Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 90
Futuro - Futuro?




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Shara acordou preocupada, era domingo de manhã daquele dia que havia sido marcado por Elza, um mal presságio a assolou assim que ela abriu os olhos, e definitivamente depois de tudo que ela sabia e havia entendido sobre quem ela era e sobre como os seus dons se manifestavam, um presságio com aqueles era um péssimo sinal… e onde estava Draco? Por que ele ainda não tinha aparecido? Por que ele estava demorando tanto para procurá-la? será que Shara estava tão enganada assim sobre ele… ela esperava que não… ela dependia disso, mais do que qualquer outra coisa agora, ela se sentou na cama, calçando suas pantufas de cobra e fingindo que aquele seria mais um dia normal, quem sabe assim ela pudesse enganar sua mente por alguns meros instantes e aplacar um pouco aquela sensação de pânico que corria em suas veias e fazia com que um frio desagradável se instaurasse em seu estômago, sensação essa que a acompanhou durante toda a tarde do dia anterior e que se não fosse pela poção que ela ingeria todas as noites, certamente não a teria deixado dormir… ela se arrastou para fora do quarto com pouca ou nenhuma vontade de fazê-lo, se ela pudesse ela pularia aquele dia, como num passe de mágica, ironia essa já que mágica alguma funcionaria nesse caso… e a incerteza era uma inimiga muito próxima ali.

—Não pode ser tão ruim… ou será que pode? - ela ouviu o professor Snape perguntar… do que ele estava falando, ela o encarou, ele estava na mesa, tomando o seu café como de costume, e na dúvida ela achou por bem em não responder aquela pergunta já que ela poderia ter inúmeros sentidos - está péssima - ele disse finalmente, enquanto baixava o jornal e a analisava – talvez uma cela em Azkaban fosse mais do seu agrado, do que estar presa a esse lugar, nesses intermináveis, longos dois dias - ele disse… certo, era evidente que dado aos recentes acontecimentos e todas as demais circunstâncias que ela não estaria com a expressão mais feliz da face da terra ali… e isso nada tinha a ver com o lugar em si, ele sabia... Ela suspirou.

—Estou com um presságio ruim - ela admitiu – muito ruim... e minhas experiências com isso, dizem que devo me preocupar - ela se sentou, notando a expressão dele ficar mais séria também.

—Não, você não deve – ele foi ríspido – como dito, esta situação está em minhas mãos e portanto cuidarei dela - ele disse bebendo do seu café de forma natural e parecendo muito bem resolvido com a forma em que resolveria aquilo,  quem sabe, talvez apenas quisesse que ela acreditasse nisso.

—Eu me sentiria melhor se ficasse… aqui... comigo - Shara disse em mais uma tentativa de tentar comove-lo - eu posso lidar com qualquer preocupação, afinal isso é algo que já venho fazendo há um tempo… mas se algo acontecer… eu não poderei lidar... não poderei continuar…. Simplesmente não - ela não precisava finalizar aquilo, ele havia entendido… ele levantou da mesa, a surpreendendo, ele estava evitando aquele assunto e portanto não lhe daria ouvidos, que grande novidade, ela havia perdido.

—Não vou discutir isso novamente, tenho tomado minha decisão - ele falou sério - agora quero que se ocupe com outros assuntos… esse é apenas mais um domingo como qualquer outro - acontece que não era, a quem eles queriam mesmo enganar? ela fechou os olhos, mas assentiu, seria perda de tempo ampliar aquela discussão com ele, quando ambos ouviram alguém batendo na porta, Shara sentiu seu coração acelerar…"por favor Draco, seja você" ela internalizou aquele pedido, ao observá-lo caminhar até a porta.

—Sr. Malfoy - ela o ouviu dizer, e a menção ao sobrenome dele, fez com que ela soltasse o ar aliviada, ele veio, ela estava certa sobre Draco, ele era mesmo um tremendo de um delator, fofoqueiro e previsível, mas nesse caso tremendamente necessário, isso salvava um pouco o dia.

—Draco - ela saltou da mesa, querendo mesmo chamar a atenção para si, e isso automaticamente obrigou o professor Snape a abrir a porta um pouco mais, permitindo maior visibilidade, embora fosse mais do que evidente que ele não tinha pretensões em convidá-lo a entrar, o professor Snape não era do tipo anfitrião, que gostava de receber visitas… mas ainda assim Shara precisava chegar até Draco, mesmo que isso soasse completamente fora de um padrão, Draco estava ali agora e aquela era a oportunidade que ela estava esperando, não seria uma opção deixá-la passar.

