Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 27
26. Eu não sou justa!




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Palácio de Hampton Court, Londres

Richard entrou abruptamente na antecâmara do berçário e, arregalando os olhos ao encontrar Cathrine chorando num sofá, correu em direção a esposa, abraçando-a fortemente. Estava sendo profundamente difícil manter a calma, até mesmo respirar sem tremer os lábios... principalmente com o choro de Adam ecoando desde o dormitório.

Escutá-lo sofrendo apenas aumentou o choro de Cathrine, que escondeu o rosto no peito do marido num débil gemido. A respiração do marquês tornou-se mais difícil, como engolir galhos de espinhos! O choro dele... deles! Sentindo as lágrimas vindo, Richard fechou os olhos e apoiou a cabeça no ombro de Cathrine.

— Eu vim o mais rápido que pude! — Robert também chegou na antecâmara, mesmo que não chamando a atenção do casal. As damas e criadas, porém, voltaram-se ao príncipe, que acrescentou: — Mas o que aconteceu exatamente? Um menino não cai simplesmente de uma fonte.

De fato, o que aconteceu exatamente? Richard abriu os olhos e encarou fixamente Lady Pembroke e as criadas do berçário. Ele queria entender essa situação, inocentar essas mulheres... e entender também o porquê de uma das criadas chorar tanto! Richard, porém, manteve Cathrine protetoramente no peito dele.

— Concordo que explicações são necessárias. Não acha, Lady Pembroke? — O tom de Richard, principalmente ao referir-se à baronesa, foi tão frio que a dama arregalou os olhos. — Como Adam, meu único filho e herdeiro de corpo, caiu na Grande Fonte?

— Não sei nem o que dizer — a baronesa começou, negando lentamente —, tudo foi tão rápido que...

— MANDE ESSA GAROTA CALAR A BOCA! JÁ NÃO BASTA EU E MEU FILHO CHORANDO!? — Cathrine, porém, soltando-se do marido, gritou em direção a criada, que desesperou-se mais ainda. Richard tentou abraçá-la novamente, mas ela não deixou. — Por que ela é a única chorando? Há algum motivo? Não me diga que...!?

Sentindo uma explosão de sentimentos se aproximando, Richard abraçou Cathrine e escondeu o rosto dela. Melhor nada ser dito, nesse momento palavras só poderiam machucar mais ainda! Mas a criada continuava a chorar copiosamente. A atenção voltou-se a Lady Pembroke, que respirou fundo e...

— Eu não sei — respondendo com firmeza, a baronesa começou então a andar ansiosamente pela antecâmara. — Não sei como aconteceu, eu sequer estava lá no momento! Lembro apenas que a Sra. Wilson chegou e deixei o conde de Rivers com...

As pupilas de Lady Pembroke dilataram, fazendo-a calar-se e virar lentamente em direção a... chorosa criada. Um profundo silêncio instaurou-se então na antecâmara do berçário, principalmente à medida que todos os olhares se voltaram à garota.

Uma pobre vítima da situação, de fato, mas... Richard engoliu em seco; era impossível não culpá-la! A garota só tinha um trabalho: olhar Adam, e ainda falhou nisso! O aperto do marquês em Cathrine afrouxou, permitindo assim que ela encarasse a criada... profundamente fria.

— Oh, minha marquesa, perdoe-me, por favor! — a criada exclamou jogando-se aos pés da marquesa, e tão aflita que parecia até ter cometido um crime. Porém a frieza prevaleceu. — Por favor, perdoe-me! Foi um acidente, um descuido terrível da minha parte... Eu não queria, só aconteceu! Eu...!

Antes, porém, que a criada pudesse acabar, Cathrine afastou-se no sentido contrário ao da jovem, que buscou ajuda no marquês. Porém Richard foi para junto da esposa, consolando-a com um toque no ombro. E até mesmo Robert, virando o rosto, negou-se a respondê-la.

— Os Tudor-Habsburg não falam com a criadagem... — A jovem virou-se em direção a fria Lady Pembroke, que ainda acrescentou: — nunca.

E o silêncio retornou, afinal, esse não era o momento para súplicas ou perdões, mas sim para preocupar-se com Adam. Lembrando, porém, da criança, Richard voltou a tocar no ombro da esposa e sinalizou para o quarto. Cathrine não deu atenção, ela parecia presa nos próprios pensamentos, mas o choro estava diminuindo.

— Essa garota teve muita sorte ao nascer, — Cathrine começou, fitando estóica à parede —, porque digo, e digo com toda a certeza, que em outra situação ela já teria sido açoitada! — A criada arfou, enquanto Richard e Robert arregalaram os olhos. — Não estamos na Alemanha, nem no século passado, mas meu desejo é vê-la...!

— Não acha que já está passando dos limites, Cathrine? — Robert rapidamente interrompeu a cunhada, que negou veemente. — Entendo sua preocupação com Adam, mas isso não lhe dá o direito de agir como... bem, uma autocrata!

— Quem você acha que é para me julgar, Kendal!? — Cathrine exclamou virando-se em direção ao príncipe. — É seu filho, seu único filho, que está morrendo!?

