22 anos escrita por Karinix


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

De novo e novamente



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E lá vamos nós de novo e dessa vez, versão 22 anos.

Ainda fico impressionada com a minha capacidade de lembrar-se de voltar aqui para atualizações anuais da minha vida, o restante do ano eu quase nem lembro da existência desse site, mas é chegar perto do meu aniversário que a luz se ilumina em minha mente. Já fazem o que, uns 5 anos? 6 talvez? [pausa pra eu ir conferir] yep, já é o sexto ano que estamos por aqui.

Irei continuar com esse diário anual enquanto existir esse site ou até eu conseguir lembrar. Seja o que Deus quiser.

Em meu último aniversário, eu disse que estava de viagem marcada para Sinop para um show da Kaya Conky. E eu fui. Poder ver pessoalmente e pegar na mão da diva foi algo sensacional. Mas horas antes da festa, Erik e eu marcamos de ver a Cris num bar em frente ao apartamento dela. Naquela hora a crise de idade voltou. Nós conversamos sobre a vida adulta, nada de bobagens, apenas família, faculdade e trabalho. Me senti tão feliz mas triste ao mesmo tempo, daquele momento em diante nossos encontros seriam assim, marcados e esporádicos, não haveria mais tanto tempo livre para ficarmos gazeando. Todos nós já éramos adultos com responsabilidades.

Me despedi da Cris, afastei os pensamentos intrusivos e fomos festar.

Aquela festa foi maravilhosa e muito icônica. Bebi MUITO. E quando digo muito, é porque a minha ressaca que durou três dias prova que não entrei em coma alcoólico por pouco (e também porque o Erik sumiu com a garrafa de vodka da minha mão assim que percebeu que eu estava tomando ela pura). Eu só tenho alguns flashes de memória como pegar na mão da Kaya, me jogar no chão para rebolar a bunda para o alto, dizer que iria ao banheiro e acordar com a zeladora batendo na minha porta e me chamando porque dormi debruçada no vaso sanitário por 40 minutos... foi uma noite memorável e que nos rende risadas e saudade até hoje. Fazia muito tempo que eu não me divertia (e bebia) daquele jeito.

Voltei para casa com saudade e inveja da Cris e do Erik, eles de fato pareciam jovens. Trabalhavam em empresas particulares e faziam faculdade (ambos estudando jornalismo). Eu apenas trabalhava, em uma prefeitura ainda, e ia assistir uma aula de três horas toda quinta-feira que no fundo nunca considerei ser uma faculdade. Me senti vivendo como alguém muito mais velha do que realmente era. Aquilo não era para mim. Mas novamente afastei esses pensamentos e continuei minha vida.

Em agosto teve Chá da Alice em Cuiabá com a Luísa Sonza e lá fomos nós, Erik e eu. Três dias em hotel foi a melhor recompensa do mês e ver a Luísa pessoalmente também. Bebemos e nos divertimos horrores, ficamos 30 horas sem dormir e botamos muita fofoca em dia. Voltamos pra casa mais pobres, porém felizes.

Alguns dias depois do show da Luísa, me peguei pensando sobre o futuro e sobre o que gostaria de fazer. Eu gostaria muito de ficar por alguns anos nessa vida, mas meus sonhos não se realizarão se eu não me mexer. Fiquei dois meses de férias da “faculdade” e quando voltamos mudou tanta coisa que eu odiei. Não há como eu cursar enfermagem (de qualidade) aqui, precisaria ir embora da cidade para estudar. Não dá pra ser uma boa enfermeira estudando três horas por semana. Então a luz se acendeu na minha cabeça e tudo se encaixou. Eu apenas precisava ir para Sinop.

Contei a minha mãe pelo telefone (pareceu a coisa certa, visto que ela surtou). Conversamos durante o almoço e a noite eu cancelei minha matrícula da faculdade, já decidida a começar economizar para me mudar da cidade. Não me arrependo de ter sido tão abrupta, foi a coisa certa. Conversei com o Erik e combinamos de tentar morar juntos, visto que ambos queriam ter privacidade, longe dos olhos conservadores de nossos pais.

O plano era eu me mudar até março/23, então eu teria pouco mais de seis meses para me preparar.

Finalmente chegou dezembro e mais um Chá da Alice e dessa vez com a Pabllo Vittar. Nesse show eu gritei mais do que deveria e voltei até rouca para casa. Foi uma recompensa merecida após trabalhar feito doida na semana do show por conta das formaturas das creches e do fechamento de pendências. O Departamento de Nutrição vira um caos no fim de ano.

