Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 62
Futuro - Tempestade


Notas iniciais do capítulo

"Na tempestades da alma, os traumas são como trovões que ecoam, e a dor é como a chuva que nos inunda; mas é no enfrentamento dessa tempestade interna que encontramos a oportunidade de cura e renascimento"



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Severo tirou a cabeça de dentro da penseira, voltando sua atenção para as anotações que estavam sobre a mesa, ele já havia preenchido mais de uma página e aquela era a terceira vez que ele revisitava aquelas lembranças naquela tarde, era necessário muito mais que apenas conhecimento técnico para desdobrar aquilo, cada mísero e pequeno detalhe podia fazer a diferença, a consistência, antes e após a manipulação, a maneira sutil que os líquidos foram misturados, o sentido que ele havia os mexido, a coloração e o aspecto durante todo o processo, tudo isso precisava de um olhar mais clínico e muito apurado, o que honestamente era sua principal especialidade, e sem falar que ele era movido por um desafio, e aquele era um desafio bastante tentador, ele havia decidido que sim, que ele iria encontrar a composição daquela poção bem como sua aplicabilidade, por inúmeros motivos, mas o principal deles e o mais importante tinha nome próprio e sobrenome, Shara Epson.

—Nunca pensei que gostasse tanto de revisitar memórias Severo, por acaso está desenvolvendo algum novo tipo de hábito? - Alvo perguntou, ao entrar no recinto, ele havia disponibilizado o seu escritório particular para que Severo trabalhasse nele durante aquela tarde.

—Acredite, esse não é bem o tipo de hábito que gostaria de desenvolver - ele se limitou em dizer, enquanto finaliza as últimas anotações, Alvo sorriu.

—Encontrou alguma coisa útil? - ele perguntou, de certa forma, interessado.

—Pequenos detalhes sim - ele respondeu – mas que podem fazer uma grande diferença.

—Severo, essa não é a primeira vez que despreende esforços para tentar identificar a poção do colar, acha mesmo ser possível chegar a algum resultado plausível apenas fazendo uma análise… como você chamou mesmo? - Alvo fez um pequeno intervalo tentando encontrar a palavra certa – uma análise… pesquisa… inversa? - ele perguntou.

—Sim, é possível – ele respondeu vagamente, será que o diretor achava que ele perderia seu tempo se aquilo não levasse a nada? - embora não seja algo simples, admito, requer uma análise mais apurada, portanto levará algum tempo, mas ainda assim é um começo - ele respondeu convicto, porém ciente de que aquela ideia sequer havia sido dele, ele optou em não comentar, a menina era brilhante, ele sabia e isso bastava.

—Perspicaz meu menino, muito perspicaz - Alvo disse se sentando - mas imagino que não seja essa a lembrança que você tenha visitado com Antony na noite anterior… penso que você não o traria aqui, apenas para que ele visse, bem… Poseidon e Medusa outra vez - ele apontou.

—Certamente eu não faria - Severo o encarou por um momento - não tente me enganar Alvo, pois parecia estar muito ciente daquilo que vim fazer ontem aqui - ele disse se lembrando do comportamento suspeito do diretor.

—Tem toda razão meu menino - ele admitiu, fazendo Severo franzir o cenho - embora, desconheça o seu conteúdo, mas posso imaginar de quem seja… as lembranças no caso - o diretor fez aquela colocação de forma triste.

—E como… - Severo o encarou - eu posso saber... como você consegue ter esse tipo de convicção Alvo? Quando eu sequer fiz qualquer comentário que pudesse sinalizar algo nesse sentido - o diretor mantinha muitos segredos e isso sempre o incomodou, Antony tinha razão sobre o fato dele esconder o jogo na maioria das vezes.

—Elza… - Alvo o encarou e a simples menção do nome daquela bruxa foi o bastante - a avó…

—Eu sei muito bem quem Elza é, podemos poupar as apresentações, onde ela está? - Severo o cortou, perguntando sem ao menos disfarçar qualquer demonstração de irritabilidade, havia sangue nos olhos a tudo que se referia a ela - não tente encobri-la, Alvo – Severo ameaçou.

—E por que eu faria isso? - seus olhos azuis pareciam sem brilho algum - Infelizmente, eu não sei onde ela está Severo, mas ela me abordou recentemente… a umas duas semanas atrás, no Cabeça de Javali, quando fui tratar alguns assuntos de família com Aberforth, foi uma surpresa confesso - Severo o encarou – Segundo meu irmão essa não foi a primeira vez que ela é vista ali.

—E não ia me dizer nada? - Severo o encarou com ainda mais veemência.

