Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 34
33. Então é assim que a Alemanha morre, com um simples riscar de pena.




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Uma grande tensão domina entre o coronel Karinberg, Robert e Richard, sendo este último o foco da atenção dos dois primeiros. O marquês está perplexo, ofegante e... Richard dá as costas e se afasta.

— É a verdade, meu príncipe. — Numa má decisão, Karinberg segue o príncipe. — Situações extremas exigem medidas extremas; nós iremos...

— Traição! Cometer uma traição, é isso que farão! — exclama Richard, voltando-se furioso ao coronel, que recua para trás. — Como ousa ameaçar meu reinado em minha própria casa!?

— Minha casa. — Robert ganha imediatamente um furioso olhar do irmão; é melhor focar em Karinberg. — Não tem medo, coronel? Sua imprudência pode custar sua vida. A lei básica do império...

— Não estou sendo imprudente, e muito menos ameaçando o príncipe — defende-se o coronel, focando apenas em Richard. —, mas sim fazendo o que o soberano não deseja fazer: tomar uma ação.

Novamente, má decisão. A fúria nos olhos de Richard apenas aumenta, num ponto que ele precisa se afastar de Karinberg. É muito perigoso esse caminho que o coronel está trilhando, aguçar os piores sentimentos de Richard é... pedir pelo desastre.

— Destruir 200 anos de história não é tomar uma ação. — É perceptível toda a contenção de Richard.

— Ficar esperando passivamente também não é. — Mas Karinberg não desiste. Franzindo o cenho, Richard volta-se ao coronel, que ainda acrescenta: — Faça algo, meu príncipe, tome uma iniciativa...!

— Sua insolência já está me cansando, coronel! — o príncipe exclama, aproximando-se ameaçador de Karinberg. — Lembre-se quem é o seu soberano!

Richard aponta para si mesmo, com uma raivosa expressão. Inicialmente o coronel arregala os olhos, mas não tarda muito e esse temor torna-se novamente insolência... ou talvez apenas a verdade.

— O governo e o povo exigem uma ação, meu príncipe — Karinberg responde, encarando desafiadoramente o príncipe — e, se o senhor não tomar uma, nós tomaremos no seu lugar.

Agora é Robert quem arregala os olhos, perplexo com tamanha ousadia dos niedersiegers. Mas não apenas ele, Richard fica igualmente perturbado... Tão perturbado que fecha fortemente o punho e, levantando-o... Deixa em total silêncio a sala.

Fechado os olhos, Robert suspira em alívio. Seria horrível presenciar algum tipo de briga, principalmente com um baile acontecendo no outro lado do corredor. Mas Karinberg ainda encontra-se na sala. Robert encara friamente o coronel e adverte:

— Isso não ficará impune, coronel. — Karinberg arqueia uma sobrancelha, fazendo Robert negar. — Meu irmão, quando furioso, é terrivelmente implacável.

— Um príncipe implacável é tudo que precisamos no momento. — Robert, numa irônica risada, apenas nega ao coronel, que pergunta, desafiador: — O que você faria se fosse o príncipe?

Desafiar a força militar bávara que não seria. O número de soldados bávaros é superior a toda população niedersieger, sem contar na ajuda militar francesa que eles possuem. Niedersieg não precisa de um "príncipe guerreiro", mas sim de um estadista competente.

Mas Karinberg deseja uma resposta, não? É claramente desafio, mas Robert gosta de desafios...

— Eis a questão, coronel, eu não sou o príncipe . — Robert dá os ombros e, sorrindo com desdém, deixa a sala. Porém... — Mas uma coisa é certa: Neipperhard estaria com os dias contados!

A menos que seja muito necessário, nesse caso ele poderia pensar numa segunda chance. Robert deixa então a sala, ficando Karinberg sozinho com os próprios pensamentos.

*****

O estado das coisas continua o mesmo no salão de bailes: os cavalheiros conversam, as damas passeiam pelo local e os jovens dançam o cotilhão. Nada realmente mudou, nem mesmo a quase inércia de Cathrine, embora Lady Grenville "conversasse" com ela.

— Está a cada dia pior, William já perdeu as esperanças de uma recuperação. — Ela se refere a Grenville ou Pitt? Inclinando a cabeça, Cathrine franze o cenho; Lady Grenville nega. — Não tardará muito e teremos um cadáver em Bowling Green.

Atrás da marquesa, as damas de companhia exclamam em horror, embora a única reação dela seja suspirar tristemente. Um pouco frio, mas Cathrine causaria pânico generalizado se mostrasse alguma perturbação. E também... É difícil mostrar sentimentos genuínos quando sua própria calma não é genuína.

— O desespero de Lord e Lady Chatham deve ser imenso — comenta calmamente Cathrine, fechando os olhos e negando —, e o da pobre Lady Hester também.

— E o de William mais ainda, tenha certeza. — Qual deles!? Lady Grenville suspira e, deixando-se levar pela incerteza, acrescenta: — Acabamos de sepultar Lord Nelson e... já faremos o mesmo com o primeiro-ministro!

A Grã-Bretanha continua em guerra com a França, e não existe sinal algum de paz. A perda de um líder seria... desastrosa. Mas o que fazer, não é? Cathrine suspira pesadamente e... Franze o cenho ao ver Richard cruzando o salão, visivelmente perturbado.

