—Os gritos ainda não cessaram.- disse para si mesmo, semicerrando os olhos.

Assim que conseguiu um lugar, ainda que por pouco tempo "seguro", precisava sair do castelo Senju o mais rápido possível. A movimentação era impossível de ser ignorada, ouvia fortes barulhos e gritos ao longe.

Voltou-se para princesa sentada no pé da árvore, seu olhar era de puro vazio fixo em um ponto qualquer no chão. 

A garota cujo poucas horas estava sorridente e energética, se encontra arrasada pela morte do último membro sanguíneo que possuía. A vida perfeita o qual tinha, foi engolida e transformada em uma cena de terror.

O prateado se aproxima devagar e agacha com a voz mansa.

—Senhorita, precisamos sair daqui. Consegue subir nas minhas costas?

Ela continuava imersa em pensamentos ainda tomada pelo choque de pouco tempo atrás. Se manteve em silêncio por alguns segundos até que assentiu de leve, levantou. 

Com esforço, Sakura arrastou seus pés até o guarda que por sua vez, a ergueu em suas costas a segurando pelas pernas.

Com passos rápidos, seguiu pelas sombras da noite passando pelos cômodos silenciosamente e adentrando entre eles para que chegasse no portão principal. O lugar estava cheio de guardas, bem mais do que gostaria.

Passou por muitos tentando evitar um confronto direto, conhecia o palácio e, passar por eles seria inevitável. E assim se seguiu; derrubando um após outro, as vezes opinando pela espada, manteve uma certa distância para que a princesa não se ferisse e claro nocauteá-los. Vez ou outra, sentia o aperto forte da princesa em seu pescoço. Aquela menina podia ser tudo menos fraca.

Enquanto se escondia vigiada os guardas de longe, percebeu o reforço triplicado desde que seu turno acabou. Os Uchihas tinham tomado conta do palácio todo. No caminho pra cá ainda pôde ver soldados Névoa entre os da Folha, viu soldados de outras vilas mas não tinha certeza se eles estavam do lado dos Uchihas. Kakashi não duvidava que aquele moleque, ele tinha o poder de ter conquistado a confiança de todos para que se juntassem a ele.

Parecia que os boatos eram verdadeiros sobre a Névoa.

O portão ainda estava longe, tinha que andar mais rápido. Olhou para as telhas e decidiu ir por elas, a vantagem seria maior se observasse do alto.

Pegou um bom impulso segundo firme na princesa e escalou com mestria entre as paredes, chegando no alto começou a correr, para a sua sorte a lua ocultou-se nas nuvens, não correria o risco de ser visto. Saltou de um cômodo pro outro, aumentou sua velocidade quando viu estava próximo ao salão o qual mais cedo houve a festa. A iluminação das tochas e lanternas de papel não o ajudou a enxergar tanto quanto gostaria, porém, não lhe impossibilitou de enxergar. O ar frio da noite bateu a favor dele, olhou para o céu, as nuvens se dissiparam lentamente logo mais a lua iria aparecer, estava ficando sem tempo. Se aproximou à beira do telhado e olhou mais abaixo para verificar a quantidade de guardas e num momento em que viu, prendeu a respiração.

Corpos.

Tinha vários corpos estirados por todo lado, o sangue em tom negro pela escuridão inundava o chão do pátio. Era sangue de soldados e servos do palácio, tinha parte de membros jogados e se seguia por toda extensão à frente do palácio e na escadaria. Tantos que não conseguia contar. Boa parte o conhecia, todos com quem já trabalhou, treinou e viu evoluir junto em diversos campos batalhas. Seus companheiros estavam todos ali, mortos. 

Kakashi estava paralisado, seus olhos passava de pessoa em pessoa. Alguns dos soldados retiravam os corpos arrastando para fora do palácio, já outros apenas colocavam uma toalha por cima, nesse momento ele se lembrou dos gritos enquanto estava no bosque.

Colocou a mão sobre o peito acelerado.

Era isso que eles queriam? O sangue de sua majestade não era o suficiente?

Haviam vidas inocentes no meio. Pessoas com famílias que infelizmente não voltarão para casa. E tudo por causa de quê? DE UM BEM MAIOR?!

Aquele MERDA perdeu a cabeça de vez?! E ainda se diz futuro rei? 

Com cenho franzido ainda estático pela visão, seu corpo começou a tremer e sua respiração ficar pesada. 

Tudo que pensa agora era nas mil formas de desintegrar a existência daquele ser. Desejava acabar de uma vez por todas com a raça dele. Deles. De todos eles. 

Qualquer um que se atreva a acabar com o povo de Konoha, não haverá misericórdia. Agora ele via o quanto se arrependeu de ter hesitado naquela hora. Devia ter acabado quando teve a chance. 

