Era mais uma manhã comum na casa dos Kurosaki. Ichigo acordou como sempre e tomou café da manhã com sua família. O dia pode ser normal... Mas a família não.

- GOOOOOOOOOOOOOOOOD MORNING, ICHIGO!!! - Isshin "cumprimentou" o filho com uma voadora.

- Graar!! Será se não podemos começar a manhã de uma maneira normal?! - Ele ralhou com o pai.

- Tsc, que pai idiota - Karin disse sem piedade.

- Não trate o papai assim, Karin !! - Isshin disse se chegando na filha.

- Saia de perto de mim, seu imbecil!!

Começou uma grande discussão. Típico. Ichigo viu que uma figura descia pela escada em direção a ele.

- Ohayou - Rukia disse sem expressão.

- Ohayou... O que você tem? - Ele perguntou.

Ela sentou-se na mesa, que estava vazia pois a família estava brigando num canto mais afastado, pegou uma panqueca e suspirou.

- Não é nada - Ela disse.

Ichigo levantou as sobrancelhas.

- Ok, se não quiser me contar...

Ela mordeu o lábio inferior.

- Não é que eu não queira contar... É que... Não sei.

Ichigo sentiu uma veia saltar da testa.

- Como assim não sabe?! - Disse, já se exaltando.

Mas a pequena Kuchiki estava diferente. Em condições normais ela já teria partido para a briga. Mas ela estava tão... Calada.

- Ichigo...

- Han?

- Como vocês comemoram os aniversários por aqui? - Ela perguntou de repente.

Ele coçou a cabeça sem entender.

- O que foi isso tão de repente?

- É que... Hoje é... Meu aniversário.

Por essa Ichigo não esperava. Nunca pensou que Shinigamis fizessem aniversário assim como as pessoas normais. E também sentiu-se mal por nunca perguntar a Rukia sobre isso.

- O-Oh? Sério? Eh... Feliz... Aniversário - Ele fraquejou.

- Arigatou... - Rukia falou sem expressão.

A moça levantou-se da mesa, deixou o prato na pia, agradeceu a família briguenta e se retirou.

- Pra onde está indo? - Ichigo perguntou.

Ela não pode evitar o sorriso de desdém.

- Preocupado?

Ele não resistiria à provocação.

- Não me importo, faça o que quiser!

Não era a coisa certa a se dizer naquela hora. Ela apenas o observou com um olhar frio e inexpressivo, abriu a porta e saiu.

"Ótimo, Ichigo. Mais uma dessas e você ganha um prêmio" - Ele pensou irritado consigo mesmo.

Afinal, agora que refletia, tinha sido muito ingrato com Rukia. Ela sempre estivera ao seu lado, e quando ela precisava de alguma coisa, ele apenas lhe dava as costas.

Mas será que é só isso?

"No que está pensando, Ichigo?! É claro que é só isso." - Ele ACHAVA que era só. Mas nem o próprio acreditava em suas palavras.

Não sabia como se redimir com a pequena shinigami, então decidiu fazer o que todos fazem. Comprar um presente. Mas comprar o que? Não conhecia muito o gosto da moça. Exceto...

- Um coelho Chappy! - Ele falou em voz alta.

- O que disse, Onii-chan ? - Yuzu perguntou um pouco assustada.

A família, apesar de estar brigando, estavam observando atentamente a cena que tinha acabado de se passar.

- N-Nada. Estou saindo! - Disse pegando uma jaqueta.

Olhou para a rua deserta, e decidiu primeiro para onde ia.

"Hm, deve haver algo na loja da esquina"

Caminhou meio que lentamente até lá. Pelo menos ia ser fácil... Depois explicaria a Rukia o motivo de tamanho sentimentalismo. Já pensava em qualquer desculpa quando a vendedora se aproximou.

- Em que posso ajudá-lo? - Ela perguntou.

- Ah, você teria aí um coelho Chappy de pelúcia ?

Ela franziu a testa.

- Sinto muito, senhor, mas vendemos todos os Chappy que haviam no estoque.

- Ah... Então, obrigado.

Ele se retirou da loja, um pouco intrigado.

"Não sabia que alguém mais gostava desse maldito coelho" - Pensou. Decidiu então ir à loja do 3º quarteirão. Andou até lá e pediu ao vendedor que lhe trouxesse o dito Chappy.

- Sinto muito, senhor, mas vendemos todos os Chappy que haviam no estoque.

Já estava começando a se irritar.

"Só pode ser brincadeira..."

Decidiu então ir à loja do 6º quarteirão. Novamente fez sua caminhada, esperando encontrar o presente.

A mesma cena se repetiu.

- Sinto muito, senhor, mas vendemos todos os Chappy que haviam no estoque.

Agora sim, estava devidamente irritado!

"Que diabos é isso?! Todos decidiram comprar um Chappy justo hoje?!" - Pensava cada vez mais irado com a situação.

E assim foi, no 10º, 20º até o 30º quarteirão... Mas nada do coelho. Quando estava, praticamente, do outro lado da cidade, este suspirou.

- Não posso desistir. A Rukia não desistiu quando a minha família ia ser morta e... - Não concluiu.

