Os órfãos de Nevinny escrita por brennogregorio


Capítulo 51
Estranha atmosfera




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“Então é isso. Eu consegui. A minha visita ao bairro de Miríade foi mais do que eu esperava. Eu conheci a casa de Allison. Ela era simples por sinal, mas ao mesmo tempo bem elegante. O ar medieval miridiano me chamou atenção e eu gostei do que vi. A última vez que tinha visto um cenário e um relevo como aquele foi quando fiz uma viagem à York, na Inglaterra. Era praticamente a mesma vibe.

Andei pelas ruas do distrito, conheci o santuário Neshite. Foi mágico, pode-se dizer assim. A beleza daquele espaço me encantou, apesar de ter me assustado a princípio. Principalmente quando teve aquele apagão. Aquilo foi tão repentino. Andar por um lugar totalmente desconhecido numa escuridão imensa sem saber direito pra onde estava indo. Ainda bem que eu tinha Allison pra me guiar, porque se eu estivesse só não sei como eu me sairia.

Logo depois disso teve a cena daqueles homens desconhecidos, a perseguição, os tiros. Por pouco eles não nos atingiram. Mas logo depois nós voltamos pra casa de Allison.

O que era pra ter sido apenas uma visita se tornou algo a mais por conta disso. Eu confesso que fiquei com um pouco de medo, mas o que importa é que tá tudo bem. Talvez eu poderia visitar o bairro de novo, quem sabe."


⌚ 06:25 a.m.


Mais uma manhã no apartamento 802 se inicia e, diferentemente dos outros dias parece que a paz e o silêncio não havia dado as caras até o momento. Isso porque ruídos e barulhos agitam o imóvel certamente tirando o sossego e calmaria de qualquer um que mora em volta. Ou seja, quem estivesse tentando dormir já podia desistir e se levantar logo porque certamente não irá conseguir contar carneiros outra vez.

— S/N, para! Assim você vai acordar todos os vizinhos, até os dos primeiros andares se deixar — Lívia dispara olhando ao redor de seu quarto em seguida apanhando uma peça de roupa do chão pondo em cima da cama.

— Não. Eu esperei a manhã chegar pra fazer isso. Eu preciso encontrar meu celular antes de sair pra escola — você fala, decididx.

— Mas você já tirou tudo do lugar: guarda-roupa, cama, os móveis. Daqui a pouco chega um vizinho reclamando da barulheira que você tá fazendo.

— O pior é que eu não faço ideia de onde eu deixei. Não lembro se eu cheguei ontem com ele, onde coloquei, sei lá. Eu já liguei pra ele mas não adiantou de nada. Devo ter deixado no silencioso. Será que eu fui roubadx? — você se pergunta arregalando os olhos.

— Pra falar a verdade eu também não vi você chegando com ele. O que foi que aconteceu? — Lívia fala.

— Você nem viu eu chegar. Quando eu passei pela porta você 'tava jogada na cadeira roncando com a boca aberta.

— Eu roncando com a boca aberta? Você tá loucx! Nunca que eu iria roncar. Eu sou fina. Pessoas finas não fazem esse tipo de coisa — ela diz cruzando os braços.

— Quer saber? Eu desisto — você diz passando a mão na testa — Desse jeito vou acabar me atrasando pra aula. Mas assim que eu voltar eu reviro essa casa inteira.

— Ah, mas depois vai arrumar tudo direitinho, por favor. E se não achar vamos ter que ir na delegacia pra dar queixa e depois bloqueamos seu aparelho e o número. Só as autoridades têm o mecanismo de defesa pra esse tipo de coisa, você sabe. Quem sabe eles até encontram pra você.

— É, eu sei. Mas só vou fazer isso em último caso, se eu não achar. Mas acredito que não vá precisar — você garante.

— Eu espero — Lívia diz — Mas fica o aviso. Agora vamos sair que já tá pra dar sete horas. Ainda temos um trânsito pela frente, então vê se não demora.


