do Nara, Tenten? Estão te chamando de Maria Sangrenta na escola.

[Tenten]: Eu amo essa música da Lady Gaga e duas coisas 1: Estão me chamando de Maria Sangrenta por SUA culpa e 2: Eu não to nem aí para aqueles idiotas, eu só quero comer e beber de graça.

Embora, naturalmente não estivesse nos planos dela ingerir bebida alcóolica. Ela não era nenhuma puritana e não criticava a maneira imbecil dos seus colegas viverem a adolescência, mas ela realmente não gostava de beber álcool. Assim como o seu pai, Tenten era muito fraca para bebidas e sempre passava mal, ela simplesmente desistiu depois da segunda tentativa de beber vodca e estava bem consigo mesma por essa decisão.

Obviamente muitas pessoas passaram a zombar dela por causa disso, mas quem liga? Ela não dava a mínima para a opinião da galera escrota da escola. Só queria terminar aquele maldito terceiro ano de uma vez e poder se mudar, talvez para a França ou o Japão.

[Rock Lee]: Tenten, eu quero te pedir um favor. Se a garrafa girar e parar na direção da Sakura, por favor, por favor, desafia ela a me beijar.

[Tenten]:  Ok.

[Rock Lee]: Você é a melhor amiga que alguém poderia ter, eu te amo tanto! Muito obrigado!

[Tenten]: Mas se a garrafa parar na direção do Neji, você tem que desafiar ele a me beijar, beleza?

[Rock Lee]: Isso é sério?! Meu Deus, meu OTP é real! Eu sempre soube que o seu fogo da juventude ardia pelo Hyuuga!

[Tenten]: Lee!

[Rock Lee]: Ta, me desculpa, pode deixar, eu vou fazer isso sim, com toda certeza. Espero que vocês se casem depois que se formarem, vai ser tão romântico! Eu posso ser o padrinho dos dois?!

Antes que ela pudesse enviar um emoji mostrando o dedo do meio para ele, percebeu seu celular tocando e rapidamente atendeu a chamada, levando o aparelho até o ouvido.

—Oi.

—Você vai para a festa do Nara, né? Eu não vou lidar com o Lee bêbado e choroso sozinho outra vez!

—Está usando isso como pretexto para me sondar, Nejizinho? Por que não me pergunta de uma vez se eu vou para a festa? — Ela sorriu, enrolando uma mecha de seu cabelo enquanto se sentava na poltrona de couro de frente para a sua mesinha de computador. Ela adorava como ele não tinha o menor tato para lidar com garotas, especialmente ela. Isso a fazia amá-lo mais ainda.

Fingindo tossir do outro lado da linha, Neji suspirou fundo.

—Olha, eu não tenho certeza do que você está tentando insinuar, mas eu não estou achando nada engraçado, viu? Só por favor, me prometa que não vai me deixar sozinho cuidando do Lee bêbado.

—Ta, ta, eu prometo. Melhorou, seu tosco?

 Ele apenas murmurou um “uhum” e então com toda a classe que só os Hyuugas tinham, simplesmente desligou na cara dela sem mais nem menos. Tenten rolou os olhos. Ela sempre ficava muito irritada quando ele fazia isso, como é que as fãs obcecadas do Uchiha poderiam encarar uma atitude do tipo como algo “aceitável”? Era tão patético e desanimador.

Tenten espreguiçou-se na cadeira e estalou o pescoço, desligando o som.

Sabendo que o Hyuuga poderia surgir a qualquer momento em frente à sua casa, gritando para ela se apressar, a morena se levantou da poltrona e decidiu ir até o quarto da sua mãe a procura de um vestido curto e jovem que fizesse os rapazes – especialmente o seu crush secreto – revirar os olhos e assobiar na sua direção.

Quando finalmente encontrou um propicio a ocasião, a morena seguiu até o banheiro para tomar um rápido banho quente.

(...)

Neji estava do lado de fora da casa da melhor amiga, enquanto Lee esperava no carro. A única vantagem que havia em morar nos Estados Unidos era o fato de que adolescentes conseguiam tirar a carteira de motorista com dezesseis anos de idade.

Ele encarou a porta a sua frente por alguns minutos antes de voltar a apertar a campainha repetitivamente.  Ele sabia perfeitamente o quanto Tenten odiava ser apressada e ele achava extremamente divertido provoca-la. Com um sorriso nos lábios, o Hyuuga voltou a apertar a campainha, enquanto Lee gargalhava de dentro do carro.

—Ela vai jogar ovos em você, Neji!