Mas de uma coisa é certa.

Jorou por Kami ou qualquer deuses nessa terra que acabaria. Não. Esmagaria com suas próprias mãos a vida miserável daquele filho da p-

—Kakashi...

Sakura o chama tirando daqueles pensamentos nada genuínos. Por algum motivo sentiu minha boca salivar.

—Está tudo bem? Aconteceu algo?

Sakura estranhou a repentina mudança de comportamento, sentindo um desconforto em suas pernas. Kakashi respirou fundo tentando recompor sua postura alterada. Virou sua cabeça por cima dos ombros a fim de enxergá-la, e notou que estava apertando suas coxas com força por cima dos pesados tecidos de seu kimono, amenizou o aperto praguejando interiormente por ter deixado a raiva lhe consumir. Seu rosto estava afundado no pescoço do prateado apenas a impedido de ver tal cena.

Kakashi suspirou fundo antes de responder.

—Sim, vamos indo. - quase como uma ordem disse.- Por favor, não olhe.

Desceu em um ponto cego aos olhos dos soldados e se escondeu entre as pilastras observando o movimento. Cada grupo seguia para um lado oposto, não havia muitos soldados no portão, no entanto, arqueiros rodeavam muro acima. 

Pensou melhor em como seria sair dali sem um combate corpo a corpo, sofreria o risco muito alto, fora que deixaria a princesa em risco também e ainda tinha a mínima chance de sair ileso. Ser atingido por uma flecha não era uma boa opção. 

—Senhor Kakashi... 

Uma voz sussurrante quase inaudível foi ouvida. Kakashi olhou para as extremidades onde cogitou ouvir a voz. Próximo ao salão viu um soldado encolhido perto de uma escadaria baixa no meio de altas plantas de vaso. Forçou a visão e reconheceu o único soldado que usava aquele lenço ridículo na cabeça. Na visão de Kakashi além de ridículo, era desnecessário ter um estilo como aquele.

Com cautela seguiu até ele, parando próximo ao mesmo e com um gesto de batidinha nas mãos, chamou a princesa que por sua vez desceu sentando-se ao seu lado. 

—O que aconteceu?- perguntou se virando para o soldado.

—Deram ordens para nos atacar, seja soldado ou serviçais do palácio. Fizeram uma chacina.- respondeu ele com calma contendo seu nervosismo. Kakashi percebia como ele mordia de leve o lábio inferior antes de responder.- Grande parte dos soldados estão ao lado do inimigo, estamos cercado de Uchihas.

Malditos Uchihas!

—Pelo que eu soube, estão atrás de sua alteza. Eu não sei porquê mas a ordem é para matar todos que se rebelarem contra o Lord Sasuke.

—Sei bem disso - esbravejou seco. - Sua majestade foi morto pelas mãos do próprio.

—Sua majestade está morto?!- exclamou Ebisu com espanto.- O que está acontecendo, Senhor?- Agora é a vez dele perguntar.

Kakashi olha para o moreno com seriedade respondendo sua pergunta.

—Sasuke Uchiha, junto com o general da Folha assassinou sua majestade a sangue frio para tomar o poder. Ele está eliminando todos que forem contra. Com certeza servirá de aviso aos demais.

—Então os Uchihas queriam a morte de sua majestade... mas porque? Eles sempre foram um clã prestigiados.

E os mais perigosos.- pensou Kakashi.

Ebisu continua intrigado com a notícia, no entanto, não diz mais nada. Não o culparia, tinha ficado da mesma forma.

Sentiu as mãos trêmulas da princesa agarrar seu uniforme, virou-se para ela vendo seu olhar desviado em algo além dele. Nem se deu o trabalho de acompanhar, pela sua expressão de choque sabia muito bem o que os prendia.

—O que faremos?... Eu não quero morrer...- Sua voz saiu baixa com tom ameaçado de choro.

Senhorita...

Seus grandes olhos brilhantes começam a ficar marejados. Era devastador demais para ela, sentia tanta dor dentro de si. Kakashi sentiu culpado por aquilo, se sentia responsável pela dor da princesa, era responsabilidade dele proteger ela daquilo.

Kakashi afagou a cabeça dela fazendo um carinho gentil, seu leve toque fez os olhos verdes automaticamente se voltarem a ele. Queria proteger ela com todas as forças daquela tragédia.

—Você não vai morrer, eu não vou deixar que isso aconteça, vai ficar tudo bem.- falou passando confiança, ela assentiu ainda agarrada a ele. 

Ebisu observava toda a cena em silêncio. Por um momento quase esqueceu que a princesa estava junto. Ele desviou seu olhar para o portão tentando manipular algo em sua mente para despistar os guardas. Ele queria ajudar, precisava ajudar, não teve outra escolha senão servir-se de isca.