—Shara… - Draco disse seu nome enquanto a olhava confuso - você está aqui - ele concluiu, Shara ainda estava de pijamas, ela usava aquelas pantufas agora não tão extravagantes assim, embora ainda fossem bastante exóticas e ela sequer havia penteado os cabelos, ótimo… mas quem se importava não é mesmo? Não quando se tem um plano como aqueles em mente e tanto nas costas para carregar… Ela sorriu sem jeito… não, ela não se importava, ou será que se importava? por que ela estava corando? Oh céus e por que ele tinha sempre que estar tão bem arrumado e vestido?

—Bom pelo que tudo indica os seus olhos estão funcionando muito bem Sr. Malfoy, meus parabéns, confesso que estou verdadeiramente surpreso – o professor disse empregando algum sarcasmo – sabe… não tive a mesma impressão ao  assisti-lo jogar na última partida de quadribol da casa - ele sorriu com o canto da boca - Deixa-me ver, em qual posição você joga mesmo? Apanhador... hummm interessante, talvez sua visão seja apenas seletiva, enxergando assim apenas aquilo que deseja – ele estava tentando provocá-lo, sim e ele era muito bom nisso, Shara suspirou “por favor Draco não caia nessa” ela pensou "não estrague tudo, não ainda" – e como tudo indica, não podemos comparar sua visão ao seu cérebro, já que esse me parece mesmo não ter utilidade alguma – ele usou ainda mais ironia - diga Malfoy… a que devo a honra de sua visita? Em meu horário de folga num domingo de manhã? Penso que seja algo consideravelmente pertinente, já que todos sabem o quanto não gosto de ser incomodado nessas circunstâncias e mesmo assim você está diante da minha porta como quem acaba de ver um fantasma – ele continuou - precisará ter um excelente motivo Malfoy… e essa é a deixa onde você começa explicando o motivo dessa interrupção - agora ele usava um tom ameaçador, que deixaria qualquer um intimidado, Draco recuou, não por menos - mas é claro que o senhor tem um bom motivo, não é mesmo? - ele insistiu, vendo que o menino não se movia.

—Eu… sim... é… na verdade… - Draco olhou para ela… ele estava completamente perdido agora, ficando mais do que evidente que ele não esperava encontrá-la ali.

—Quanta eloquência - o professor zombou, mas a verdade é que Draco havia ficado sem um bom argumento para validar sua presença em suas alas essa manhã, Shara sabia que aquela era a hora de intervir, antes que a situação pudesse piorar ainda mais e ela não conseguisse colocar o seu plano em prática ali, aquilo não era bem da forma como ela havia imaginado, mas decidindo não se importar, Shara correu até Draco e o abraçou, atitude que certamente pegou ambos de surpresa, dado o silêncio constrangedor que havia se formado ali, ela quase podia ouvir sua própria respiração e talvez a de Draco, se bem que ela achava que ele não estivesse respirando naquele momento.

Draco havia enrijecido completamente e até mesmo Shara  podia ver que aquilo havia sido um tanto quanto ousado, afinal ela estava se jogando nos braços de um Malfoy, na frente dele... do seu pai, que havia acabado de ridicularizá-lo ali, aquela ação que além de estranha era no mínimo desconcertante, primeiro por que ambos não estavam acostumados com demonstrações públicas de afeto, eles eram Sonserinos, e o pouco que ela já havia entendido sobre ser um Sonserino é que não havia espaço para sentimentalismo, nunca… mas ela havia conseguido, sem que ninguém percebesse ela havia conseguido colocar o bilhete nas vestes do loiro… e era isso que importava no final das contas, foi rápido… e que sorte a dela por ter se movido com tanta agilidade, pois apenas alguns segundos depois, ela sentiu algo lhe puxar com força a obrigando a se afastar instantaneamente do garoto, a lançando a uma distância considerável dele, e fazendo com que ela caisse sentada no sofá, aquilo havia sido um feitiço, sim um feitiço lançado pelo professor Snape, que agora a estava fuzilando com o olhar, já Draco ao se sentir intimidado e dado a todo aquele desconforto, levou as duas mãos no bolso, foi quando Shara notou que ele havia sentido o papel, ele a olhou com surpresa, sim ele havia entendido o que ela havia feito ali… por Merlin… por pior que fosse, aquilo havia dado certo… sendo assim havia valido a pena.