— Tenho certeza que Lord Grenville fará um ótimo trabalho substituindo William Pitt. — As palavras dela saem sem reflexão alguma, tanto que Lady Grenville arregala os olhos. Mas... — Com licença, milady.

Cathrine sai atrás do marido, deixando para trás uma confusa Lady Grenville, bem como as damas de companhia, que rapidamente a seguem. A preocupação toma de conta dela, principalmente porque Cathrine sabe da atual situação de Niedersieg e teme pela sanidade de Richard.

Mas os caminhos que eles tomam são muito diferentes, Richard está tão cercado que torna-se extremamente difícil não perdê-lo... Cathrine deseja muito estar com ele, ajudá-lo em seja lá o que for... Ela também deseja fugir desse salão horrível! Cathrine não pode perdê-lo, poucos homens são tão altos e...

— Minha princesa! Minha princesa, por favor! — A "perseguição" é interrompida pela Sra. Karinberg, trazendo consigo um jovem alto, moreno e... familiar. — Olhe quem eu conheci, é Lord Byron, seu pri...

Byron? Cathrine franze o cenho e deixa a alemã e... Byron. Essa ação, porém, não deixa de ser percebida por algumas damas da sociedade, que começam a comentar e negar entre si. Mas Cathrine continua procurando, até que... Ela para.

— Mas... Onde está...!? — Richard foi perdido.

As damas de companhia, levemente ofegantes, não tardam para chegam na marquesa, que procura avidamente o marido com os olhos. A salvação dela terá sido perdida?

— Finalmente encontrei você, parecia até uma perseguição! — Logo também chega Sophia, sendo seguida... — Este é Lord Henry Petty, filho do marquês de Lansdowne.

— Talvez você conheça meu falecido pai como Lord Shelburne — completa Lord Henry, estendendo uma mão a marquesa. Porém, ainda procurando Richard, ela franze o cenho.

— Lord quem!? — Agora Cathrine realmente chama atenção, tornando-se o foco até dos músicos, que param de tocar. Ela fica vermelha, mas força um sorrisinho. — Oh, acabou o cotilhão.

Tão tola quanto uma pedra. Dito isso, porém, Cathrine começa a aplaudir os pares de dançarinos, algo que é lentamente seguido por Sophia, depois Lord Henry e todo o resto. De fato, tão tola quanto uma pedra, mas é o bastante para Lord Shelburne ser esquecido.

Os aplausos continuam com avidez, mas Cathrine deixa discretamente o salão. É melhor ela voltar para o real lugar dela.

*****

Hoftheater, Palácio de Ludwigsburg

Os aplausos no teatro da corte são estrondosos. Todos aclamam o imperador e a imperatriz dos franceses, que acenam em agradecimento aos nobres württembergers. Enquanto o rei e a rainha, ao lado de seus respectivos homólogos franceses, são praticamente esquecidos.

Uma visão curiosamente estranha, principalmente levando em consideração que os württembergers são mais altos e gordos que os franceses. Mas não tarda muito para os soberanos sentarem em seus lugares e a atenção voltar-se ao palco, onde a ópera está prestes a começar.

Porém, enquanto os soberanos ocupam o camarote central, os filhos do rei sentam num camarote na extremidade da sala. Onde...

— Charlotte não é nada sutil em suas provocações — Paul comenta irônico, ganhando um olhar confuso de Fritz e Katharina. — A ópera é "Das unterbrochene Opferfest".

— Não vejo provocação algum no título — Katharina responde, enquanto Fritz volta a olhar para o camarote no lado oposto da sala. Por que ela ainda não...? — Olhe para o palco, Fritz, já vai começar!

— E, realmente, não existe provocação no título, mas sim no protagonista. — Katharina franze o cenho para Paul, que explica: — Murney é inglês e libertador do Peru oprimido pelos portugueses.

Não foram os espanhóis? Fritz apenas nega e volta-se ao camarote. Tudo indica que Anne ocupará aquele, isto é, se ela vier, o que parece difícil. Não tarda muito, porém, e as cortinas são levantadas... bem no momento que Anne entra no camarote com sua comitiva.

— Prefiro "As Bodas de Fígaro", é mais divertida — comenta Fritz, fazendo os irmãos franzirem o cenho em confusão, ao finalmente voltar-se ao palco. — Ou "A Flauta Mágica", é praticamente inédita na França.

E com certeza mais interessante que uma assistir Incas, sacrifícios e músicas esquecíveis, apesar de belas. Mas Opferfest cumpre o que propõe: fazer rir. Hora ou outra a corte dá algumas risadas, e o imperador também, isso quando não está sussurrando algo com o rei.

Quem também ri, e ri muito, por sinal, é Anne. Mas... Deixando de assistir a ópera, Fritz franze o cenho; Anne está sorrindo bastante para Belgärd, e conversando também. Seria até normal... se a condessa Verweyen também estivesse participando, mas a atenção dela está no conde.

— O que eles tanto conversam, hein? — questiona-se Fritz em voz alta, chamando a atenção dos irmãos. — Não acho que seja sobre a ópera.

— Pergunto-me a mesma coisa. — A atenção de Paul, porém, está na conversa do rei com o imperador; ele semicerra os olhos. — Muito suspeito isso.