—Teremos que despistá-los e abrir uma abertura.- se seguiu uma breve pausa, ele continua - Eu vou atraí-los e vocês usam a chance para escapar.

Kakashi franziu a testa. Aquele plano não ia bem, não quero perder mais um companheiro.

—É arriscado demais, se fizer isso certamente morrerá.- indagou receoso com a ideia.

—Está tudo bem, Senhor. É um sacrifício que terei que fazer. Além do mais, devemos priorizar nosso trabalho, não é?

Ele olhou para Kakashi aguardando uma resposta, contudo, não disse nada. Kakashi abaixou o olhar.

Sacrifício.

Estava começando a odiar essa palavra. Por outro lado, Ebisu estava certo. Não havia outra alternativa. Sua missão ali era garantir que a vida de sua alteza esteja salva a todo custo.

Ainda que custasse mais um ou a si mesmo.

Consentiu em silêncio. O moreno sorriu fraco, se levantou e saiu. Kakashi ficou observando se afastar.

Ele foi para o lado oposto afim de ficar longe o bastante para chamar a atenção dos guardas. 

Enquanto isso, kakashi caminhou agachado no intuito de chegar o mais próximo possível dos portões sem ser visto. Sakura se manteve atrás sem se soltar do tecido de sua roupa por baixo do uniforme de couro, teve que parar por um instante. Gentilmente retirou sua mão do tecido a mirando nos olhos. Balançou a cabeça em confirmação de que daria tudo certo, hesitante ela acena de volta entendendo seu recado. Com as mãos firme nas suas Kakashi se volta para frente em passos leves. 

Em um certo momento, um som estrondoso foi ouvido fazendo todos se voltarem na direção do barulho, um vulto atravessa entre os edifícios.

—Tem alguém ali. Peguem-no! - grita um dos soldados.

—Não deixem escapar!!!

Eles saem correndo em direção ao vulto, alguns atiram flechas do alto tendo o maior alcance. Aproveitando a distração dos que ficaram, o prateado desembainhou a espada e com mestria derrubei-os antes mesmo de sequer tentar raciocinar.

Alguns percebiam a agitação no portão e se apressaram em alcançá-los.

Com o portão livre, Kakashi puxou a princesa de súbito a carregando em suas costas novamente, correu atravessando os portões descendo a enorme escada abaixo, dessa vez se esquivando das flechas direcionadas a eles. No canto de olho ele viu soldados vindo em sua direção, não eram muitos como imaginou, mas não podia parar. Se dirigiu diretamente no meio da multidão no festival. Estava lotado. Certamente dificultaria para os soldados os alcançarem. Entretanto, conseguiu se misturar e despistá-los.

Com a respiração entrecortada Kakashi continuou, se esbarrando em quem estiver na frente pouco se importando com a boa educação. A todo momento mudava sua direção entre a multidão evitando ser visto pelos soldados. Provavelmente estão longe, mas ainda sim, tinha alguns de ronda nas ruas. Precisava correr. 

Aproveitando o momento alheio das pessoas, passou despercebido por um senhor puxando sua capa ignorando o mesmo reclamar procurando o responsável pelo furto. Apressou o passo avistando um beco pouco iluminado, ao adentrar, parou, e ajudou a princesa descer das suas costas.

—Aqui, se cubra com isto.- falou passando a capa pelos seus ombros.

Ela continua mirando para baixo com uma expressão amedrontada. Vendo isso, Kakashi se inclinou ficando na sua altura.

—Ei, vai ficar tudo bem. Não vou permitir que ninguém te machuque.- apertou seus ombros de leve.

Seus olhos verdes focam nos pretos de Kakashi ficando marejados outra vez e então começa a soluçar.

—Eu só quero que isso acabe, eu só quero que esse pesadelo acabe logo.

Sinto lhe dizer Sakura, mas isso não é um pesadelo. Eu também queria que fosse. - Pensou com um olhar entristecido.

—Vai acabar logo.

É tudo que ele consegue dizer. Ela enxuga as lágrimas com as palmas das mãos, encolhida.

Decidiu dar um espaço a ela, deixando por um momento ali, seguiu em direção a saída do beco. Observou ao redor; além de milhares de cabeças passando a sua frente, ao longe, havia um cavalo preso por uma corda em uma das casas.

Aquilo só podia ser a sua salvação. Era perfeito! Fugir com ela a cavalo. Até o amanhecer estariam bem longe da capital, talvez indo para uma vila mais próxima. De lá podemos ir para a fronteira e finalmente sair do país. Qualquer caminho que não fosse direcionado para a morte. Ficou ansioso com a possibilidade.

—Kakashi!

