Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 98
Futuro - Dia dos namorados


Notas iniciais do capítulo

Alerta de gatilho... Nada explícito, mas pode gerar um certo desconforto.



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Tudo parecia ter voltado a um estado de normalidade naqueles dias que se sucederam depois do embate com Elza, não havia mais poções para sono sem sonho, embora seu pai parecesse estar a monitorando mais de perto e de maneiras distintas, Shara podia sentir os olhos dele sobre si em situações corriqueiras do dia a dia… e sem falar que sim ela estava de castigo, e essa parte era realmente chatinha, ele havia ficado com seus fones de ouvido, o que a deixou bastante mal humorada, principalmente nos primeiros dias, ela também havia sido proibida de entrar em seu quarto nas masmorras, só por que ele sabia o quanto ela havia amado aquele lugar, havia uma redação por semana, na primeira ele havia pedido para que ela descrevesse o uso adequado da poção polisuco e fizesse sem o uso de magia duas cópias, uma para ele e uma para a professora Minerva, na segunda semana o tema havia mudado e era controle de impulsos, além disso havia algumas tarefas bem desconfortáveis, como ter que lavar os banheiros do primeiro andar, já que aqueles eram os mais usados da escola, isso nas sextas a tarde, usando sua folga, ele chamava aquilo de trabalho voluntário, já ela de trabalho escravo, era nojento e sem falar que os próprios elfos domésticos não pareciam nada contentes com sua intromissão, Shara tinha certeza que a qualidade de limpeza que ela oferecia, estava bem aquém daquela que eles mesmos estavam acostumados a fazer.

O curioso era que apesar de tudo, ela se sentia bem, ok talvez estivesse mesmo mais cansada, mas ainda assim bem, a rotina que se estabelecia, onde antes não havia nenhuma… aquilo era de fato promissor, e no meio de tudo isso havia as mentorias, elas não aconteciam sempre e não havia um dia específico para tal, mas quando aconteciam, eles conseguiam passar um tempo de qualidade juntos, ele não gostava de falar enquanto fermentava e ela podia respeitar isso, e ainda assim era bom… ele não havia feito nenhuma pergunta sobre o dia que a havia encontrado no corredor com Gina e Beta, talvez Beta estivesse certa e ele não tivesse mesmo notado, Shara havia conseguido curar a mão no mesmo dia em que a havia machucado, claro que ela precisou fazer com que Antony prometesse não contar nada sobre o ocorrido para o seu pai, o que foi um tanto quanto difícil… ele teve que jurar, mas quando ele entendeu que aquilo não era sobre ela, ou sobre ela quebrando regras outra vez, ele cedeu, furtando a medicação necessária na enfermaria.

Havia também a redação sobre imortalidade, todos só falavam disso, então era mesmo difícil fingir que não estava lá, até o assunto da Câmera secreta parecia ter sido esquecido ou deixado de escanteio, já que nada novo havia acontecido desde então, Hogwarts parecia ter entrado num período de paz e tranquilidade, assim como a sua vida. Claro que não era nada promissor saber que metade da escola a mataria se tivessem de fato a oportunidade de faze-lo, isso em troca da imortalidade que aparentemente a lenda dizia que seu sangue fornecia, mas era estranho pensar que ambiciosamente todos pareciam almejar algo tão perigoso como aquilo, e por fim todos tinham um pouco de Elza dentro de si, eles não pareciam entender as consequências e as duras penas daquilo, pelo menos não como Antony as entendia. Shara evitada aquele assunto a todo custo,  já que aquilo era um lembrete continuo do que era esperado dela, o seu destino... aquele que ela decidiu por hora ignorar.

A parte boa era que Gina estava incrivelmente melhor depois do episódio com o diário, muito mais animada, corada até, ela mal se parecia com a menina de algumas semanas atrás, impressionante pensar no estrago que um objeto como aqueles, estando encantado e coberto por magia negra era mesmo capaz de fazer, e para enaltecer o quão animada Gina podia ser, ela havia feito uma contagem regressiva para aquele dia… sim aquela estranha segunda-feira, dia 14 de fevereiro, a data em que era comemorado o dia dos namorados, Gina nunca havia mencionado o nome de alguém mas era mais do que evidente que ela nutria sentimentos e que ela havia pensado em algo especial para surpreendê-lo, uma pena que nem ela e nem Beta faziam ideia de quem pudesse ser o tal do pretendente, já que nesse quesito Gina era bastante reservada.