—Tenho certeza - ele disse com a voz arrastada - que seja lá o que for que tenha a dizer Sr. Malfoy… poderá esperar até amanhã - o professor disse ríspido, batendo a porta na cara do garoto e voltando toda sua atenção para ela ali, isso não estava na programação, então ela se encolheu contra o sofá, aguardando o acesso de fúria passar - posso saber o que significa isso? - ele disse lentamente cada uma daquelas palavras, fazendo com que a pergunta durasse uma eternidade, ele estava bravo, muito bravo.

—Falta de controle de impulsos - ela disse com a voz estrangulada… aquela era a sua melhor desculpa.

—Mas é claro - ele rosnou se inclinando sobre ela - eu chamaria de falta de senso, senso de autopreservação Epson… Shara... Epson -  e lá estava o seu nome e o seu sobrenome outra vez, ditos… um após o outro - tem sorte em não querer me indispor hoje - ele estava bufando pelo nariz - contudo não pense que tolerarei tamanha falta de pudor, não de você, não na minha frente, não nas minhas alas e nunca, jamais… com ELE – ele apontou para a porta, mas ela havia entendido o recado.

—Não pode ser tão ruim… ou será que pode? - ela devolveu com a mesma pergunta que ele havia feito a ela, momentos atrás, numa tentativa de aliviar um pouco aquela tensão, mas se arrependendo no segundo seguinte.

—Acredite - ele se aproximou ainda mais dela, ficando tão próximo que ela podia sentir sua respiração sobre si - que sim… PODE – ele gritou a assustando, ela sentiu vontade de fugir, sair correndo como costumava fazer nos velhos tempos, ela sabia que lágrimas estavam se formando no fundo dos seus olhos, mas ela não iria chorar… ele ainda a intimidava, ela precisava admitir - ele é um maldito Malfoy, e isso por si só BASTA - ele cuspiu - você vai manter distância… está me ouvindo? - ela assentiu - ótimo pois eu não estou brincando  - ele a encarava furioso, sim aquilo não precisava sequer ser dito, ela sabia, não era brincadeira, pelo simples fato de que ele nunca brincava - e isso, é uma ORDEM - Shara se encolheu ainda mais ali, foi quando ele recuou, passando por ela, e batendo a porta do seu escritório pessoal com bastante força, Shara se sentiu péssima, afinal não era como se ela se jogasse em cima de todos os meninos que visse daquela forma, ela engoliu aquele indigesto sapo… por que ele tinha sempre que ser tão rude, tão desnecessário, insensível e completamente exagerado… quem sabe mais tarde ele entenderia… Shara limpou os olhos, não permitindo que as lágrimas caíssem.

Shara puxou as pernas ainda mais contra seu próprio corpo, ela havia perdido a fome naquele ponto, o que não era nenhuma novidade, ela detestava aquela sensação, aquela incerteza, de não saber o que fazer… e por mais difícil que aquele dia pudesse ser, com todas as implicações e inseguranças que ele traria, aquela definitivamente não era a maneira como ela desejava passar o restante da sua estadia com ele ali, aquele lugar não era uma cela, de longe se parecia com Azkaban, não que ela soubesse… mas com aquele clima pesado, sim podia ser suficientemente ruim, Shara tentou regular sua respiração, ainda havia aquele mal presságio, e o frio na barriga que ele trazia, evidenciando o seu maior medo… perdê-lo, Shara saltou do sofá, talvez aquele não fosse o momento de engolir sapos… havia tanto mais em jogo, e era tolice perder tempo assim, decidida ela deu o primeiro passo… se aproximando do escritório dele e abrindo a porta sem sequer bater ou pedir licença… aquele território era novo e ainda inexplorado, ela nunca havia avançando tanto assim com ele antes… talvez lhe faltasse mesmo o senso de autopreservação como ele havia dito, mas ela resolveu arriscar.

—Escute - ela começou, ele estava parado, em pé atrás da sua mesa de trabalho, apoiando as duas mãos sobre a bancada, levou alguns segundos até que ele erguesse a cabeça e lhe desse alguma atenção ali - eu… - ela suspirou, ela ia começar pedindo desculpas, mas isso era patético, ela não havia feito absolutamente nada de errado, simplesmente não cabia – o senhor não tem o direito de me julgar tão mal... e eu não vou tolerar isso – ela disse cruzando os braços, e ficando séria, ele não havia esboçado nenhuma reação, mas seus olhos estavam vidrados nos dela, agora não um olhar enfurecido… aquele era um olhar diferente, profundo, ao mesmo tempo que distante, aquele era um olhar que parecia ter muito a dizer, e isso a desconcertou, ela soltou os braços não conseguindo manter aquela postura -  olha não quero passar o restante desse dia desse jeito - ela foi sincera – já é suficientemente ruim não acha? – ela perguntou - e antes que me diga que não devo me preocupar com isso ou pensar a respeito daquilo que irá acontecer mais tarde... mas não dá ok? eu não consigo, isso não é tão simples assim, não é como se houvesse um botão em mim e que eu possa apertar e simplesmente desligar aquilo que sinto… isso é sobre sentimentos... e eu... – ela sustentou o olhar - não tenho dificuldades em demonstrá-los… – ela finalizou - então, será que podíamos apenas esquecer - ela sugeriu 

—Qual parte sugere que seja esquecida? - ele perguntou.