A voz de Sakura soou como um grito agudo, se virou para ela e seu brilho morreu na hora quando a viu.

Yamato estava atrás dela com uma mão puxando seus cabelos para trás e a outra segurava uma espada próximo ao seu pescoço.

Se pôs em posição de ataque colocando a mão para trás alcançando a espada. 

—É melhor você não tentar nada.- Yamato diz devagar aproximando a espada. Sakura tremeu olhando a espada próxima a si. Kakashi parou a mão no mesmo lugar.

—O que você pensa que está fazendo, Yamato?

—Estou fazendo meu trabalho assim como os outros. Acho que você já percebeu, não é, Capitão? - ele diz sério.

—Vamos parar com isso Yamato, não há necessidade disso.

Kakashi deu alguns passos a frente, ele percebe a aproximação e recua encostando a espada na jugular da princesa, o prateado parou novamente.

—A princesa terá que morrer. Essas são as ordens do palácio, então peço que coopere para que não haja uma tragédia.

—Seu trabalho devia protegê-la. - digo com certo rancor dele tê-la deixado sozinha.

—Sim, mas isso foi depois de recebermos a missão principal. Você poderia ter estado de fora se não fosse tão curioso.

Estava tudo combinado então...

Não imaginaria que você teria passado pra esse lado.

—Era pra ser uma tarefa simples, uma missão secreta, ninguém sairia ferido. Muito menos a Vossa alteza.

Olhou desacreditado.

—Ninguém sairia ferido? E quanto aquelas mortes? O que explicaria aquilo?

—Aquilo foi consequência dos seus atos, Senhor. Sua fuga com a Vossa alteza chamou atenção demais, tivemos que eliminá-los.

Ele não pode estar falando sério.

—Entende agora? Por sua causa, uma centena de pessoas foram mortas pelo seu "ato heroico". Agora a vila toda estão atrás de vocês, se sair da capital será a nação toda.

Os flashes de cada vítima daquele assassinato volta com tudo em sua mente, na pressa em sair fugido não tinha notado que por fora havia mais pessoas. Mas não duvidava dessa hipótese. Se ele tivesse seguido as normas como de costume, talvez isso não teria acontecido. Entretanto, a princesa já não estaria mais viva.

—Sabe que vão querer a sua cabeça assim que encontrarem, se entregue de uma vez, talvez o Lord Sasuke tenha piedade e te deixe viver, mas não posso dizer o mesmo da princesa.

Ouvir o nome do indivíduo fez Kakashi voltar a razão. Não queria nada que venha daquele infeliz. Desviou o olhar para a Sakura, mesmo com seu semblante apavorado ela parecia se forçar a focar nele quase ignorando a espada no seu pescoço. Seu olhar marejado transmitia confiança.

Tento contornar a situação levantando as mãos para cima se aproximando mais uma vez.

—Sei que está seguindo ordens para fazer isso Yamato, mas não precisa ser esse o caminho. Veja no que está fazendo. Os uchihas estão enchendo todos vocês de mentiras para ganhar poder e credibilidade de seu povo. Foram eles que mataram o imperador Senju, por causa deles agora você está prestes a matar sua alteza real, tente entender isso!

Falou bem devagar reforçando cada palavras, Yamato fica calado por um instante e logo em seguida ele bufa.

—E quem disse que eu vou matar a princesa? - indaga ele. - Eu mesmo a levarei para sua morte, mas não serei eu que darei o golpe final.

—O que está dizendo?

— Isso é trabalho para o nosso imperador, que agora será o Lord Uchiha.

Ele foi contaminado pelo Uchihas?

Não podia aceitar aquilo. De forma alguma entregaria Sakura de bandeja a eles.

— Yamato, por favor, pense bem-

— Não há o que pensar, se continuar resistindo mais mortes terão.- Ele corta praguejando. - Isso não é questão de escolha, é uma ordem do imperador.

Era verdade. Ser soldado não é fácil, servir e obedecer cegamente ao seu senhor independente da ordem ou circunstâncias, não era pra qualquer um, porém isso não impedia Kakashi de proteger uma pessoa querida, a quem foi confiada a ele. Afinal, tinha prometido ao falecido imperador.

—Acho que já conversamos o bastante, se não vai se entregar então terei que levá-la comigo. - disse arrastando Sakura consigo para o caminho oposto.

Sem chance de convencê-lo, teve que partir pro plano B. Rapidamente se abaixou pegando uma adaga escondida na lateral da calça e jogou mirando no rosto do soldado. Ele desvia, olhando surpreso pela coragem de atacá-lo mesmo com a princesa em sua frente, rapidamente Kakashi saltou com a espada em punho pronto para atacá-lo. O mesmo se inclina com a princesa desviando para a frente indo pro lado da multidão.