— Deve ser sobre meu casamento. — O foco dos dois irmãos pode até ser diferente, mas ambos juntam-se para encarar Katharina como uma tola. Retornando a ópera, ela suspira. — Mamãe disse que o imperador planeja uma confederação de estados alemães.

— Um segundo Santo Império? Isso explicaria muita coisa... — Como Württemberg e Baviera serem elevados a reinos, e Baden também ganho benefícios. Paul volta-se ao irmão. — Papai comentou algo, Fritz?

Mas a atenção dele continua em Anne, que olha diretamente para Fritz e sorri... Uma clara provocação! Paul e Katharina percebem isso, tanto que sorriem um para o outro e riem zombeteiramente.

— Olhe menos para ela, Fritz, nós, mulheres, sentimentos quando somos objeto de ciúme — zomba Katharina, ganhando do irmão um ofendido olhar.

A única ação de Katharina e rir levemente e voltar a ópera, o que irrita mais ainda Fritz. Irritação essa que não fica menor com escandalosa gargalhada de Paul.

— Ela está rindo muito! — Fritz reclama e, ganhando uma negativa da irmã, cruza os braço. — Você iria gostar se Jérôme ficasse rindo com outra mulher?

— Nunca sequer falei com Jérôme na vida! E você fugiu quando ela estava grávida! — O tom dela beira ao acusatório. — Ninguém ficaria surpreso se ela pedisse o divórcio.

— Ou procurasse conforto nos braços de outro — Os olhos de Fritz arregalarem com as palavras de Paul, que, olhando para Anne, ainda provoca: — Talvez Belgärd, eles parecem tão próximos, não?

Fritz franze o cenho para Paul, que sorri inocente, e encara o camarote de Anne. Ela nunca faria uma coisa dessas... não é?

*****

Oldenburg House, Londres

É quase meia-noite quando o príncipe de Gales chega no baile. Porém, assim que entra no salão, ele franze o cenho com a estranha visão que tem: poucos pares dançando, cavalheiros visivelmente desanimados e uma quantidade vulgarmente grande de damas sussurrando entre si.

— O que houve aqui, Pembroke? — Edward Pembroke quase cai de susto, e sono, com a presença de George na porta.

Mas o primogênito de Lord Pembroke franze o cenho em confusão, mas logo entende a pergunta do príncipe. Antes, porém, dele falar, a resposta chega:

— Nunca fui tão humilhada! Até a imperatriz mostrou mais consideração por mim! — E chega na pessoa da Sra. Karinberg, com o coronel logo atrás. — Serei terrivelmente ridicularizada em Niedersieg por causa disso!

— Não faça escândalo, Ludovika, por favor! — Ambos tão perturbados que sequer percebem o príncipe olhando. — É direito da princesa não falar com você, a esposa de um simples... Sua Alteza Real!

O coronel, agora mais assustado que perturbado, faz uma mesura ao príncipe, com a esposa rapidamente seguindo. Muito curiosa essa "discussão" deles. Sorrindo divertido, ele assente aos Karinberg.

— Já está de saída, coronel? Mas eu cheguei agora! — O tom de George é provocativo, mas Karinberg assente.

— De fato, é uma pena, porém...

— Parece perturbado, coronel — ele provoca, fingindo um preocupado sorriso. — Aconteceu algo?

Ou melhor, Cathrine fez algo? Porque é isso que a conversa deu a entender. Karinberg mostra-se bastante tentado a responder, ele até mesmo abre a boca... Até a Sra. Karinberg perceber Sophia vindo na direção deles e apontar isso ao marido.

— Já tive o suficiente para essa noite, meu príncipe. — Os Karinberg fazem uma rápida mesura e deixam o salão praticamente correndo.

É a confirmação que ele precisava. Mas o que Cathrine fez realmente? Tem algo haver com essa estado lamentável do baile? Bem, logo George terá suas respostas com Sophia.

— Ouvi a Sra. Karinberg dizer que foi humilhada — Não perdendo tempo com cumprimentos desnecessários, George toca logo no assunto, para o visível desprazer de . — Explique.

— Cathrine a ignorou quando ela foi apresentar Lord Byron. — Oh, não, Byron; agora é o príncipe que faz uma careta. — Naturalmente, a Sra. Karinberg ficou ofendida, embora desnecessariamente.

— Ela fala muito, mais até que Lady Castlereagh! — comenta George, fazendo Sophia assentir... e sorrir, divertida. — Será um mal alemão?

O sorriso de Sophia aumenta, ela parece até segurar uma risada. Antes, porém, que o assunto volte a ser mencionado, Richard volta para o salão e, vindo na direção deles, franze o cenho com o incomum desânimo.

— O que houve? — o marquês pergunta e, encarando Sophia, arregala os olhos, alarmado. — Não me diga que foi...

— Foi sim — é Robert quem responde, aproximando-se com Lord Henry Petty — e Petty ainda acabou nisso também.

Mesmo? O príncipe de Gales sorri com curiosidade, como foi isso? O marquês, porém, não mostra-se nada curioso com isso, muito pelo contrário, ele leva uma mão ao rosto e geme cansado. Parece uma situação profunda, muito profunda.

