Te Prender Me Odiando - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - Te Prender Me Odiando




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A professora de Geografia passou uma prova de múltipla escolha e informou que quem acabasse teria a prova corrigida na hora e em seguida poderia sair da sala desde que os alunos prometessem se comportar lá fora, o que obviamente todos toparam na hora.

Essa não era a melhor matéria de Valéria, mas ela havia estudado bastante, então estava confiante de que se sairia bem. Seu objetivo era ser melhor em todas as matérias. Não A Melhor, mas melhor que uma pessoa em específico.

Assim que a professora lhe entregou a prova de volta, agora corrigida, a instruiu a olhar o resultado só do lado de fora para que sua reação não atrapalhasse os demais alunos, fosse ela boa ou ruim. Ela balançou a cabeça em afirmação, saiu de sala e foi para o pátio da escola.

— Val! — Carmen chamou animada assim que a viu, fazendo um sinal para que ela viesse sentar ao seu lado no banco de concreto pintado de amarelo onde estava. — Vem cá, me conta como você foi.

— Ainda não sei. — Valéria respondeu sorrindo enquanto se aproximava, pegando o papel que havia dobrado e enfiado no bolso. — Vou olhar agora.

Carmen observou o sorriso dela sumir ao olhar o canto superior direito da prova.

— Amiga, calma... — tentou sem sucesso.

— Mas que inferno! — Valéria exclamou o mais baixo que conseguiu, apertando o papel e tentando com todas as forças segurar o impulso de rasgá-lo.

“Vai começar.” — Carmen pensou, revirando os olhos enquanto seguia a amiga para o banheiro. Já estava acostumada com esses momentos de ira dela.

— Respira, Val. Deixa eu ver essa prova. — pediu depois de fechar a porta.

Valéria entregou a folha em um movimento brusco e começou a andar pelo banheiro com as mãos apertadas em punho. Queria quebrar alguma coisa, mas não podia simplesmente vandalizar a escola, então só lhe restava andar com passos duros e bufar irritada.

— Ai, pelo amor de Deus, Valéria. — Carmen resmungou com voz de desdém. — Você detesta Geografia e mesmo assim tirou nove, que aliás é uma nota excelente.

— Nove não é dez, Carmen. — ela resmungou de volta, batendo ambas as mãos na pia de mármore. — Isso quer dizer que a Maria Joaquina ainda pode ter tirado mais do que eu.

— Para, né? Essa prova tava difícil. Até eu tirei nove e meio, e sou muito mais inteligente que vocês duas juntas. Modéstia à parte. — constatou, dobrando a prova da amiga e devolvendo para ela. — Se ela só tem margem pra errar uma pergunta, eu duvido que tenha te passado.

— Mesmo assim. Vou ficar irritada até ter certeza de que ela tirou menos do que eu. — Valéria sentenciou, cruzando os braços e fechando ainda mais a cara.

— Eu não entendo, Val. Nunca te vi competir com ninguém como compete com ela e eu não sei porque. — Carmen também cruzou os braços.

— Você fala como se ela não competisse comigo também. — Valéria a encarou com uma sobrancelha arqueada.

— É, mas só ela compete de volta. Foi você quem começou com isso há uns dois anos e desde então as duas tem essa birra da cara uma da outra. — constatou o óbvio.

— Nada a ver. — murmurou baixo, recebendo um olhar cético como resposta. — Ok! Eu admito. Mas é só olhar pra ela. A Maria Joaquina é metida, irritante... E age como se soubesse de tudo. Ai, dá raiva só de falar.

— Para de mentir, eu e o Daniel somos mais irritantes sabe-tudo que ela e mesmo assim você tá tendo toda uma reação exagerada sem nem saber a nota dela enquanto eu já disse que tirei mais que você e você nem ligou. — replicou, começando a ficar irritada por saber que uma de suas melhores amigas estava mentindo para ela tão na cara dura.

— Olha... Isso não é mentira, ok? — Valéria finalmente descruzou os braços e baixou a guarda. — Só não é a verdade toda.

— Então me conta o resto. — pediu em um tom mais suave.

— Eu quero contar isso pra alguém, mas... Eu preciso que você prometa que não vai me julgar. — a voz dela estava quase sumindo, era a primeira vez que Valéria parecia insegura com qualquer coisa na vida.

— Qual é, Val? Sou eu. — Carmen se aproximou e olhou-a no fundo dos olhos para expor toda a sua sinceridade. — Eu nunca te julgaria.

— Tá bom. — Valéria respirou fundo e fechou os olhos, não conseguiria dizer isso em voz alta encarando a amiga. — Eu gosto da Maria Joaquina.

Por um momento Carmen soltou uma gargalhada gostosa, imaginando que aquilo era uma piada para aliviar o clima, mas a expressão que Valéria fez indicava que era verdade.

— Pera aí, é sério? Como assim? Você, tipo... Odeia ela.

— Não odeio. Eu só odeio saber que o que eu sinto por ela nunca vai ser recíproco. — confessou, soltando um suspiro e em seguida voltando a falar em tom de raiva. — Mas eu me recuso a ficar sofrendo por uma garota. Eu prefiro odiar ela do que gostar dela sozinha. E quero prender ela me odiando e poder saber que pelo menos isso é totalmente mútuo.

— Val... Eu nunca te julgaria por gostar de alguém. Só não acho que isso é jeito saudável de lidar com as coisas. — Carmen constatou, colocando a mão no ombro dela e dando um sorriso complacente.

— Eu sei. Mas é assim que eu consigo agora. — Valéria respondeu, dando de ombros.

— Entendo. Sentimentos são coisas muito complexas.

— É.

Um silêncio estranho tomou conta do banheiro até que Carmen deu uma olhada em seu relógio de pulso e pigarrou, constatando. — Está quase na hora do intervalo. Quer ir pra cantina antes do sinal tocar e evitar a muvuca?

— Pode ir na frente. Eu acho que preciso de um momento sozinha pra processar que eu realmente assumi pra alguém não só que sou bissexual, mas que eu gosto da metidinha da Maria Joaquina. — Valéria respondeu com um sorriso de canto.

— Tudo bem, eu respeito seu espaço. — ironicamente o que Carmen fez depois de dizer isso foi abraçar a amiga por um momento um tanto quanto longo demais, só então saiu dali.

Valéria estava tão perdida em sua montanha russa de emoções que não ouviu o barulho de uma das cabines do banheiro sendo aberta, só sentiu-se ser virada bruscamente e prensada contra uma das paredes do banheiro.

— M-maria Joaquina? — perguntou retoricamente, encarando os olhos claro que nunca havia visto tão de perto.

Antes de dizer qualquer coisa, Maria Joaquina selou seus lábios em um beijo afoito e até intenso. Não só para provar que o que diria a seguir era sério, mas também porque queria fazer isso há muito tempo.

— Se você simplesmente tivesse me contado sobre isso, nenhuma de nós duas precisaria ter perdido tanto tempo fingindo odiar a outra. — murmurou com um sorriso fofo que em nada parecia o sorrisinho prepotente que ela costumava carregar. — Ah! E eu tirei nove também. Se você ainda quer saber.

Valéria riu e rodeou o pescoço dela com os braços. — Sinceramente, depois desse beijo eu não quero saber de mais nada.

— Ótimo. — Maria Joaquina respondeu e voltou a beijá-la.

Elas ainda tinham muito o que conversar para esclarecer tudo direito, mas por enquanto esse já era um ótimo recomeço para ambas.


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