— Não permitirei que a levem-na! - rosnou avançando mais uma vez.

Dessa vez ele sacou a espada impedindo o golpe do Kakashi.

— Mesmo se for ordem de seu superior?- disse calmo.

— Sasuke não é meu superior!- Kakashi indaga com fúria. Nesse instante Yamato mudou sua expressão para algo mais sombrio.

— Eu não estava falando do Lord Sasuke e sim do Senhor Danzou.

Arregalou os olhos com aquilo.

Danzou!?

Foi ele que decretou a ordem?

Não... Só pode ser uma brincadeira de mau gosto pra me atingir.

—Isso é mentira! Está difamando o nome do Senhor Danzou, ele jamais faria uma coisa dessas!

— Não é. Foi ele que planejou tudo. A morte de sua majestade, a redução de segurança na mansão, a entrada de soldados de outras vilas. Foi ele que facilitou tudo para que chegasse a isso, por ele agora teremos um novo imperador.

—Mentira! Eu conheço o Senhor Danzou, ele é um conselheiro leal do imperador. Com que direito lhe dá para dizer uma coisa dessas?!

Danzou era como um pai para Kakashi, desde jovem o criou e ajudou a evoluir nos métodos de lutas, dando todo suporte e conhecimento que hoje ele usa para ser um soldado de elite. E saber que esse mesmo homem ajudou com a morte de sua majestade...

Argh, uma verdadeira difamação.

Mesmo sério Yamato olhou com pena. Sabia que seria difícil ele aceitar, por outro lado Kakashi não acreditava naquilo, não acreditava em nada que vinha daqueles que queriam a destruição de Konoha.

Kakashi mais uma vez ataca porém Yamato empurra sua espada quase o acertando em cheio e se afastando mais ainda, o mesmo se surpreendeu com aquilo, até onde sabia, seria facilmente derrubado com um único golpe do Kakashi. Foi então que ele percebeu o braço machucado. Kakashi estava em total desvantagem.

Queria ajudar o amigo, mas tinha que escolher Konoha. Yamato andou lentamente para fora.

— Eu tenho um grande respeito por você, capitão, só que agora as coisas mudaram e como nós, prontos para servir, não podemos ignorar uma ordem. 

Ele já estava saindo do beco se misturando à multidão. Kakashi já estava tenso, precisava de uma abertura. O cavalo era a única chance deles fugirem.

Sakura se desesperou vendo a situação se complicar. Olhou para trás, havia muitas pessoas em volta, alguém tinha que ajudar.

Decidiu chamar atenção.

—SOCORROOOO!!!! ALGUÉM ME AJUDA, SOCORROO!!!

As pessoas olham a situação com espanto, alguns ficam sem reação, outras passam reto assustadas.

—O que está acontecendo?

—Um sequestro, será?

—Um soldado está com ela, deve ser uma ladra se passando por vítima.

—Vamos nos afastar, ela deve ser perigosa.

—Me ajudem, ele quer me matar. Por favor alguém me ajude!!!- ela grita com todas as forças.

—Oh céus!!!

—Não acreditem nela, é uma louca se passando por alguém sã.- indagou Yamato falando mais alto passando seu braço pelo seu pescoço fechando sua garganta a impedindo de gritar.- Está tudo sob controle, podem continuar andando.

Sakura começou a chorar desesperada vendo as pessoas indo embora, alguns ficaram assistindo a cena.

Com muito esforço ela grita novamente forçando seu corpo para frente.

—POR FAVOR ME AJUDEEEEM!!! ESSE LOUCO QUER ME MATAR!!!!

Ela se agita enquanto grita quase desequilibrando o soldado. Ele se recompôs e apertou com mais força fazendo-a grunhir de dor.

—Fique quieta!!!

Sakura não parava, estava começando a sentir falta de ar. Sem perder tempo, Kakashi lançou um caixote perto de si com tanta força que fez o soldado cair a poucos metros de distância, estraçalhando todo o caixote e assustando as pessoas por perto. Com impacto Sakura cai junto, felizmente não foi atingida, correu até ela e a carregou no colo. Saiu em disparada com as pessoas se empurrando abrindo passagens para eles. Correu direto ao cavalo ouvindo os gritos de Yamato atrás.

—Kakashi, não adianta fugir, nós vamos te pegar!!!

Com isso, sinos tocam por todo lado e ouve algumas pessoas gritando, olhou pra trás, guardas estavam no seu encalço.

Chegou próximo ao cavalo porém um imprevisto acontece; o cavalo é atingido por uma flecha na parte traseira, o mesmo se pôs a correr disparado se desfazendo da corda e atropelado tudo pela frente.

