Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 30
29. Seremos como uma ovelha solitária na mira de feras selvagens.




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Início de dezembro|1804 Palácio de Hampton Court, Londres

Havia sangue, muito sangue! Os lençóis estavam tão vermelhos que parecia até uma hemorragia! Os gritos eram uma horrível mistura de luto e dor. Nenhuma das mulheres sabia o que fazer, nem mesmo o Dr. Markson sabia... Os gritos tornavam-se cada vez piores; o sangue não parava!...

— Chega disso! — exclamou dolorosamente Cathrine, saindo de perto da escrivaninha e indo em direção a janela.

As damas de companhia olharam preocupadas para a marquesa, mas nada disseram; melhor assim. Cathrine fungou e limpou as lágrimas que havia derramado. Já fazia sete meses, sete longos meses, mas a lembrança continuava forte na cabeça dela... parecia até ontem!

Foram quase sete meses, sete meses lindos, até que... Cathrine fechou dolorosamente os olhos e respirou fundo; "nasceu" prematuro um menino natimorto! Uma dor tão grande que ela chegou a pensar que nunca mais voltaria a engravidar...

— Lembre-se do que Markson disse, minha marquesa: nada de sentimentos fortes — Lady Carlisle, observando-a do sofá, censurou calmamente —, pode prejudicar o bebê.

O bebê... Suspirando, Cathrine passou a mão na barriga já proeminente. Ela pensou, de fato, que não poderia mais engravidar depois daquele trauma, mas o pensamento dela acabou sendo refutado. Cathrine negou e voltou para a escrivaninha.

— Acho um pouco difícil não ter sentimentos fortes quando... — Ela só havia cumprido parte do principal dever dela. Cathrine sentou novamente na escrivaninha e pegou uma pena, porém... — Perdi a vontade de escrever.

— É uma pena, Juliane ficará tão triste. — Sem qualquer aviso, Richard entrou na sala azul, embora rapidamente franzindo o cenho. — Algum problema, Cathrine?

Uma cordilheira deles, na verdade. Mas Cathrine não tinha força de vontade o suficiente para falar, seria reclamar, não? A marquesa encarou em silêncio o marido, que aproximou-se lentamente dela, cada vez mais preocupado. O bebê... Algo precisava ser dito.

— Alguma notícia de Windsor? — perguntou Cathrine, embora não muito curiosa. Richard semicerrou os olhos, então ela acrescentou: — Eles já falaram o nome do bebê Kendal, faz quase três meses que nasceu.

— Você realmente não tem nenhuma ideia de qual será o nome? — questionou Richard com uma expressão irônica. Seria George, certamente. O marquês sentou num sofá. — Confesso que fiquei bastante aliviado ao saber que o bebê nasceu saudável e menino.

— O futuro dos Tudor-Habsburg está garantido, que edificante. — Richard imediatamente franziu o cenho, enquanto todas as damas se voltaram à marquesa. Cathrine tentou desviar: — E onde será o batismo? Não acho que a Capela de St. George seja...

— St. James, o rei exige que seu primeiro neto legítimo seja batizado lá. — Cathrine assentiu, fitando fixamente a carta para Juliane. Richard franziu o cenho com toda essa tristeza. — Tem certeza que...?

— Estou grávida, Richard, não perturbe meus nervos, por favor! — exclamou Cathrine, levantando da escrivaninha e indo para a janela.

Era melhor Richard não tocar nesse assunto, fazia ela se sentir profundamente baixa e insignificante, mais até do que já era. Porém, nessa ação de ir à janela, Cathrine acabou abraçando a barriga e não soltando mais. As lembranças de maio... a dor e o sangue...

Não foi difícil para Richard descobrir o "problema" de Cathrine, os problemas, no caso. Colocando um leve sorriso no rosto, Richard juntou-se à esposa na janela, onde ambos encararam a manhã cinza.

— O dia está tão bonito lá fora, não acha? — Cathrine franziu confusamente o cenho para Richard. Belo? Mas ele voltou-se às damas. — O que as miladys acham?

— Está perfeito — respondeu Lady Carlisle, sequer olhando para a janela.

— Ainda não começou a nevar, então está lindo. — Lady Spencer, porém, parecia levemente mais animada, embora... — A neve é terrível!

— Quando não bem aproveitada — retrucou calmamente Lady Newport, também levantando e olhando os jardins por outra janela. — Deveríamos aproveitar esse bom tempo.

Todos os olhares se voltaram para Cathrine, cuja expressão era estoica ao observar a paisagem. O ar fresco seria bom, mas o quão bom? Ela suspirou e fitou Richard, qual o plano dele?

— Exatamente, devemos aproveitar. — Richard sorriu e estendeu a mão para ela. — O que acha de tomarmos chá no Jardim Privado? Podemos até sequestrar Adam dos estudos.

Tomar chá no jardim... Hesitando um momento, Cathrine acabou sorrindo e aceitando a mão de Richard. Poderia ser bom, principalmente para Adam. Ele havia acabado de começar formalmente os estudos, mas sendo um menino especial, Adam merecia tratamento especial.