Shara entrou no salão principal, se arrastando para o café da manhã, quando foi surpreendida pela decoração extravagante, as paredes estavam todas cobertas com grandes flores, num tom de rosa brilhante, e do teto caiam confetes em feitio de coração, ela se sentou na mesa da Sonserina, no seu habitual lugar de sempre, um pouco impressionada com o exagero, já Carla parecia iluminada com aquilo que via e estava cochichando algo no ouvido de Alana que sorriu, Vicent e Gregory a quem ela passou a chamar pelo primeiro nome estavam mais preocupados em tirar o confete de cima da comida do que na decoração propriamente dita, Draco fez cara de nojo, já na mesa da Grifinória as reações não pareciam ser muito diferentes dali, as meninas pareciam animadas, enquanto os meninos...

—Feliz dia dos namorados – o professor Lockhart exclamou, chamando a atenção de todos os alunos – quero aproveitar para agradecer os quarente e seis cartões que eu já recebi essa manhã – ele sorriu, Shara detestava aquele sorriso – tomei a liberdade de fazer esta surpresinha para vocês e ela não acaba aqui – ele bateu palmas e pela porta principal entraram alguns anões, que não pareciam em nada simpáticos, não a toa, aquilo era bastante esquisito, suas roupas douradas, além das asas e harpas que carregavam os faziam parecer monstrinhos na noite de Halloween – os meus cupidos entregarão os cartões – ele disse empolgado – eles estarão circulando pela escola durante todo o dia de hoje, aproveitem… tenho certeza que meus colegas não me deixarão conduzir essa brincadeira sozinho – ele se inclinou para os demais professores – talvez vocês possam pedir uma ajudinha ao professor Snape por exemplo, tenho certeza que ele poderá lhes ensinar a preparar uma poção do amor! – Shara encarou seu pai, e pelo que ela podia ler ali, nenhum aluno cruzaria o seu caminho naquele dia. 

O restante do dia continuou estranho, os “cupidos” invadiam as aulas, deixando os demais professores bastante aborrecidos, um aluno quase caiu da vassoura na sua aula de voo, ao ser surpreendido com um cartão que se parecia mais com um berrador, sim muitos dos cartões eram lidos em voz alta o que tornava tudo ainda mais constrangedor, e por falar em constrangedor o pico do constrangimento aconteceu logo após o almoço, Shara estava saindo do grande salão...

—Shara – Harry chamou, ele se apressou para alcançá-la, eles não haviam conversado mais, não depois de Flocos, Shara estava sem graça, já que ela sentia que havia fracasso ali, não sendo capaz de manter seu gato vivo, Flocos havia sido seu presente de aniversário, dado por ele de forma afetiva, portanto era difícil para ela, e quando algo era difícil, ela fugia, ela era uma especialista em fugir… mas não ali, não havia como.

—Ah oi Harry – ela devolveu percebendo que não havia mais como evitar uma conversa.

—Shara… eu quero dizer que realmente sinto muito por Flocos – ele disse, ela suspirou tendo que encarar aquilo de frente.

—Eu... infelizmente... eu sei Harry, eu sinto tanto... Me desculpe... – ela estava com dificuldades de encontrar as palavras certas, fato que ele certamente notou, ele se aproximou, segurando sua mão, num ato que a deixou corada, ele nunca havia se aproximado tanto assim antes.

—Não é sua culpa – ele disse – eu não cogitei isso, em nenhum momento… não deveria se culpar... E não se preocupe, faremos com que Flint pague pelo que fez – ele disse sério.

—Harry... – ela não sabia se deveria soltar a mão dele, ela estava se sentindo perdida, sem saber como prosseguir apartir dali – se você realmente se importa... Digo comigo… eu peço que não faça nada, sabe... Nada com Flint... será melhor assim acredite – ela tentou, ele a encarou confuso, aquilo não devia estar fazendo sentido para ele – por favor Harry – ela pediu, ele assentiu.

—Eu não entendo Shara... mas se isso te deixa melhor, tem minha palavra – ela assentiu aliviada. 

—Sim isso faz – ela disse, ele sorriu encarando a mão dela que ele ainda segurava e como num lapso de senso, ele a soltou se dando conta do que havia feito, agora era ele que estava corando ali e ela queria sumir... 

—Eu tenho algo para você – ele disse se recompondo enquanto tirava um papel dobrado do bolso de suas vestes, ela encarou aquilo curiosa, enquanto o via estender o papel para ela, era um desenho... com bons traços, era um desenho de Flocos, ela o reconheceu – achei que fosse gostar... bem para se lembrar dele, de alguma forma... não está perfeito, ainda preciso aprimorar algumas técnicas, mas achei...

—Esta... está muito bonito – ela sorriu analisando a imagem – obrigado Harry, isso... significa muito – era verdadeiro, ela mal havia terminado de falar quando um dos cupidos que parecia procurar alguém, se aproximou deles...