—A parte… a parte… - aquilo não era apenas sobre Draco, para ela havia tanto mais, aquilo deveria ser sobre todo o resto  - tudo - ela sussurrou, ela queria esquecer tudo… nem que fosse por um único dia, ele voltou a baixar a cabeça e encarar a mesa a sua frente, ele parecia mais cansado ali…  - por favor, eu… estou com medo - aquele não era apenas um pedido qualquer.

—Nem todos lidam com suas frustrações da mesma maneira – ele disse depois de um tempo... ela havia se escorado contra o batente da porta, e aquilo a surpreendeu, ele nunca havia dado esse tipo de abertura antes… eles nunca falavam sobre ele… e sobre como ele se sentia…

—O senhor também está com medo, não está? – ela perguntou sem nenhuma ressalva – olha... Tudo bem em sentir medo, eu sinto medo o tempo todo, todos sentem na verdade... e isso faz de você...

—Fraco – ele exclamou

—Não!... acessível, humano... – ela devolveu – alguém com sentimentos – foi ali que ela percebeu, sim… ela podia enxergá-lo como ele de fato era… ele não conseguia falar livremente sobre aquilo que sentia, não da forma como ela fazia… e toda aquela cena de antes, a fúria exagerada, a provocação, a maneira como ele intimidava os outros… aquilo era na verdade uma fachada, era ali que ele se escondia na maioria das vezes e justamente por não saber lidar com o que sentia que ele se defendia, usando as ferramentas que ele conhecia, ele atacava, independente do motivo que fosse, ele atacaria… mas ele estava com medo, sim agora ela entendia – foi algo que o senhor viu ontem, na mente de Elza, não foi? - ela perguntou, na esperança de que ele se abrisse um pouco mais - eu notei a mudança, sabe eu posso ver isso – ela disse – eu realmente achei que não podia existir mais nada de ruim no passado, que ainda não soubéssemos, mas pelo visto, me parece que há – ela suspirou, encarando o chão a sua frente.

—Não é o passado que me preocupa – ele explicou e aquilo fez com que ela voltasse sua atenção para ele outra vez – mas o futuro – ela estreitou o olhar na direção dele, o futuro?... Então era isso? ele havia visto algo do futuro na mente dela, certo Elza tinha esse dom, essa coisa de ver o futuro e tal... essa foi a primeira informação que Shara recebeu sobre Elza, então havia algo no futuro que o havia deixado apreensivo... mas talvez não fosse tão ruim, e isso acendeu uma luz, uma esperança onde antes não havia… já que tinha algo sobre isso que ele ainda não sabia.

—Bom... o futuro é incerto para todos… – ela disse e ele riu, não porque achasse aquilo engraçado.

—Sua mãe disse a mesma coisa - ele respondeu.

—Ela disse? – Shara esboçou um pequeno sorriso com a menção.

—Tenho certeza que poderá se lembrar, ela disse isso naquela carta – ele devolveu.

—Ahhh eu não a li - ela admitiu – quer dizer, não toda... eu estava mal, e estava tão brava... eu não pude – ele a encarou, aquela era uma expressão bastante familiar, do qual ela estava bastante acostumada, ele deu a volta pela mesa, parando a centímetros dela outra vez.

—Está me dizendo que reagiu daquela maneira, destruindo minha estante de bebidas... fugiu, e me acusou de tê-la abandonado naquele lugar terrível... quando sequer se deu o trabalho de ler a maldita carta até o fim? – ele perguntou em tom de acusação… e lá iam eles outra vez.

—Bom... dito assim...– ela se encolheu - me desculpe – é aquele era de fato um bom motivo para se desculpar, ela podia reconhecer aquilo.

—Desculpe? – ele a olhava com indignação – isso é o melhor que tem a me dizer?  Me DESCULPE – ele cruzou os braços, e ela achou que aquela postura, dado a aquele momento específico o ajudava a restringir e se manter no controle quando sua vontade era mesmo de agredir alguém… no caso, ela… que sim não tinha nenhum senso de autopreservação, ele tinha mesmo razão sobre isso.

