QUANDO CAMINHEI PELO VALE DAS SOMBRAS pela primeira vez, tudo que mais quis foi dar meia volta e correr na direção contrária, buscando uma maneira ― qualquer maneira ― de adiar o fim de tudo. 

Empurrei a Morte para longe com todas as minhas forças, livrando-me de seus dedos gélidos e hálito putrefato e amargo que pareciam envolver cada célula de minha existência. 

Não pensei em parar, mesmo que meu corpo pedisse para que eu cedesse naquele exato segundo, mas algo chiando em minha mente me forçava a continuar lutando; minha alma dilacerada, pequena, fragmentada. 

Eu já conhecia o cheiro da morte, conhecia seu toque e sua presença; como um arrepio doloroso na nuca, como unhas arranhando em um quadro negro. Conhecia o som oco de seus passos; sua forma discreta de se mover, passando despercebido aos olhos desatentos e os corações ocupados com outros sentimentos. 

Mas eu a conhecia como uma velha amiga. 

Perguntei-me então por que não sentia a necessidade de fugir quando encarava a morte nos olhos. Mesmo que o arrepio em minha nuca avise, exigente e pungente, que eu corria perigo, permaneci parado, estático como uma presa paralisada diante dos olhos de seu caçador.

A caçadora sorriu, brincalhona, e se aproximou com passadas felinas, que repercutiam nos batimentos do meu coração. Em menos de uma batida nova, ela estava diante de meu rosto, mas não pensei em correr.

Talvez, esse, fosse um jeito aceitável de morrer.