—”Arry” Potter – ele gritou, aquilo chamou a atenção não só deles, mas dos demais alunos que circulavam por ali, Shara notou Gina se aproximando também, a amiga sorriu para ela assim que a viu, Shara guardou o desenho rapidamente no bolso, Harry agora parecia ainda mais desconfortável com toda aquela situação, sim aquilo era sobre ele, e ele assim como ela detestava se tornar o centro das atenções... – tenho um cartão musical para entregar a “Arry” Potter – o cupido disse ao manusear a harpa, se preparando para cantar.

—Aqui não – Harry disse seco, ele parecia ainda mais nervoso, enquanto dava uns passos para trás, Shara não o julgava por isso, se fosse com ela, ela também fugiria.

—Fique parado – o anão reclamou, pressentindo o que Harry estava prestes a fazer enquanto agarrava sua mochila o impedindo de correr.

—Me solta – Harry puxou a mochila de volta com tamanha força que o zíper rompeu e rasgou, a mochila se abriu, deixando cair parte de seus pertences ali, agora havia um grupinho de alunos curiosos tentando entender o que estava acontecendo, seus olhos se cruzaram com os de Draco, que não perdeu tempo, e pegou um dos livros que Harry havia derrubado no chão, havia um sorriso de arrogância estampado no rosto do loiro, algo que ele reservava aos grifinórios. 

—Muito bem – disse o anão, vendo aquela como uma oportunidade para continuar – vamos ao seu cartão:

“Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos,
Teus cabelos, negros como um quadro de aula.
Queria que você fosse meu, garoto divino,
Herói que venceu o malvado Senhor das Trevas. ”

Assim que ele terminou de cantar, os alunos riram, sim todos riram... Shara se sentiu nauseada, aquela situação não era nem com ela, mas de alguma forma... e do jeito que foi feito... aquilo era tudo menos romântico, era na verdade humilhante, Harry se preocupou mais em encontrar suas coisas perdidas no chão, do que com o cartão em si, e agora ele parecia preocupado, muito preocupado, com algo… até que ele encarou Draco e o livro que Draco segurava em suas mãos, os olhos de Shara foram forçados a fazer o mesmo movimento... e então seu coração quase parou, aquele... aquele não era um livro qualquer, aquele era o diário, o diário de Riddle... Shara buscou os olhos de Gina, que havia acabado de ter a mesma percepção, ela estava branca... como? Isso era impossível, elas... elas haviam jogado aquilo no banheiro, era para ter dissolvido... estragado, consumido que seja... assim como o caderno que Catie havia dado em seu aniversário de 10 anos... afinal aquilo era papel, papel e água simplesmente não funcionavam.

—Vão andando... todos andando... o sinal tocou tem cinco minutos... todos para sua sala de aula – disse Percy Weasley o monitor chefe da Grifinória, tentando dispersar o grupinho.

—Devolva isso – Harry disse sério, ele se referia ao diário e falava com Draco.

—Oras... o que será que Potter escreveu nisso – Draco zombou, Gina encarava o diário como quem encarasse a própria vida, Shara pensou se deveria ou não intervir, mas se conteve.

—Devolva Malfoy – Percy solicitou.

—Claro, mas só depois que eu der uma boa olhadinha nisso – Draco disse agitando o diário no ar.

—Como monitor... – Mas antes que Percy pudesse terminar a frase, Harry havia sacado sua varinha, gritando o feitiço.

—Expelliarmus – o diário havia voado da mão de Draco e Rony havia conseguido pega-lo no ar... 

—Harry – Percy o recriminou... - terei que reportar seu comportamento, saiba disso - ele informou.

—Acho que Potter não gostou muito do seu cartão – Draco cuspiu ao passar por Harry e esbarrar nele de propósito, seus olhos se cruzaram com o loiro por alguns segundos apenas, Shara não entendia como ele podia mudar tanto assim, ele era um completo idiota ali e nisso Harry tinha razão... Shara encarou Gina, agora ela estava... Estava chorando? ela se virou e saiu correndo... Shara fez o mesmo, mas não conseguiu alcançar a amiga.

—__

—Você tem certeza Shara? – Beta perguntou, fechando o livro pesado que ela lia na biblioteca.

—É o que estou dizendo – Shara bufou – era o diário... o diário do Riddle.

—Impossível – Beta parecia pensar naquilo – pode ser que exista mais algum encanto que o torne indestrutível, mas quem colocaria um encanto assim num diário, normalmente é contrário... 

—Eu não sei... mas está com Harry agora... E está intacto – Shara disse – e isso é igualmente terrível.

—Quem será que é esse tal de Riddle? – Beta perguntou – estou começando a achar que deveríamos tentar encontra-lo... Obviamente esse não é um diário qualquer de alguém qualquer e portanto...