— Poderia trazer Adam, Georgina? — pediu Cathrine a viscondessa Chartents, que assentiu. Ela virou-se também à baronesa Cavenbush. — Cuide do chá, Jane, por favor.

Ambas as damas saíram em direção a porta, porém o visconde Irvington entrou no mesmo instante, o que trouxe a atenção de Richard e Cathrine.

— Desculpe interromper, meu marquês, mas o barão Linzmain está aqui. — Linzmain? Mas não seria apenas amanhã!? Cathrine e Richard se entreolharam confusos, mas o visconde acrescentou: — O assunto da conversa envolve a coroação em Paris.

Bonaparte!? Foi o bastante para alarmar todos na sala e Richard mandar o barão ser trazido. Mas que assunto seria esse? Alguém foi corajoso o suficiente para esfaquear o usurpador durante a coroação?

*****

Schloss Leonberg, Leonberg

Anne, sentada confortavelmente num recamier e olhando para frente com um calmo sorriso, segura orgulhosamente seu filho Wilhelm. Anna, repousando no berço, é apreciada pela primogênita Charlotte. O cenário é fictício e mostra os jardins de Ludwigsburg. Há, porém, um pequeno detalhe: Wilhelm aponta para...

— A coroa eleitoral? — A primeira coisa que a princesa Katharina notou na nova pintura da família hereditária foi… isso? — Não é uma espécie de usurpação?

— Dificilmente — Anne respondeu, analisando minuciosamente o trabalho de madame Le Brun —, Fritz fugiu de Württemberg, ele escolheu a amante e os bastardinhos. E, na Inglaterra, isso seria renúncia.

— Na Inglaterra o povo vota e o rei é limitado pelo parlamento — apontou ironicamente Katharina, em nada afetando Anne. A princesa, porém, suspirou tristemente. — Onde está Fritz?

— Quando descobrir eu aviso. — Em relação a pintura, claro. Anne não queria a presença do marido, mas precisava de algo dele lá. Suspirando, ela acrescentou: — Imagino que Fritz esteja em Paris, planejando outros filhos.

A ironia foi profunda, tanto que Anne ganhou um olhar censurador de Katharina. Mas Anne não iria mentir, foi aliviante saber que os gêmeos bastardos de Fritz haviam morrido. Uma tristeza para a mãe, de fato, mas um perigo à menos para o filho de Anne.

Mulheres como Therese von Abel poderiam conseguir tudo na vida, até mesmo promover um bastardo a posição de herdeiro. Haviam regras, claro, mas a Alemanha estava mudando e certamente que logo também haveriam bastardos usando coroas soberanas. Mas Anne não permitiria isso com seu filho, nunca!

— Paris... Será que ele esteve na coroação? — comentou Katharina, afastando-se de Anne e sentando num recamier. — Paul disse que o imperador...

— Não mencione o usurpador na presença da minha pessoa! — avisou Anne, olhando friamente para a cunhada. — Esse homem ascendeu ao poder abusando da minha família!

— Mas ele é imperador agora e não há nada que possamos fazer em relação a isso. — Talvez Katharina estivesse se esquecendo da invasão francesa em 1800. — Eu queria ter assistido a coroação. Acredita que Bonaparte juntou Roma, os merovíngios e o Ancien Régime numa só coisa? Como um Karlus Magnus...

Revirando os olhos, Anne bufou e afastou-se da cunhada. A Europa já tinha um sucessor de Karlus Magnus: o santo imperador, que descendia do próprio Karlus Magnus. Mas tudo não passava de um espetáculo para Bonaparte, uma forma de destruir a ordem na Europa e... por Deus, alcançar o Santo Império!

Talvez por isso Franz tenha se declarado imperador da Áustria, um duplo imperador. Apoiando-se na janela, Anne observou melancolicamente seus filhos passeando no Pomeranzengarten. Era incerta a Europa onde essas crianças cresceriam.

— É uma tentativa de legitimar a usurpação, se igualar as dinastias que reinam desde a Idade Média — falou Anne, lembrando dos próprios Württemberg. Desdenhosa, ela virou-se a Katherine. — E seu desejo não é a coroação, mas sim o petit démon.

— Não fale assim de Jérôme, você não o conhece como eu! — O homem que ela nunca viu pessoalmente? O desdém de Anne apenas aumentou, irritando Katharina. — As cartas dele são infladas de amor cortês.

— Será o mesmo amor que ele dá a americana? — Afinal, dizia-se que Jérôme Bonaparte era casado. Katharina levantou furiosa, o que foi suficiente para Anne. — Katharina, é para o seu bem. Fritz também dizia me amar, uma paixão avassaladora, e veja o que aconteceu.

Em que posição humilhante Anne encontrava-se agora. Era semelhante a viuvez, mas sem a possibilidade de casar novamente. E Anne ainda era motivo de pena nas outras cortes. Katharina voltou a sentar, negando.

— Jérôme não é Fritz.