Foi o bastante para fazer Robert, com uma irritada expressão, arregalar os olhos... Para falar a verdade, nem mesmo Richard foi poupado do horror. Era a primeira vez que a palavra morte era usada para a situação de Adam, mesmo esse sendo o medo de todos.

Richard, que preferiu calar-se em relação à discussão de Cathrine e Robert, fitou tristemente a esposa, respirando com tanta dificuldade que parecia prestes a desmaiar. De qualquer forma, Cathrine voltou a abraçar o marido, derramando suas lágrimas no peito dele.

— É melhor pararmos com essa tolice, não está ajudando em nada — o marquês falou num suspiro e beijou a cabeça de Cathrine. Até que Robert negou, fazendo-o acrescentar: — E não tente julgar nossas ações, Robert.

— Ações erradas devem ser repreendidas, não importa a situação. Mas nada direi agora, sei que não serei escutado. — Que agradável ele saber disso. Richard beijou novamente a cabeça de Cathrine, enquanto Robert suspirou. — O Dr. Markson já foi chamado?

— Estou bem aqui, Sua Alteza Sereníssima. — o médico, fazendo uma rápida mesura, anunciou sua própria chegada e semicerrou os olhos... O choro havia parado. — Imagino que o menino foi tomado pelo cansaço. Vamos entrar?

No dormitório? Richard e Cathrine imediatamente se entreolharam, mais receosos que preocupados. Porém Markson apontava tão insistentemente para o quarto que foi impossível não obedecer, eles também queriam saber como o filho estava. Mas uma coisa era digna de nota nisso tudo: o Dr. Markson estava bastante calmo... era uma pena, então, que isso não duraria muito.

*****

Palácio de Inverno, São Petersburgo

O silêncio dominava supremo na escadaria principal. Mary, de cabeça baixa, continuava curvada em frente a família imperial, cuja única ação era analisar a futura grã-duquesa. Nobre, embaixador ou militar algum ousava falar alguma coisa, nem mesmo respirações eram escutadas. Até que uma mão foi estendida na frente de Mary.

— Não demore tanto assim nas homenagens, Sua Alteza Sereníssima, somos sua família agora. — O imperador Alexandre. Mary ergueu a cabeça e aceitou a mão do imperador, que sorriu amplamente. — A Rússia lhe dá boas-vindas!

— E alegra-se com sua chegada! — a imperatriz Elizaveta acrescentou sorrindo, mesmo que imediatamente recebendo um olhar censurador da imperatriz viúva.

Foi o bastante para que a atenção de Mary se voltasse à alta e corpulenta mulher segurando o braço do imperador, enquanto a própria imperatriz estava sozinha e atrás. Então era verdade, a viúva tinha precedência a consorte na Rússia. Porém a atenção de Maria Feodorovna também voltou-se à princesa.

— É uma satisfação finalmente conhecê-la, Sua Alteza Sereníssima — a imperatriz viúva finalmente falou, tão terna e ao mesmo tempo tão... intimidadora. A respiração de Mary parou quando ela a analisou. — Devo dizer que pessoalmente sua beleza supera em muito a dos retratos.

— Eu agradeço pelo elogio, Sua Majestade. — Mary manteve a voz calma e doce, o que gerou um satisfeito assentimento da viúva imperial. — Estou igualmente encantada por finalmente conhecer minha nova casa e família.

— Que felicidade! — A imperatriz viúva sorriu fracamente e, franzindo subitamente o cenho, virou-se para trás. — Cumprimente sua esposa, Konstantin!

Os olhos de Mary arregalaram e o sorriso dela tremeu. Konstantin!? Oh Deus, ela havia esquecido! Por um momento, um rápido momento, Mary esqueceu do motivo de estar nesse lugar, esqueceu pior dos seus pesadelos. Mas acabou quando o grão-duque deu um passo para frente e aproximou-se dela.

Nos olhos dele, até mesmo nas ações, havia um imenso descontentamento e tédio. Como se ele não quisesse isso, não gostasse disso tudo. Pois então era dois! De qualquer forma, Mary obrigou-se a fazer uma rápida mesura ao grão-duque, que assentiu e pegou a mão dela.

— Sua Alteza Sereníssima — o grão-duque cumprimentou e então, para o horror de Mary, beijou a mão dela —, espero que sejamos muito felizes juntos.

Ah, Mary duvidava muito disso, tanto que desviou o olhar do grão-duque. Era horrível encará-lo, dava até vontade de chorar ao observar impassível o destino que a esperava. Mary sabia que não poderia fugir do destino, mas ela poderia evitar Konstantin.

Porém, ao desviar o olhar, a princesa acabou voltando-se em direção aos irmãos e irmãs do imperador. Todos os seis olhavam fixamente para ela, porém um dos dois caçulas, com certeza a criança mais bela que Mary já tinha visto, a encarava mais que os outros, parecia até... na frente de uma divindade.

— Não olhe demais para a esposa do seu irmão, Nika! — a imperatriz Maria, porém, logo censurou o filho, antes de voltar-se novamente ao segundo filho. — Apresente seus irmãos e irmãs a princesa, Konstantin!