—Espera Beta... - Shara interrompeu - eu tenho um ponto, eu vi um troféu com o nome dele outro dia - Shara se lembrou – na sala de troféus, Beta se levantou sem pensar duas vezes... as meninas correram para fora da biblioteca, os corredores estavam parcialmente vazios já que estava perto do toque de recolher... e pela primeira vez Beta parecia não se importar com o fato delas estarem suscetíveis a quebrarem uma das regras da escola e isso provava o quão preocupada ela parecia estar com a história daquele diário circulando pela escola outra vez..

—Serviços Prestados à Escola – Beta leu em voz alta pela terceira vez – o que exatamente significa isso? - Shara deu de ombros, ela não sabia – ele tinha 16 anos naquela época.

—Sim, e isso a 50 anos atrás – Shara completou, mostrando a data no troféu – ele tem 66 anos hoje – as meninas se olharam aquilo estava começando a ficar cada vez mais estranho.

—Vou procurar por ele no anuário da escola – Beta informou – certamente teremos um pouco mais de informação a respeito, eu posso estar enganada… mas algo sobre ele não me cheira muito bem – Shara concordou – infelizmente a biblioteca já está fechada a esse horário – ela suspirou – não vejo a hora que essas restrições de horário voltem ao normal, ainda está cedo… mas ainda assim perdemos a hora, melhor voltarmos para a nossa sala comunal antes que o zelador nos encontre – Sim era mesmo o melhor a se fazer, elas caminharam juntas até uma certa altura quando precisaram se separar já que a sala comunal de ambas ficava em sentidos contrários. 

Shara estava imersa em seus pensamentos, tentando montar aquele novo quebra cabeça que estava se formando ali quando um pouco antes de chegar nas masmorras, foi surpreendida com a presença de mais alguém no corredor, ela não estava sozinha e simplesmente não havia como se esconder ou correr, era tarde demais e ela havia sido vista, Shara suspirou pensando nos pontos que estaria perdendo para sua casa mais uma vez.

—Ora, ora... o que temos aqui – era o professor Lochkart, ele estava segurando uma garrafa de whisky de fogo, pela metade, em uma das mãos, ele cheirava a álcool e parecia um pouco alterado, ele sorriu para ela... ela já havia mencionado que detestava aquele sorriso?

—Professor – Shara respondeu – eu estou voltando para meu dormitório – Shara informou, talvez estando naquele estado ele sequer tivesse notado o horário e ela pudesse escapar ilesa.

—Eu... como professor dessa escola... devo acompanhá-la... está tarde mocinha, digo… para que uma menina de beleza tão singular, caminhe sozinha pelo castelo... Sabe pode ser perigoso, existe um monstro a solta… e você parece… deliciosa – ele disse num tom que ela interpretou como malicioso demais para o seu gosto e isso fez com que um arrepio percorresesse todo o seu corpo, não ela não havia gostado daquele comentário e principalmente da maneira como ele a estava olhando agora, aquilo a fez se lembrar de como ele havia agido com ela no começo do semestre letivo, ele nunca mais havia se aproximado dela daquela forma, contudo... essa noite ele estava bêbado.

—Não... há necessidade professor – ela disse, seu coração batendo forte em seu peito – eu farei sozinha – ela disse sem dar qualquer opção.

—Faço questão senhorita – ele insistiu – vamos... – ele orientou bloqueando sua passagem.

—Senhor… as masmorras ficam para o outro lado – ela informou, seu coração quase pulando pela boca.

—Ah claro... eu sei disso – ele riu, cambaleando um pouco – só estava pensando em passarmos antes nos meus aposentos privativos, tem algo que gostaria de lhe mostrar – ele sorriu ainda mais, um alerta acionou em sua mente, ela deu um passo para trás... mas ele foi rápido, ele segurou seu pulso – não tão rápido mocinha – ele disse, puxando a garrafa para mais perto de si – eu vou apenas discipliná-la... está quebrando as regras... você sabe, já passou do toque de recolher - ele insinuou… - uma… detenção.

—Por favor senhor... – Shara estava nervosa, de alguma forma ele a lembrava de Noah assim, o lado monstruoso com o qual Shara havia convivido… e que a fazia implorar por misericórdia.