—Bom… sim… ambos sabemos que não dá para mudar o passado, e... eu realmente sinto muito por isso – era verdadeiro –  agora... sobre o futuro, ainda existe uma esperança... – ela se aproximou dele, segurando a sua mão… numa forma de resgatar aquela conexão que parecia ter sido criada entre eles minutos atrás – o futuro ainda não está escrito, então ele pode ser mudado – ela disse como se aquilo fosse a coisa mais óbvia, embora para ela realmente fosse.

—Acredita mesmo nisso? – ele perguntou com alguma ironia – já deu uma boa olhada nas nossas vidas miseráveis? Pois eu acho que deveria – ele disse ríspido, mas havia algo, algo que poderia servir.

—Ainda assim eu acredito... – ela sustentou aquilo - existe algo, algo que não mencionei... no dia que estive sozinha com Elza na sala do diretor, ela me contou que precisava do meu sangue, para sobreviver ou algo assim e então ela mencionou sobre o fato de estarmos fazendo algo... eu e você... que possa estar interferindo e mudando os acontecimentos futuros, no caso os planos dela e isso a obrigou a vir até mim dessa maneira... tanto é que ela me mandou aquela adaga de presente... por que segundo ela e o futuro que ela havia visto, o colar já deveria ter sido aberto naquela época, mas por alguma razão ainda não havia acontecido, ela estava preocupada com isso... por que algo aqui mudou – Shara disse, e o professor parecia pensar sobre aquilo, ele se abaixou... segurando o seu queixo como sempre fazia – talvez o futuro que o senhor tenha visto, esteja um tanto quanto desatualizado – Shara tentou sorrir, se é que isso fizesse algum sentido, mas ela achava que sim.

—Me permita – ele pediu, e ela assentiu, ela sabia que ele queria acessar aquela lembrança e ver aquilo por si mesmo, tirando suas próprias conclusões a respeito do que ela havia acabado de dizer ali, quando ele voltou, havia um brilho diferente em seu olhar, e isso era o bastante, aquela era mesmo uma esperança para se apegar – Tem sorte – ele disse para ela.

—Sorte? – ela não entendeu…

—Sorte em não querer me indispor hoje - ele disse mais uma vez passando por ela… "É devo ter" Shara pensou, mas havia ironia, porém de certa forma ela sentia que eles haviam dado mais um passo ali, ela o acompanhou com o olhar, ele havia entrado em seu quarto, e poucos minutos depois ele retornou com um envelope na mão - acredito que deseje terminar a leitura - ele o estendeu para ela, e então ela entendeu que ele havia ido buscar a carta da sua mãe e isso a pegou completamente de surpresa - apreciaria se o fizesse - ele completou já que ela não havia se movido, então ela a pegou, obviamente era algo que ela gostaria…  ela passou o dedo pela dedicatória, reconhecendo a caligrafia "...ao verdadeiro Severo Snape, aquele que um dia eu amei" … era esse Severo Snape que Shara estava começando a conhecer também… ele era real e estava bem a sua frente.

—Eu farei - ela trouxe a carta até o peito - obrigada - ela agradeceu, ela havia apreciado aquilo.

—___

—Me parece que Shara tenha mesmo matado a charada aqui Severo - Dumbledore disse, tirando a cabeça de dentro da penseira, Severo havia deixado Shara entretida com a carta da sua mãe, e com aquilo que ela chamava de fones de ouvido, ele precisava de uma segunda opinião, de algum embasamento, e por mais que ele se incomodasse com as manipulações daquele velho, fato que os fazia discutir com bastante frequência ultimamente… Alvo ainda era um bruxo brilhante, de sabedoria ímpar, e nesse caso ele era o único que poderia trazer alguma clareza sobre os fatos, Severo reconhecia isso.