— Poderia tomar as rédeas do baile, Sophia? Vou falar com Cathrine — Richard pede e, ganhando um assentimento da cunhada, encara o irmão. — Mas poderíamos antes ter uma conversa, Robert?

— Depois continuamos aquele assunto, Petty; achei muito interessante — Robert fala para Lord Henry e depois sai com o marquês.

Não tarda muito e o próprio Lord Henry chama Sophia para dançar. Um "espetáculo" assim certamente que ajudará nos ânimos desses aristocratas. Mas George ainda fica sem respostas realmente consistentes, então ele vai atrás de outras respostas.

— Sir John e Lady Douglas, que agradável para minha curiosidade revê-los! — Nenhuma palavra ou cumprimento é dado pelo casal, fazendo George rir. — Vejo que sua escalada social mudou para Bristol.

— Veio nos ofender, Sua Alteza Real? — pergunta Sir John, num tom levemente irritado. — Não me importo quando direcionado a mim, mas a minha esposa...

— Fique tranquilo, meu objetivo não é ofender. — O príncipe sorri largamente e volta-se a Lady Douglas, que recua. — Desejo saber qual a atitude inadequada de Caroline que a milady descobriu.

Os olhos dela arregalam em horror, confirmando para George que essa indecência de Caroline deve ser algo, de fato, comprometedor. Mas Lady Douglas nega, e o faz veemente.

— Não desejo prejudicar a princesa...

— Seu desejo deve ser não prejudicar a Coroa, milady! — O sorriso de George morre, sendo substituído por dureza. — Caroline, querendo ou não, representa a Coroa, e esconder uma indecência dela seria... traição.

O pavor toma de conta de Lady Douglas, bem como de Sir John, fazendo-o sorrir satisfeito. Essa indecência deve ser descoberta, pode ser útil contra a própria Caroline. Mas nada prepara George para o que Lady Douglas diz:

— Suspeito que a princesa... foi infiel. — O sorriso de George volta a morrer, sendo substituído por um franzir de cenho. — E não apenas infiel, como também teve uma criança ilegítima... William Austin.

— Infidelidade... Um bastardo...!? — ele repete, encarando perplexo Lady Douglas. — A milady tem provas?

O pavor domina a dama, tanto que ela praticamente foge para longe com Sir John. George fica sem ação... Até que gradativamente começa a sorrir. Perfeito, simplesmente perfeito!

*****

Agora com conseguiu com Robert o que queria, Richard segue para o berçário, pois é a vez de Cathrine e dificilmente ela estará em outro lugar. Porém, prestes a entrar no berçário, Richard encontra Lady Hastings, o que é muito estranho. Não deveria ser Lady Pembroke?

— Ela acabou de sair, temo que Lord Pembroke tenha piorado — a dama explica, preocupando brevemente Richard. Porém rapidamente ela acrescenta: — A marquesa está contando histórias para o príncipe Adam e a princesa Juliane.

Richard assente e, sorrindo, adentra na antecâmara do berçário. A medida que se aproxima do berçário em si, ele começa a ouvir a voz de Cathrine, tão leve e doce quanto o normal.

— ... o touro disse para enterrá-lo entre as duas colinas e depois trabalhar no palácio. Dentro de um ano, porém, ele deveria retornar, trazendo consigo água, sangue e leite... — Cathrine tem Juliane no colo, enquanto acaricia o cabelo de Adam. — No palácio, ele descobriu que um troll levaria a bela princesa para uma montanha de vidro...

A serenidade de Cathrine ao falar, o modo pacífico de Juliane dormindo no colo dela e Adam encarando atentamente a mãe... É uma imagem de dar inveja a qualquer criança da aristocrata, Richard mesmo as vezes tem inveja dos filhos.

Mas uma outra verdade é, infelizmente, muito certa: Cathrine prefere ser mãe, ou "dona de casa", a princesa consorte... uma líder social. E Cathrine continua a história; desde os três desafios do príncipe, passando pelos três dias de festa, até...

— ... um lindo príncipe apareceu no lugar do animal e explicou como a rainha, sua madrasta, o havia enfeitiçado. — Até que chega no final, com Adam sorrindo animado. — Todos no reino festejaram com o retorno do príncipe e o casamento do menino com a princesa. O príncipe casou-se, então, em outro país, herdando o trono de lá, e...

— Todos viveram felizes e contentes — Adam fala, agora franzindo o cenho. — Esse final não faz muito sentido.

— Não é para fazer sentido, Adam, mas para sonhar. — Cathrine sorri e toca no nariz de Adam, que também sorri. — Embora algumas ensinem lições.

— E qual a lição dessa? Que madrastas são más e cunhados plebeus podem herdar o seu trono?

De tão surpresa com isso, Cathrine fica sem palavras. Richard, porém, fica muito impressionado, é um claro sinal que a educação de Adam está dando certo e... Adam não é um ignorante, como alguns temem. Mas logo Cathrine nega ao filho.

— A lição é que está na hora de dormir. — Levantando, Cathrine coloca Juliane no berço e depois arruma Adam na cama. — Eu te amo, meu favo.