— Isso é realmente necessário? Eu... — Konstantin, recebendo um olhar duro da mãe, calou-se. De fato, era Maria Feodorovna que reinava os Romanov. O grão-duque então bufou e agarrou Mary pelo braço. — Esses são Nicholas e Mikhail, os dois caçulas; enquanto essas são Maria...

Ekaterina e Anna, ela sabia disso! Mary soltou-se do grão-duque e, direcionando ríspido um sorrisinho para ele, virou-se sorrindo aos novos cunhados e cunhadas. O melhor seria cultivar amizade com esses pequenos, a não ser com Maria que logo casaria.

— O que a senhora achou dela, mamãe? — A imperatriz Maria, encarando atentamente a princesa, nada disse ao filho, que sorriu de lado. — Confesso que gostei muito, ficaria até para mim caso ela já não tivesse dono e eu minha própria beleza.

— Que sempre alegra-se muito ao escutar isso, com certeza. — a imperatriz retrucou baixinho, consciente da beleza que o marido se referia. Logo, porém, ela suspirou e comentou: — Achei a princesa simplesmente perfeita, um diamante sem defeitos.

Pelo menos era isso que parecia. Sempre vinham à cabeça duas coisas quando o nome Tudor-Habsburg ou Niedersieg era falado nas cortes europeias: beleza e perfeição. A imperatriz viúva, chamando a atenção do filho e nora, então suspirou e declarou:

— De fato, ela é perfeita... perfeita até demais. — Tanto o imperador quanto a imperatriz voltaram-se à viúva, que semicerrou os olhos em direção a futura nora. — Mas ainda é muito cedo para formarmos uma opinião sobre ela.

Fosse positiva ou negativa. De qualquer forma, logo as apresentações acabaram e a família imperial, junto da princesa Mary, subiu o resto da escadaria rumo ao Salão de São Jorge, onde a nobreza e os oficiais do governo e exército seriam apresentados à princesa.

*****

Palácio de Hampton Court, Londres

A luz do sol clareava como nunca antes o quarto do conde de Rivers. Nenhuma das cortinas foi mantida aberta, a lareira foi acendida e velas trazidas aos montes. Tudo com dois objetivos específicos: manter o príncipe aquecido e ajudar o velho Markson a analisá-lo melhor.

Porém, em contrapartida, tornava-se ainda mais visível o estado do adormecido príncipe. Seus lábios trêmulos e sem cor, a dor no modo como ele fechava os olhos e a pele tão pálida quanto... quanto a morte... Cathrine fechou os olhos e afastou-se em direção a uma janela, era do que ela poderia aguentar!

— Então ele quase se afogou na Grande Fonte? — o Dr. Markson, após analisar o pulso de Adam, finalmente falou. Porém tão friamente que sequer surpreendeu ele exclamar depois: — Mas que grande incompetência! É só um menino, Lady Pembroke, qual a dificuldade em mantê-lo na linha!?

— Não ouse levantar a voz para mim, Dr. Markson! Lembre-se que meu marido é um par do reino! — A baronesa já estava no limite, mas como não estar? Respirando fundo, ela tentou se acalmar. — Descuidos e acidentes podem acontecer em qualquer lugar, com qualquer um.

— Até com o herdeiro de um pequeno país alemão? — o médico retrucou irônico, fazendo Lady Pembroke arregalar os olhos.

Um profundo silêncio instaurou-se no quarto, sendo o suficiente para trazer a atenção de Cathrine, que aproximou-se do impassível, quase distante, Richard. Ambos encarando atentamente o filho dormindo. Lady Pembroke, porém, deu as costas ao médico e afastou-se.

— Curioso que... não era o senhor um dos médicos tratando o príncipe Alfred em 1782? — Agora foi Markson que arregalou os olhos, amedrontado. Lady Pembroke sorriu satisfeita e acrescentou: — Ações cabíveis serão tomadas; a responsável por isso será castigada adequadamente, não é, Lucy?

Foi o bastante para fazer a criada voltar a chorar, agora muito mais amargamente que antes. Por que essa garota ainda não foi expulsa!? A marquesa encarou furiosamente a criada e... suspirou cansada, Cathrine não tinha mais forças para gritos e irritação. A preocupação dela era unicamente Adam.

— Poderíamos voltar ao mais importante, Dr. Markson? — Cathrine, trazendo a atenção do médico, aproximou-se da cama e começou a acariciar o loiro cabelo do filho. — Diga, por favor, que meu filho não corre perigo algum.

— Fizemos ele vomitar toda a água que engoliu — Lady Pembroke acrescentou ao médico e deu os ombros —, pelo menos eu creio que tenha sido toda a água.

O Dr. Markson assentiu e virou-se ao príncipe, agora cuidadosamente abraçado pela mãe. Nada foi dito, o médico estava pensando nas melhores palavras para usar. Observando isso, Cathrine apenas suspirou e encarou Richard, fitando ela e o filho de braços cruzados... em todos os sentidos. Até que Markson falou:

— O príncipe aparenta estar bem, por agora.