—Acha mesmo que o futuro está sujeito a alterações? - Severo perguntou - já que cada vez mais me sinto como uma verdadeira marionete no meio de uma briga de família, de Deuses milenares, onde sou apenas uma estúpida peça… dentro daquilo que eles e todos nós chamamos de destino - ele desabafou - tenho certeza que ouviu a parte onde Atena menciona que "o destino se encarregará disso" ao se referir a mim… então não é como se eu tivesse uma escolha aqui…

—Entendo… - Alvo o encarou - mas ainda assim você teve, afinal foi você que escolheu ir até Maeva naquele noite de natal - ele disse o encarando… - não me olhe assim… eu nunca soube com quem Maeva estava se relacionando, mas era óbvio que havia alguém, eu ainda posso reconhecer um olhar apaixonado quando o vejo - Severo revirou os olhos ali - sabe Severo, ela não teve uma vida fácil, Maeva se juntou a nós não apenas por que se identificava com a causa, isso também… mas ela simplesmente não queria mais caminhar sozinha, eu sabia que precisava protegê-la, mais do que os demais, afinal ela era … bem você sabe… especial e por essa razão eu fiz uma escolha, a trazendo para perto de mim, ao pedir que ela fosse minha companhia em minhas visitas quase que diárias ao Cabeça do Javali, onde suponho que tudo começou entre vocês, não pense que eu não sabia que você estava lá - Severo o encarou surpreso, todo esse tempo e Alvo nunca havia mencionado aquilo, então se ele quisesse, ele poderia tê-lo delatado naquela época e ainda assim ele não fez… por que?  - Sim… eu também escolhi não fazê-lo - Alvo o encarou mais uma vez- delatá-lo, é isso que estava pensando não é mesmo? Não fiz… porque seu coração não estava naquela causa - Severo bufou, velho presunçoso, mas ele tinha razão… - bom o que quero dizer é que todos nós fazemos escolhas… o tempo todo e são essas escolhas que determinam como será o futuro.

—Havia um futuro… o futuro que Elza viu - Severo disse caminhando de forma confusa pela sala - algo que suponho  ter sido visto a bastante tempo, já que ela carrega essa esfera desde a sua juventude e penso que foi esse futuro que a motivou a fazer tudo o que ela fez e tudo que Atena pediu… - Severo concluiu - mas agora… está me dizendo que algo aqui pode ter alterado esse futuro… como? - ele perguntou, para aquelas que eram tramas complexas e difíceis de compreender.

—O simples bater das asas de uma borboleta num extremo do globo terrestre, pode provocar uma tormenta no outro extremo no espaço de tempo de semanas… - Alvo sorriu.

—Teoria do Caos - Severo complementou.

—Sim - Alvo disse ajeitando o óculos meia lua - Elza tem nos provado o quanto tem andado preocupada, vindo até aqui… tentando manipular a menina através dos sonhos, ela sabe que algo mudou Severo… e isso a assusta.

—Bom, ainda assim ela poderia checá-lo novamente, me refiro ao futuro… usando a esfera, seria o mais prudente a se fazer, não é possível que depois de tudo, ela não tenha cogitado algo assim  - ele disse confuso.

—Na verdade, pelo que entendi se trata de uma troca… ao acioná-la, a esfera… ela entrega alguns anos de sua vida, sim um preço muito alto eu diria… acontece que ela não os possui mais, dado a idade avançada e também não possui mais o sangue, para repor algo, caso fosse necessário, portanto acredito que ela esteja contando unicamente com a sorte a partir daqui - Severo sorriu com aquela ironia do destino, pela primeira vez parecendo atuar em seu favor e o simples fato de imaginar que aquela velha bruxa ardilosa estivesse agora com medo de algo, com medo de ter perdido a sua vida correndo atrás do vento, lhe proporciona estimado prazer… - Sabe Severo, vejo que Elza cometeu um erro aqui - o diretor disse

—Que seria? - ele perguntou.

—Bem… tenho certeza de que Atena não teria se dado ao trabalho de se deslocar até aqui, se expor, se colocando em risco, por estar intervindo em algo que não deveria, se ela não tivesse um plano que fosse suscetível e páreo a executar… sabemos que Elza construiu toda a trama, ela foi geniosa, foi esperta… mas com todo o respeito, ela apenas fez o trabalho sujo até aqui, já que o plano estava desenhado antes mesmo dela almeja-lo… contudo Elza deixou passar algo muito importante, uma recomendação… - o diretor o encarou,  o fazendo arquear a sobrancelha - Atena foi clara, ao reforçar duas vezes que Elza deveria matar os pais da criança… bem você está vivo não é mesmo - Alvo disse caminhando até sua mesa e se sentando - tenho certeza de que ela não achou que você fosse um problema, ainda mais por ser um comensal da morte com o bastante em suas costas para se ocupar, e principalmente por desconhecer sua paternidade, não se esqueça que foi Elza quem incentivou Maeva a não lhe contar a verdade sobre Shara, e também foi ela quem interveio, para que não recebesse a carta de Maeva antes do tempo, o erro de Elza foi achar que isso era o bastante… que isso o manteria longe e de que você nunca se importaria com a menina… mas você se importa, desde o instante em que a viu… se importa - isso o deixou desconfortável, mas era a mais pura verdade - e vocês têm construído algo juntos desde então, Shara o mudou Severo… e o amor que você sente por ela mudou o desfecho dessa história - ele sorriu - como o bater de assas de uma borboleta, é sutil… - ele completou - Severo fechou os olhos por um instante… tramas dentro de tramas, por que isso ainda o surpreendia? Era difícil dizer.