— Mas é um Bonaparte — lembrou Anne, com uma expressão mais que séria —, e o que acontecerá com os Bonaparte quando o demônio for aniquilado?

Não houve resposta, apenas silêncio da parte de Katharina. Se, apenas se, esse casamento com Jérôme Bonaparte realmente acontecesse, Katharina estaria condenada e ela sabia disso. O silêncio instaurou-se entre as duas, Anne observando os filhos no Pomeranzengarten e Katharina pegando um bordado.

Esse silêncio, porém, acabou assim que a condessa Verweyen entrou na sala, fazendo uma mesura à princesa eleitoral e a princesa Katharina.

— Anton chegou de Ludwigsburg, minha senhora — Anton Belgärd, o novo administrador de Anne, bem como irmão mais velho da condessa. — O eleitor enviou também um relatório sobre a coroação de Napoleão e da imperatriz Josephine.

Um relatório? Anne franziu o cenho, mas logo assentiu para a dama de companhia, que novamente fez uma nova mesura e deixou a sala

— O que há na cabeça do seu pai, hein? — Anne virou-se para Katharina e bufou. — Não dou importância alguma a coroação do usurpador.

— Então por que aceitou o relatório?

— Porque estou pensando seriamente em colocar Wilhelm na posição de príncipe eleitoral. — Katharina arregalou os olhos em completo horror, o que não afetou em nada Anne. — Meu filho é o herdeiro do herdeiro, e será eleitor um dia de qualquer forma.

Sem contar que Fritz havia abandonado Württemberg, quem garantiria que ele não faria o mesmo quando fosse soberano? Era a escolha mais sábia. Katharina, porém, negou para Anne.

— Você não tem outras coisas para fazer, além de conspirar contra Fritz? — Conspirar? Anne riu com escárnio, irritando Katharina. — Não tem cartas para escrever aos seus inúmeros parentes?

— Eu já escrevi para todos eles, não se preocupe — respondeu Anne com um cínico sorrisinho, antes de caminhar para a porta. — Sugiro você buscar distrações que não envolvam ficar olhando o dia inteiro para a miniatura do petit démon.

Katharina virou o rosto, ofendida. Mas Anne simplesmente riu e deixou a sala. Essa ofensa duraria pouco, no chá elas nem lembrariam mais. Mas agora Belgärd, Anne estava curiosa com o que ele iria falar. Será que na Inglaterra elas já sabiam que...?

*****

Palácio de Hampton Court, Londres

Havia apenas um soberano na sala de visitas dos Bristol: o silêncio. Sentado confortavelmente num sofá, a única ação do barão Linzmain era acabar de tomar chá; enquanto Cathrine, segurando protetoramente Adam no colo, olhava estoica para Richard... cuja respiração raivosa dava para sentir de longe.

O marquês estava furioso, apertava tão furiosamente a cornija da lareira que parecia prestes a esmagar. Richard não conseguia acreditar, simplesmente não conseguia!

— Então ele realmente fez? — sussurrou Richard, apertando com força o punho. Não recebendo uma resposta, ele repetiu: — O... bispo de Roma realmente coroou Bonaparte?

— Tecnicamente o próprio Bonaparte se coroou, sendo o usurpador que é — Linzmain respondeu e bebeu mais um gole de chá. — O papa apenas observou e deu sua benção...

— Coroar, abençoar, dá tudo no mesmo! — Virando-se furiosamente para trás, o que até assustou Adam, Richard aproximou-se friamente do barão. — O fato é que Pio VII, o "servus servorum Dei", mostrou que apoia o ANTICRISTO!

Talvez fosse um exagero essa última parte, talvez tudo isso fosse um exagero, afinal desde novembro o papa estava na França para a coroação. Mas Richard nunca acreditou realmente que isso aconteceria. Respirando fundo, ele começou a andar ansiosamente pela sala.

— O que é anticristo, mamãe? — Atrás dele, Adam permanecia muito assustado. Richard tentou não se irritar, porém... — E o que ele fez para papai odiá-lo tanto?

— São assuntos de adultos, Adam — censurou Cathrine, percebendo a crescente irritação do marido. — Talvez seja melhor você voltar para...

— Adam fica! — A reação de Cathrine foi abraçar o filho, cujos olhos se arregalaram com tamanha raiva. Respirando fundo, o marquês acrescentou: — Adam é o príncipe hereditário de Niedersieg e deve aprender desde já os espinhos da soberania.

Principalmente dessa soberania, cujos soberanos pareciam até amaldiçoados com falta de paz. Cathrine sorriu docemente para Adam e, nunca o soltando, beijou a cabeça dele. Mas Richard via claramente o medo nos olhos do filho...

— Creio que o objetivo do papa seja proteger seus fiéis católicos. — A atenção do marquês voltou-se a Linzmain, que deu os ombros.

— Ele deseja proteger os interesses da Igreja Católica, isso sim! — exclamou Richard, afastando-se e negando. — As monarquias católicas vão assimilar a presença do papa na coroação como uma legitimação do "Império Napoleônico"! Como se Deus aprovasse o usurpador!

