Café & Morango escrita por Roxeley Rox


Capítulo 5
A Reunião


Notas iniciais do capítulo

Hey!

Primeiramente, quero agradecer ao The Mando e a MaryDuda2000 por terem deixado seus maravilhosos comentários! ♥ Isso me ajuda muito no processo de escrita! Obrigada ♥

Em segundo, quero agradecer ao Mando novamente, pela incrível recomendação que me encheu o coração de felicidade!! ♥ Muito obrigada por todo o seu carinho comigo e com minhas histórias! :3

Obrigada também a todos que estão acompanhando, ainda que às escondidas :v Eu adoro os fantasminhas :D Espero que continuem comigo ^-^

Boa leitura!



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O apartamento de Manuela por dentro era tão chique quanto por fora. Muito organizado, diferente do apartamento que Beatriz dividia com as outras quatro pessoas e meia que ela chamava de amigos.

Ela até poderia analisar minuciosamente cada parte daquele apartamento, desde o tapete felpudo acinzentado até a estante sob medida contendo uma decoração minimalista e bonita, muito a altura da dona do apartamento, que coincidentemente também vestia um blusão de lã bege.

Mas ela não conseguia pensar em nada disso quando a única coisa que passava por sua cabeça era: aquilo no rosto de Manuela era um hematoma? Mais especificamente: um hematoma que ela tentou cobrir com maquiagem?

Não pergunte, não se intrometa. Beatriz se policiava, mesmo querendo perguntar, mesmo querendo se intrometer.

— Pode sentar. — Manuela indicou o sofá, sentando-se em uma das pontas. Beatriz apenas sorriu e sentou na outra ponta do sofá de três lugares, pondo sua bolsa ao seu lado. — Trouxe a agenda?

— Sim. — Ela prontamente pegou a agenda e o tablet de sua bolsa.

— Eu tenho dois assuntos para tratar com você. — Ela disse, sem olhar para Beatriz.

A jovem assistente pessoal notou isso, o desvio de olhar. Manuela não estava mantendo contato visual e isso era estranho, porém, juntando o hematoma e o olhar furtivo... Para, Beatriz! Não pergunte, não se intrometa.

Era difícil não querer perguntar nem se intrometer, porque Beatriz já vira muitos hematomas e olhares furtivos em seus estágios, e sabia o que muitos deles significavam. Mas Manuela era... inteligente, era dona de si, ela sabia que...

— O primeiro assunto que quero tratar é de uma viagem que vamos fazer. — Ela interrompeu os pensamentos da garota. — Vamos para Planalto, uma cidade interiorana. Conhece?

— Não.

— Eu tenho um cliente, um proprietário de terra, com quem vamos fazer uma reunião.

Beatriz pensou por um momento antes de questionar.

— Não poderia ser uma reunião online? — A tentativa é livre. Embora disponível para viajar, ela não gostaria muito... mas iria se necessário.

— Ele não sabe como fazer, e mesmo que eu tenha dito que podíamos ajudá-lo, ele recusou, então...

— Entendi.

Manuela suspirou.

— Quero que organize a viagem. Reserve os quartos de hotel, programe o almoço...

— Pode deixar. — Beatriz disse sem querer a interrompendo, levantando o olhar assim que percebeu. — Desculpe.

— Por quê? — Manuela a olhou, seu olhar confuso, por um momento parecendo normal...

— Por te interromper, eu acho.

“Acho, acho, acho.” Tenha certeza de alguma coisa na vida, Beatriz!

— Não interrompeu. — Ela respondeu com um olhar de que o que Beatriz dizia não fazia nenhum sentido.

A dona dos cabelos castanhos nada disse pelo resto da “reunião”.

Manuela repassou algumas informações sobre a viagem, depois fez uma lista de compromissos que ela teria que reagendar graças a sua ausência no escritório, pois geralmente reveza as semanas, uma semana cheia de compromissos, outra com quase nenhum... E por fim, pediu para marcar o almoço com seu irmão Heitor.