— Por agora? — Richard, franzindo o cenho, repetiu confuso, tanto que aproximou-se do médico. — O que o senhor quer dizer exatamente com "por agora"?

— Não podemos saber de imediato se o príncipe está bem ou não — o médico respondeu calmamente e virou-se ao príncipe. Cathrine e Richard se entreolharam, alarmados. — Fisicamente ele aparenta estar ileso, mas não há como saber ao certo o que acontece no interior dele.

O alarme do casal apenas aumentou com essas palavras, tanto que Cathrine, sentindo novamente uma grande vontade de chorar, abraçou fortemente o filho. Nem mesmo Richard conseguiu evitar a angústia e foi para junto dela e Adam. Porém Cathrine ainda teve forças para perguntar:

— Há alguma possibilidade desse incidente causar danos à saúde do meu filho?

— Muito possivelmente. — A marquesa arregalou os olhos em horror, até lágrimas ficaram visíveis. Richard imediatamente abraçou a esposa, enquanto Markson negou. — Estou sendo franco, senhora, nessas situações devemos sempre levar em consideração a fraca saúde do príncipe. De qualquer forma, estarei aqui novamente pela manhã.

Foram palavras de consolo, mas em nada consolaram Cathrine. A marquesa fechou os olhos e apoiou a cabeça no peito de Richard, essa situação estava sendo dolorosa demais para ela suportar! O aperto do marquês na esposa tornou-se mais forte, ambos sofriam profundamente.

— Que cuidados devemos ter enquanto isso, Markson? — Robert, assistindo tudo de uma poltrona, chamou então a atenção do médico, que piscou confusamente. — Imagino que o príncipe certamente necessite de um "tratamento especial".

— Mantenham o corpo dele aquecido e a cabeça sempre elevada — Markson respondeu e levantou da cama. Tão simples assim? O médico fez uma mesura à realeza e saiu... — Ah, e nunca deixem o príncipe sozinho, é vital ele ficar em profunda observação.

E o médico deixou o quarto, fazendo com que o silêncio retornasse forte e profundo, nem mesmo a "criada chorona" chorava mais. Cathrine suspirou ao perceber esse silêncio e pegou novamente Adam, ninando-o como se não houvesse ninguém observando. Era o filho dela, afinal de contas, o único filho, e Cathrine cuidaria dele.

A atenção da marquesa estava no filho, unicamente no filho, tanto que ela sequer percebeu Richard estendendo o braço envolta do ombro dela. Não até que ele sorriu na direção dela e do filho, então Cathrine também sorriu, embora muito fracamente. Porém esse silêncio não durou muito:

— Perdão, minha princesa, mas a senhora deseja que tragamos cobertas limpas? — Lady Pembroke perguntou receosa, mas a marquesa não respondeu, sequer olhou para ela. Sendo assim, a baronesa voltou-se a criada. — Lucy, diga às outras para trazerem...

— Não será necessário, Lady Pembroke, eu mesma ficarei com Adam — Cathrine, porém, ainda encarando o filho, avisou. Lady Pembroke iria assentir, mas a marquesa virou-se na direção dela. — A milady poderia trazer essas cobertas?

— Como desejar. — Lady Pembroke assentiu numa mesura e virou-se novamente a criada. — Fique a postos com as...

— Mais uma coisa, milady — novamente a marquesa interrompeu, chamando a atenção de ambas —, desejo que procure novas criadas para o berçário, as atuais estão dispensadas.

Lady Pembroke arregalou os olhos em surpresa, enquanto a criada exclamou em completo horror, tanto que negou, começou a chorar... e saiu correndo do quarto. Mas Cathrine... a calma no rosto de Cathrine sequer tremeu, ela simplesmente suspirou e voltou ao filho. O que foi ofensivo para Robert, que levantou da poltrona e exclamou:

— Mas, Cathrine, isso não é justo...

— Eu não sou justa, Robert! — a marquesa exclamou em resposta, voltando a respirar profundamente. Kendal calou-se, mesmo a contragosto. — Sou uma princesa, uma consorte e uma mãe, sendo assim, do berçário cuido eu!

E ninguém, a não ser Richard, poderia questionar as decisões dela nesse aspecto. Robert riu irônico e deixou o quarto, uma ação que Lady Pembroke também seguiu, para pegar as cobertas, no caso. O silêncio retornou e Cathrine beijou a cabeça de Adam. Richard, porém, voltou-se às damas de companhia.

— Prepare as cartas de recomendação delas, Lady Spencer; envie-as até para outras propriedades, se possível. — A condessa assentiu e deixou o quarto, sendo logo seguida pelas outras. Richard suspirou e, abraçando Cathrine, sussurrou no ouvido dela: — Nosso Adam está vivo, Cathrine, isso que importa.

Adam estava vivo, isso era o mais importante... Cathrine fechou os olhos e apoiou-se no marido, mas até quando?

*****

04|07|1803 Buckingham House, Londres

A carruagem do príncipe de Gales entrou vagarosamente pelo portão da Buckingham House, não tardando muito para frear em frente à entrada principal, onde a princesa Mary já esperava devotadamente pelo irmão.

