Após alguns meses de casado, era comum para Jim não encontrar sua esposa dormindo ao lado dele. Spock, mesmo sendo a sra. Kirk agora, ainda era a oficial de ciências e segunda no comando da Enterprise, uma oficial dedicada e pontual. Preocupada com as tarefas do dia, ela sempre se levantava primeiro, mas sem deixar de acompanhar Jim na primeira refeição do dia.

Naquele dia em particular, depois de se certificar que o uniforme estava impecável e no lugar, o capitão foi até a esposa, beijando sua bochecha afetuosamente.

—Bom dia, Jim - ela respondeu distraidamente, ou melhor, focada em seu PADD.

—Bom dia, já tem algo pra hoje? - ele perguntou com curiosidade, olhando por cima da xícara de café.

—Nada concernente ao capitão, estava vendo os últimos relatórios entregues da divisão de ciências - ela notou que agora seria melhor deixar o PADD e aproveitar a companhia do marido - espero que tenha dormido bem e esteja bem disposto.

—Eu estou, obrigado por perguntar - ele sorriu diante da preocupação dela - estou sentindo que hoje o dia vai ser mais calmo.

—No que exatamente baseia tal dedução? Não há comprovações científicas ou lógicas do que chamam de palpite - ela comentou sobre as deduções de Jim.

—Bom, como você disse, meu amor, é um palpite, mas eu e você sabemos como esse nosso ramo pode ser um tanto... imprevisível - ele concordou parcialmente com ela.

—De fato - Spock respondeu quietamente - ainda assim, eu desejo um dia tranquilo, como você está fazendo agora.

Esperando que tudo corresse bem em mais um dia dos cinco anos de missão, o capitão e a primeira oficial finalmente tomaram sua posição na ponte. Depois de colocar a Enterprise em curso, Uhura anunciou a recepção de uma mensagem.

—Abrir as frequências, tenente - Kirk solicitou gentilmente.

—Capitão Kirk, saudações - disse a imagem transmitida do Almirante April.

—Almirante April, senhor, é uma honra - Jim assentiu - a que devo sua mensagem?

—Bom, notamos a rota da Enterprise perto de Callis III, estávamos preparando uma equipe de diplomacia, já que eles demonstraram recente interesse em fazer parte da Federação - explicou o Almirante - gostaria que o senhor liderasse a equipe e selecionasse seus melhores oficiais para acompanhá-lo.

—Seria um prazer, Almirante, cumprirei o mais rápido possível essa missão - o capitão da Enterprise concordou.

—Callis III sabe do grupo que enviaremos, aguardarei seu relatório posterior - instruiu April.

—Sim, senhor, Kirk desliga - Jim encerrou a transmissão, entendendo sua tarefa.

Ordenou o fator de dobra 7 a Sulu, avisou McCoy sobre acompanhá-lo até Callis, enquanto se encaminhou para a sala de transportes, com a esposa em seu encalço.

—Precisaremos de oficiais de segurança, capitão, apesar de parecer tudo muito pacífico, é de suma importância se prevenir - Spock recomendou de imediato.

—Eu farei isso, não se preocupe - ele sorriu, grato por seus constantes conselhos.

—Bom, eu estou pronto pra partir, espero que minhas habilidades diplomáticas, sirvam para a ocasião - McCoy chegou até a sala, se prontificando para cumprir as ordens recebidas.

—Saunders, Gregory, comparecer à sala de transporte, estarão na missão nos acompanhando - Kirk os convocou.

Os dois oficiais de segurança se juntaram a eles e foram assim transportados à superfície do planeta. 

—Sejam bem vindos a Callis III, sou Karina, primeira ministra do planeta, é uma honra recebê-los - disse a mulher que os recepcionou, de maneira cordial e educada.

—Muito obrigado, primeira ministra - Kirk ofereceu uma mão que ela apertou - eu sou James T. Kirk, capitão da nave da Federação Enterprise, essa é a Comandante Spock, oficial de ciências, segunda em comando e minha esposa, aqui estão também o Dr. McCoy e tenentes Saunders e Gregory, oficiais de segurança.

—Todos são muito bem vindos, eu espero que aproveitem sua estadia em nosso planeta - retomou Karina - estou ansiosa para ouvir sobre as propostas de sua Federação.

Ela os conduziu até um prédio que parecia a sede do governo e depois se sentaram a uma mesa comprida, se preparando para a reunião que se sucederia.

—Diga-me, quais as propostas de sua Federação para Callis? - Karina questionou ao líder do grupo.

—Bom, Callis faria parte do território da Federação, protegido e assistido pela Frota Estelar em tudo que precisar - Jim explicou.

—Há alguma espera de que retribuamos essa... aliança de alguma forma? - a primeira ministra quis saber.

—Se há recursos em seu planeta, eles poderiam ser estudados e compartilhados por toda a Federação - Spock se voluntariou para responder - esse é um dos nossos objetivos, compartilhar informações, respeitar culturas, de modo que elas se ajudem mutualmente.

—Me parece uma troca justa - ponderou Karina - sem contar com a proteção de suas naves, caso entrássemos em guerra.

—Se entrassem em guerra, seria lamentável, não é algo ideal para a Federação, somos uma comunidade pacífica, no entanto, surge situações que dependem de defesa - Kirk admitiu.

—Ainda assim, vocês não desistem de promover a paz - constatou a primeira ministra - eu gostaria de fazer uma pergunta, se não for algo muito incômodo.

—Oh sim, claro - Kirk estava disposto a responder pelo bem da diplomacia.

—Você e sua esposa são humanoides, não são da mesma espécie - Karina começou seu argumento.

—Eu sou vulcana, senhora, de nascimento e criação - Spock esclareceu prontamente - porém minha mãe é humana, da Terra, assim como James é.

—Isso é certamente fascinante - retomou a ministra, no que McCoy que estava ouvindo a conversa toda e tentando compreender onde ela queria chegar, deixou escapar um sorriso ao ouvir a palavra - foi justamente os princípios da Federação que os fizeram se unir, mesmo sendo de povos e culturas diferentes.

—É certo que foi a Frota Estelar que promoveu nosso encontro, sendo que ela dá oportunidades a variadas espécies de ingressá-la - a sra. Kirk opinou, levando a conversa para um lado mais lógico.

—Nisso Spock está certa, mas eu devo acrescentar que foi a oportunidade de conviver com ela que me fez desenvolver o amor e afeição que certamente são o motivo principal de nos casarmos - James completou, o que fez sua esposa erguer as sobrancelhas rapidamente, um tanto surpresa, mas contente com o comentário.

—De fato - ela murmurou logo depois.

—Não há como escapar do romantismo deles, senhora - McCoy interferiu na conversa, de bom humor - como pode averiguar agora. Entendo que a senhora tenha compreendido que a união do meu capitão e da sua primeira oficial são uma prova viva da união de povos diferentes que a Federação promove.

—Isso mesmo, Doutor - Karina assentiu.

Pensando em como nada poderia tirar o velho romantismo de James Kirk, Leonard voltou a se recostar em sua cadeira, enquanto o próprio capitão retomava o assunto. 

Um tempo depois, o grupo avançado retornou à nave. Jim constatou ao fim do dia de que estava certo, aquele tinha sido um dia mais calmo na sua carreira cheia de dias aventureiros e decisões arriscadas. Só restava descansar ao lado de sua bela esposa.