Arautos do Fim do Mundo escrita por Sorima


Capítulo 2
Baladas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Andei aparentemente relaxada entre a pequena multidão que se reuniu para ver as apresentações dos artistas que viajavam conosco ou que por acaso se encontravam por ali enquanto realizávamos a feira. Minhas orelhas buscavam o som vibrante que o instrumento conhecido produzia. Não foi muito difícil. Um grupo maior estava reunido ao redor da fonte d’água central de Jargre soltando exclamações maravilhadas em torno de um bardo incomum de voz agradável.

Me aproximei para vê-lo se apresentar. Um sujeito de aparência jovem, de pele quase azulada em seu tom claro, o rosto emoldurado por longos cabelos pretos e os olhos azuis misteriosos, mas o que chamava mais atenção eram suas orelhas pontudas, característica de um elfo. Ele cantava músicas folclóricas com sua voz aveludada e dedos ágeis dedilhando o alaúde, fazendo o acompanhamento. E o que gerava as exclamações de encantamento na plateia era uma poeira prateada que dançava no ar ilustrando a história cantada.

— “Em uma terra distante uma estrela nasceu revelando-se mais do que era, diversos títulos, nomes e alusões. Bençãos ou maldições? Revela a esperança de um fim...” – Erevan Galanodel, o mestre de meu mestre cantava.

Retirei o capuz olhando atentamente: deitada ao lado do elfo, olhando fixamente para mim havia uma gata tricolor, ou assim parecia para os desinformados. Agitei uma das orelhas, um cumprimento discreto que foi respondido pela minha mãe adotiva, Névoa Serena do Lago.

—“Agora, quem sabe quantos a criticam, pois querem continuar a dançar. Nesta balada amaldiçoada que o bardo está a cantar, a resposta de sonhos e desejos que querem realizar, há de esperar o aviso final que não tardara a chegar” – a poeira que mostrava casais bailando de repente se encheu de monstros das trevas que os devoravam – “Fogo e sangue que preenchem os vãos e gritos de dor e louvor retumbarão, perdas e ganhos se equilibrarão ou despertarão o horror?”

O bardo fez uma pausa dramática e a poeira se uniu em uma espiral antes de congelar no ar.

— “Nunca se sabe quantas voltas a estrela dará antes de encontrar um desfecho. Seja na vitória ou amarga derrota, a vida encontrará o seu fim”.

Ele concluiu sua apresentação com uma última nota solitária e então fez uma reverência para as poucas e hesitantes palmas que a plateia lhe deu. Então ergueu o rosto com um sorriso e disse:

— Vamos retornar às músicas mais acolhedoras para evitar pesadelos, certo?

Então começou a cantar baladas mais animadas e a plateia se alegrou rapidamente batendo palmas ou pés quando a música “Peteleco, o Halfling ladrão de joias” expurgou o ar macabro que a anterior gerou.

O mestre bardo reconhecido no reino reconquistou sua plateia rapidamente e logo outros bardos se juntaram a ele para entretenimento dos moradores do vilarejo. Decidi ver a apresentação mais afastada, fora da confusão de pessoas agitadas, por isso tornei a pôr o capuz e me encostei no pilar de uma das barracas próximas. Notei Serena se aproximando em um gingado tranquilo com os quatro apoios, muitas vezes ela preferia deixar Erevan em foco para ter paz, mas sempre que participava das apresentações se mostrava uma excelente contadora de histórias.

— Quantos anos, Sombra! – Ela sussurrou para mim.

— É verdade, Serena. Vocês parecem bem. – Sussurrei de volta, sorrindo.

Ela ficou em silêncio, o que me fez franzir a testa. Decidi pular as introduções.

— Por que estão aqui?

— Precisamos conversar um assunto urgente. – Ela respondeu, sua cauda se agitava nervosamente de um lado para o outro.

— Por isso que um bardo tão renomado veio para uma cidadezinha tão longe da capital. – A voz de Aseir se fez ouvir enquanto ele se materializava nas sombras próximas, me fazendo estremecer.

De fato, um mestre. Constatei enquanto os bardos começavam a balada do “Cavaleiro azarado” arrancando gargalhadas da plateia.


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