Café & Morango escrita por Roxeley Rox


Capítulo 1
A Entrevista


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Vim postando sem rumo.

Fique à vontade se quiser acompanhar!



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Ela ajeitou a camisa de botões e segurou firmemente a pasta com seu currículo sobre seu colo. Estava nervosa, como era de se esperar, mas mais ainda porque estava em um lugar muito chique. Não era um escritório de advocacia como os outros em que esteve. Era enorme, colossal, magnífico. Estava no vigésimo andar do prédio, e haviam mais.

A situação em si já era assustadora. A Bellini Advocacia era um dos mais respeitados escritórios de advocacia da região. Região! Tinha gente do outro lado do Estado que sabia quem os Bellini eram. Eles também atuavam fora do Estado, o que já mostra o potencial deles.

Não só isso. Beatriz havia tirado a sorte grande. A última estagiária havia se formado, sobrando uma vaga no escritório da doutora Manuela Bellini. Uma Bellini! Ao contrário do esperado, ela não queria outra estagiária. Estava à procura de uma secretária.

Gustavo que disse para Beatriz arriscar. O pior que poderia acontecer seria ela não conseguir o emprego, mas ela tinha que tentar. A palavra “desempregada” a assustava. Ela se encontrava desempregada e odiava isso.

Ela também não gostava da área em que se formou, fora iludida pelo o que todo mundo dizia. Balela! Ela era uma alma artista. Mas artistas morrem de fome, advogados... quase nunca!

A porta da sala foi aberta, uma garota de semblante fechado saiu.

— Pode entrar. — Ela disse, depois seguir reto para a saída.

Beatriz respirou fundo e levantou da cadeira. De repente, sentiu que suas mãos poderiam tremer, porém ela sempre conseguia não deixar que isso acontecesse, raras as vezes em que não conseguiu.

Entrou na sala e fechou a porta atrás de si, virando-se em seguida. A sala era muito bonita. O tipo que se vê em filmes e séries. Era espaçosa, mas não exagerada. Tinha cadeiras aparentemente confortáveis, a mesa da doutora Bellini era limpa e organizada, a sala em si não tinha decoração excessiva e, uau!, a vista era incrível.

— Beatriz? — Uma mulher de longos cabelos loiros, vestindo uma calça branca e uma blusa de botões bege, chamou-a. Beatriz levou um segundo para sorrir e assentir. — Sou a Manuela. Sente-se.

Ela sinalizou para um sofá no canto direito da sala, junto a parede da porta. Beatriz foi até o sofá e sentou, surpreendendo-se que a doutora Bellini também sentara ao seu lado. Ela tinha em suas mãos uma prancheta e uma caneta, conferia o que estava escrito no papel.

— No seu currículo diz que se formou há cinco anos, isso? — Ela levantou o olhar para Beatriz.

— Isso... Hã... eu tenho um novo currículo. — Ela disse, rapidamente abrindo a pasta em suas mãos e alcançando seu currículo para a advogada.

Ela analisou as palavras minuciosamente, deixando Beatriz cada vez mais tensa no silêncio contundente do momento.

— Inglês básico, espanhol básico... — Ela proferiu, fazendo o nervosismo de Beatriz aumentar ainda mais. Idiota! Por que colocou essas coisas básicas?! É ridículo! — Com básico, você quer dizer o que?

A pergunta pegou Beatriz desprevenida. Droga! Ela tinha que encasquetar justo com isso!

— Desculpe, não entendi. — Beatriz proferiu, apenas para ganhar tempo para formar uma resposta que não a deixasse tão mal assim.

— Do you speak English?

— No. — A resposta saiu automática, sem querer ela fez uma careta de “sorry, I don’t speak English”.

— Do you understand English?

— A little. — Automático de novo. Salva pelas séries e filmes!

A expressão de Manuela permaneceu imparcial.

— What is your favorite color?

— Qual a minha cor favorita? — Ela traduziu a pergunta para confirmar se havia entendido, porém a doutora não respondeu, apenas a encarou. — Purple. No! Lilac.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios da loira.

— Why should I give you this job?

— What...? — Novamente, a palavra saiu praticamente sozinha. Talvez fosse a pronúncia rápida ou o sotaque, mas Beatriz só conseguiu entender “por que” e “você”.

— Por que eu deveria te dar esse emprego? — Manuela traduziu, repetindo a pergunta.

As sobrancelhas de Beatriz se ergueram minimamente e ela apertou seus lábios juntos. Porque eu estou desempregada! Era o que ela queria responder, mas isso definitivamente não lhe daria o emprego.

Como ela sempre foi estagiária, a lembrança de seus tempos de estágio lhe trouxe uma resposta... razoável. E sincera.