Beatriz estranhava que até mesmo isso ela pedia para que ela marcasse. Quer dizer, com a família normalmente se tem mais intimidade, certo? Você mesmo marca seus almoços. Pelo jeito, não na família de Manuela.

Entretanto, nada disso realmente parava na mente de Beatriz. Aquela marca levemente arroxeada sob uma camada fina demais de base não deixava Beatriz pensar em outra coisa senão...

— Já é passada de dez e meia, mas acho que ainda podemos falar daquele outro assunto. — Manuela disse, interrompendo os devaneios de Beatriz.

— Claro. — Ela respondeu simplesmente, vendo Manuela se preparando para levantar do sofá. Não pergunte, não se intrometa. Não pergunte, não se intrometa... Não pergunte, não se intrometa! Tarde demais. — Manuela, posso te fazer uma pergunta?

Manuela a encarou, quase surpresa.

— Pode. Na verdade, se me chamou pelo nome, deve ser importante. — Ela deu um pequeno sorriso, seu olhar dizendo que estava atenta ao que ela estava prestes a perguntar.

— É que eu não posso ignorar isso. — Beatriz disse, seriedade em seu rosto. — O que aconteceu com o seu rosto?

Pessoal demais, pessoal demais. Mas tem um hematoma no rosto dela! Foda-se o “pessoal demais”!

Beatriz viu o olhar de Manuela mudar. O sorriso desapareceu, sua postura pareceu enrijecer. Era possível ver os pensamentos dela transparecer em seu rosto: primeiro a leve surpresa do tipo “eu fui pega”, depois o desconforto do tipo “não era para notar”, por fim aquele olhar do tipo “pessoal demais, não se intrometa”.

— Como assim? — O tom de voz usado foi firme, daqueles que em outra ocasião poderia afastar Beatriz, porém que nesse caso dizia que ela estava tentando não entrar nesse assunto.

— É um hematoma?

— Não. — Ela negou rápido.

Elas fixaram seus olhares por um momento, Manuela parecendo um pouco irritada e Beatriz ponderando se deveria insistir. Mentalmente ela recuou, desviou o olhar para sua bolsa, pensando em pegá-la e ir para casa, contudo, ela não ia fazer isso. Levantou o olhar para Manuela mais uma vez, inspirando profundamente antes de proferir com voz firme:

— Eu não posso ignorar isso.

— Não há...

— Isso não é da minha conta. — Beatriz a interrompeu, vendo que sua atitude surpreendeu Manuela, talvez por ela nunca a interromper realmente. — Sei que nossa relação é só profissional, mas, se leu meu currículo, sabe que eu trabalhei na área da violência doméstica.

— Não é violência doméstica. — Ela contrariou, mas dessa vez não tinha firmeza na voz, desviando o olhar brevemente.

— Então, é o que?

O silêncio que se seguiu deixou Beatriz um pouco receosa pelo assunto. Em contrapartida, ela tinha experiência com violência doméstica e sabia que em silêncio as pessoas pensavam, tomavam coragem para falar...

Manuela expirou, quase bufou, um misto de irritação com “dada por vencida”.

— Isso morre entre nós, entendeu? — Ela encarou Beatriz, esperando uma confirmação.

— Entendi.

A loira encheu os pulmões de ar, depois soltou lentamente.

— Eu tinha um namorado. — Ela falou. — Ficamos uns dois anos juntos, depois ele começou a ficar...

— Abusivo?

— É... abusivo. Nós terminamos há pouco mais de um ano. Alguns meses  atrás ele me mandou mensagem dizendo que queria voltar. — Desviou o olhar mais uma vez, parecendo desconfortável. Falar de um assunto privado com alguém que não se tem muita intimidade é desconfortável. — No início eu recusei, mas no final nós voltamos. Achei que ele tivesse mudado.

— Mas não mudou.

— Não... quer dizer, sim, no início parecia que ele tinha mudado, mas depois de dois meses ele voltou ao que era. — As irizes azuis fixaram nas de cor avelã. — Aí eu terminei com ele, definitivamente. — Ela suspirou. — Só que esse fim de semana ele pediu para conversa, eu aceitei e... isso.