— Sabe que é minha favorita, mas você está horrível, Mary! — o príncipe de Gales, franzindo o cenho, comentou assim que saiu da carruagem.

Mas não era um comentário completamente inapropriado ou rude, afinal a princesa sabia que olheiras e cansaço eram sinais de que algo não estava bom, e George também. Mary suspirou e estendeu a mão para o irmão beijá-la, coisa que ele imediatamente fez.

— Não andamos recebendo notícias muito alegres ultimamente, você sabe disse, Georgie. Preocupações e ansiedades tornam nossas noites insuportáveis! — Mais até que os surtos do rei ou da rainha. O príncipe assentiu, de qualquer forma. — Esperava que ao menos você tivesse alguma boa notícia.

— Recuperei-me recentemente de uma indisposição, isso serve? — ele sugeriu espirituoso, fazendo um pequeno sorriso surgir nos lábios da irmã.

De qualquer forma, o príncipe de Gales pegou o braço da princesa e ambos entraram na casa. Ele havia sido convocado urgentemente pelo rei, então o motivo deveria ser dos mais importantes... seria sobre a invasão francesa? Ou só alguma tolice envolvendo Caroline e Charlotte?

— A propósito, mamãe mandou dizer que mandou Lady Elgin trazer Charlotte, então não perca a cabeça se vê-la aqui. — a princesa avisou assim que eles chegaram no hall principal, para o desprazer de Georgie. Embora logo tenha lembrado de um desprazer. — E quanto a... Brunswick?

— Vi Caroline recentemente, até dei uma chance dela ir para onde quisesse no continente, sumisse de nossas vidas. — Até morresse de febre, se eles fossem sortudos. O príncipe, porém, negou e continuou: — Mas ela recusou, afirmando que não poderia abandonar Charlotte. Pergunto-me se essa "reunião" ou uma tentativa de dieta que me deixou doente?

— Caroline é uma criaturinha curiosamente inteligente, ela sabe que tem o apoio de tudo e todos, então, se desistir... — Mary pensou um momento e, quando eles chegaram a escadaria, deu os ombros. — ela perde tudo.

— Ela tem moscas zumbindo no ouvido dela, isso sim, zumbindo até demais — Georgie resmungou em resposta, mesmo que logo em seguida começado a sorrir presunçosamente para Mary. — Mas meu trunfo chegará, sei que chegará.

— A grande questão é só quando? — A princesa Elizabeth, porém, zombou assim que o irmão e Mary chegaram no final da escadaria. Sophia também estava junto, embora tentasse se afastar. — Eu já mandei você ficar parada, Sophia!

Mas essa não parecia a vontade da segunda princesa mais jovem, que mais parecia desejar fugir dali. E não sem razão, Elizabeth tinha nas mãos uma fita e parecia estar desejando tirar as medidas de Sophia. Foi o bastante para fazer o príncipe de Gales franzir confusamente o cenho.

— Pensava que a roupa das princesas também estava na jurisdição de mamãe — ele comentou, aproximando-se das irmãs e cumprimentando-as. Mas rapidamente Georgie apontou para a fita. — O que significa isso?

— A temporada de desfiles militares. — O príncipe de Gales franziu o cenho com as palavras de Sophia e fitou Mary, que negou. Mas o aniversário do rei já tinha passado. — Papai não disse nada oficialmente ainda, mas...

— Escutamos algo sobre "alimentar o patriotismo" e "mostrar a força dos nossos homens"! — Elizabeth explicou tão rapidamente que beirou a ansiedade. A confusão dele, porém, não desapareceu. Até que Elizabeth perguntou mais contida: — Ouvi dizer que os voluntários já passam dos 250 mil, é verdade?

Foi o bastante para que a atenção de todas as três princesas se voltassem ao príncipe de Gales, que ficou sem reação. Certos assuntos governamentais eram omitidos da rainha e, principalmente, as princesas, embora não dos príncipes. Mas o número de voluntários, o mesmo que os jornais falavam diariamente... Eles logo passariam dos 300 mil!

— Imagino que tenha sido por algo do tipo que papai tenha me chamado — o príncipe respondeu, voltando ao caminho de antes, embora... — Você não acha que está se precipitando, Elizabeth?

— Não. — E Elizabeth enrolou a fita na cintura de Sophia, franzindo o cenho em seguida. — Parece que você engordou.

Sophie ofendeu-se visivelmente com esse comentário, enquanto o príncipe riu altamente. Mas logo ele voltou a andar, deixando as três irmãs para trás. O rei e a rainha esperavam por ele, seja lá por qual motivo, então melhor ir logo. Georgie não queria perder os aumentos na mesada anual.

— Claro que não engordei; eu saberia se tivesse engordado. — Porém, atrás dele, a discussão das irmãs prevaleceu. Sophia ainda analisou a barriga, antes de encarar ferozmente Elizabeth. — Não engordei!