—Vai ficar tudo bem... Uma detenção não faz mal a ninguém  – ele deslizou o braço, alcançando sua mão – Shara estava assustada, aquilo... aquela situação era um gatilho, seu estômago revirou, uma lágrima desceu pelo seu rosto, ela estava sentindo que estava começando a hiperventilar... quando se lembrou da moeda, ela a carregava por todos os lugares em seu bolso, mas a usava muito pouco, talvez aquele fosse o momento certo para isso... ela tentou organizar sua mente, pensando se ela não estava exagerando, vendo coisas onde não tinha... mas a forma como ele sorria, como ele a estava tocando, como ele a olhava... ele estava alisando sua mão agora... E isso fez com que outras lágrimas caíssem, ele a estava puxando, e seus pés estavam se movendo em sua direção, a traindo completamente, o ar passava com dificuldade pelas suas narinas... ela não conseguiria lutar, quando decidida ela colocou a outra mão no bolso, segurando a moeda com força... segundos eram mais que o suficiente... – não, não, não – o professor Lockhart havia dito para ela, puxando sua outra mão – sem varinha – talvez deduzindo que ela a estaria puxando... mas não era o caso ali e ela já havia feito… 

—Por favor – Shara tentou uma última vez, sentindo suas pernas vacilarem… por que seu corpo não respondia ao seu comando? por que ela não conseguia fugir? Será que ela estava interpretando isso certo... havia incertezas, medos... traumas, ela estava prestes a ter uma crise… - por favor - ela pediu mais uma vez…

—O que exatamente está acontecendo aqui? – ela ouviu a voz do seu pai se aproximar, ela estava salva mais uma vez salva por ele, ela se lembrou do que ele havia dito a apenas alguns dias atrás “nem sempre estarei lá para salvá-la, infelizmente a vida não é uma extensão dos corredores desta escola” felizmente nesse caso, ainda era... e ele podia salvá-la, já que ela mesmo não podia…

—Professor Snape – Lockhart disse soltando sua mão, ação que não passou despercebida por ele – eu encontrei essa aluna fora dos seus aposentos depois do toque de recolher – ele disse se atrapalhando um pouco com as palavras – e então eu... estou aplicando uma detenção…

—Cale-se – Seu pai disse ao empurrar o professor de defesa contra a parede de pedras daquele corredor mal iluminado e frio, a ação foi rápida, a assustando, aquilo também o assustou, fazendo com que Lockhart soltasse a garrafa de whisky, onde a mesma estilhaçou assim que encontrou o chão, fazendo com que o aroma de álcool pesado se espalhasse por todo o lugar e fazendo Shara enjoar ainda mais, ela levou a mão no estômago, seu pai havia sacado a varinha, e a empunha contra o pescoço dele que mal piscava ali – eu lembro de ter sido claro – ele disse centímetros de distância do seu rosto – para não se aproximar de nenhuma aluna da minha casa… 

—Eu não fiz... eu juro, foi ela... foi ela que se aproximou de mim – Shara piscou duas vezes, ele estava... o que? Colocando a culpa nela.

—Tem sorte por estarmos na escola e na frente de uma criança de apenas 11 anos de idade professor – seu pai disse de forma arrastada – do contrário estaria esfregando esse seu rostinho angelical sobre os cacos de vidro e o fazendo lamber cada poro de álcool desse chão – ele cuspiu – seria adorável poder desconfigurá-lo e lhe proporcionar as piores cicatrizes que poderia se lembrar – Shara se abaixou, ela estava prestes a vomitar.

—Por favor tenha clemência, eu não fiz nada, pergunte a ela…– ele choramingou, era tão patético, Shara pensou... ele era seu professor de defesa da arte das trevas e ele era um completo covarde.

—No que depender de mim professor... em breve estará lecionando em Askaban... – Shara se inclinou – ou quem sabe no inferno – Shara colocou as duas mãos sobre o chão, fugindo do vidro, sentindo a bile na sua garganta, era como se lembrar de Noah outra vez... então ela vomitou, deixando de prestar atenção naquilo que acontecia ao seu redor, ela vomitou... alguns segundos foram necessários para ela sentir uma mão gelada em sua testa, e a outra afastar seus cabelos.

—Estou bem – ela sussurrou – me desculpe... por isso – antes mesmo que ela terminasse de se desculpar, ele já havia banido a sujeira toda, ela se sentou no chão... puxando as pernas contra o seu corpo, ela estava uma bagunça.

—Ele vai voltar... Noah, ele sempre volta – ela disse em meio as lágrimas.

—Noah está morto Shara – ele a lembrou, ela não podia encará-lo, ela estava tão envergonhada… 

—Eu usei minha magia e o joguei na parede – ela olhou para as próprias mãos – eu quase o matei aquela vez... Noah – ela soluçou – a minha magia... – aquilo tudo estava voltando com força total outra vez, talvez aquilo nunca fosse embora.

—Eu sei... – ela sentiu a mão dele no seu rosto, ele parecia checá-la de alguma forma.