—O amor… - ele empregou algum sarcasmo… - então mais uma vez tudo isso é pautado em sentimentos - era mental, e ele detestava sentimentalismo… pelo menos ele achava que sim.

—A vida é pautada em sentimentos - Alvo reforçou - é por esse motivo que Atena impôs que Shara crescesse longe deles, pelo menos dos bons, longe de qualquer fonte afetiva, Atena mais do que ninguém sabe que o amor é a única força no universo capaz de mudar até mesmo as piores circunstâncias… e embora Elza tenha se esforçado para cumprir essa exigência, e sim… ela teve algum êxito ali… mas ela não contava com o fato de que a menina se afeiçoasse a você e muito menos que você retribuísse… consegue ver a falha… o amor mudou o futuro que Elza viu - Alvo concluiu, e fazia bastante sentido… mais uma vez Alvo o havia deixado sem palavras e lhe dado as esperanças que ele precisava, Maeva sabia disso… e ela queria que ele soubesse também, e pela primeira vez em anos… abençoada Maeva, ele pensou e aquele pensamento o fez sorrir.

—___

Severo estava preparado para aquele encontro, mais do que qualquer outra coisa agora, não havia mais medo ou receio  ele se sentia pleno, como nos velhos tempos, e dessa vez havia um bom motivo, uma excelente razão para fazer aquilo que ele sabia fazer bem, matar alguém, ele cumpriria sua promessa, e atenderia o pedido de Shara, Elza deveria sofrer e ele faria.

—Shara - ele chamou, ela havia passado a maior parte daquele dia reclusa e ele respeitou isso, aquela menina havia mesmo o mudado e mudado sua vida, agora havia um quarto em suas alas e era boa a sensação de tê-la tão perto, nunca ninguém havia conseguido chegar tão perto dele assim antes, e agora ele não se referia apenas ao quarto em si… - vejo que está com a poção - ele disse ao vê-la se aproximar - quero que a beba, saiba que a fiz mais reforçada, ela fará com que você durma por pelo menos 12 horas seguidas, não quero que acorde de madrugada e fique preocupada desnecessariamente - ele explicou, ele fazia questão de vê-la ingerindo o líquido na sua frente, ela não era digna de confiança alguma.

—Ainda pode mudar de ideia - ela disse chorosa.

—Sabe que essa não é uma opção válida - ele devolveu sério – e acredite, tenho boas motivações para estar de volta até o amanhecer - ela o olhou desconfiada - Como… estar presente, para evitar que se jogue nos braços de garotos até que faça 30 anos de idade - ele disse, fazendo menção a aquilo que haviam conversado durante a madrugada anterior, embora... houvesse muita verdade ali.

—Eu não me jogo nos braços de garotos - ela disse ofendida.

—Claro que não faz… agora beba – ele instruiu a vendo suspirar, mas ela obedeceu, ela estava tremendo, ele notou - vá para a cama Shara, Antony já deve estar a caminho… - ela deu dois passos para trás sem tirar o olhar dele, e então ela correu até ele se jogando e o envolvendo pela cintura - vai ficar tudo bem, eu prometo - ele disse passando a mão em seus cabelos - sabe que eu sempre cumpro minhas promessas - ele reforçou.

—Não morra… - ela o apertou - por favor… pai - ela pediu, e ficava ainda mais encantador ouvi-la chamar de pai, naquela voz rouca.

—Minhas motivações me manterão vivo - ele disse com ironia – até por que falta bastante até os 30 ainda - ela sorriu - agora não seja uma garota ainda mais estúpida do que já é - ele disse aquilo de forma afetuosa - e vá dormir… amanhã será um novo dia - ela fez.

—__

Shara se deitou, ela estava tão apreensiva ali, em tempo ela havia conseguido trocar os rótulos das poções, e ingerido a poção nutritiva que Madame Pomfrey havia deixado, no lugar da poção de sono sem sonhos que ele havia fornecido mais cedo e ele sequer havia notado a diferença, mesmo com aquela pequena mudança na coloração entre elas, fazendo com que Shara se sentisse ainda mais nervosa, ela estava tremendo e teve receio que isso pudesse entrega-la, se ele tivesse sido um pouco mais intencional naquele sentido, certamente teria percebido, as vezes ela tinha mesmo sorte, ela suspirou aliviada.