Dito isso, ela beija a testa do filho, que não tarda para dormir. Depois é a vez de Juliane e, então, Cathrine deixa o berçário... E ela quase pula para trás quando descobre Richard na porta, mas ele apenas ri e comenta que:

— Não lembro desse conto, você que inventou?

— É dinamarquês; papai contou certa vez para nós — E o brilho nos olhos de Cathrine desaparece; ela nega e se afasta de Richard. — Não há contos de fadas aqui, e nem livros folclóricos.

— Você sabe que Robert não gosta, e Sophia não acredita que seja literatura — lembra Richard, seguindo a esposa com os olhos. — Robert ficou traumatizado depois de um conto sobre... demônio, palha e... roubo de bebês.

— E o que eles liam para George? — pergunta Cathrine, de costas, rindo com ironia. — Voltaire? Rousseau?

— John Locke... E Shakespeare para dormir.

Cathrine volta-se com horror para Richard, cuja única reação é assentir. Não é mentira, Robert e Sophia queriam, e ainda querem, filhos profundamente cultos e inteligentes. Cathrine, revirando os olhos, apenas nega e caminha para uma janela na parte mais escura da antecâmara.

O silêncio domina entre os dois, onde a única ação de Richard é encará-la com uma séria expressão. E Cathrine percebe isso, tanto que fala:

— Espero que não tenha vindo me repreender. — Não há raiva ou irritação, apenas cansaço. — Sei que fiz errado, mas... Sabe que odeio ficar sozinha na multidão.

— Não preciso repreendê-la, Cathrine, sua própria consciência fará isso. — Pessoas tímidas tendem a ser assim. Richard aproxima-se dela. — Confio que fará o certo.

E o certo será...? Percebendo a proximidade dele, Cathrine se afasta e vai em direção ao dormitório, parando bem na moldura da porta.

— Eu só queria a ficar sozinha com meus filhos e... tentar focar nas minhas alegrias. — Sempre as alegrias. Seguindo-a, Richard toca o ombro de Cathrine, que sussurra: — Odeio isso, Richard, odeio profundamente! Sequer de luto eu posso ficar!

— Também não é fácil para mim, sabia? — Richard fala, ganhando um olhar franzido de Cathrine, quase ofendido. — É difícil equilibrar marido e pai, soberano e súdito, principalmente porque que ultimamente fui mais soberano que todos os outros.

— E eu fui tudo, menos um consorte adequada — Cathrine respira fundo e volta a olhar na direção dos filhos. — Não lhe culpo, você está preservando a herança de Adam.

E isso nunca seria algo ruim... Não é? Richard também observa as crianças. Sim, ele está preservando a herança de Adam. Mas o que acontecerá se ele tomar uma ação militar? E se não tomar ação nenhuma?

— O que sugere que eu faça, Cathrine?

A marquesa franze o cenho para Richard, que permanece encarando os filhos. Ele, por enquanto, não falará nada sobre a ameaça de Neipperhard, mas a opinião dela também é importante.

— Faça o que acha melhor. — Richard não consegue evitar um sorrisinho. O melhor? Cathrine retorna aos filhos. — Você é o príncipe, Richard, sua decisão nunca será falha ou errada; príncipes não erram.

— Eu gostaria tanto que isso fosse verdade — ele responde, abraçando amorosamente Cathrine. Os dois ficam em silêncio... Até que Richard pergunta: — Gosta desse lugar, Cathrine? Oldenburg House lhe agrada?

— Faz-me lembrar de casa.

Casa... A Dinamarca ainda é a casa dela, e talvez sempre será. Richard beija o ombro de Cathrine e fala:

— Então é sua. — Cathrine imediatamente o encara, muito surpresa. — Troquei Tudor House com Robert. Agora Oldenburg House é minha, sendo assim a dou para você.

Sorrindo largamente, Cathrine dá um beijo em Richard, que não se opõe nenhum pouco em retribuir. Talvez ele não esteja sendo bom em nada, absolutamente nada, mas um presente assim ajudará... Não é? Quanto a Niedersieg, bem...

******

Hoftheater, Palácio de Ludwigsburg

A julgar pelo decorrer do tempo, bem como do enredo, Opferfest logo chegará ao fim. Risadas ainda são ouvidas na sala, de fato, mas essa não é uma peça inédita na corte de Ludwigsburg, tanto que até mesmo o rei é visto cochilando.

Mas não Anne, ela continua sorrindo e também dando muita atenção para Anton, sempre direcionando alguns desdenhosos sorrisinhos para Fritz. Tão infantil, não? Mas Anne acha, acima de tudo, muito divertido! A vingança é divertida. Porém...

— Acho que está na hora de voltarmos para o Favorite — Anna fala e, olhando na direção do imperador e da imperatriz, sussurra para Luise: — Logo acabará e, francamente, não desejo cruzar com eles.

— Só com eles que você não deseja cruzar? — Uma provocação? Anne franze o cenho para a condessa, que volta-se ao irmão. — Poderia preparar a carruagem, Anton?

Ele assente e deixa o camarote. A ópera continua, chegando no momento onde a inocência de Murney é defendida por Elvira e Myrha... Não seria melhor "A Flauta Mágica"? Anne assistiu no ano anterior e gostou muito. Nisso, porém, ela volta a encontrar o franzido olhar de Fritz.