Não tardou muito e o príncipe de Gales chegou na sala do rei, a porta estava entreaberta e era possível escutar vozes claramente alteradas, mas vozes... alemãs? Foi o bastante para fazê-lo franzir o cenho e entrar abruptamente na sala, que imediatamente calou-se.

Mas logo o príncipe entendeu o motivo disso tudo. Entre os estóicos rei e rainha, ou talvez eleitor e eleitora de Hannover, estavam alguns militares hanoverianos e o chanceler do Eleitorado de Hannover. Todos olhavam fixamente para ele, que retribuía da mesma forma. Até que o rei levantou...

— Não é necessário papai, está claro para mim que o problema está na nossa casa ancestral alemã. — Mas o rei permaneceu em pé, encarando-o junto dos hanoverianos. O príncipe sorriu de lado e zombou: — O que houve, Cambridge acovardou-se ao ver os franceses?

— Seu irmão cumpriu seu dever com honra e coragem, Georgie — a rainha imediatamente respondeu, e muito ríspido, por sinal. Então por que da presença dele? — Mas nem sempre honra e coragem são o suficiente para vencer.

— Então ele acovardou — ele respondeu, novamente zombeteiro e riu. A lista dos fracassados finalmente havia fechado. — Quando Adolphus volta, por sinal? Quero ser o primeiro a rir dele por deixar os franceses entrarem em Hannover...

— Adolphus já está a caminho — o rei respondeu cortante, tão sério como se tivesse perdido um filho. E o soberano ainda acrescentou: — Hannover não é mais segura para nenhum de nós.

Mas o que ele queria dizer com isso? Como Hannover não era mais segura para eles!? Praticamente todos os filhos do rei, desde o duque de York, estudaram na Universidade Göttingen. O príncipe de Gales apenas negou, incapaz de entender isso. Então foi a vez do Sr. von Lenthe, o chanceler de Hannover dar um passo à frente.

— Como é do reconhecimento de Sua Alteza Real, Hannover foi invadido pelos franceses em maio. Uma retaliação contra os britânicos. — o chanceler começou devagar, sempre olhando para o rei, em busca de ajuda. — Em junho o general Mortier entrou em Hannover e... nossas tropas foram incapazes de contra-atacar.

O príncipe de Gales assentiu, ele lia os jornais que chegavam em Carlton House, por mais impossível que isso pudesse parecer. Mas...

— E o que isso significa, exatamente? — Von Lenthe novamente virou-se ao rei, que voltou a sentar. O príncipe franziu o cenho e também fitou o pai. — A diplomacia não diz que será feita uma convenção e depois o eleitorado liberto?

— Um tratado já foi redigido pelos franceses, Sua Alteza Real — um oficial alemão falou atrás do chanceler, aumentando a confusão do príncipe —, mas, quanto a Hannover...

A voz do oficial morreu depois disso, tanto que a ação seguinte dele foi simplesmente abaixar a cabeça. O silêncio instaurou-se na sala, bem como a ansiedade sobre Hannover. Até mesmo as princesas apareceram na porta, curiosas com tudo. Mas o rei logo tratou de falar:

— O Eleitorado de Hannover, o estado alemão que nossa família governa a séculos, a dignidade que nossa família conquistou com muito esforço de Leopold I, foi perdido. — O príncipe de Gales arregalou os olhos, negando veemente. Porém em vão. — Os franceses tomaram nosso poder, tomaram nossa soberania na Alemanha, eles tomaram... tomaram para si nossa Hannover.

E o silêncio retornou, firme e forte. Mas não havia o que falar ou comentar, Hannover perdeu-se.

*****

Palácio de Hampton Court, Londres

— Mas eu quero brincar! Não é legal passar o dia inteiro na cama — Adam queixou-se mal-humorado, embora logo em seguida tenha acrescentado com voz manhosa: — Por favor, mamãe!

E nesse momento Richard entrou no quarto, apenas para encontrar o filho olhando suplicante em direção a Cathrine, cuja expressão era mais preocupada que dividida. Adam era novo demais para realmente entender o que acontecia, o que não significava que ele estava isento das consequências.

— Expressões carentes e palavras doces não funcionarão dessa vez, Adam. — A firmeza na voz dele trouxe instantaneamente a atenção de Cathrine e Adam. Richard aproximou-se da cama e encarou sério o filho. — O Dr. Markson receitou descanso, então descanso você terá.

— Mas não gosto de ficar deitado, e nem de descansar! — Adam resmungou cruzando os braços, fazendo Richard negar sorrindo. E que criança gosta? Logo, porém, o principezinho voltou a sorrir... animadamente. — E se eu usar um fáeton?

— Nesse caso, poderíamos considerar o seu pedido, — Cathrine direcionou imediatamente um olhar censurador para Richard, que sorriu petulante e a abraçou por trás. — não é, Cathrine?

Ela não respondeu, apenas encarou fixamente o marido. A estratégia dele foi baixa, Richard sabia disso, afinal ele estava mexendo num dos maiores desejos de Cathrine. Mas Adam precisava de alguma alegria, uma esperança, então por que não? A marquesa fechou os olhos e virou-se ao filho.

