Com a sensação de que as coisas tinham se resolvido com Sybok, Spock seguiu seu caminho ao lado de Jim. Eles se despediram dos filhos e voltaram para o trabalho na Frota Estelar, onde uma realidade muito verdadeira aguardava a capitã vulcana e a tripulação que ela acompanhava.

Muito tempo no espaço dava a sensação de que um oficial teria justamente, todo tempo do mundo para viver suas aventuras, no entanto, havia uma consciência coletiva na velha tripulação da ponte da Enterprise que seu tempo de trabalho estava chegando ao fim, e realmente, estava na hora de todos eles se aposentarem, ainda assim, algo importante os aguardava antes do descanso.

Quando a lua de Qronos, Praxis, explodiu, os klingons viram sua existência ameaçada e, de bom grado, a Frota Estelar ofereceu sua ajuda, o que foi visto com desconfiança por seus antigos inimigos.  Uma aliança foi oferecida entre as duas partes, e para que isso desse certo, precisavam de representantes da Frota Estelar para demonstrarem sua cooperação.

Uma reunião importantíssima e secreta foi convocada, o que deixou Spock e Jim curiosos.

—Há tanta gente importante aqui, o que será que aconteceu? - ele comentou com a esposa - seu pai por acaso disse alguma coisa?

—Não posso discutir tais assuntos agora, porém garanto, Jim, logo saberá - Spock respondeu.

De maneira misteriosa, ela o deixou sozinho, se encontrando com outros oficiais de maior escalão. Spock geralmente guardava segredos, se isso tivesse um motivo muito plausível, e tudo ali indicava que se tratava de algo grave.

Tomando a posição do palanque, ela então explicou a situação aos presentes, a situação dos klingons e seu acordo com a Federação.

—Para demonstrar nossa boa fé, fui escolhida, com o Capitão James Kirk, a acompanhar e escoltar a delegação klingon até o encontro para o acordo - ela disse, o que deixou seu marido claramente irado, como ela esperava.

Quando a reunião se encerrou e todos foram dispensados, somente ela e Jim sobraram na sala.

—Você fez isso? - ele perguntou diretamente, bravo.

—Sim, conhecendo-o bem, não vejo oficial mais capacitado para tal, lidamos com klingons uma porção de vezes, podemos fazer isso agora - ela afirmou, confiando na capacidade dele.

—Se lembra, Spock, que todas essas situações foram adversas? - ele se aproximou dela, falando mais alto - você lembra que eles quase mataram o nosso filho, o nosso David?

—Sei disso - ela replicou calmamente - é por isso que perdoando e dando o primeiro passo, já causamos uma boa impressão, mostramos que honramos o compromisso de ajudá-los, sem nos apegar aos erros de alguns deles, no passado.

—Eles são monstros! Máquinas de guerra, traiçoeiros! - Jim continuou, até se cansar.

Sua esposa desfez o espaço entre eles, tocando seu ombro.

—Eu entendo sua raiva, Jim, de verdade - ela disse suavemente - você estava lutando por mim e por David naquela ocasião, mas essa é uma oportunidade de mudar as coisas para o bem, não era essa nossa missão, ainda não é?

—Cumprirei com o meu dever, porque é o certo a se fazer - ele decidiu, deixando-a para trás.

Spock o observou por alguns momentos, até ela segui-lo para fora dali.

Eles se reecontraram na Enterprise, mas Jim se manteve centrado, sem dizer muitas palavras. Spock compreendeu que deveria dar um tempo para ele. Ela acabou focando-se por um momento, na presença da tenente Valeris. Ela era outra jovem vulcana que se alistou para Academia e tinha se formado sob a tutoria de Spock. A capitã estava satisfeita por vê-la ali.

Assim, a nave zarpou ao encontro da delegação klingon, e antes que atingisse seu destino final, Valeris procurou Spock, a fim de esclarecer algumas coisas.

—Não me parece muito lógico uma aliança com os klingons depois de tantos anos de conflito - questionou a jovem.

—Muitas vezes, é necessário usar a fé do que a lógica, aprendi isso com meu lado humano - Spock respondeu sabiamente.

—Ainda assim, a lógica continua sendo importante - ela rebateu.

—Com certeza, mas a lógica é apenas o começo da sabedoria, não se esqueça disso, Valeris - recomendou a mais velha.

—Sim, senhora - concordou a jovem.

Enquanto isso, Jim não podia deixar de pensar no encontro com os klingons e o que eles tinham feito a David, seu filho tinha escapado da morte por muito pouco e seus inimigos deixaram sequelas nele para toda uma vida. Não era justo, agora ele ter que ajudá-los. Gravando seu diário, declarou em alto e bom som que detestava os klingons, tendo muita dificuldade de lidar com toda aquela situação.

Ainda assim, quando ele encontrou com Spock antes de receber a delegação, sentiu forças para seguir em frente com a missão justamente por causa dela. Ele queria sentir o mesmo altruísmo e boa vontade dela, mas simplesmente, ainda não conseguia.

Eles se posicionaram com McCoy e Scott na sala de transporte, observando o embaixador Gorkon, sua filha e seus oficiais surgirem ali. 

—Embaixador, é um prazer recebê-lo em minha nave - Jim falou, acostumado com aquelas palavras, ditas tantas vezes antes - eu sou o capitão James T. Kirk, essa é minha esposa, também oficial da Frota, Capitã Spock, meu oficial médico chefe, Dr. McCoy e meu engenheiro chefe Scott.

—Capitão, obrigado por nos receber - respondeu o Embaixador, com um aperto de mão firme.

—Queira nos acompanhar, por favor, um jantar em sua honra os espera - Spock instruiu.

Depois das apresentações feitas, eles seguiram para o jantar, onde Uhura e Chekov esperavam também.

O simples ato de comer, com os modos diferentes de cada cultura, e os assuntos das conversas, foram suficientes para causar certa estranheza dos dois lados. Até que Gorkon se levantou, disposto a criar certo equilíbrio em meio àquilo tudo.

—Um brinde à terra desconhecida! - ele ergueu sua taça - creio que estamos prestes a encarar uma terra desconhecida, mas também acreditamos que é nela que podemos encontrar o que precisamos nesse momento.

Jim, sua tripulação e o restante dos klingons educadamente aceitaram o brinde. O que parecia ter começado como um desastre, aos poucos parecia mais claro de que não seria tão ruim quanto imaginaram.