— E justamente por isso Bonaparte fez questão da presença papal — respondeu calmamente o barão, fazendo Richard encará-lo com horror. — Para todos os efeitos, Napoleão Bonaparte é agora o legítimo soberano da França.

Arregalando os olhos, Richard virou-se desesperadamente para Cathrine, igualmente perplexa. Legitimar Bonaparte... Aceitar o título imperial dele... Isso era uma afronta! O usurpador já não humilhou o suficiente as tradicionais dinastias europeias!? Até mesmo o santo imperador foi ameaçado, tanto que Franz criou o Império Austríaco como proteção.

— Me enoja a ideia desse demônio usar uma coroa imperial! — E idêntica a de Karlus Magnus, ainda por cima!

— Mas o que deveria realmente preocupá-lo, pelo menos por agora, é a ideia da Igreja Católica apoiar Bonaparte. — Agora Linzmain foi mais frio, o que fez Richard e Cathrine se entreolharem confusamente. — Lembre-se que os niedersiegers são majoritariamente católicos.

A confusão do marquês e da marquesa aumentou mais ainda. O que exatamente Linzmain estava querendo dizer?... Semicerrando os olhos na direção do barão, Richard começou a entender... A confusão dele tornou-se fúria...

— A lealdade dos niedersiegers é muito mais forte que qualquer barreira religiosa, excelência — respondeu Cathrine, com uma certa hesitação na voz dela.

— Mas e a do alto clero? — questionou Linzmain, fazendo Richard franzir o cenho. — O alto clero niedersieger é praticamente estrangeiro, o próprio cardeal Jarnerich é bávaro.

— E todos ocupam lugares no Staatsrat. — Isso sem contar na posição que todos os quatro bispos tinham nos Stadtrat das suas respectivas dioceses. Foi o bastante para deixá-lo pensativo. — Jarnerich ajudou na eleição de Pio VII... São homens perigosos.

— Perigosos talvez não, — Richard franziu o cenho para Linzmain, que finalizou: — mas inconvenientes, com certeza.

— Eles poderiam influenciar uma aproximação com a França — murmurou Richard, ganhando um assentimento de Linzmain. Suspirando, ele voltou-se ao barão. — O que Neipperhard acha disso?

Não havia pessoa em Niedersieg mais neurótica que o chanceler do tesouro e certamente Linzmain só estava aqui por ordem de Neipperhard. Mas Richard estava curioso, bem como igualmente estressado com essa questão.

Ganhando olhares de todos na sala, até mesmo do pequeno Adam, o barão Linzmain colocou a xícara de chá na mesa e respirou fundo:

— A maior preocupação de Neipperhard atualmente é manter e preservar a segurança e autonomia de Niedersieg — começou Linzmain, quase metódico —, sendo assim, a opção mais sábia no momento seria dispensar os bispos do Staatsrat.

Dispensar os bispos!? Richard imediatamente franziu o cenho e abriu a boca... Mas se virou de costas e aproximou-se da lareira. A reação de Cathrine também foi de surpresa, tanto que ela perguntou:

— Mas isso não seria provocação?

— Seria reação, madame — respondeu Linzmain, frisando bastante a última parte — Não existe lei alguma exigindo a presença do clero católico na governança do estado.

Eles estavam lá por pura convenção. Desde os Wittelsbach, quando existia apenas o condado de Königsstadt, o clero era nomeado para o conselho. Essa tradição já durava séculos, com uma pequena interrupção durante o "Interregnum de 1630"... que ocasionou uma invasão bávara.

Dispensar o alto clero... Richard continuou andando ansiosamente pela sala. Era terrível tomar decisões tão abruptas assim! Niedersieg estava seguro, mas o quão seguro estava? Passando a mão no rosto e bufando, Richard murmurou ao barão:

— O quão próximo o cardeal Jarnerich é do papa?

— A Basílica de Sankt Vinzenz Ferrer ganhou essa denominação logo após o conclave — respondeu Linzmain, com bastante calma —, bem como a diocese de Niedersieg elevada a arquidiocese.

— Num principado insignificante, governado por um príncipe protestante, isso seria quase impossível. — Richard voltou a andar pela sala, negando lentamente. — Neipperhard pensa obstinadamente que Niedersieg corre perigo, mas nesse caso ele está certo.

Infelizmente, Richard bufou, irritado. Dificilmente um exército entraria em Niedersieg, não faria muita lógica, mas o perigo também residia em influências prejudiciais. Mas dispensar os bispos...

— Qual a sua decisão, meu príncipe? — Richard engoliu em seco ao ouvir Linzmain, tanto que negou.

— Ainda não sei ao certo — ele respondeu sem sequer olhar para o barão. — Está dispensado, Linzmain; mandarei chamá-lo quando for oportuno.

Em outras palavras, Richard iria pensar nisso tudo e depois tomar uma decisão. O barão fez uma mesura à princesa, depois ao príncipe, que assentiu, e deixou a sala. O silêncio instaurou-se, frio e profundo, até que Richard também deixou a sala; ele precisava de um copo de whisky.

