Contrato & Curiosidades escrita por EsmeraldeRomantica


Capítulo 1
Reencontro




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— Hoje está sendo um dia bem quente e apenas consigo pensar em uma deliciosa casquinha de sorvete de chocolate com menta. Deveríamos ir a sorveteria depois de passar em minha casa e antes de irmos ao cinema.

— Por mim tudo bem, vou adorar uma casquinha de morango - Pego minha mochila lilás pela alça e a coloco nas costas. Theo segura na minha mão direita antes de começarmos a andar.

A sala de aula já se encontra vazia quando saímos como em todos os outros dias. Não entendo a razão dos alunos se amontoarem perto do portão com o último sinal do dia para saírem ao mesmo tempo. Prefiro deixar a escola quando esta situação já se acalmou e meu namorado pensa o mesmo, ou Theo espera por minha causa.

O que precisam saber sobre o Theo: ele é um rapaz legal e estamos juntos a seis meses, muito mais do que achei ser possível no início. Gosto muito dele. Amar é um termo forte demais, nem sei se acredito em tal sentimento, mas temos uma ótima relação e sou feliz ao estar com ele.

O único problema em nosso relacionamento são as mentiras. Mentiras as quais eu conto. Não é minha intenção, mas existem coisas que eu não posso contar.

Detalhes que eu não quero compartilhar.

Meus segredos são a razão de estamos indo na casa dele hoje e não na minha.

Minha mãe nem sonha que tenho um namorado. Ela jamais aprovaria e por isso todos os dias falo para ela que vou a casa de uma amiga que é minha colega de estudo. Enquanto para Theo, digo que minha mãe está muito ocupada com o trabalho para conhecê-lo, mas que assim que possível fará um jantar em casa.

Não sei mais quanto tempo conseguirei enrolá-lo e minhas desculpas já estão se esgotando. Minha mãe pode ser bastante ocupada com a carreira de advogada, mas já teve tempo para pelo menos uns dez momentos que poderia conhece-lo e costumo inventar histórias de processos para Theo em justificativa.

— Será comédia romântica ou finalmente posso escolher algo de terror? – Theo pergunta durante o nosso curto percurso da sala até o portão de saída da escola.

— Não vamos assistir um filme de terror. Nunca. – quando digo nunca, é nunca mesmo, morro de medo de filme de terror. Confesso que sou medrosa, tem determinados filmes que nem são exatamente de terror e já não gosto de assistir.

— Nem sabendo que estou ao seu lado, preparado para lhe abraçar quando ficar com medo? – faço uma careta pensativa e suspiro, o fazendo pensar que estou cedendo por um momento ao imaginar a situação.

— Não. Gosto de pensar que está ao meu lado em uma comédia romântica.

Digo com um sorriso no rosto que se desmancha quando olho para o lado direito da rua e o vejo entre os alunos que conversam ou esperam uma condução perto do portão da escola que acabamos de cruzar. Meu coração erra uma batida quando o vejo escorado em uma SUV preta, estacionado a poucos metros da entrada da escola, usando óculos escuro e mexendo no celular despreocupadamente.

Faz cinco meses que não vejo Jordan e ele mudou muito nesse pouco tempo. Jordan ganhou um corpo atlético notável pela sua camiseta polo branca justa e exibe uma pele bronzeada. Seu cabelo levemente despenteado o dá um ar sexy.

Se tornou o tipo de rapaz que não percebe a atenção que está atraindo das garotas ou se nota, apenas ignora.

— Desculpa querido... – falo entrando na frente do meu namorado. Solto a minha mão direita e coloco a palma aberta no centro do peitoral de Theo, o parando e em um gesto de sentir muito. Penso rapidamente na minha próxima mentira – lembrei que minha mãe queria que eu fosse no escritório hoje. Ela continua tentando me convencer a seguir seus passos.

Não é exatamente mentira. Minha mãe tem mesmo tentado me convencer a cursar o mesmo que ela e meu pai, para um dia assumir o comando do escritório de advocacia que construíram juntos. Porém ela não me pediu para que eu fosse lá hoje.

— Mesmo? Talvez eu pudesse ir e finalmente conhecê-la.

— Seria incrível, mas o discurso dela sobre advocacia não irá lhe agradar – tento soar natural. Não posso parecer alarmada demais para me esquivar dele o mais rápido possível - garanto que em breve irão se conhecer – deposito um rápido beijo em sua bochecha – o cinema fica para amanhã.

— Como quiser ruivinha – viro o meu rosto e o beijo de despedida que ele pretendia me dar, acaba sendo depositado no canto da minha boca. Theo me olha com um ar de interrogação, mas se vira começando o seu próprio caminho, rumo a sua casa e abaixo a minha mão. Minha casa, felizmente, é na direção contrária e quando vejo o Theo chegar à esquina, respiro fundo e caminho em direção ao Jordan.