Ela forçou um quase sorriso, não de graça, era de vergonha, sinalizando para o hematoma na maçã do rosto, perto do olho esquerdo.

— Foi a primeira vez? — Beatriz indagou com voz calma.

— Foi.

O silêncio se fez presente por poucos segundos antes de Beatriz voltar a perguntar:

— E o que você quer fazer?

— Como assim?

— Digo, ainda que tenha sido só uma vez...

— Eu não quero denunciar. — Ela respondeu sem hesitar. — Não quero ir na delegacia registrar ocorrência, não quero levar isso adiante.

— Tem certeza?

— Tenho. Tive três dias para pensar, eu tenho certeza.

— Se quiser...

— Eu sei, eu sou advogada, sei que posso registrar uma ocorrência mais tarde.

— Eu ia dizer que se quiser eu posso cuidar disso.

“Cuidar”. Novamente esse “cuidar”. O que essa garota queria dizer com “cuidar”?

— O que vai fazer? Prender ele? — Manuela questionou com tom sarcástico.

— Se quiser. — Mas Beatriz não se importou. Na verdade, tanto seu rosto quanto sua voz eram carregados de seriedade. — Se leu meu currículo, sabe que tenho contatos para isso.

Manuela lentamente inspirou e depois expirou enquanto mantinha o contato visual com Beatriz.

— Sim, eu sei. Inclusive o delegado fez uma ótima recomendação sua.

Beatriz franziu o cenho.

— Ele fez uma recomendação?

— Sim, eu pedi. — Disse, tomando pose um pouco mais autoritária agora, talvez por estar conseguindo mudar de assunto... — Não achou que eu te contrataria sem pedir referência, não é?

Sim! Na verdade Beatriz acreditava que ela tinha sido contratada mesmo sem ter tido um emprego real. Aparentemente, seus estágios em setores públicos ainda eram válidos para a vida adulta.

— Ele é um ótimo delegado. — Beatriz disse. — E eu aprendi muito sobre violência doméstica nesse estágio.

Novamente, um suspiro de Manuela.

— Isso não é violência doméstica, nos termos corretos.

— Ainda é violência.

— Eu sei e eu entendo que quer ajudar, Beatriz, mas eu realmente não quero fazer nada sobre isso agora. Tá bom?

Beatriz entendia. Ela sabia como funcionava, como às vezes o “não querer fazer nada agora” era o mais saudável para a vítima, ainda que ela quisesse dizer para ela fazer algo. Pressionar Manuela não serviria de nada. Se ela não queria denunciar, então não insistiria nisso.

Manuela era... inteligente, era dona de si, ela sabia que... era violência. E Beatriz sabia que só porque ela era inteligente, dona de si e que sabia o que era violência, não significa que ela está imune a isso. O problema não era Manuela. O problema era a outra pessoa que bateu em Manuela.

— Obrigada por me contar. — Beatriz sentiu que precisava dizer isso. O olhar de Manuela pareceu amenizar.

— Obrigada por ouvir. — Ela disse, em voz baixa.


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Notas finais do capítulo

AVISO AMIGO: violência doméstica é crime. Se conhece alguém ou se você passa por isso, forneça ou busque ajuda. Há outras violências que não a doméstica, mas que ainda são crimes! Forneça ou busque ajuda.


ENQUETE: quando iniciei a história, havia 50% de chance de ter cenas de sexo explícito e 50% de não ter, por isso ainda não consta nos avisos. Gostaria de saber se, caso surgisse a ideia, gostariam de ler uma cena desse teor. Se quiserem me ajudar com isso, só pôr no comentário "Opção [nº]":

— Opção 1: sim.
— Opção 2: não.
— Opção 3: a autora que sabe!
— Opção 4: tanto faz.
— Opção 5: se não for explícito, tudo bem; se for, não.

Grata pela colaboração! ^-^ Ah! E caso ninguém opine sobre, vou ver o que der na telha :)