—Ótima ideia, Lee! — O Hyuuga estalou os dedos, lembrando-se da pegadinha idiota que a Yamanaka tinha feito com Tenten outro dia. — Nós vamos aproveitar essa festa para realizar uma pequena vingança contra a Barbie Yamanaka.

—Epa, epa, epa, eu não quero ser cumplice de um crime. E muito menos participar de um atentado contra a Ino, aquela garota é maluca.

—Ela ofendeu a m... A nossa Tenten, ela tem que pagar e você vai me ajudar sim.

Lee não retrucou. Neji na maior parte dos tempos era calmo e despreocupado, mas ficava realmente assustador quando engrossava a voz e o encarava daquele jeito frio e arrogante tipicamente Hyuuga. Ele não tinha a menor chance contra o Neji do Antigo Testamento.

—Eu só espero não parar na cadeia.

— Não acho que jogar ovos no carro da Ino seja crime. — Refletiu o moreno. — Mas de qualquer forma, essa é apenas a primeira parte da vingança, nós vamos discutir os detalhes mais tarde.

Quando ele estava prestes a tocar a campainha novamente, a porta foi aberta e ele sorriu imaginando os tapas que iria levar da melhor amiga. Lee já estava segurando a risada imaginando a cena, mas, em vez de estapeá-lo, Tenten deixou a casa usando um vestido preto de um ombro só,  calçando botas de conturno e com os cabelos soltos caindo como uma cascata pelos seus ombros e costas.

Neji abriu e manteve a boca escancarada, absolutamente incrédulo com o que via e Lee arregalou os olhos, petrificado.

Ele não fazia ideia de que os peitos da melhor amiga eram grandes daquele jeito. E, meu Deus, da onde aquele par de pernas bronzeadas e torneadas surgiram?!

—E então? — Tenten sorriu, rodopiando e exibindo seu novo visual.  — O que acharam?

Neji engasgou-se com a própria saliva.

—Esse vestido é ridiculamente inapropriado, você ta querendo se exibir para quem? — Praticamente gritou, indignado e ela sorriu satisfeita.

—Para você. Gostou?

Sem saber se ela estava falando sério ou se era mais uma das ironias sórdidas que ele não entendia, o Hyuuga apenas a segurou pela mão a conduzindo até o carro.

—Tenten, cadê as suas roupas de skatista dos anos 80? O que aconteceu com você?

—Eu resolvi mudar, ué, não gostou?

—Mas é que dá para v-ver as suas... Ah.

Ele desviou os olhos, esfregando o rosto entre as mãos.

(...)

Sasuke fez tudo o que podia para não ir à festa. Até chegou a dizer que tinha contraído caxumba, mas, obviamente, como o bom cretino intrometido e idiota que era, Naruto simplesmente entrou em sua casa e chutou a porta do seu quarto para ver se era verdade. E depois de uma interminável discussão sobre aquela ser uma oportunidade única para ele finalmente conseguir beijar os doces lábios de Sakura Haruno, o Uzumaki finalmente decidiu jogar baixo e avisá-lo que, caso ele não fosse a festa, iria espalhar um segredo extremamente embaraçoso dele para todo o colégio.

Embora quisesse que ele espalhasse de uma vez, na esperança de ser deixado em paz pelas fãs malucas, o Uchiha preferiu não arriscar, já que Naruto não especificou qual segredo embaraçoso iria sair espalhando e para sua tristeza, o loiro sabia de muita coisa constrangedora.  Dependendo do que fosse, ele provavelmente não sairia de casa pelos próximos séculos.

Mal passou pela porta e já foi cumprimentado por pessoas que ele nem tinha certeza se estudavam no Saint Luna.  De qualquer forma, acenou de volta e continuou andando pela casa absurdamente enorme da família Nara.  Shikamaru se vestia de um jeito desleixado e parecia raramente tomar banho, mas era ridiculamente mais rico que a metade dos alunos do SL.

—Eu jurava que você não iria vir, Sasuke. — Shikamaru era um dos poucos seres humanos que parecia enxerga-lo justamente como um cara humano e não como um babaca saído de filmes de comedia romântica. Ele simpatizava bastante com o Nara, apesar da questão higiênica gritante.

—É culpa do Naruto. — Respondeu o Uchiha, encostando-se a parede. — Desde que eu virei melhor amigo desse desgraçado eu não tenho um único maldito dia de paz.

O Nara explodiu em gargalhadas e balançou a cabeça em concordância.

—Sei como é. Sinta-se em casa.