— É tão feliz o sentimento da vitória, não? — comenta Anne para os Verweyen, embora apenas o conde assinta. Suspirando, ela levanta. — Vamos embora.

O final está cada vez mais próximo e Anne não deseja nenhum encontro com os Bonaparte que partirão amanhã para Karlsruhe, graças a Deus! Certamente que para casar outro pobre membro da realeza com um deles, tal como fizeram com Auguste da Baviera e desejam com Katharina.

Deixando o camarote, o grupo da princesa herdeira segue para o hall, onde não tarda muito para...

— Anne! — Fritz vir atrás dela. A princesa sinaliza para o grupo continuar e vira-se para o príncipe, cuja expressão e séria. — Eu sei o que você está tentando fazer e aviso logo que não dará certo!

— Mesmo? E o que estou tentando fazer? — O tom dela é provocativo, o sorriso arrogante. — Pois duvido muito que você realmente saiba.

— Está tentando causar ciúmes em mim. — Mas Fritz tão é arrogante, extremamente orgulhoso. Ele sorri, convencido. — Mas não funcionou, sei que sou muito melhor que Belgärd.

A autoconfiança é tudo, não? Anne ri zombeteira com as palavras de Fritz e, encarando-o, começa a se aproximar dele. Nada Fritz faz para se afastar, muito pelo contrário, ele até mesmo leva uma mão a cintura dela. Anne se aproxima dele e...

— Então por que veio atrás de mim? — sussurra, dando para ele um sorriso irônico.

— Não brinque comigo, Anne — avisa Fritz, agarrando Anne pela cintura e trazendo-a na direção dele. — Lembre-se que ainda sou seu marido.

Mas o sorriso dela permanece, quase aumenta, na verdade. É o bastante para Fritz franzir o cenho.

— Justamente. — Anne leva uma mão aos ombros do príncipe e se afasta, agora com uma expressão dura. — Você não sabe de nada, Fritz. Adeus!

Ela, então, segue em direção a saída, onde Anton Belgärd a espera. Enquanto Fritz apenas observa em silêncio e totalmente orgulhoso... E aplausos irrompem da sala de concertos, o espetáculo acabou.

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Fevereiro|1806 Harwich, Essex

— E qual a decisão do príncipe? — A expressão de Karinberg torna-se sombria, tanto que ele para de andar. Linzmain franze o cenho e pergunta: — Imagino que algo tenha sido decidido.

Os dois homens caminham pelo cais do porto rumo ao navio de Karinberg. Mas algumas coisas devem ser resolvidas antes da partida. Quem perde é a Sra. Karinberg, que espera ansiosamente pelo marido para eles enfim embarcarem.

— Nada muito consistente — responde Karinberg, suspirando e negando. — A ordem é que permaneçamos neutros e busquemos aumentar nossa presença diplomática.

— Isso será difícil; temo que Bonaparte esteja juntando a Alemanha em seu apoio. — Notícias sobre reuniões em Paris chegam a cada instante. — Mas o príncipe comentou algo sobre milícias...

— Voluntários, ele disse que soa menos militar. — É visível o descontentamento do coronel, que ainda acrescenta: — Do que adiantará voluntários se não tivermos armas e munição!? Não basta apenas força de vontade!

— É a decisão do príncipe, então devemos acatá-la — Mas Karinberg ainda nega ao barão, que ignora e volta a andar. — Você fez bem em ficar mais que o planejado.

— Neipperhard queria informações sobre o sucessor de William Pitt — o coronel responde, apressando-se para acompanhar Linzmain.

— E o que você acha dele? — questiona o barão, fazendo novamente Karinberg parar e franzir o cenho. — O ministério de Lord Grenville.

Nenhuma resposta é dada inicialmente por Karinberg, que pensa um momento. Não foi surpreendente, não para Linzmain, a nomeação de Lord Grenville como primeiro-ministro. Em contrapartida, porém, a escolha do problemático Charles Fox como Secretário do Estrangeiro foi... curiosa.

— Grenville e Fox parecem homens capazes; Lord Henry Petty é jovem e amigo do príncipe Robert — responde Karinberg, tão claramente quanto o conhecimento dele sobre a Grã-Bretanha —; enquanto Spencer e Althorp são... marido e filho da Primeira Dama da Marquesa.

— Ex-primeira dama — pontua Karinberg, lembrando da renúncia de Lady Spencer em benefício da condessa de Wilmington. — O "Ministério de Todos os Talentos" é algo curioso; pergunto-me o quanto vai durar?

Uma composição tão heterogênea, formada por grupos liberais e conservadores, dificilmente se manteria unida por muito tempo. Pitt conseguiu manter um grupo assim, mas Pitt... era Pitt! Karinberg apenas assente ao barão e os dois voltam a andar.

— Para onde irá mesmo, coronel?

— Serei diplomata em Estocolmo. — Karinberg fecha os olhos e respira fundo. O príncipe cumpriu sua ameaça. — Não é muito neutro, mas a Dinamarca é demasiada pró-francesa.

Mas Linzmain ainda vê alguma lógica em criar relações diplomáticas com os inimigos da França. Bonaparte não será vitorioso para sempre e, quando ele cair, será necessário ter apoio.