—Ele me bateu uma vez... eu precisei dormir de bruços por semanas, as minhas costas... Catie as curou, não havia muitos remédios, ele usou um cinto... ele sempre o usava quando ficava com raiva, eu não deveria ter chamado um adulto aquele dia, mas eu achei que se eu contasse a verdade a alguém, eu achei que talvez tivesse uma chance... – ela estava soluçando, sem entender o porquê estava dizendo aquilo, ela apenas estava... era algo do seu passado - Noah nos deixava sem comida as vezes... eu estava com muita fome naquele dia e um adulto poderia ajudar, mas Noah ficou tão bravo quando soube... ele disse, que eu não devo chamar... nunca devo chamar, ninguém…

—É por isso que tem usado tão pouco a moeda? – ele perguntou, e ela se deu conta ali... que sim... que era isso, que havia mesmo um motivo, uma razão que a deixava tão relutante em pedir ajuda, mais uma vez ela estava condicionada a algo, o seu comportamento moldado a um padrão… aquela era uma verdade sobre ela... ela assentiu, ele a puxou contra si.

—Está segura agora – ele disse, ela chorou em seus braços, ela sabia que sim... ele pediu que ela tomasse uma poção, ela mal leu o rótulo daquilo, não era familiar, mas ela confiava nele, ela fechou os olhos minutos depois... ela sentiu que o chão estava se movimentando, era estranho, mas pelo menos estava quente... e de repente o chão havia ficado macio, muito macio, aquela era uma sensação boa, ela já havia sentido algo assim antes, ela se aninhou ali, sem poder abrir os olhos... uma mão parecia acariciar suas costas, não eram golpes de cinto... era afetivo, ela se sentiu tão bem ali, ela dormiu.

—__

Shara abriu os olhos, ela estava na sua cama… no seu quarto, nas masmorras, como ela lá havia parado ali? As informações da noite anterior caíram sobre ela como uma alavanche, aquela deveria ser terça feira de manhã e ela deveria ir para a aula, aula de defesa e a simples constatação disso a fez querer vomitar outra vez… ela estava com vergonha, puxando a coberta por cima de si, como se pudesse se esconder do mundo ali, ela gostava de pensar que podia.

—Shara - ela o ouviu dizer, ele estava ali no seu quarto? Seu coração disparou.

—Não quero ir para a aula… por favor - ela pediu… antes que ele pedisse para que ela se arrumasse.

—Não será necessário - ele disse - sua turma foi dispensada essa manhã - ele informou - digamos que o professor de defesa teve um pequeno imprevisto ontem a noite - Shara baixou a coberta se virando para o sentido de onde a voz dele parecia vir… ele estava sentado em uma cadeira, lendo algo ali - Gilderoy acabou caindo da escada ontem a noite - seu pai disse sério…

—O senhor… - ela queria perguntar… ele havia? feito aquilo? - O machucou? 

—Não… me parece que ele ingeriu bebida demais… e suas pernas o traíram… eu teria feito muito pior - ela engoliu em seco - segundo o que diz… ele não se lembra de nada do que aconteceu na noite passada - ele a encarou, seu semblante imparcial a fez oscilar… ela preferia ser engolida pelo colchão, que ter que discutir aquilo.

—Eu… não quero falar sobre isso - ela piscou, sentindo seu rosto queimar.

—Voce me convocou ontem a noite - ele se levantou de onde estava, talvez aborrecido por ter sido importunado daquela forma.

—Desculpe eu… não queria incomodá-lo, eu achei… não vai se repetir - ele se aproximou da cama.

—Não se desculpe por ter feito a coisa certa - ela não queria chorar… espera… ele disse a coisa certa? Ele acreditava nela… ele realmente acreditava, mesmo quando o professor Lochkart havia dito não se lembrar de nada - O que exatamente aconteceu ontem a noite? - ele perguntou, acontece que por mais que ela confiasse nele e por mais que ela soubesse que ele se importava com ela, era constrangedor… ela se sentia exposta ali… muito exposta, ela baixou os olhos envergonhada - posso ver sua lembrança se isso te deixa mais confortável - ele sugeriu… mas não deixava, isso era difícil, igualmente difícil, independente de como fosse feito… de qualquer forma ela assentiu, ele merecia a verdade dela - você só precisa olhar pra mim - ele pediu, notando que ela não se movia e segurando seu queixo… ela fez, foi rápido… ele a encarou, havia algo a mais no olhar… 