Para falar a verdade, estava cansado de dar a desculpa que "estava grato que Rukia tinha feito isso, que tinha feito aquilo"... Não podia mais se enganar. Ele tinha que admitir que sentia alguma coisa diferente... Que...

- O que está fazendo aqui ? - Uma voz masculina o pegou de surpresa.

- AHHH! Você não pode chegar assustando os outros dessa maneira... Byakuya?!

- É Kuchiki Taichou para você.

Kuchiki Byakuya estava ali, parado em sua frente, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Estava com aquele ar de superioridade, fazendo todos que passavam na rua olharem para ele.

- Por que está aqui ? - Ele voltou a perguntar.

- Eu que devia fazer essa pergunta - Ichigo retrucou.

- É... Aniversário da Rukia.

- Eu sei - Ele disse enfim.

- Então, o que está esperando? - O homem o olhou com severidade.

- Esperando o que ? - Ichigo perguntou sem entender.

- Não se faça de sonso. Eu posso te odiar, mas vou odiá-lo ainda mais se não for logo.

Finalmente o rapaz entendeu. Deu uma sonora risada em concordância.

- Acho que você não me odeia tanto assim, Byakuya.

- Saia logo da minha frente antes que eu arranque os seus membros - Ele disse da maneira mais fria e cruel possível.

Temendo que as ameaças se concretizassem, Ichigo acenou e correu. Correr para onde ? Ele nem mesmo sabia. Mas algum impulso o estava guiando.

"Estamos de certa forma ligados" - Ele pensava ao apressar ainda mais o passo.

Até que chegou aonde queria. Uma vista que dava para um lago. Aquele lago que ele tanto gostava de ir com a mãe quando era criança. E Rukia estava lá, sentada na beira do lago, com os pés mergulhados na água.

- Sabia que você estava aqui - Ele falou, sentando-se ao seu lado.

- I-Ichigo?! Como me achou? Eu não disse para onde ia! - Ela retrucou.

- Ah, eu apenas sabia. Digamos.

- Encontrou com o nii-sama?

- Não - Ele mentiu. Era melhor omitir essa parte.

- Hm... - Virou-se para contemplar o sol que se punha - Sabe, eu não gosto do sol.

- Por quê ? - Ichigo perguntou sem entender.

- Ele é tão quente... Tão universal... Todos o amam e o querem perto. Sem ele, não há vida. Mas a lua... Ela não é indispensável a ninguém e muitos se quer gostam dela - Disse com tristeza.

- Pois eu gosto da lua - Ele disse simplesmente.

- Gosta?

- Ela pode não ser indispensável, nem chamativa e até fria, se quer saber. Mas quando olho para ela... Sinto-me tranqüilo - Mas a lua ainda não havia aparecido. Ele olhava para Rukia.

Ela sentiu a face corar.

- O que está dizendo, seu idiota, e-eu... - Ela não sabia o que dizer.

- Serenidade... Acho que é isso que eu procuro - Esboçou então um sorriso. Um sorriso que ela nunca tinha visto, diferente dos outros 3 e, sim, ela estava contando.

Talvez tenha sido por impulso, mas os dois foram se aproximando cada vez mais. Ichigo, pela primeira vez em sua vida, conseguiu tomar a iniciativa. Puxou Rukia para perto de si, primeiro beijando sua testa e em seguida beijando seus lábios. Uma experiência nova para ambos. Realmente, agora estavam convencidos que havia algo mais que uma ligação. Por fim, se separaram, ainda sem saber como agir.

- I-Ichigo... Não conte isso a ninguém, seu idiota! - Ela falou muito nervosa e corada.

Ele riu um pouco mais espontâneo.

- Por mim tudo bem. Ahh... Rukia, sobre o seu aniversário, eu sinto muito. Não achei o coelho Chappy que você queria...

Ela balançou a mão como um sinal de "tudo bem".

- Chappy agora é famoso! Que orgulho ! - Ela falou com os olhos brilhando.

- Não tenho um presente ideal para você...

- Ichigo... Você... Já me deu o que eu mais queria. Tá, pronto. Falei. Satisfeito, seu idiota?! - Ela tentou descontrair um pouco.

- Acho que sim - Ele riu.

- M-Mas... Será que poderíamos... Andar de mãos dadas até o final do lago? - Rukia falou meio sem jeito.

- Sua boba, já estamos de mãos dadas.

Ela piscou os olhos com força. Não tinha percebido isso.

Caminharam pela extensão do lago, de mãos dadas. Até que parecia muita besteira dos dois... Mas assim se sentiam seguros, serenos. Talvez por causa dos laços que os ligavam. Mas com certeza não era por causa disso.

- Rukia, sua mão é muito fria! - Ichigo disse enquanto caminhavam.

- Cale a boca, morango maldito!! - Ela disse entre um riso.

- Ai ai, sinto que você não vai mudar nunca... - Ele riu também.

- Faça o favor de continuar a caminhar.

- Sim, senhora, mestra.

E retomaram a caminhada. Afinal, para Rukia, aquele era o melhor presente que havia recebido em toda sua vida.

----- Fiim -----