O homem só pôde olhar sua chance indo embora causando um caos na rua. Todos começaram a correr desesperados, olhou para trás novamente, vários soldados já estavam próximos, no mesmo instante começou a correr em direção a mata empurrando e sendo empurrado pelas pessoas que fugiam em várias direções. E para o seu azar, mais soldados corriam à sua frente deixando-o encurralado. Desviei sua rota entrando em outros becos e olhou para as casas - mesmo plano- pensou, mas precisava das mãos livres, portanto passou a princesa para o ombro esquerdo utilizando apenas uma mãos para escalar, chegando no alto, uma flecha parou próximo de si. Estava sendo alvo dos arqueiros. 

Correu em linha reta chegando no limite da cidade, agora sabia que não haveria escapatória, a cidade toda era bloqueada por muros de soldados impedindo qualquer um de entrar ou sair. Dessa vez não havia só soldados do palácio, fora a guarda da Polícia também tinha soldados de outras vilas e o pior, não saberia quantos deles. Adentrou na mata. Parou quando os soldados não estavam atrás de si, decidiu ficar perto de um pântano atento a qualquer movimento ao redor. Colocou a princesa no chão e se afastou pra respirar mas para a sua surpresa Sakura o abraçou bem forte.

—Está tudo bem.- disse serenamente para acalmá-la. 

—Não. Não está! Não adianta me dizer que está tudo bem. Você sabe que não sairemos vivos daqui.- ela grita com a voz trêmula.-Eu não sou idiota... nós vamos morrer de qualquer jeito... não há como sair.

—...

Kakashi olhou para frente mas na verdade estava olhando o vazio. O nada dos seus pensamentos. Nunca foi alguém sentimental, tampouco bom com as palavras, porém sempre cumpria o que eu prometia sem êxito, no entanto quando achou que tinha perdido a princesa temeu por decepcionar sua majestade. Temeu por não conseguir proteger sua filha como havia prometido e decepcionado o mesmo, mas agora havia decepcionado a si mesmo por não ter sido capaz de cumprir seu dever como guarda real. 

Como eu pude ser tão inútil? E deixar que a princesa passe por uma situação dessas?

Como eu pude errar e não ter previsto antes? Como eu não enxerguei os sinais?

Se eu tivesse sido mais esperto, provavelmente teria evitado isso.

Eu sou um falho como soldado. Não deveria merecer o título como capitão e muito menos ser guarda pessoal da princesa.

Automaticamente sinto seus braços envolveram o pequeno corpo da senhorita.

Fui negligente admito, no entanto qual terá sido meu pecado para que chegássemos a esse ponto? No que eu falhei?

Vossa majestade, por favor me diga, o que eu devo fazer para reparar o meu erro?

Fechou os olhos sentindo seu peito se apertar.

—Entregarei minha filha em suas mãos, por favor cuide dela como se fosse sua. Ela é meu bem mais precioso.

Kakashi apertou o corpo de leve com as lembranças do imperador Kizashi. Sua voz ecoou em sua mente. 

Eu não posso aceitar que acabe assim, a princesa não vai morrer. Não se depender de mim.

Majestade, conte comigo.

Voltando a si ele observa em volta. Sempre há uma saída, não importa a situação, tem que ter uma. Se direcionou à Sakura, sua pequena senhora soluçava afundando seu rosto em seu peito, queria acalentá-la, não podia desistir agora. Ele era a sua única salvação.

—Senhorita, podemos ter uma chance.

Ela balança a cabeça negativamente.

—Não...

—Olhe pra mim.

—Nós vamos morrer...

Alteza, Olhe. Pra. Mim. - falou lentamente sem tirar os olhos dela, ela levanta a cabeça com um olhar perdido.- Estamos vivos, não estamos? Então isso já é uma chance, se ficarmos parados aqui será o nosso fim. Precisamos continuar.

—Como?

—Não importa como, o que importa é seguir. Sobreviver é desafiar o destino que te direciona ao fracasso e você tem muito mais a conquistar mesmo que você não tenha nada. Acredite em mim senhorita, eu vou te tirar dessa, eu vou te proteger custe o que custar. 

Ela continua desacreditada em suas palavras. Kakashi desceu com um dos joelhos no chão pegando nas mãos geladas princesa, focando no fundo daqueles olhos tão lindos e peculiares.

—Eu prometi ao seu pai antes mesmo de te conhecer, e agora eu prometo a você, não importa onde estiver ou com quem esteja sempre estarei com você. Mesmo longe, quero que saiba que estarei contigo torcendo pela sua felicidade, só não me pergunte como.

Com as lágrimas descendo em seu rosto, ela abre um pequeno sorriso com as minhas palavras. Vendo seu sorriso, sorrio de leve por baixo da máscara e continuo. 