—__

Seus sentidos haviam sido testados na noite passada, da pior maneira possível, ele sentiu vontade de matar, um impulso assassino, um desejo cruel… suas entranhas se contorceram com a mera hipótese de que o bastardo havia encostado ou almejado encostar em sua filha… aquele era um feitiço curto, estava na ponta de sua varinha, já havia sido dito por ele tantas outras vezes no passado, muitas delas sem que houvesse de fato intenção de fazê-lo, mas agora havia… sim havia, um flash verde seria o bastante, o mandaria direto dali para o trem no inferno… Gilderoy parecia entender aquilo, ele estava acuado, muito mais do que quando havia sido ameaçado pela primeira vez… ele sabia que Severo entre todos seria capaz de fazer, contudo o bastardo estava bêbado, fodidamente bêbado, e aquela condição o desfavorecia, eles estavam a poucos centímetros de distância ali, seu hálito carregado de álcool soprava em sua face de maneira inregular, emanando o odor de um whisky barato misturado ao medo que ele estava sentindo… era prazeroso saber que estava surtindo tal efeito, uma palavra errada, apenas uma palavra… ou quem sabe um movimento e Severo perderia completamente a compostura, colocando em risco o disfarce que ele havia construído em anos e o segredo sobre sua paternidade… sua varinha pressionava seu pescoço, provando o quão perto ele estava de machucá-lo.

Mas tudo se dissolveu em segundos, se perdendo em algum lugar assim que Severo a ouviu vomitar… Severo soltou Gilderoy com brutalidade o arremessando contra o chão, aquilo podia esperar… já ela não, o bastardo fugiu como uma cachorrinho assustado, se arrastando pelo chão até que pudesse se colocar em pé e então correu, Severo não se importava, Shara era sua prioridade e Shara estava quebrada ali, no meio de uma crise, não podendo distinguir o presente do seu passado, algo nela havia sido acionado provando mais uma vez aquilo que ele já sabia, o quão ruim havia sido sua infância naquele lugar, ele já havia visto algo semelhante antes e ele precisava estabilizá-la, a poção que ele havia ministrado havia cumprido seu papel… então ele a levou para casa.

Aquela noite Severo havia destruído parte do seu escritório pessoal, o recuperando mais cedo naquela manhã… uma forma de extravasar um pouco a frustração que estava sentindo, nada podia mudar o passado sim, mas… juntos eles já haviam mudado o futuro e agora ela o havia convocado, usando a moeda que ele havia dado em seu aniversário, aquilo não acontecia sempre, na verdade ela mal a havia usado, no caso acontecia com menos frequência do que ele gostaria, mas agora ele podia sentir a dificuldade dela em fazê-lo, haviam marcas e ele entendeu o quão traumatizada ela era naquele sentido. 

Shara acordou perto das 9 horas do dia seguinte, horário previsto para que a poção deixasse de fazer o efeito, sua turma havia sido dispensada da aula de Defesa desta manhã, um acidente envolvendo Gilderoy e a escada, pelo menos era o que dizia o bilhete de Minerva. Shara se encolheu, puxando a coberta sobre si… ela estava fugindo da realidade, à sua maneira fugindo, e ele sentiu que estava retrocedendo alguns passos ali… ele suspirou, havia um senso de justiça  em vigor e ele precisava antes de mais nada entender o que exatamente havia acontecido com ela, para assim dizer, tomar as medidas cabíveis, seu sangue ainda fervia… 

Ele havia sido mais atento nessas últimas semanas, cada movimento, cada passo dado por ela, contudo sendo muito menos invasivo do que de costume, basicamente ele havia parado de fazer perguntas, ele sabia que Antony a havia ajudado e curado sua mão, sabia que as meninas haviam se livrado de algo no banheiro do segundo pavimento, já que mais tarde naquele dia o banheiro havia sido encontrado transbordando depois de mais um surto daquele fantasma instável que habitava o lugar, ele sabia também que seja lá o que fosse, era ruim já que a menina Weasley havia melhorado significativamente naqueles dias, após se ver livre daquilo e por mais que ele houvesse verificado o local, sutilmente é claro, nada suspeito havia sido encontrado ali.

Severo estava seguindo os conselhos dados por Dumbledore, eles haviam conversado naquele dia, e muitas outras vezes depois dali, eles repassaram todos os últimos acontecimentos com Elza, de forma minuciosa, ele reviveu a lembrança dissecando cada mísero detalhe, ele e Alvo haviam discutido, Severo discordava em muitos pontos, principalmente na maneira como Alvo havia conduzido tudo aquilo, mas Alvo era brilhante, a mente mais brilhante que Severo já havia conhecido, ele havia prometido, se comprometido a ajudar com a questão de Antony, se Alvo não encontrasse uma resposta, certamente ninguém mais encontraria.

Severo não tinha pressa em relação a Shara, como um bom espião, ele sabia que o melhor a se fazer, muitas das vezes é de fato aparentar não se estar fazendo nada, e a conversa com Alvo o havia trazido de volta para esse lugar… contudo ele também sabia ponderar, e o assunto mal resolvido da noite passada, esse não, não podia esperar, Severo se sentiu ligeiramente vitorioso com o fato dela ter deixado que ele visitasse suas memórias ali… aquilo seria o bastante, então ele mergulhou naqueles olhos verdes, os mesmos olhos de Maeva… os olhos que o deixavam desconfortável e o haviam mudado.