Entrei em férias em dezembro e não saí para lugar algum, apenas estudei o mês todo e finalmente obtive meu certificado de consultora em amamentação. Passei o réveillon na praça da cidade com meu pai e a Kauane, minha mãe e a nenê haviam ido para Cuiabá, para visitar a madrinha dela. Quando o ano virou, rezei para que tudo se alinhasse e desse certo, que as coisas acontecessem como deveriam acontecer.

Logo minhas férias acabaram e voltamos a trabalhar com força, janeiro voou e logo me vi no meio de fevereiro. Faltavam apenas semanas para março e eu não havia feito muitos progressos no quesito mudança. Comprei algumas coisas e o Erik também, mas no geral só havia guardado dinheiro. Resolvi começar a procurar casas e emprego, mas nada deu certo.

Os apartamentos eram muito caros ou fora de rota e as entrevistas de emprego que tentei marcar não dava certo ou eu não me enquadrava nas vagas. Março se foi e comecei a ficar desesperada, nada estava acontecendo do jeito que eu queria e no fundo eu sabia que aquilo tinha um significado que eu não queria aceitar. Estávamos no meio de abril quando fiz uma coisa que não fazia a anos, eu rezei.

Rezei para Deus que me desse um sinal claro do que eu deveria fazer, que ele me fizesse entender quais os planos Dele para mim. Esperei mais uma semana e não aconteceu nada, tudo permaneceu igual. Conversei com minha mãe e ela achou melhor eu esperar mais seis meses, que seria mais seguro e com menos chances de eu precisar voltar por falta de dinheiro. Com essa conversa, somado ao fato de eu não conseguir sequer marcar uma entrevista de emprego e não haver nenhuma casa interessante para nós, decidi ficar no mesmo lugar e não me mudar.

E então como mágica, na semana seguinte apareceu um monte de vagas de emprego que dariam bom para mim e vários apartamentos bons para alugar. Lá estava minha resposta, não era para eu ir.

E cá estou até agora, ainda morando com meus pais e sonhando com o dia que sairei daqui. Erik também está mais feliz, se mudou para uma casa maior e agora tem seu próprio quarto (na casa anterior ele dividia com os sobrinhos), então sair das asas dos pais não era algo tão urgente para ele.

Minha casa também foi reformada. Agora temos um quarto separado dos meus pais e eu também tenho ar-condicionado no quarto. Há uma mesa, um computador, minha estante e até um quadro de camurça na parede. Um quarto jovem, se não fosse pelos brinquedos da Kailane espalhados pelos cantos.

Também aprendi a dirigir o carro sozinha, as vezes venho trabalhar com ele. Ainda acho muito intimidante coordenar um carro de quatro metros e que pesa uma tonelada. Mas já consigo me virar bem dentro da cidade, fico totalmente a vontade. Mas na BR a história é outra. Ainda não passo dos 80km/h e tenho dificuldades em manter o carro perto da faixa lateral, mas, no geral, adoro dirigir e acho que faço isso muito bem.

A Anna ainda está completamente realizada por trabalhar no departamento de nutrição. As meninas a amam, o pessoal da secretária de educação está mais próximo, as outras pastas conseguem dialogar melhor. A qualidade da merenda e dos lanches dos departamentos também melhorou. Bem diferente da época da Janaína.

Inclusive, ela saiu oficialmente da nossa prefeitura. Passou no concurso da cidade vizinha e iria assumir a maternidade e banco de leite que iria inaugurar no hospital da cidade. Faz meses que não converso com ela então não sei de mais detalhes. Me afastei rudemente por não ter conseguido superar certas mágoas.

Ainda vou à academia e tento seguir uma rotina alimentar, mas sem acompanhamento com nutri, agora as mudanças físicas estão mais aparentes e eu mais feliz. Conseguir usar uma saia ou vestido sem precisar usar um shorts por baixo é algo que sempre sonhei. Usar uma saia colada e meia arrastão fora uma das maiores conquistas pessoais do último ano, eu estava bonita e feliz. Até usei bota.

Nessas últimas semanas meu ânimo mudou muito. Ando mais deprimida e triste do que o normal, tendo bastante insônia e dores de cabeça. Acho que é pela proximidade dessa data, seis de junho.

Durante o dia até que fico bem, mas a noite que é o problema.