Não tarda muito e eles chegam no navio, onde todos fazem uma mesura de despedida e... Antes do Karinberg sequer pensarem em embarcar, uma carruagem para na entrada do cais, carruagem essa com... o brasão da princesa.

É o bastante para os três irem ao encontro da carruagem. Porém um lacaio abre a carruagem e, após Lady Hastings descer com o príncipe hereditário, a princesa Cathrine desce. Todos fazem uma mesura, mas a princesa vem na direção da Sra. Karinberg.

— Creio que a ofendi em nosso último encontro, madame, por isso peço-lhe perdão. — A Sra. Karinberg arregala os olhos para a princesa, que fecha os olhos e suspira. — Meu pai morreu recentemente e, nesse caos político...

— Eu entendo, Sua Alteza Sereníssima — a Sra. Karinberg responde, baixando a cabeça. — Sei qual o meu lugar.

— Seu lugar é ajudando o coronel a representar o príncipe e eu. — Cathrine, então, tira uma caixinha do regalo que usa e a estende na direção da dama, surpresa. — Aceite, por favor, é um presente da sua princesa.

Mesmo receosa, a Sra. Karinberg pego a caixinha e novamente faz uma mesura. Logo os Karinberg embarcam e o navio se prepara para zarpar. Cathrine observa em silêncio, com Linzmain ao lado.

— O que acontecerá agora? — pergunta Cathrine, referindo-se ao casal.

— O Santo Império definhará, até que esteja completamente morto.

Cathrine encara horrorizada o barão com essa resposta. Mais do que ele fala exatamente? O Santo Império... Mas quem seria capaz de cometer tamanho crime? Quem teria poder para matar uma instituição quase milenar!?

*****

06|08|1806 Hofburg, Viena

O dia acabou de nascer na capital do Império dos Habsburg, mas a população de Viena já se encontra fervilhando. Isso desde os feirantes na Am Hof, passando pelos lojistas no Kohlmarkt, até os funcionários imperiais em Hofburg, sendo esses últimos responsáveis, nesse momento, por algo... marcante.

Cruzando um dos longos corredores do palácio e parando em frente a uma porta, a imperatriz Maria Theresia tem imediatamente as portas abertas para sua entrada. E, ao entrar, ela encontra um grande grupo de oficiais e ministros ouvindo a conclusão da... leitura:

— ... em 6 de agosto de mil oitocentos e seis, do Santo Império Romano e do Império Hereditário no décimo quinto ano. — De fato, a conclusão. O conde Stadion dá alguns passos à frente. — Sua assinatura, meu senhor.

A atenção de toda a sala, incluindo a imperatriz, volta-se ao sentado imperador, cujo olhar estoico vai desde Stadion até o documento nas mãos do mesmo. Um oficial, então, aproxima-se com tinta e pena... O imperador assina a declaração.

— Então é assim que a Alemanha morre, — Todos na sala, menos o imperador, voltam-se a imperatriz, que nega lentamente — com um simples riscar de pena.

A pena é realmente mais forte que a espada. Os ministros e oficiais fazem uma mesura a imperatriz, que olha com desprazer para a declaração nas mãos do conde Stadion.

— Foi um mal necessário — o conde responde e entrega uma cópia da declaração para outro oficial, que deixa a sala. — A Áustria não pode se dar ao luxo de outra guerra.

— E então simplesmente matamos o velho moribundo.

— Estamos protegendo a Áustria, madame. — A imperatriz nega. Melhor morrer como santa imperatriz, que viver como assassina da tradição. Mas Stadion ainda tenta: — Metternich deixou muito bem claro o ultimato francês...!

A imperatriz dá as costas ao Ministro das Relações Exteriores e Finanças, calando-o. O conde sabe que é impossível dialogar com a imperatriz nessas condições. Mas não tarda muito e Maria Theresia muda de foco, sendo sua raiva direcionada ao imperador.

O soberano austríaco percebe o olhar da esposa na direção dele e a encara de volta. A diferença, porém, não poderia ser maior, visto que o olhar dele é impassível, como se Franz não sentisse emoção alguma. Mas a imperatriz não gosta disso.

— Matamos a Alemanha por ordem de Bonaparte... E o que será depois? — O tom dela é tão irônico, beira a zombaria. — Nossa dignidade imperial? Territórios ancestrais? Ou serão as obras de arte e manuscritos?

— Fique calada — sussurra o imperador, encarando fixamente a imperatriz, que ri.

— Oh, esqueci que Bonaparte já tirou tudo isso de nós! — exclama a imperatriz, substituindo qualquer ironia pela fúria. — E depois!? Serão nossas ARQUIDUQUESAS...!?

— JÁ CHEGA DISSO! — O imperador, num raro momento de emoção, levanta furioso da cadeira. É o bastante para calar a imperatriz. — O Santo Império está morto, Teresa, aceite e contente-se com a Áustria.

E, dito isso, Franz retorna a expressão impassível de antes, apenas para ser abraçado fortemente por Maria Theresia. O Santo Império está morto... Que Deus tenha misericórdia da Alemanha governada pela Confederação do Reno.

******

Agosto|1806 Palácio de Hampton Court, Londres

O dia acabou de começar na capital britânica... isto é, para os ricos, pois já passa das 11h. De qualquer forma, é apenas agora que Richard entra na sala de jantar informal, ocupada apenas por Cathrine e Adam... Curioso....