— Porque eu posso fazer um bom trabalho. — Ela respondeu, os olhos azuis vívidos fixos nela. — Eu não sei fazer esse trabalho, mas se me ensinar eu posso aprender. Eu sei disso, porque eu já trabalhei em lugares onde eu não sabia fazer nada, então o pessoal me ensinou o que fazer e como fazer, e no final eu sabia fazer tudo.

— Com “trabalhou” você quis dizer os estágios? — Ela pareceu ignorar o pequeno discurso de Beatriz, mas isso não abalou a garota já abalada.

— Isso.

— Você nunca trabalhou num escritório de advocacia. — Não foi uma pergunta, ela estava constatando aquilo ao ver a ausência de escritórios de advocacia na parte de experiência profissional no currículo. — Seus estágios sempre foram no setor público.

— Isso. — A essa altura, Beatriz não tinha esperanças.

— Por que veio para cá?

— Como assim?

— Está do outro lado do Estado, muito longe de onde nasceu e cursou a faculdade. Por quê?

Novamente ela tinha os olhos na jovem a sua frente.

— Porque aqui tem mais oportunidades.

— Certo. De que?

— O que?

— Oportunidades de que?

Beatriz ponderou sobre a pergunta. Ela não veio para a capital pela oportunidade na advocacia.

— De tudo, eu acho.

— Acha?

— Não... quero dizer... sim?

Droga! Droga! Droga! Idiota! Tinha que gaguejar!

— Certo, Beatriz. — Ela disse, em seguida deixou a prancheta sobre o colo e encarou a morena de rabo de cavalo. — Última pergunta. Responda sem hesitar. — Beatriz assentiu, aliviada por logo sair dali. — Se pudesse trabalhar em um único emprego pelo resto de sua vida, qual seria?

— Desenhista. — Resposta rápida, sem hesitar, como exigido.

Contudo, imediatamente após responder pensou que o que a doutora Bellini queria ouvir não era a sinceridade...

— Gosta de desenhar?

— Eu amo. — Ela disse, novamente sincera, novamente sem hesitar.

— Então traga um desenho seu amanhã.

Ela levantou do sofá de se dirigiu para sua mesa.

— Como? — Beatriz indagou, confusa, também se levantando.

Manuela se virou para ela.

— Traga um desenho feito por você amanhã. — Ela repetiu naturalmente. — Para o seu primeiro dia. — Acrescentou.

Beatriz arregalou os olhos. Por essa ela não esperava! Como assim? Ela estava indo de mal a pior... como assim?

— Eu consegui o emprego? — Ela questionou, certificando-se de que havia entendido correto.

— Sim.

Sua expressão permanecia de surpresa, a boca levemente aberta enquanto seu cérebro ainda assimilava a informação. A doutora Bellini apenas a observou enquanto a ficha caia, deixando que um pequeno sorriso brilhasse em seus lábios.

— Mas eu... não fui muito bem. — Beatriz proferiu, um pequeno receio de que ela fosse querer revogar a vaga dada.

— Foi o suficiente.

— Mas eu... não falo inglês.

Manuela deu a volta em sua mesa e sentou-se em sua cadeira, olhando mais uma vez para Beatriz.

— Não, mas entendeu mais que metade das garotas que entrevistei hoje. — Ela afirmou, para a surpresa de Beatriz que acreditava que todo mundo falava inglês menos ela. — Além disso, eu entrevistei catorze pessoas e todas responderam que poderiam trabalhar pelo resto da vida como juízes, promotores e advogados. Você não. Foi sincera. Não gosta do trabalho, não é?

— Bem... — Ok, ela estava ficando constrangida. Transpareceu tanto assim que não gosta de Direito? — Não é exatamente a minha área.

— Você provavelmente não aprendeu metade do que tentaram te ensinar na faculdade e nem deve saber como um processo funciona. — E agora Beatriz se sentia humilhada. Estava ganhando um sermão? — Mas se formou, tem a carteirinha da OAB e atravessou o Estado disposta a trabalhar em um emprego que não gosta porque... ama desenhar. E precisa de um plano B para sustentar o plano A, certo?

Muito bem, todos os divertidamente em alerta! Ela sacou tudo o que se passa nessa cabeça castanha!

Beatriz fechou os olhos e suspirou, abrindo-os novamente e encarando aquelas irises azuladas.

— Disseram para eu tentar.

Novamente um sorriso nos lábios de Manuela.

— Então diga a eles que você conseguiu.

E aquele sorriso expressava cumplicidade. O coração de Beatriz batia acelerado, não mais de nervosismo, agora de felicidade.


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