Contos da Madrugada escrita por Carlitos


Capítulo 3
Amizade em uma tarde quente




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Tinha uma TV e uma pizza. Uma lata de Coca-Cola. Era o que bastava. Pés no braço do sofá, calçados em All-Stars pretos. Uma tarde inteira para pensar.

 

Para viver. Para passar o tempo. Deixar-se num estado de preguiça, numa rotina desregrada. Já tinha um tempo que tinha ficado com Marcela, em uma noite cálida, intensa. De intensidade. Da intensidade que já não sentia com qualquer outra coisa, a não ser com ela.

 

Que lhe era toda sorrisos, todo olhar. Lembrava-se muito disso: do olhar — o olhar — de Marcela fitá-la, a lhe acariciar o corpo. Da pele com a pele.

 

O sol adentrava o apartamento, e pensava: “E se eu morasse só?” Tinha o apartamento só pra si, como quando da última vez em que chamou Marcela. Poderia até chamá-la, se assim quisesse. Talvez daqui a pouco a chame.

 

Mas pensava, “E se eu morasse só?” Talvez uma vontade de ser dona de si própria, algo que lhe crescia agora. Algo maior, que veio junto com a coragem de ficar com outra mulher. Sempre foi uma menina comportada, uma menina que sempre fez o que lhe pediam. Mas não agora. Não agora que finalmente tivera a audácia de se entregar para o que sempre quis.

 

Agora tinha a coragem, sentia-lhe escorrer pelos dedos, a coragem de ser o que quisesse, a vontade de fazer somente o que quisesse. Seria mais, agora tinha a plenitude de saber que poderia ser tudo o que pudesse. E, com a calma própria dos jovens que acham que viverão para sempre, deixava-se ficar ali, apenas a esperar no sofá, a olhar para o nada.

 

Uma TV, uma pizza pela metade, All-Stars, uma regata vermelha. Olhar para o teto, uma tarde ensolarada e quente se desenrolando na sua frente. Nada para fazer, ninguém com quem conversar. O silêncio. Pensamentos. Vontades a lhe passar pela cabeça. Seu amigo da faculdade.

 

Seu amigo, sempre certinho. Um grande coração com pernas e braços, sempre ali, a lhe apoiar, como um porto seguro. Um “amigão”. Alguém que ela considerava. Alguém para se abrir, para conversar. Mas ele queria algo mais. Queria dar um passo a mais, passar adiante na relação. Mas, por quê, por que as pessoas têm disso; por que se forçar algo, se do jeito que está, já está perfeito? Ora, André é seu amigo, não há segredo que um não conheça do outro, a não ser o que ela fez com Marcela, que ela não teve coragem de dizer… Já não está bom, para que essa ganância?

 

Mas, por outro lado, talvez tivesse aí uma possibilidade… Não, ele não entederia. Ele é muito certinho. Sequer ele aceitaria… E, mesmo se aceitasse, ele não iria se contentar, iria querer namorar com ela. Sem chance. Namorar não, mas se passava agora uma vontade, uma curiosidade, como seria ficar com André? Como seria o amor de alguém apaixonado? Qual seria a intensidade? Já sabia como era o sexo com outra mulher, mas como seria se relacionar com alguém que – pelo menos – se diz apaixonado por você?

 

Levantou-se do sofá e colocou Come Together, dos Beatles, para tocar. A música fazia-lhe pensar. E ia pensando aqui, “É errado, e é melhor nem pensar nisso”, mas como será que seria? O que ele faria? Como a trataria?

 

Tudo bem, era errado mesmo e seria brincar com os sentimentos dele. Ele a amava, ou dizia que a amava, e se ela cedesse, ela estaria lhe dando esperanças. Que seriam vãs. Era verdade que pensava consigo, “Ele não é feio, me trata bem, é inteligente”, mas sentia que lhe faltava algo. Sentia que ele não era bem o que ela queria.

 

Mas agora tinha isso, essa curiosidade, e esse fogo de conhecer, descobrir como seria se entregar a ele, como seria ficar com ele. Mas não, melhor não fazer isso.

 

Mas os pensamentos não passam, ficam estacionados. E se pegou pensando nele, nos cabelos dele que ele penteava de lado, sem nem saber o porquê de pensar naquilo. E então refletiu sobre o que era exatamente que faltava nele. E, mais uma vez, concluiu que o que lhe faltava era atitude; pois era um amigo, uma pessoa dócil e mansa até demais.