— Tudo para sua alegria, meu favo. — Cathrine sorriu e acariciou o rosto do filho. Era perceptível o desânimo dela, tanto que Richard tentou abraçá-la... mas Cathrine levantou. — Creio que está na hora do seu tônico, Adam; vou lá fora pegá-lo.

Tão rápido quanto uma criança mudava de sentimentos, Cathrine saiu do quarto. Nada de beijos ou palavras de amor, ela apenas saiu e o fez quase com lágrimas nos olhos. Qual seria o problema da vez, hein? Richard respirou fundo e deu um largo sorriso ao filho.

— Chocolate quente é ótimo para a saúde, sabia? — Adam negou, tentando esboçar um sorrisinho. Então até crianças percebiam os problemas. Richard bagunçou o cabelo do filho. — Vou lá pegar um pouco para você.

Adam novamente sorriu, agora mais verdadeiramente, porém bastou Richard deixar o quarto para que esse sorriso morresse. Crianças realmente conseguiam perceber quando algo estava errado, embora não entendessem ao certo. De qualquer forma, Adam deitou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos.

Assim que pisou na antecâmara, Richard encontrou Cathrine, de cabeça baixa e apoiando as mãos numa mesinha. Ela parecia profundamente aflita e cansada, e como não estaria sendo que não dormia direito desde anteontem? Mas Richard sabia qual o motivo exato dessa aflição.

— Você não deveria ter dado aquelas falsas esperanças ao nosso filho, Richard — Cathrine sussurrou contida, confirmando os pensamentos do marquês. — Você sabe que ele ainda não está bem o suficiente para sair de casa.

— Adam é uma criança, Cathrine, sair e respirar a "liberdade" não fará mal, na verdade, o contrário que o fará. — Ainda assim, ela negou veemente. Richard continuou se aproximando.

— O Dr. Markson receitou profundo descanso, além de observação. — Mas isso foi há dois dias! Markson já analisou Adam muitas vezes desde então. Cathrine, sentindo a presença dele, respirou fundo e acrescentou... fria: — Você não deveria usar meus sentimentos contra mim, principalmente ao lidarmos com Adam.

Os sentimentos... Tomando o lado da esposa, Richard fechou os olhos e suspirou. Saber o motivo de uma desavença sempre era uma vantagem, mas não o suficiente para superar a desvantagem. Numa situação dessas, Richard tinha apenas duas opções, porém paciência para apenas uma delas.

— Ele está tão agitado hoje, não acha? Pergunto-me, às vezes, como aquilo se torna isso — ele começou, rindo e apontando ironicamente para si mesmo. Porém Cathrine sequer olhou para ele. — Imagine a preocupação que os outros também darão.

Agora a atenção da marquesa foi conquistada, tanto que ela franziu o cenho e ergueu novamente a cabeça, perguntando lentamente:

— Os outros? — Cathrine virou-se para Richard, tão fria quanto um... Tudor-Habsburg. — Que outros, Richard?

— Nossos futuros filhos...

— E você ainda acha que teremos filhos!? — ela exclamou cética, afastando-se dele. Mas agora foi Richard quem franziu o cenho, horrorizado com isso!

— Por que não!? Cathrine, não temos nem 25 anos! — Mas ela negou do mesmo modo. Richard também negou, embora por um motivo diferente. — Essas suas inseguranças são estúpidas! Somos tão jovens e... Talvez seja por isso que não tenhamos filhos, por causa da sua insegurança!

A marquesa imediatamente parou de andar, bem como o marquês de falar. Um silêncio profundo e frio instaurou-se entre os dois. O tom que Richard usou nessas últimas palavras, a culpa colocada. A única ação do marquês foi erguer orgulhosamente a cabeça, exatamente no momento que Cathrine virou-se na direção dele.

O que Richard tinha de coragem quase deixou o corpo dele com isso, não apenas fúria nos olhos dela, mas também ofensa e... desapontamento. Cathrine aproximou-se lentamente dele, quase numa ameaça.

— E como ser autoconfiante ao ver seu filho, seu único filho, sua única esperança, quase morrer!? — Richard arregalou os olhos, enquanto os de Cathrine encheram de lágrimas. — Vamos, Sr. Autoconfiança, diga-me como ser autoconfiante! Como ser autoconfiante ao ver todas as suas gestações falharem!? Como ser autoconfiante ao esperar ansiosamente todo mês pelas suas regras! Vamos, diga!

Richard ficou em silêncio, apenas encarando Cathrine, cuja respiração agora estava muito pesada. Não havia como ele dizer uma coisa dessas, era impossível! Mas algo deveria ser dito, principalmente agora. O marquês tentou pegar a mão da esposa, que afastou-se.

— Cathrine, eu... Mais que inferno! — As palavras não vinham à cabeça dele. Então Richard começou a andar ansiosamente... e abriu o coração. — Toda essa situação também não me alegra, Cathrine; eu também fico inseguro às vezes. Quando não dá certo, quando a gravidez é interrompida... Eu também sofro, Cathrine! Nós dois que formamos essa instituição, nós dois!

— Eu sei, mas... Não é fácil ser uma "procriadora"! — Cathrine, parada no mesmo lugar, exclamou contida.