Por que as coisas não poderiam ser mais simples? Por que Niedersieg não poderia ser como as outras propriedades imperiais insignificantes!?

*****

— Por que papai está tão irritado, mamãe? — Cathrine fechou o livro de contos que lia e fitou Adam, que a encarava com curiosidade.

Horas já haviam passado desde a visita do barão Linzmain, Adam estava sendo até colocado para dormir, e justamente agora ele vinha perguntando isso? Cathrine hesitou um momento, mas acabou suspirando e deixando o livro de lado... novamente.

— As coisas não foram muito felizes no ano passado, Adam, e nem nesse — respondeu melancolicamente Cathrine, suspirando e... tentando sorrir. — É normal ficar irritado quando nada acontece como desejamos.

— Mas ele gritou comigo, me fez sentir medo! — choramingou Adam, cobrindo-se com as cobertas da cama. — Qual a desculpa agora?

— Foi algo muito errado, realmente, e seu pai sabe disso — Cathrine respondeu calmamente e acariciou o cabelo do filho. — Seu pai é um soberano, Adam, ele governa mais de 20 mil pessoas a mil quilômetros daqui. Isso não é um trabalho fácil, a coroa é espinhosa.

Principalmente nesses tempos de incerteza, onde a paz durava pouco e monarquias eram destruídas num piscar de olhos. Fechando os olhos e suspirando, Cathrine sorriu levemente para Adam, que então...

— É aquele tal Buona... Buonaparte, não é?

— Quem lhe falou desse nome, Adam!? — Ele deu os ombros. Cathrine suspirou negando. — Crianças, principalmente da sua idade, não devem se preocupar com tais assuntos. Você pode até ser o príncipe hereditário, mas ainda é uma criança!

— Dizem que eu nunca passarei dessa posição. — Os olhos de Cathrine imediatamente se arregalaram em horror. Mas Adam... continuava sereno. — O que significa isso, mamãe?

Disseram que Adam nunca passaria de príncipe hereditário... Respirando fundo e tentando não perder a calma, Cathrine direcionou rapidamente um olhar duro para Lady Pembroke, que negou veemente, e sorriu docemente para o filho.

— Adam, meu favo, são tolices...

— Já ouvi alguns criados dizendo que meu priminho será o príncipe, mas não sou eu o herdeiro? — Adam perguntou inocentemente, a única ação de Cathrine foi assentir... horrorizada. Mas Adam não ficou satisfeito. — Ele é melhor do que eu?

Novamente Cathrine arregalou os olhos; o recém-nascido... melhor que Adam!? Ela virou-se para Lady Pembroke, que voltou a negar. Estava claro que tais criados estavam fora do berçário, afinal só haviam criadas. Mas Cathrine sorriu e acariciou a bochecha de Adam.

— Você é o mais bonito, inteligente e capaz, Adam; seu priminho jamais será melhor que você — respondeu Cathrine, abraçando o filho logo em seguida. — Adultos falam muitas besteiras, então não dê atenção ao que os criados falam, eles são insignificantes.

Eram pagos unicamente para cumprir suas funções, isso em silêncio e quase invisibilidade. Cathrine beijou Adam e o acomodou na cama. Deixando o berçário, ela respirou fundo e decidiu resolver logo essa questão. Cathrine poderia ser plácida, calma e tímida, mas ninguém tinha permissão para falar da vida de Adam, ninguém!

A ação dela foi imediatamente ir atrás de Richard, que certamente estava no escritório. Cathrine entrou abruptamente.

— Richard, quero que mande embora certos criados! Não sabe o quão impertinentes...! — A voz da marquesa instantaneamente morreu; Richard estava sentado numa poltrona, observando uma maquete, enquanto bebia whisky. — Interrompo?

— Você nunca interrompe, Cathrine, e nem é inconveniente — respondeu Richard, direcionando um pequeno sorriso a ela. — Eu só estava pensando.

— Na questão dos bispos, imagino. — Ele assentiu, fechando dolorosamente os olhos. Cathrine lentamente aproximou-se. — Já tomou alguma decisão?

— Pensei em algo, mas não sei o quão aceitável seria. — Como assim aceitável? Cathrine franziu o cenho, até que Richard estendeu uma mão na direção dela. — Você vai me apoiar em qualquer decisão que eu tome, não vai, Cathrine?

— Você é o soberano, Richard, e eu sua consorte, é meu dever apoiá-lo. — Ela foi criada justamente para isso. Aceitando a mão dele, Cathrine sentou no colo de Richard. Ambos continuavam sérios. — Mas esse apoio torna-se muito mais fácil quando eu conheço a sua decisão.

Nada mais foi dito, o silêncio instaurou-se. A única ação de Richard passar a mão no ventre de Cathrine, como que ninando o bebê antes mesmo dele nascer. Mas a curiosidade da marquesa não morreu, até que...

— Pode parecer polêmico, quase anticlerical, mas eu aceitarei o pedido de Neipperhard... — Richard respondeu hesitante, sequer olhando nos olhos de Cathrine. Mas ele acrescentou: — Irei tirar todos os poderes e cargos governamentais que o clero católico possui em Niedersieg.