Em seguida, sua irmã sai do quarto enquanto olha ao redor balançando a cabeça em negação observando a bagunça que você fez. Realmente ia dar um pouco de trabalho arrumar aquilo tudo, pois tem roupas espalhadas por todos os lugares, coisas fora do canto, enfim, tudo está uma verdadeira zona parecendo que um tornado passara por ali recentemente.

Sendo assim, logo que interrompe a busca pelo seu aparelho, uma outra caçada está pra começar. Agora, você tem que encontrar seu uniforme bem rápido pra poder se arrumar e deixá-lo arrumado em cima da cama.

Correndo pelo quarto checando cada lugar embaixo das roupas, você pega peça por peça até encontrar sua calça. Logo depois, mais um sacrifício, agora para encontrar a sua camisa. Depois de tanto revirar em meio a tantas outras camisas, — algumas até com as cores bem próximas à do uniforme — acaba encontrando a peça. De um modo bem cuidadoso, você a retira do pino da janela na qual está empendurada e que por pouco não cai lá em baixo. Um forte vento seria mais que o suficiente para que a fizesse cair ou até voar pelos ares da cidade.

Sendo assim, já que está tudo pronto, você em corre em direção do banheiro para tomar banho e começar a se arrumar para sair antes que se atrase.

 

 

 

Na estrada rumo a escola...



Depois que saem de casa, você e Lívia vão enfrentar o trânsito na fria manhã de outono rumo aos seus compromissos. Você ainda se pergunta onde raios havia colocado seu aparelho ou o que poderia ter acontecido com ele.

Por isso, para desviar sua atenção com essa preocupação e tentar se distrair, decide ligar o rádio do carro pondo na estação de músicas. Porém quando você põe, a música que está tocando está bem no finalzinho faltando poucos segundos pra terminar. Em sequência, logo corta para o apresentador com o plantão de notícias.

— “Muito bom dia. Nessa edição do plantão de notícias vamos falar do assunto da vez que foi o apagão que afetou toda a cidade de Nevinny na noite passada. As causas para o repentino blecaute ainda estão sendo investigadas e infelizmente ainda não conseguimos detectar o verdadeiro motivo para o ocorrido. Uma das causas mais apontadas por parte da população e até por alguns estudiosos ambientais especulam a crise hídrica como o principal fator. Porém, essa hipótese já foi oficialmente descartada pela prefeitura e pelas autoridades da cidade” — ele diz.

— Hum, crise hídrica. Era só o que me faltava. A cidade nunca passou por algo desse tipo — Lívia comenta balançando a cabeça em negação.

— Mas por que não podia ser isso também? Isso é comum em várias partes do mundo — você declara.

— É, mas aqui nunca teve problemas com falta de água.

— Mas uma hora ou outra pode acontecer. Mas se eles já descartaram a ideia...

— “Somado à isso, outro acontecimento assustou os moradores após a volta da energia elétrica. Foi confirmado durante a madrugada de hoje um roubo ao banco da cidade localizado no bairro Fantini, na qual segundo os funcionários que trabalham na proteção e segurança do cofre, foram levados artefatos valiosos, incluindo jóias antigas e uma considerável quantia de dinheiro cujo valor ainda não foi revelado por decisão dos mesmos e autoridades. Alguns dos suspeitos envolvidos no roubo já foram identificados após terem realizado uma fuga para o bairro de Miríade durante o blecaute. Os outros suspeitos ainda permanecem foragidos.”

— Olha, S/N! Não é lá onde Allison mora? — Lívia pergunta.

— É — você responde, franzindo a testa olhando para o rádio.

— Aposto que esses bandidos que foram capturados moram pela área, senão eles não teriam se escondido lá — sua irmã conclui.

— Você acha? — você pergunta, pensativx.

— É, que outra causa seria? Quando eu digo que aquele bairro esconde coisas estranhas não é só de coisas que eu tô falando. As pessoas de lá também não são de muita confiança.

Ela para e de imediato olha para você.

— Desculpa, S/N. Eu sei que você é amigx de Allison, mas eu tenho que te falar a verdade. Pode ser que Allison não seja esse tipo de pessoa, eu espero mesmo, mas pro seu bem eu te aviso que é bom você não ficar muito próximx das pessoas de lá. Muito menos visitar aquele bairro. Lá é uma propriedade privada, mais pra eles. As pessoas de fora não são muito “bem vindas” naquele lugar. A não ser que tenham família, aí a coisa muda — ela declara.