—Serviços prestados à Escola – a corvina havia dito, elas estavam na sala de troféus minutos antes do ocorrido com Lockhart, razão que as fez perder o toque de recolher, ele arqueou a sobrancelha curioso -  ele tinha 16 anos naquela época - ela havia dito.

—Sim, isso a 50 anos atrás – Shara completou, mostrando a data no troféu, que Severo rapidamente reconheceu como sendo…  – ele tem 66 anos hoje – Shara disse e as meninas se olharam, por qual motivo elas estavam interessadas naquilo, por que entre tantos… era justo o troféu dele? Severo não queria invadir a privacidade de Shara assim, mas ele sempre costumava voltar alguns minutos antes de uma memória para entender o verdadeiro contexto de onde estava inserida, mas obviamente que ele não esperava por aquilo, não havia conexão alguma com o que ele estava buscando… não…

—Vou procurar por ele no anuário da escola, certamente teremos um pouco mais de informação a respeito, eu posso estar enganada… mas algo sobre ele não me cheira muito bem - sim a garota tinha senso, aquilo era ruim - infelizmente a biblioteca já está fechada a esse horário, não vejo a hora que essas restrições de horário voltem ao normal, ainda está cedo, mas perdemos a hora, melhor voltarmos para a nossa sala comunal antes que o zelador nos encontre - a morena havia dito, Severo apreciava o zelo pela regras… mas haviam dois problemas agora, Lockhart era o primeiro e o mais urgente ali… já o segundo merecia igual atenção… elas estavam interessadas pelo homem que havia recebido o título gravado naquele troféu, havia uma razão para isso ele supôs e sua mente vagou tentando fazer prováveis conexões, havia outro segredo em comum entre elas, o objeto enfeitiçado com arte das trevas que elas teoricamente haviam se livrado a dias atrás, aquele que havia queimado a mão de Shara… ele congelou com aquela percepção, facilmente as peças se encaixavam, as meninas obviamente não faziam ideia da gravidade disso tudo… pelo menos não ainda, Alvo deveria ser informado, se um objeto com tal potencial vindo do maior bruxo das trevas estava de fato circulando pelo colégio, sim Alvo deveria ser avisado… 

O restante da memória, era sobre elas tomando rumos diferentes, a aproximação do professor Lockhart a forma como ele havia falado com ela e a estava obrigando a acompanhá-lo, fez Severo esquecer, apenas por um momento as conexões feitas anteriormente, Shara havia feito a coisa certa, ao chamá-lo ali… Severo saiu da memória, e os olhos verdes dela o encaravam a espera de algo… ele não comentaria sobre a sala de troféus, e sobre o que ele sabia, não ainda. 

—Ele não irá mais importuná-la - Severo disse sério a vendo oscilar constrangida - essa é uma promessa, e como bem sabe… eu sempre as cumpro - Shara o analisou por um longo momento.

—Qual o peso?... - ela perguntou - digo o peso dessa promessa - ela complementou - aquele questionamento o fez curvar o canto da boca para cima, ela era suficientemente esperta e estava validando a relevância daquilo que ele havia dito, usando seus métodos de julgamento, ele segurou seu queixo da forma como sempre fazia… aqueles olhos verdes.

—Não há peso maior, que possa superar o que senhor dito - ele afirmou para ela vendo seus olhos brilharem.


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Notas finais do capítulo

Parece que esse dia dos namorados, não terminou tão bem para Lockhart como ele gostaria, ele acabou bebendo além da conta e revelando seus instintos primitivos (sorry eu acho ele um nojento, já falei disso antes né... Então sem peso na consciência em descrevê-lo dessa forma).

Mas ele foi longe demais, mexendo com a criança errada, eu sei é imperdoável com qualquer uma, mas ela... Definitivamente ela não.

A situação toda a deixou vulnerável, já que ela tem histórico né, eu sei como é ter que lidar com fantasmas do passado e ela convenhamos tem alguns.

Agora o que foi esse dia dos namorados?
Pra quem leu o livro, sabe que voltamos diretamente para o canon, o poema de Gina, a vergonha alheia e tudo mais... Está nos livros e não no filme, mas está lá.

E agora o diário está com Harry... Que aliás foi um fofo aqui fazendo o desenho de Flocos e o entregando bem no dia dos namorados ☺️, ele segurando a mão dela e ficando envergonhado, ahhh os 11 anos de idade! Hahaha

Eu sei que estão sentindo falta de Draco... Mas ele logo volta! Prometo.

Aproveito para desejar um feliz natal a todos!!!

Obrigaduuuuu



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