Novamente, o silêncio instaurou-se. Cathrine, tomada pela perplexidade, só conseguiu encará-lo com os olhos arregalados. Isso iria abalar parte do sistema. E...

— O pedido não foi apenas tirá-los do Staatsrat? — questionou Cathrine, ganhando um assentimento de Richard.

— De fato, mas não estou disposto a correr ricos. Além do mais, o lugar de um sacerdote é na igreja, não discutindo política. — Mas e os lords espirituais na Câmara dos Lords? Richard suspirou. — A Igreja Católica já mostrou-se muitas vezes uma pedra de tropeço; os sacerdotes respondem ao papa, não ao soberano.

Havia uma certa independência do clero, isso sem contar nas propriedades da Igreja e os dízimos. Nas igrejas protestantes não havia tanta autonomia, mas ainda assim... Cathrine sentiu um aperto no peito ao imaginar as consequências, tanto que negou e perguntou:

— Como a Igreja reagirá a isso?

— Não estou preocupado com a Igreja, o papa não tem jurisdição sobre mim, minha preocupação é o povo. — Richard fitou sério Cathrine e então falou: — Será proibido qualquer discurso, ação ou obra em apoio à França, ou aproximação com a França. O desacato disso resultará em duras consequências... não importa quem seja.

Cathrine encarou perplexa Richard, que a encarou de volta em completo silêncio e firmeza. Havia receio nos olhos dele, ela conseguia perceber. Essas ações seriam uma espécie de censura e a censura estava cada vez mais perigosa. Cathrine tinha medo, mas ela precisava.

— Não seria melhor reunir o Conselho de Bristol? — sugeriu Cathrine com um tenso sorriso. Uma carranca tomou conta do rosto de Richard. — Certamente que eles...

— O Conselho de Bristol ajuda com as propriedades inglesas, não com Niedersieg! — respondeu duramente Richard, não dando espaço para protestos. — Minha decisão é soberana e deve ser obedientemente acatada.

Estava claro que nada poderia ser dito para fazê-lo mudar de ideia. Suspirando, Cathrine assentiu e apoiou a cabeça no peito de Richard. Ela não era uma estadista, sequer tinha conhecimentos políticos. Cathrine já tinha problemas demais e, francamente, não queria lidar com um povo que jamais conheceria.

Richard agarrou a cintura de Cathrine, desejando o doce consolo dela. Mas de uma coisa Richard tinha certeza, essa decisão, como todas as que ele tomava, não ficaria sem críticas, nem em Niedersieg e muito menos em casa.

*****

14|12|1804 Palácio de St. James, Londres

Bastou a família real chegar de Windsor, para toda a corte entrar em alvoroço. Todos queriam ver o "primeiro neto legítimo do rei", queriam saber se era um Hannover, ou... apenas outro Habsburg alemão. Mas nenhum dos cortesãos teve tal privilégio... Nem mesmo os Bristol.

— Que diferença existe entre isso e um estado policial!? Porque eu não vejo nenhuma! — Aparentemente, antes de apresentar George, Robert queria entender Richard, que revirou os olhos. — Não preciso nem dizer que papai ficaria decepcionado.

— Eu agradeço pela sua misericórdia — zombou Richard, pegando um copo de whisky e sentando numa poltrona. — Não preciso das suas críticas, Robert. Sei que estou fazendo a melhor escolha para Niedersieg.

— Institucionalizando a censura? Faça-me o favor! — A melhor escolha nem sempre seria a mais correta. Robert estendeu o braço sobre o ombro de Sophia e riu. — E isso de expulsar os padres dos conselhos? O povo vai pensar que você quer um estado laico!

O marquês franziu o cenho com esse comentário, faz-nos Robert rir divertido. Não era de se surpreender, para Robert tudo era diversão e alegria. Richard apenas negou, o que chamou a atenção de Sophia.

— Assim parece até que você apoia os católicos, Robert — censurou Sophia, buscando impedir qualquer problema entre eles. Porém ela perguntou em seguida: — Você não tem medo de uma rebelião, Richard?

— Rebelião? Estamos em 1804, Sophia — Quase imediatamente, Cathrine recebeu olhares franzidos, elas suspirou e explicou: — As guerras religiosas foram há quase dois séculos.

— Mas somos uma família protestante, enquanto Niedersieg é um estado católico — lembrou Robert, rindo irônico logo depois. — Talvez eles pensem que isso é apenas uma desculpa para mudarmos a religião oficial.

— Nunca devemos duvidar do quão poderoso é o preconceito religioso. — Richard bufou com o comentário de Sophia e tomou um gole de whisky. A princesa negou. — Foi esse preconceito que derrubou os Stuart e colocou os Hannover no lugar.

— Tocar na religião alheia é problemático. — Até mesmo Cathrine juntou-se nisso!

Negando, Richard levantou da poltrona e começou a andar pela sala. Ele não estava tocando na religião de ninguém! Nem promovendo outra como superior! Mas apenas tirando os sacerdotes de um lugar do qual eles não pertenciam: o governo.