Quando acordo no meio da madrugada, pronta para correr uma maratona se fosse preciso, é que a tristeza e a desolação vem. Tristeza por estar aparentemente estagnada na vida, por ter mais que muitos e ainda sim achar pouco. E desolação por saber que as chances dos meus devaneios acontecerem são baixíssimas, que alguns sonhos são inalcançáveis e que são apenas isso, sonhos.

Nunca pensei que desejaria tanto voltar a ter um relacionamento, ter alguém ali para ser companhia. Ano passado falei que queria poder escrever sobre novas amizades ou amores mas não vai rolar, minha vida social está exatamente igual ao ano passado. Claro que isso se dá por dois motivos: 1° quem eu quero não me quer e 2° quem me quer eu não quero. Ser geminiana é um saco às vezes.

Esse desejo de ter alguém está me consumindo tanto que até cogitei mudar de pensamentos e personalidade. Não é difícil eu me tornar uma agrogirl, usar chapéu e bota, adorar churrasco e cerveja, sonhar com lavoura, amar camionetes e cavalos, deixar o cabelo comprido e estudar agronomia ou veterinária. Eu moro no Mato Grosso desde a infância, me adequar a cultura local é a menor das dificuldades.

O verdadeiro problema seria a minha anulação de mim mesma. Eu não sou assim. Detesto chapéu, mas confesso que recentemente adquiri uma bota, gosto de ser vegetariana e sempre odiei o gosto amargo de cerveja, não concordo com a forma tradicional do plantio das lavouras, detesto camionetes e faz anos que não chego perto de um cavalo, gosto do meu cabelo mais curto e tenho certeza que nasci para a área da saúde, especialmente os bebês.

Fora que não faz muito tempo que aprendi a gostar de me produzir, passar maquiagem, usar acessórios e tudo o que a etiqueta manda. Vale a pena eu voltar a "ser bruta", logo agora que deixei de ser?

Acho que vou manter a esperança de conseguir atrair alguém sendo do jeito que sou. Foda é a paciência que a pessoa vai ter que ter para me esperar, quase sempre demoro diaaaas para responder alguém no whatsapp.

Vamos ver como as coisas vão rolar até o ano que vem, talvez eu apareça com novidades.

Esse ano meu aniversário caiu numa terça-feira, então foi bem comum. Na madrugada de segunda para terça eu não consegui dormir direito pelas minhas crises de insônia e porque algum corno desligou o padrão de energia da casa e acordei morrendo de calor.

Acordei as quatro e não consegui dormir mais. Fui a academia e depois de tomar meu café minha família me pegou para me dar os parabéns. Literalmanete. Estava escapando de fininho e rápido quando meu pai me agarrou num abraço e começou o drama. Foi suportável, embora eu ainda não goste muito.

Cheguei no escritório e havia uma bandeja de café da manhã para mim, as meninas (Anna e Nhayara) cantaram parabéns e ganhei um tênis delas. A tarde fui trabalhar, passei para pegar meu bolo e resolvemos ir a pizzaria.

Chamamos a vizinha e fomos comer. Foi divertido. Fingi surpresa ao ver meu bolo de brigadeiro com maracujá. Cantamos parabéns e comemos. Ninguém me deu parabéns até agora, nenhum dos meus amigos de fora da cidade. E pela primeira vez não estou incomodada com isso. Acho que é isso o que chamam de maturidade, entender que nem tudo gira ao nosso redor e que está tudo bem viver a vida corrida que temos.

Agora chegamos em casa. Vou tirar minha maquiagem, trocar de roupa e tentar dormir um pouco. Amanhã é dia de recebimento das mercadorias. Só torço para que esse próximo ano seja tão bom quanto o anterior. Que as coisas aconteçam como devem acontecer e que eu possa estar aqui novamente daqui um não. Só tenho 22 anos, todos esses surtos aqui não deram nada no futuro.

Até meus 23 anos.



Sim
Estamos felizes, livres, confusos e solitários ao mesmo tempo
É algo miserável e mágico
Oh, sim
Hoje à noite é a noite em que esqueceremos os limites
Chegou a hora, oh, oh

Eu não sei você
Mas me sinto tipo com vinte e dois
Tudo vai ficar bem
Se você me manter perto de você

Você não me conhece
Mas vou apostar que você quer
Tudo vai ficar bem
Se continuarmos dançando como se tivéssemos

Vinte e dois, uh, uh
Vinte e dois, uh, uh, uh

22 - Taylor Swift


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Notas finais do capítulo

Até 2024 se Deus quiser



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