Shara ouviu batidas na porta, não dava para ouvir exatamente o que eles diziam, mas ela reconhecia a voz de Antony a uma boa distância dali… "agora... vamos Draco" ela rezou mentalmente… “por favor, não demore” … quando novas batidas na porta foram ouvidas, e logo na sequência a porta batendo com bastante força, aquela era a deixa e Shara saltou da cama.

—Antony - ela exclamou ao vê-lo parado ali, pelo menos o destino estava ao seu favor nessa noite, o professor Snape havia saído e Antony permanecido.

—Shara - ele disse surpreso - achei que estivesse dormindo - ele respondeu.

—Onde está o professor Snape? - ela perguntou apenas para ter certeza, afinal ela não teria muito tempo para resolver aquilo.

—Parece que aconteceu um imprevisto na comunal da Sonserina e ele teve que sair às pressas para resolver - Antony respondeu com ingenuidade, dando de ombros e ela agradeceu mentalmente por Draco ter acatado aquele seu pedido inusitado, ela havia dito para que ele arrumasse uma boa distração logo após o jantar, algo grande e que exigisse a presença do professor Snape, e ele havia feito... sabe-se lá como, sabe-se lá o que, mas ele havia feito, mesmo quando ela o havia constrangido e o deixado em uma situação difícil de explicar essa manhã... sim, ela devia muito a Draco, e não era apenas a sacola de galões que ela se referia ali - bom, penso que ele deve voltar em breve, pois me pediu para que o aguardasse aqui - Antony concluiu, e aquilo a lembrou de que o tempo estava passando e de que ela precisava agir, ela o encarou séria – Shara, algum problema? - ele perguntou, parecendo preocupado.

—Antony… sim... e eu realmente sinto muito - ela disse.

—Sente muito?...  pelo que? - ele perguntou confuso.

—Por isso - ela apontou a varinha em sua direção lançando um feitiço que o fez cair desmaiado contra o chão instantaneamente, ela notou a expressão do rosto dele mudar, à medida que ele ia perdendo as forças ali, sim ela realmente sentia muito por ter que fazer aquilo com ele e daquela forma, Antony não merecia... mas infelizmente para ela, essa era sua única opção... e sem mais delongas, Shara retirou as duas poções restantes do bolso de suas vestes, essa era a primeira vez que ela estaria ingerindo a poção polissuco, poção que ela havia roubado das dispensas pessoais do professor Snape a duas noites atrás… a partir dali eles estariam trocando de corpo.


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Notas finais do capítulo

SIM... SIM... SIM!!!
Shara fez...
Seja sincero, se você desconfiou do que ela ia fazer, levanta a mão? hahaha
E pra quem havia gostado da ação/aventura entre pai e filha quando eles foram até o orfanato na véspera de natal, daquela vez, se preparem por que além de repetir... teremos momentos muito emocionantes aqui :)
Só que nesse caso parece que o jogo virou não é mesmo?... quem tá usando poção polisuco agora heim? hahaha

Sobre esse capitulo... começamos com uma tensão básica entre eles, que nos rendeu algumas entregas.
Então vemos um Severo Snape admitindo não conseguir falar sobre seus sentimentos, e tendo dificuldades em dizer que sente medo (quer dizer mais ou menos dito né, por que foi do jeito dele, e bem sabemos... mas houve sim uma entrega ali). Vemos a Shara (que já o ama incondicionalmente) enxergando o Severo Snape que a mãe dela viu... achei lindo quando ele entregou a carta pra ela, digamos que foi uma trégua né :)
E foi do caralho, por que ambos são personagens gigantes e muito complexos e as vezes sinto que peco em não conseguir transparecer em sua totalidade a grandiosidade que são esses momentos entre eles.

Temos também uma conversa, sempre ótima e muito profunda entre ele e o diretor.
Norteada de significado, citando a teoria do Caos (que é maravilhosa)... e tudo isso girando em torno de uma única pergunta... será que podemos mesmo reescrever o nosso futuro? Bom todos aqui sabem a resposta para essa pergunta, e juntando com a revelação do capitulo anterior... temos aqui a grande resposta... o amor muda qualquer circunstancia.
É Elza... você deveria ter matado o pai! (mas que bom que ela não fez).

Ahhh e quem sentiu o... "abençoada Maeva" hahaha 91 capítulos depois... mas tá valendo.

Obrigaduuu a todos, vcs são incríveis!



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