— Minha decisão já foi tomada, isso que importa — ele respondeu irredutível e virou-se ao irmão e cunhado. — Os niedersiegers podem até reclamar agora, mas no futuro me agradecerão por salvá-los do usurpador.

— Você é o soberano, qualquer problema será culpa sua, de qualquer forma. — Não que Robert desse alguma importância, claro. Richard revirou os olhos para o irmão. — Pelo menos você tirou os padres do governo, tudo para eles é religião, moralidade e...

Antes mesmo de Robert acabar, a dama de companhia de Sophia, Marianne Townshend, a baronesa Holles, entrou na sala com o pequeno príncipe George de Kendal nos braços. Foi o bastante para fazer as damas de companhia da marquesa levantarem em animação, bem como Adam correr em direção ao priminho.

Houve apenas uma pessoa impassível, praticamente estoica: Cathrine, cuja única ação foi encarar o bebê, principalmente quando pego por Richard. Loiro, grande e forte, a visão da vitalidade.

— Nunca imaginei que alguém com o sangue Tudor-Habsburg poderia nascer tão... gordo! — exclamou Richard com um grande sorriso, esquecendo o assunto anterior. — Parabéns, Sophia, o seu sangue Hannover era justamente do que precisávamos.

— É um menino muito saudável, de fato. — Cathrine pensou em sorrir, mas sairia tão falso que era melhor não.

— Além de lindo, o que ele puxou do papai aqui, claro. — A piada de Robert ganhou apenas olhares irônicos, até que ele se aproximou do filho e acariciou o cabelo dele. — Fiquei impressionado na primeira vez que o segurei; é um legítimo Hannover.

Hannover, Hannover e Hannover! Sinônimos de grandeza, força e sucesso... Irritava profundamente Cathrine ficar escutando isso, ela sentia como se estivesse ridicularizando do sangue dela; Richard e Robert também não eram Oldenburg? Cathrine também não descendia do primeiro Hannover!? Porém os sentimentos negativos dela logo foram pausados...

— Eu também quero ver meu priminho George! — A atenção dela focou em Adam, que Robert ergueu para ver o bebê. — Tão pequeno, posso segurá-lo?

Todos os adultos na sala riram com essa pergunta. Afinal toda criança falava algo parecido ao ver um bebê. Todos a não ser Cathrine, ela não poderia fazer isso. George era tão gordo, saudável e... sorridente, enquanto Adam... Adam parecia o menino doentio que era. Cathrine levantou.

— É melhor não, Adam, para a proteção dele — ela respondeu, tomando Adam de Robert e levando para longe. Todos a encararam confusamente. — Vamos para a Câmara do Grande Conselho, ou senão nos atrasaremos?

Percebendo os sentimentos da esposa, Richard sorriu levemente e, entregando George para Lady Holles, foi para junto de Cathrine. Antes, porém, deles saírem, Robert e Sophia se entreolharam e assentiram.

— Sophia e eu gostaríamos de fazer um anúncio antes do batismo. — O marquês e a marquesa voltaram-se a Robert, que abraçou a cintura de Sophia. — A semente foi jogada num solo fértil e... bem, Sophia está grávida!

O silêncio, apesar do sorriso imenso de Robert, instaurou-se na sala. Grávida? Mas não fazia nem quatro meses que... Richard e Cathrine se entreolharam e depois encararam o casal. Cathrine, principalmente, sentia uma vontade terrível de gritar. Grávida!?

*****

Dezembro|1804 Fürstlich Palais, Niedersieg

"... três meses após seu nascimento, em 27 de agosto, foi batizado na Câmara do Grande Conselho, em St. James, pelo reverendíssimo bispo de Londres. Seus padrinhos foram o rei da Suécia e o duque de Mecklenburg-Strelitz; suas madrinhas, a rainha da Suécia, a eleitora de Hesse e a princesa de Niedersieg. Seu nome foi anunciado como..."

— William George Augustus — proferiu o coronel Leopold von Karinberg aos outros três homens no gabinete do chanceler do tesouro. — Bem, se precisarmos do menino não será tão difícil assim torná-lo alemão.

— O importante é que a sucessão está cada vez mais garantida — respondeu o barão von Frieden, filho do falecido chanceler, num tom sério. — Temos um número três agora; quando foi a última vez que passamos disso, em Theodor Harold?

Antes da crise sucessória dos "Weimar" e a subsequente ascensão da "Casa d'Austria". Karinberg acabou assentindo em concordância, bem como o jovem barão Leopold von Eden. Porém a atenção dos três voltou-se ao distante Neipperhard, sentado à mesa do gabinete.

— Linzmain enviou alguma resposta às minhas solicitações? — O coronel negou em resposta a Neipperhard, que suspirou frustrado. — O negacionismo do príncipe ainda nos custará a vida, bem como a coroa dele.

— Pelo menos ele reconhece, em parte, que estamos em perigo. — Von Eden referia-se aos recentes despachos de Londres, tanto que acrescentou satisfeito: — Teremos mais liberdade agora em relação à secularização.