— Mas será que eles são isso tudo mesmo? — você pergunta.

— Eu ouvi histórias sobre lá, não sei se já te contei. Eles costumam ser bem severos com os invasores. É assim que eles chamam qualquer pessoa que não é residente de Miríade. Quando alguém vai pra lá e esse alguém não tiver um motivo bem convincente do porquê está ali, eles resolvem o problema da forma deles, se é que me entende — ela diz te olhando dando um sorrisinho — Esses homens que foram pegos com certeza são invasores, e ainda com essa história de roubo ao banco eu só lamento pelas famílias deles — conclui.

Passado alguns minutos vocês conseguem chegar em frente a escola sem tantas dificuldades. O trânsito não está de todo ruim. Porém, algo está diferente.

Uma movimentação acontece em frente da escola e há alguns carros de polícia estacionados nas laterais, onde os agentes estão de guarda em frente aos veículos e outros na porta de entrada. Várias pessoas com olhos curiosos passam tentando entender o que está acontecendo e muitas outras se juntam para especular algo. Conforme os alunos vão chegando, logo são ordenados pelas autoridades para que adentrem o local de imediato. Talvez seja por conta dos repórteres presentes fazendo alguma matéria que certamente envolve a instituição, pois alguns deles apontam para a mesma enquanto falam algo em seus microfones.

— O que tá acontecendo ali? — Lívia pergunta.

— Eu não faço ideia — você responde.

— Será que aconteceu alguma coisa na escola? Se for, é melhor você nem ir.

— Não aconteceu nada. Você não tá vendo os alunos entrando?

— Tô, mas... Então o que será houve?

— Eu não sei, mas vou descobrir quando eu for lá — você diz já abrindo a porta do veículo para sair.

— Espera. Eu vou com você.

— Não, não precisa. Você vai se atrasar pro seu trabalho. Já tá quase na hora.

— É, mas....

— Não precisa ir comigo. Se tivesse acontecido alguma coisa eles já tinham ligado pro seu telefone e avisado — você afirma.

— Tem certeza? Só quero saber o que houve — ela diz com os olhos atentos pra movimentação.

— Tenho. Não aconteceu nada. A polícia tá bem ali. Eu vou estar super protegidx. Qualquer coisa que surgir eu aviso pra você. Agora vai pro seu trabalho com calma. Não vai perder um dia de emprego por nada.

— Ai, tá bom. Você sabe que eu sou curiosa, mas eu também amo o meu emprego e preciso dele — sua irmã diz, inquieta — Dessa vez eu vou ter que passar por cima da minha força de vontade. Mas olha, me conta tudo depois. Eu quero saber de tudo o que aconteceu aí e o que é essa muvuca toda.

— Tá, eu aviso — você concorda, olhando para o farol — Falta dez segundos pro sinal ficar verde.

— É, eu sei. Eu já vou.

— Não precisa ficar assim. Eu te conto tudo depois.

— Tchau, S/N.

— Tchau, Lívia.

Após ela acelerar com seu carro você dá um risada por perceber o quão curiosa ela estava no momento, pois, Lívia é daquelas pessoas que odeia ficar por fora das coisas. Quando surge situações consideradas “chamativas” e se ela estivesse presente na hora da situação, na hora queria ficar sabendo de tudo o que acontece. Como dessa vez não pôde ficar para assistir a “novela” da vez, a irritabilidade foi sua imediata reação.

Mas há um ponto que realmente pode concordar com a curiosidade de Lívia: o que raios está acontecendo? Por que todas aquelas pessoas estão ali? Aqueles policiais, os jornalistas? Sobre o que eles falam e por que apontam tanto pra escola enquanto falam pras câmeras?

Só há uma maneira de descobrir a verdade, e ela é a de encarar a realidade da vez imergindo-se naquela atmosfera de incógnitas que parece crescer cada vez mais, ao passo que seu corpo vai lentamente se aproximando da entrada principal.


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