Sasuke assentiu e o agradeceu, observando-o se afastar preguiçosamente pelo local enquanto cumprimentava os demais convidados. O moreno bocejou, encarando indiferentemente as pessoas que chegavam e riam umas para as outras.

Ele sabia perfeitamente a razão para a festa estar cheia daquele jeito: estavam todos aguardando, com muita expectativa, o jogo de verdade ou desafio, que costumavam serem lendários. Ele esperava fugir da festa antes de ser obrigado a participar daquele jogo ou iria descontar em Naruto, novamente.

Ele decidiu deixar a casa e passar um tempo no jardim de trás.  Estava se virando quando sentiu seu corpo trombar com o de outra pessoa.

Felizmente, ele esbarrou justamente com uma das poucas garotas que não segurava um copo vermelho cheio de gin. Ele demorou alguns segundos para reconhece-la já que, diferentemente do habitual, estava gostosa em um vestido preto curto.

Tenten sorriu simpaticamente para ele.

—Foi mal, Uchiha, não vi você aí.

O moreno assentiu, também não parecendo se importar com o incidente.

—Não foi nada.

Ela assentiu sorridente e fez menção de se afastar, ele a observou por alguns segundos. Tenten Mitsashi deveria ser a única garota da escola inteira que não participava do seu vasto e psicótico fã clube. E também não o odiava. Ela era apenas totalmente indiferente a ele.

—Gostei do seu cabelo solto. Você fica bonita assim.

A morena piscou bem os olhos, o encarando, parecendo surpresa com o comentário e Sasuke abriu um sorriso de canto, antes de piscar para ela e desaparecer em meio à multidão, apressando-se em achar a porta de saída da casa.

Tenten piscou os olhos, ainda sem acreditar no que tinha acabado de acontecer.  Aquela não era a primeira vez que eles se falavam – se é que alguns raros cumprimentos no corredor e na biblioteca poderiam ser considerados diálogos  - mas definitivamente era a primeira vez que o via sorrir na vida.

E ele tinha sorrido para ela, depois de elogiá-la?! Tenten voltou a piscar bem os olhos, olhando por cima do ombro a procura da cabeleira negra, verdadeiramente intrigada.

Ela nem sabia que ele tinha dentes, para começo de conversa, ele era sempre tão sério e carrancudo que as vezes desconfiava que o coitado era um garoto banguela. Ela piscou os olhos e decidiu ir até a cozinha procurar por uma bebida que matasse sua sede e que não fosse alcoólica ou cheirasse a uma mistura de acetona com abacaxi.

(...)

Não era preciso dizer que, assim que foi anunciado que o jogo de verdade ou desafio finalmente iria começar, Rock Lee saiu praticamente arrastando a melhor amiga escada acima, ansiosíssimo para tentar a sorte com uma garrafa de vodca vazia. Ela já o tinha flagrado rezando para todos os deuses existentes na cozinha.

—Você deveria focar na Afrodite, se está assim tão desesperado para beijar a cerejinha, Lee.

—Eu preciso rezar para todos os deuses, Tenten, eu nunca tenho sorte nessa porcaria de jogo. É um saco.

A amiga apenas rolou os olhos, seguindo-o até um cômodo vazio ridiculamente gigante, que Shikamaru certa vez explicou: tinha sido uma biblioteca antes da sua família se mudar para lá e seus pais estavam discutindo sobre transformar em uma academia particular ou não.

—Onde está o Neji? — Tenten o procurou desesperadamente com o olhar, aflita com a possibilidade de ele ter ido, novamente, se atracar com alguma vaca em um quarto vazio.  Ela ainda iria estapeá-lo por ser tão infiel e desrespeitoso com seu amor platônico.

—Não o vi desde que chegamos. — Anunciou Lee, que sorriu largamente ao constatar que Sakura já estava dentro do cômodo. O que para Tenten não era surpresa nenhuma.

—Escuta, aconteceu uma coisa bem estranha há uns trinta minutos e eu queria muito a sua...

Sua voz foi abafada pela música alta que Shikamaru colocava para tocar. Como já era de se esperar, era Don’t Forget About Me do Simple Minds, trilha sonora oficial do O Clube dos Cinco, o filme preferido de Shikamaru.

Tenten deveria ser a única garota no planeta que odiava aquele filme. Ela rolou os olhos automaticamente assim que a música começou e percebeu, surpresa, que Sasuke fazia o mesmo do outro lado da sala. Ele a avistou e Tenten o encarou, ainda pensando sobre o elogio inesperado. Ele apenas meneou a cabeça de maneira educada e ela sorriu, acenando na direção dele.