— E nem um garanhão — mas ele a respondeu, igualmente contido. Cathrine franziu o cenho, então Richard explicou: — Nesse grande jogo de monarquia e realeza, somos, acima de tudo, um garanhão e uma égua. Nosso principal dever é garantir o futuro.

— O que torna tudo ainda pior. — Cathrine sussurrou aflita. Richard, aproximando-se da esposa, assentiu; ela estava começando a entender. — Toda essa pressão é terrível, Richard! Minha própria consciência diz que sou um fracasso!

Essas últimas palavras, ditas com tanta angústia, tocaram fundo no coração do marquês, tanto que ele abraçou Cathrine.

— Mas se não acreditamos em nós mesmos, quem fará isso por nós? — O marquês encarou fixamente os olhos da esposa, esperando alguma resposta, mas ela assentiu. Ninguém poderia ter filhos por eles.

Não tardou muito e os dois findaram o abraço, indo cada um logo em seguida pegar o tônico e chocolate quente de Adam. Porém, não precisou nem Richard deixar o berçário, para Cathrine voltar do dormitório a avisar que o filho deles estava dormindo.

— Nosso Adam ficará bem — Cathrine, num determinado momento, perguntou ao marido, enquanto observavam o príncipe dormir —, não é, Richard?

— Certas coisas não podemos afirmar nem na esperança, Cathrine. — Nem mesmo a saúde do filho deles. Cathrine fechou os olhos e apoiou-se em Richard, que continuou: — Apenas tenhamos esperança. Lembremos também de sempre estarmos juntos; nossa força será a força dele. E no que depender de nós, Adam viverá muito e muito.

Cabia apenas isso a eles, era a melhor escolha a se fazer. E os dois continuaram a observar o pequeno príncipe Adam dormindo.


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Notas finais do capítulo

* E vamos aqui explicar algo sobre o Império Russo. Vocês, meu amados leitores, já deve ter percebido que chamo os governantes russos de imperadores — como imperador Pavel ou imperador Alexandre — quando a grande maioria dos escritores e produções audiovisuais os dão o título de "Czar", ou "Tsar", como os russos gostam de chamar. Por que eu faço isso? Simplesmente porque o certo é imperador, não czar. Como assim? Bem, para começar... Não existia uma Rússia antes de 1547. Antes disso o território hoje conhecido como Rússia era dividido em estado, tal como a Alemanha e Itália, com uma cultura semelhante, porém heterogênea. O mais poderoso desses estados era o Principado de Moscou, que durante o século XVI conquistou os outros estados, fazendo com que os governantes começassem a usar o título de Grão-Príncipe, e até Czar. Isso até que em 1547 Ivan, o Terrível, foi coroado Czar de Toda a Rússia. Esse sistema de czarismo durou mais de um século, até que Pedro, o Grande, desejando ocidentalizar a Rússia, e após ganhar guerras e mais terras, elevou a Rússia para império. Ou seja, a Rússia foi um principado, um grão-principado, um czarismo e, por fim, um império. Sendo assim, o certo é chamar o governante do Império da Rússia de imperador da Rússia — imperador Alexandre, imperador Nicholas, não czar Alexandre ou czar Nicholas. Sem contar que não gosto dessas palavras, parecem estranhas nos meus ouvidos. E fica pior ainda quando referindo-se a mulheres. De qualquer forma, eis minha explicação.

* Isso também pode levar a outro questionamento. Recentemente eu estava lendo algumas histórias, creio que mais antigas, sobre o Império Alemão e o Império Austríaco, lá os imperadores era chamados de Kaiser, que é a tradução em alemão para a palavra imperador. Usar kaiser não estaria errado, claro, mas eu não gosto de usar. Por quê? Acho uma palavra muito estranha, tente dizer "imperador Franz Joseph" e "kaiser Franz Joseph" em voz alta, qual fica melhor? Há também kaiserin, que é imperatriz em alemão, nesse caso acho mais estranho ainda. Dizer em voz alta kaiserin Maria Theresia, não fica como imperatriz Maria Theresia. O alemão é uma língua curiosa, e eu promovo uma mistura do alemão com o português em minhas histórias, para deixar tudo mais harmonioso. Além do mais, se todos os títulos alemães fossem em alemão, as coisas seriam como: Fürst von Niedersieg, referindo-se a príncipe de Niedersieg, e Fürstin von Niedersieg, referindo-se a princesa. Não teria a mesmo emoção. Vamos deixar o alemão, assim como o estrangeirismo, no seu devido lugar.

* E os britânicos estão realmente numa situação alarmante, não? A Invasão a Hannover foi um golpe duro ao rei George III, agora falando historicamente, porque os britânicos justamente perderam uma "voz" mais presente do continente, que era o que Hannover significava. Para falar a verdade eu queria falar mais sobre o assunto, mas com tantas invasões e guerras seria desnecessário. Os próximos capítulos serão emocionantes, tenham certeza!

* "Era Uma Vez... Uma Ilusão" também está no Pinterest: https://pin.it/YkFNOTH7B



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