— E um oponente a menos em nossa política de neutralidade armada. — Desde a Concordata de 1801 o alto clero mostrava-se inquietamente favorável a uma reaproximação com a França. Karinberg aproximou-se do chanceler. — Preocupo-me apenas com as restrições anti-francesas. O que acontecerá quando Paris descobrir?

— Bonaparte ficará furioso, principalmente com as caricaturas dos nossos jornais — responde preocupadamente Neipperhard, analisando uma das caricaturas e, entregando para Karinberg, suspirou. — Seremos como uma ovelha solitária na mira de feras selvagens.

A França era um leão, a Baviera um lince, não havia lobo ainda, mas Niedersieg estava indefeso. O frio gabinete do chanceler entrou em silêncio, tanto que o som das caricaturas queimando impregnou o lugar quando Karinberg as jogou na lareira. O papel teria alguma serventia, afinal: aquecê-los.

— Devemos, porém, confiar na Áustria e no imperador. — A confiança de von Frieden era cega, pois o imperador era o pastor que estava distante. — Lembremos que são os aliados mais poderosos que temos no império.

— Embora não confiáveis — retrucou Neipperhard, fazendo todos os três franzir o cenho. — O príncipe não sabe o que acontece na Alemanha, ele sequer conhece o próprio povo! A fortaleza que é a Grã-Bretanha o torna ignorante.

— O que faremos então, já que as solicitações não surtem efeito algum? — Nenhum deles conseguiu responder Karinberg, nem mesmo Neipperhard.

Suspirando cansado, o chanceler do tesouro levantou da poltrona e foi em direção a lareira a fim de se aquecer mais um pouco. Os sintomas de esquecimento nesse palácio estavam cada vez mais visíveis, nem mesmo as lareiras funcionavam direito mais. Suspirando, o chanceler deixou a lareira.

— Vamos esquecer o assunto por agora e focar apenas na secularização. — As muitas paróquias do principado estavam com os dias contados. Neipperhard, porém, acrescentou: — Mas quando for o momento certo enviaremos Karinberg para Londres.

Certamente que ouvindo um verdadeiro niedersieger o príncipe veria a razão. Neipperhard aproximou-se de uma janela em frente a Sckelhauerstraße e observou a cidade, agora coberta de neve. Parecia calma e tranquila, poucas carruagens e trenós, bem como pessoas, corriam pelas ruas.

Os outros três se juntaram ao chanceler nessa contemplação da pequena capital. Até que os sinos do Verkündigungsturm, no próprio palácio, foram escutados, fazendo a Basílica de Sankt Vinzenz tocar também seus sinos. Era meio-dia, embora já estivesse tão escuro quanto o anoitecer.


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Notas finais do capítulo

* Chegou a hora da minha aula de história. Pode parecer um pouco estranho, mas a Igreja Católica realmente era quase "autônoma" em relação ao Estado até o século XIX. Durante o iluminismo, no século XVIII, os soberanos católicos tentaram muitas vezes restringir essa autonomia. Isso porque muitas vezes haviam abadias, mosteiros e paróquias em excesso, o que tirava a ordem das coisas. Sem contar que a Igreja sempre teve uma influência muito grande na população, o que aumentava essa vontade de secularização. Pode parecer algo preconceituoso, mas a Igreja Católica sempre teve uma influência maior que as igrejas protestantes. Os Estados Papais, por exemplo, eram uma monarquia em todos os aspectos.

* E quanto a Niedersieg? Foi até um sopro de vivacidade escrever sobre o principado. Nos próximos capítulos, não muito distantes, teremos mais cenas lá.

* Ainda falando em Niedersieg, talvez alguns se perguntem porque eu comparei a Baviera com o lince. Na verdade, deveria ser um lobo... mas os lobos foram praticamente extintos da Baviera. O lince também foi quase erradicado de lá, e por isso mesmo eu o comparei a Baviera, afinal é um animal que corre risco de extinção.

* Uma informação extra: Vocês sabiam que cada dinastia europeia tinha características físicas próprias? É verdade. Os Hannover eram altos, fortes e propensos a obesidade (basta olhar para as pinturas dos filhos de George III, e também da rainha Victoria, a última Hannover a reinar no Reino Unido); os Welf, mais especificamente os Brunswick, tinham problemas com gagueira; os Habsburg eram magros e levados a melancólia; os Bourbon da França também era altos, fortes e propensos a obesidade, além de terem um moral frágil... franceses, não é? E os Oldenburg? Se você observar as pinturas dos reis dinamarqueses, verá que Christian V é o último Oldenburg forte, todos os reis Oldenburg subsequentes são magros, frágeis e, possivelmente, pequenos. Tanto que quando o príncipe herdeiro Frederik deu um golpe na regência do seu meio-tio Frederik, o pai de Cathrine, e os dois tiveram uma luta corporal, todos os relatos que eu li falam que eram dois homens frágeis e delicados lutando, ou seja, o menos fraco que ganharia.

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