—Eu tenho o maior orgulho de dizer que eu nunca fui tão feliz de servir ao lado de alguém como eu lhe servir Vossa alteza, ver você crescer foi o meu maior prazer e eu gostaria muito de continuar vendo. Mas isso só é possível se você sobreviver.- apertou um pouco suas mãos com convicção.- Por favor, prometa pra mim que irá seguir em frente, mesmo se tudo der errado, mesmo que tudo e todos façam você desistir, prometa que irá seguir em frente.

Sakura reuniu todas as suas forças que tinha, balançou a cabeça firmemente.

—Sim, eu prometo. 

—Mesmo? Senhorita?

Achando isso um pouco nostálgico, ela afirma alargando seu sorriso.

—Sim!

—Bom, então vamos sair daqui.

Kakashi levantou saindo daquele pântano segurando o pulso de Sakura, eles seguem na densa floresta escura ouvindo apenas os animais noturno e os seus passos, era quase impossível de ver algo além das árvores a frente, se formava uma fina neblina ocultando parcialmente suas visões, por sorte Kakashi sabia por onde ia, pois era naquela floresta que treinava ainda jovem, muito tempo se passou, mas lembrava do lugar. 

Seguiam para o limite de Konoha, porém eles param quando vozes mais a frente pode ser ouvida, os dois se escondem imediatamente atrás de uma árvore. Mais a frente havia alguns soldados carregando tochas consigo, depois de uma breve conversa eles se separam em várias direções, dois deles caminham em sua direção. Silenciosamente pediu para a Sakura se afastar, poderia cuidar deles facilmente, quando estava se preparando para nocauteá-los um som alto ecoou atrás de si atraindo a atenção dos dois soldados. Kakashi virou para trás e me deparou com a princesa caída no íngreme abaixo.

—Você ouviu?- falou um dos soldados.

O outro afirma em silêncio, eles caminharam dessa vez devagar com as espadas em mãos.

No mesmo lugar, o prateado aguardou o momento perfeito para nocauteá-los.

—Algum problema?- apareceu outro surgindo da escuridão.

—Ouvimos um barulho.

—Sim, e veio desse lado.- o guarda apontou para direção que antes ouviram o barulho.

Ouvindo isso, o terceiro se aproximou.

Se vier mais não sei se conseguirei contê-los. Tudo o que eu menos quero é chamar atenção. 

Recuou um pouco me encolhendo atrás da árvore. Olhou para Sakura. Ela se mantém paralisada de cabeça baixa, não se moveu desde a sua queda. 

Os três se aproximam cada vez mais, não podia deixar ser pegos. Kakashi pegou um ganho um pouco e jogou na direção oposta. 

—Outro barulho, dessa vez vem do outro lado.

—Vamos lá ver, talvez seja um animal.

Os dois primeiros foram na direção do galho, porém o terceiro não se moveu, ficou parado olhando na direção do Kakashi. 

Será que ele me viu?

Depois de um tempo observando, ele vai embora. Ele soltou o ar preso. Essa passou perto.

Mirou na direção da princesa, ela está um bom tempo na mesma posição, preocupado foi até ela.

—Senhorita, está tudo bem? Está machucada?- perguntou passando o olhar pelo seu corpo.

Infelizmente não havia como saber, sua roupa cobria praticamente todo o corpo. Ela levanta a cabeça devagar.

—Eles já foram?

Respirou vendo que estava bem.

—Sim, temos que ir também.

Pegou em sua mão e olhou mais uma vez para ela. Estava completamente suja, fez menção de carregá-la, porém ela nega.

—Eu posso andar sozinha, não precisa disso.

Assentiu sem questionar. Andou puxando sua mão de leve atrás de si, resolveu acelerar o passo para não se encontrar novamente com aqueles três, viu que ela conseguia acompanhar, não viu problema. Não parecia machucada.

Deduziu que estavam perto de sair da capital, no entanto, passar por uma floresta a noite seria um desafio, não pra ele já que estava acostumado em seus anos de soldado real enfrentar batalhas e missões fora de Konoha, e sim pra princesa que não chegava nem tirar os pés daquele palácio por anos. 

Kakashi olhou novamente para Sakura. Se continuarmos nesse ritmo passaremos por três ou quatro dias na floresta, um cavalo seria de grande utilidade agora.- pensou olhando pra frente.

Como se as coisas não poderiam ficar pior, Sakura tropeça quase caindo, Kakashi segurou a tempo de atingir o chão.

—Deixe que eu carregue você.

—Não, posso acabar atrapalhando.

—Não vai atrapalhar se for nas minhas costas.

—Mas- Sakura sente um desconforto em suas e se abaixa de mau jeito.