 

Contudo, porque agora ela pensava nele? Agora, depois de ter ficado com Marcela, e percebido que com mulheres é muito melhor? Que com os homens com quem ficara antes não foram tão bons, não se sentiu tão satisfeita. Mas, tinha esse algo, essa vontade, e, pensando bem…

 

Chamou André para seu apartamento, inventou um pretexto, alguma coisa para estudarem. Tomou banho, vestiu uma roupa bonita, passou creme e perfume. Olhou-se no espelho. Algo mudou nela depois que ficou com Marcela, sua autoconfiança aumentara; sua malemolência, como um felino que se liberta do cativeiro e corre livre pelas savanas. Finalmente era quem queria, sentia isso; finalmente se tornava a pessoa que sempre quis ser.

 

Quando André chegou, ficou desconcertado quando a viu. Ela, cínica, agiu naturalmente, como se estudar eles fossem. Sentaram-se no sofá, ela sorria, ele sorria de volta.

 

— André, sei que você quer umas coisas comigo… – ela lhe dizia, sua mão percorrendo o braço dele. – Sabe, andei pensando… Fiquei reparando em você ultimamente. Acho que a gente podia tentar, sabe…

 

André ficou ali, parado. Não tinha palavras, apenas olhava para Marcela, com seus olhos, sua boca, ali, lhe dizendo aquelas coisas. Ele não sabia bem o que responder, e era isso que Juliana achava que faltava nele. Mas ali isso já nem importava, ele tinha ganhado na loteria e apercebeu-se disso.

 

— Mas não vai se apaixonar, não… 

 

Seus olhos, seu sorriso, que belo sorriso! Que belas curvas; Juliana trouxe a mão até a nuca de André; olhos vidrados, um ao outro; tensão, química. Ele só via ela, e nem se apercebeu de quando ela, decidida, cola seus lábios nos dele, e ele só agora se percebe ali, a ser beijado por Juliana. E corresponde; tomando o controle da situação, abraça Juliana e a empurra contra o sofá, ficando por cima e possuindo-a em seus braços.

 

Ali, naquele sofá, a TV e a sala de testemunha. Era bom, delicioso, aquele toque, aquela pele, o tato. O cheiro de Juliana lhe inebriava, embriagava-se daquela mulher em seus braços – só seus –, ele a possuía naquele sofá. E era bom, delicioso.

 

Com mais intensidade queria envolver-se, enrolar-se naquela mulher de cabelos ruivos, de pele corada, corada agora. Ela gemia, suspirava por debaixo de seu abraço, cada sussurro o excitava mais. Desceu até o pescoço de Juliana, mordiscava-o, sentia-o em sua boca, chupava. Queria deixá-la roxa para que todos vissem as marcas que deixaria.

 

Sussurros, arrepios; ela estava surpresa, não esperava que fosse assim, que seria tão intenso; não esperava testemunhar tanta vontade. Era bom, ótimo; era diferente! Diferente de Marcela. O toque de Marcela era como de alguém que sabe onde chegar; era como o de uma mulher que sabe onde se deve estimular.

 

Já o de André era surpreendente; era o toque que chegava e explorava  em lugares inesperados que nem ela conhecia. E era igualmente bom, e era muito melhor do que qualquer homem já a tivera feito sentir. Seria, então, isso a paixão? Era isso que a paixão propiciava, seria esse o fogo dos apaixonados?

 

Numa relação em que ela tinha clara vantagem. Ele, que se dizia apaixonado, e estava apaixonado; ali, a se saciar de sua Juliana, sua vítima, o objeto de sua paixão. E ela ali, a aproveitar, a se deleitar, a brincar e sentir toda essa paixão a explorar seu corpo. 

 

Primeiro a blusa, depois o sutiã; peça a peça Andre ia desnudando Juliana, ao mesmo tempo que tirava as suas próprias roupas. Unhas a arranhar as costas um do outro, o prazer pelo incômodo, a se saciarem um do outro. Seus lábios percorrendo todo o corpo dela, toda ela entregue a ele. Foi mesmo uma tarde longa, em que ele se sentiu satisfeito no final. E ela também.

 

 




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