Vermelho, uma cor que dependendo do espectador pode ter um significado doce, o amor, ou algo que remete a violência. Essa cor é intensa, impossível para um humano não perceber sua presença ao menos trazer um incômodo, quiçá uma admiração. Talvez eu não tenha ido direto ao ponto, devo estar sendo péssimo já começando assim. Enfim, olá o meu nome é Capple, bom eu era apenas um estudante comum do ensino médio, até que eventos estranhos só começaram a acontecer. Sinceramente devo ter sido estranho a minha “vida” toda por assim dizer. 

Claro, minha aparência sempre aparento jovem, comumente me confundem com uma garota, não sei se é por causa de minha voz ou só meu corpo, tenho curtos cabelos castanhos, olhos verdes, gosto de usar uma jaqueta vermelha, saia jeans e meias listradas vermelhas e brancas como bengalas doces, também uso all-stars vermelha. Em minha escola o uniforme feminino caía muito bem em mim, via algumas pessoas me olhando e não sei bem o que tem de errado nisso.  

Me desculpe, devo estar enrolando demais para contar ao menos algo. A minha vida toda sempre tive um aperto ao conversar com outras pessoas, não sei bem o motivo, mas é tão difícil sinto que não tenho paz de como aparento e me porto. Sempre me julgam pela minha aparência feminina, em compensação nunca me senti bem perto de garotos, mas nem com as garotas. 

Minha vida acadêmica não era nada de especial, muitas pessoas têm doces histórias dessa época, posso dizer que era melhor em casa. Minha família, eu acho que me amava. Eu tinha uma irmã gêmea éramos bem parecidos exceto que ela tinha uma vantagem por assim dizer em seu torso, além disso ela deixava o cabelo crescer e eu juro que a voz dela era um pouco mais grave que a minha, a vida é injusta às vezes. 

Na escola ela tinha seu próprio grupo, nunca quis conhecer eles, não gosto de me intrometer em vida alheia dessa maneira. Ao menos em casa ela era bem próxima sempre aberta em dizer suas opiniões, mas era péssima em tarefas básicas. Usava um short preto, e uma camisa grossa amarela com listras rosas na manga, nos seus pés ela usava o primeiro sapato que achava quando saia. 

Não posso esquecer da minha mãe, desde que a conheço como gente ela está em uma cama, nunca lembro o nome dela, isso é algo ruim? A única coisa que eu soube dela é que sofre de alguma doença, e quando eu e Grapple éramos pequenos ela adotou o meu irmão. 

Nunca entendi o porquê tínhamos nomes tão exóticos, meu irmão se chamava Zephyr. Andava de calça jeans e uma camisa de couro bacana, passava horas fora de casa, ele trabalhava e ainda estudava na faculdade, também tinha um odor de cigarro. 

Enfim, nosso convívio era bom, minha irmã trabalhava em uma cafeteria próxima, então minha responsabilidade não envolvia nada com outras pessoas, era só eu e os cantos quietos da casa. Até gostava disso, principalmente em aprender novas receitas de doces, nossa eles ficavam tão felizes com os meus biscoitos, bolos e tortas. Mas se eu tentasse fazer outra coisa, como posso dizer, eu não tinha talento para isso. 

Então nossos dias continuavam lentos e doces, o tédio escolar e meu paraíso caseiro. Até que a minha mãe morreu, foi só da noite para o dia e ela ficou totalmente imóvel. Teve um enterro, mas eu não senti nada a respeito disso. Todavia meu irmão foi abalado por isso, ele se distanciou de mim, e era normal voltar bêbado. Enfim, visões diferentes da mesma pessoa. 

Odiava o fato dele estar assim e não importava o que eu o tentasse jamais se animava, nunca. Somente quando uma mulher entrou na vida dele. Essa mulher falava dele várias ideias de revolução, reformular a sociedade em que vivemos, não devemos ficar de cabeça baixa e ir atrás de nossas crenças. Pessoalmente um monte de bobagem, ele falava novamente então tudo estava ótimo para mim.  

Um dia Zephyr me abordou em nosso sofá, e essa conversa, eu queria ter evitado ela, mas eu não sabia de nada, ora era só um garoto: 

— Boa noite Capple, preciso falar com você... É um assunto sério 

— Boa noite mano, minhas notas não vão tão bem, mas... - respondi 

— Não é sobre isso, me diga qual é o seu sonho? – perguntou meu irmão com um tom irritado 

— Sonho? – falei confuso 

— Deixa eu reformular, o que deseja para o futuro, um dia eu e Grapple vamos partir - meu irmão dá um leve suspiro e continua - e você terá que entrar no mundo dos adultos querendo ou não, e você não consegue nem olhar para os olhos de seu irmão 

— Meu futuro... Quero estar junto aos meus irmãos, só isso – falei com um sorriso tremulo no rosto 

— Mano, as coisas não são assim, tudo muda e ter um desejo tão egoísta como esse só trará um futuro desesperador para você. - meu irmão começa a gritar- Eu não quero isso, pense e cuidado com o que deseja 

— Por favor, abaixa a voz, só fui sincero, me desculpe... 

— Por essa sua atitude, você é a pessoa mais egoísta que conheci em minha vida. Durma bem Capple 

Meu irmão se retirou do recinto e foi para o seu quarto, muitas ideias passavam em minha mente. Por que será que ele falou de maneira tão ríspida comigo? Será que é por causa daquela mulher? Fiz algo errado? Logo fechei meus olhos no sofá para que em pouco tempo uma fumaça entrasse em meu sono.