Nesse momento uma flecha atravessa entre os dois atingindo uma árvore mais a frente. Eles olharam aquela flecha paralisado por um instante.

Era para atingi-la?

—Ali estão eles!

Na direção oposta, sombras de guardas surgiram em direção dos dois, sem ligar pro questionamento da Sakura passou seus braços sob a costa e perna da princesa a erguendo com tudo, acelerou o máximo que podia.

Sentia que dessa vez não eram só dois.

As vozes e os passos foram crescendo a cada instante. Em uma descida de terra, pulou sobre ela se escondendo logo abaixo. Esperou que os guardas passassem retos até não ouvir seus passos.

Cansado quase vacilou caindo pra trás, implorava muito para descansar. Sentia que não se aguentava mais. Sakura olhou terno para ele colocando a mão em seu peito.

—Tudo bem?

—Sim, vou ficar.

Vendo o cansaço do guarda, Sakura quis ajudar mas não sabia como. Sentindo-se mal apenas baixou o olhar mirando nas suas mãos.

Tendo pelo menos cinco minutos de descanso, levantou o olhar pensando num jeito de sair dessa situação, qualquer coisa. Porém, algo surgiu à sua frente. 

Logo adiante, no meio de conjuntos de árvores próxima uma da outra, como um milagre havia uma carroça de madeira em bom estado, parecia abandonada, um tecido grosso e preto cobria sua superfície. Era muito suspeito aquela carroça estar ali, no meio do nada. No entanto, se passou despercebida pelos guardas...

Surgiu uma ideia.

Sem perceber Sakura ainda estava em seu colo, com a turbulência dos acontecimentos acabou que não prestou atenção nesse detalhe mas ainda sim, com o último fio de esperança, correu com ela no colo mesmo e assim que chegou depositou ela levantando o tecido.

Sakura de início não entendeu sua ação repentina até que viu ela carroça ficou mais confusa ainda.

—Kakashi?- ela olha para ele espantada.

—Está tudo bem, apenas fique aqui e não saia por nada.

A cobriu com o tecido grosso deixando nada à mostra, terminando isso fez menção de voltar, entretanto, de imediato ela agarra meus braços com força impedindo de ir.

—Aonde você vai?!

—Não se preocupe, o que importa é que você esteja segura. Eles não vão te encontrar, afastarei eles o máximo que puder.- disse se afastando mas ela o puxa de volta.

—Não! Eu não quero ficar sozinha, por favor não me deixe aqui.- ela olha para ele com desespero.

—Alteza por favor, fique aqui, se eu não voltar não venha atrás de mim.

—Não... e a nossa promessa? Você disse que ficaria sempre comigo.

Ele segurou seu rosto com as duas mãos.

—Eu vou te proteger.

—Kakashi.

—Vai ficar tudo be-

—NÃO FAÇA A DESFEITA DE QUEBRAR A SUA PROMESSA COMIGO.

Sakura o encarou furiosa com um brilho no olhar. Kakashi sustenta seu olhar com pesar.

—Combinamos que você seguiria em frente com ou sem mim. Então eu não vou quebrar a minha promessa.- falou a olhando profundamente.

Aos poucos aquele brilho começou a se converter em lágrimas. A pequena princesa chorou alto ali mesmo abraçando Kakashi, abafou seus gritos em seu peito.

—Por favor... não vá...não vá Kakashiiii...

Falou entre o choro. Kakashi suspira pesado antes de começar.

—Você tem que viver, você precisa viver.- lentamente se afastou deixando ela aos soluços.- Faça isso por mim.

Ela o olhou reprimindo o choro e depois fechou com força abaixando a cabeça.

Kakashi deixou a carroça com a última visão de seu rosto e saiu correndo em direção às vozes altas dos guardas, a cada passo sentia um aperto em seu peito se intensificar e gotas de água descendo pelo seu rosto.

Chuva? 

Olhou para o céu correndo, estava limpo. Não era chuva então. Limpei meu rosto rápido ignorando as outras gotas em sua bochecha. Sentiu suas veias formigar.

Parou quando se viu rodeado de soldados consideravelmente grandes, estavam fazendo círculos com camadas um atrás do outro. Garantiriam que Kakashi não fugisse. O soldado prateado sacou sua espada sem medo, sem hesitação. 

Não vou recuar, quem quiser vir, que venha. No entanto...

Na princesa ninguém toca.

—______

Ao longe, alguém observava toda a cena cuidadosamente. O brilho da lua pairava sobre seu rosto iluminando seus ônix que fitava a carroça de maneira peculiar. Um corvo rondava sobre si sem rumo e sem bando.

Depois de um tempo sobrevoando o corvo finalmente pousa em um galho próximo. Uma rajada de vento frio sopra no lugar encontrado assim, apenas o corvo solitário no local.