— Juliane não acordou muito bem, então Lady Pembroke ficou no berçário — Cathrine rapidamente explica, enquanto ajuda Adam com o café da manhã. — Espero que seja apenas os dentes.

Há um certo medo nas palavras de Cathrine, mas Richard concorda, que seja apenas os dentes. Ele senta, então, à cabeceira da mesa e... franze o cenho ao ver um jornal dobrado ao lado dele.

— Você leu? — ele pergunta, trazendo um confuso olhar de Cathrine. Richard mostra o jornal. — Há tempos não vejo um desses.

— Foi Lady Carlisle quem trouxe. — Lady Carlisle? A confusão dele aumenta, enquanto Cathrine retorna nega. — Odeio jornais, desde as colunas sociais até avisos de óbitos.

Richard sorri e, pegando uma taça de água, abre o jornal nas notícias do continente... Os olhos dele arregalam em horror... Distraída com Adam, Cathrine sequer percebe a alteração de humor do marido, até que Richard quebra a taça que segura, assustando Cathrine.

A única reação da confusa princesa é encará-lo. Mas Richard, olhando para o jornal, grita em total fúria e empurra da mesa toda a refeição. No final, marido e esposa se encaram com horror, embora não por motivos iguais.


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Notas finais do capítulo

* E aqui estamos nós novamente. Esse foi um capítulo bem emocionante, não? Como diz o próprio título, é uma Alemanha que morreu. E não apenas a Alemanha, mas o próprio William Pitt morreu. Lembro-me na primeira vez que o mencionei em La Belle Anglaise. A partir daqui muitas coisas irão acontecer, além de outras mudanças também. O Santo Império morreu, não existe mais Santo Imperador, então o que acontecerá?

* Originalmente, na primeira vez que escrevi esse capítulo, apenas a parte da abdicação e de Richard surtando eram mostrados. Mas as coisas ficaram maiores... muito maiores. Devo dizer que foi bem divertido escrever esse capítulo, gosto muito dessas intrigas políticas e de um bom drama também. Eu estava sentindo saudades de um momento Richard e Cathrine, por isso tentei fazer a parte deles sozinhos a maior.

* Em relação ao Santo Império, muitos foram os fatores que levaram a abdicação do imperador Franz II. O Santo Império estava em declínio desde a Guerra dos Trinta Anos, embora tenha sido um declínio lento. Depois da guerra o poder do imperador tornou-se cada vez menor, e a ascensão dos estados modernos durante o final do século XVII e XVIII mostrou os pontos frágeis do Santo Império. Não era uma nação unificada, com um exército próprio e leis comuns, mas uma verdadeira concha de retalhos. Para falar a verdade, o império só não deixou de existir antes por conta do seu status e importância histórica. Mas as Guerras de Coalizão começaram a mostrar cada vez mais a fragilidade do império. O Santo Império foi invadido diversas vezes, foi incapaz de se defender e perdeu alguns territórios para os franceses. O próprio Württemberg teve de ceder territórios a França. O estopim de tudo foi a Paz de Pressburg e a Confederação do Reno. Württemberg e Baviera foram elevados a reinos, alguns novos estados fantoches foram criados na Alemanha por Napoleão Bonaparte, com os soberanos sendo da própria família dele. Mas a Lei da Confederação do Reno fez com que todos os estados que fazia parte da confederação deixassem o Santo Império, com isso os maiores estados "foram embora". O próprio Bonaparte enviou um ultimato para o imperador Franz abdicar, ou a França declararia guerra. E assim tudo aconteceu.

* Mas é interessante que eu disse abdicar, não matar o império. Foi uma surpresa para os alemães o fim do Santo Império, alguns reagiram com descrença e fúria, mas aconteceu. Para falar a verdade o imperador não poderia realmente "matar" o Santo Império, para isso seria necessário reunir os eleitores. E isso seria perigoso, toda aquela situação seria perigosa. Havia um grande medo de Napoleão buscar a coroa imperial, visto que o próprio Carlos Magno fundou o Santo Império e Napoleão o admirava muito. Sem contar que a maioria dos eleitores apoiava o imperador francês, então os ministros austríacos decidiram por um fim no milenar Santo Império. Novamente, foi uma grande surpresa para os alemães, a mãe de Goethe escreveu sobre a estranheza de não rezar mais pelo imperador, a imperatriz e os arquiduques austríacos, e comparou também o fim do império como a morte de um amigos doente. O Santo Império era decadente, mas era a realidade dos alemães naqueles últimos mil anos.

* A declaração de abdicação do imperador Franz II está na Internet, mas eu decidi traduzir de uma forma mais... coerente aos brasileiros. Avisando apenas que foi uma tradução minha que dê para entender, não uma tradução literal. Avisando também que eu não sei alemão, essa "tradução" foi feita comparando a tradução de diversos sites de tradução.

* E os próximo capítulos? Esse final mostrou que serão cheios de emoções, e serão mesmo. Quais as consequências do fim do Santo Império? O que isso significará para Richard e Niedersieg? A paz durará muito? Veremos.

* "Era Uma Vez... Uma Ilusão" também está no Pinterest: https://pin.it/3Gn4ORoGo



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