— O que está fazendo aqui? – tento controlar as emoções em minha voz no momento que fico parada na sua frente, tentando não soar brava e sim indiferente a presença dele.

Jordan desliga o celular e coloca o aparelho no bolso. Tira os óculos de sol e coloca-o na gola da camisa branca, ações estas preguiçosas. Os olhos castanhos me analisam de cima abaixo como se estivesse conferindo se tratar de mim mesma ou apenas pensando no que responder.

— Aurora, minha querida noiva – as palavras que usa para se referir a mim e seu tom de voz que sugere possuir certo poder sobre minha pessoa, me irritam um pouco, mas tento não parecer afetada – não deveria me cumprimentar assim após meses sem nos vermos.

— Então como deveria lhe cumprimentar? – me arrependi no momento que as palavras deslizaram entre meus lábios.

— Dessa maneira – Jordan coloca uma de suas mãos em minha cintura e me puxa para perto. Seus lábios macios encontram os meus e me beija de forma intensa, me deixando sem reação. O beijo dura pouco, muito pouco – Esta é a forma apropriada de cumprimentar seu noivo – fala dando um passo para trás como se tal ato carinhoso entre nós fosse comum.

Pisco algumas vezes tentando recobrar os sentidos e arrumo a minha postura.

— Achei que nos veríamos em apenas algumas semanas...

— Decidi abandonar o campus e ganhei esse presentinho de meus pais para ir a faculdade todos os dias – Jordan fala dando de ombros e inclina a cabeça na direção do carro - Minha mãe andou falando comigo várias e várias vezes sobre como deveríamos nos aproximar. Início do ano que vem irá fazer dezoito anos e depois...

— Conheço bem as datas – falo para que o assunto não progrida e olho ao redor vendo se alguém próximo a mim ainda não tenha ido embora.

— Sei que conhece. Nós dois conhecemos desde nosso nascimento. Mas o fato é que de tanto minha mãe falar, comecei a ver razão em suas palavras. Deveríamos nos conhecer.

— Então decidiu aparecer em meu colégio sem avisar?

— Pensei que poderíamos ir ao cinema. Não vai ter muita conversa de primeira e me parece o encontro ideal apara nos acostumarmos com a presença do outro.

Theo fala já contornando o carro e termino minha analise, não vejo ninguém que eu tenha amizade entre os alunos restantes, o que significa que não existirá burburinhos a meu respeito amanhã. Sigo o Jordan ao contornar o carro, ele abre a porta em um gesto cavalheiresco e entro no automóvel, jogo minha mochila no banco de trás.

— Cinema então, mas sabe que não precisamos fazer isso até o ano que vem, certo? – pergunto quando ele entra no carro. Tento ignorar a vozinha na minha mente me lembrando que eu tinha o mesmo plano com o Theo de ir ao cinema.

— Aurora, eu estive pensando muito nisso. Vamos nos casar. Estamos noivo praticamente desde que você estava na barriga da sua mãe. Não seria melhor se tivéssemos uma relação razoável? Sei que temos um trato de termos vidas separadas até esse momento, mas acredito que devemos repensar nossa situação – levo a minha mão ao cabelo, arrumando a minha franja para ficar atrás da orelha.

Estou acostumada a ver Jordan em festas e jantares dado pela família e nenhum momento fora estes. Não conversarmos mais que o obrigatório nessas formalidades e após nenhuma mísera mensagem. A última vez foi na comemoração que havia entrado para uma faculdade de prestígio.

— Então deseja que comecemos uma relação. Um namoro? – falo olhando para as mãos dele no volante, sem saber ao certo sobre o que pensar no assunto. Nunca havia pensado em nada além do casamento iminente.

— Normalmente nos conheceríamos, iniciaríamos um namoro, depois noivado e por fim o casamento. Não começarmos em um noivado e nos casarmos. Mal sei qual é a sua cor favorita.

Fico em silêncio, mais uma vez, não tendo ideia do que falar. Desde que fizemos um trato a alguns anos sobre nossa situação, não repensei. Era bem simples: nos veríamos quando necessário e seguiríamos nossas próprias vidas, mas quando chegasse a hora de oficializar, tentaríamos ter uma vida juntos e tudo que manda o figurino.

— Azul – falo por fim preenchendo o silêncio – minha cor favorita é azul.

Vejo um sorriso brotar em seu rosto, minha resposta a seu pensamento pelo visto foi a certa. Não sei o que acho da nova forma de pensar do Jordan, sobre reaver um trato antigo e iniciarmos um romance ou algo do gênero antes do casamento no ano que vem, mas um cinema nunca fez mal ninguém e minha mãe ficará extremamente feliz em saber que passamos um tempo juntos, como o casal que somos, ou deveríamos ser.

— A minha é verde.


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