—Digamos que todos estiveram bastante ocupados desde então, bem, você sabe Severo, jogo de Quadribol… uma certa criatura aquática submergindo e vindo à tona de forma repentina apenas um dia antes do jogo… e bem quando pensei que realmente teríamos um tempo seguro e de qualidade para discutir tudo isso, você simplesmente sumiu, saindo das lembranças da criança daquela maneira, completamente transtornado, como se a única coisa que importasse ali e em tudo aquilo que viu, fosse na verdade aquela pequena demonstração de afeto do Sr. Malfoy com a sua filha Severo - Alvo disse de forma provocativa, mas ele tinha razão sobre aquilo, e o que chamou sua atenção ali, foi a forma como ele se referiu a Shara, "sua filha" afinal era exatamente isso que ela era, não é mesmo? Apesar de ainda parecer errado quando dito daquela forma, como se fosse algo tão comum, mas era curioso como aquilo não o incomodava mais, não como antes - certamente eu teria dito se não fosse, digamos… esses pequenos empecilhos - Alvo concluiu.

—E o que ela queria? - Severo se limitou a perguntar – Elza... o que ela queria? – ele insistiu, sabendo que estava soando de forma impaciente.

—Tenho minhas dúvidas Severo, de começo ela parecia querer saber sobre a menina… mas como ela havia bebido e digamos que estava um pouco alterada, acabou ficando evidente que as informações que ela realmente queria, eram pertinentes ao colar…  já que ela perguntou sobre a magia dele de forma muito aberta e um tanto quanto incisiva, acredite... - Alvo disse o encarando.

—O colar? Ela está interessada na magia do colar? - Severo não podia deixar de perguntar, aquilo era curioso, já que foi Elza quem havia trazido o colar e orientado para que Maeva o deixasse com a criança, não faria sentido se ela simplesmente o quisesse de volta agora, depois de todos aqueles anos.

—Sim Severo… ela não disse, obviamente, mas me pareceu estar bem ciente sobre o fato da menina ser apta e também responsável por identificar e liberar a magia pertencente ao colar, coisa que nem ela e nem qualquer outra guardiã do passado puderam fazer. Sabe o curioso é que Elza sempre foi uma mulher muito discreta, não à toa tenha sobrevivido em suas condições por tanto tempo, porém naquele dia, ela não se comportou como tal... estava estranha, parecia preocupada, não sei... ansiosa talvez, com os desfechos e com a demora de Shara em digamos assim, fazer aquilo que está incumbida a fazer – aquilo era um ponto novo, sim Severo sabia muito bem sobre Shara ser e estar predestinada para aquela maldita tarefa, mas havia um tempo? Elza deveria saber, já que era ela que detinha o poder de acessar o futuro ali, sendo assim tudo que ela não deveria estar era ansiosa, aquilo simplesmente não fazia sentido.

—É claro que Elza sabe sobre Shara - Severo disse bastante irritado - se ela pode visitar o futuro, como me parece fazer, ela deve ter visto algo nesse sentido em algum momento – ele devolveu como se aquilo fosse bastante obvio e esperando que o diretor desenvolvesse aquilo melhor.

—Não é tão simples assim Severo... – Ali estava, sempre havia algo  - Elza tem um dom e esse dom a permite acessar esses pequenos fragmentos do futuro, porém não se iluda ao achar que isso seja o bastante, é claro que ela acaba tendo uma certa vantagem, não nego... mas ainda assim estamos falando de fragmentos isolados, Elza não sabe e nem consegue saber o contexto daquilo que permeia o que quer que ela tenha visto - Severo pensou sobre isso, Alvo parecia saber muito sobre ela e sobre o seu dom - penso que Elza tenha me abordado justamente por estar especulando, numa tentativa desesperada de saber a que pé as coisas tem estado por aqui, ela nunca foi tão incisiva assim e confesso que isso me preocupa - Aquilo chamou sua atenção, e sem falar que o diretor parecia mesmo preocupado - Severo, temo que algo esteja para acontecer, precisamos ficar atentos a menina, Elza parece ter alguma pressa, e me pareceu estar bem disposta a agir, tenho quase certeza de que ela não possui nenhum interesse genuíno pela menina, apenas pela magia do colar… ela não irá medir esforços para conseguir o que quer… Elza é o único familiar vivo da criança... digo de quem Shara poderia ter algum conhecimento – ele corrigiu - uma pena que seja assim.

—Está obvio para mim, que ela não tem nenhum interesse pela criança – Severo bufou, ao se lembrar do que havia visto naquela lembrança enviada as pressas por Maeva – eu mesmo vi isso Alvo - ele disse e o diretor pareceu entender aquilo - Aquela bruxa pode ser extremamente manipuladora, Maeva, mesmo com todo o treinamento e habilidade que possuía, confiava cegamente nela, foi Elza quem encontrou a casa de acolhimento que abrigou a menina, usando o pior tipo de filtro possível para fazê-lo, Elza mentiu sobre isso para Maeva, ela a manipulou, causando a sua morte, a separando da criança e proporcionando uma vida inteira de sofrimento a um bebê completamente indefeso… - Severo disse, controlando os impulsos de não atirar contra a parede o primeiro objeto a sua frente, Alvo parecia atordoado ao ouvir tudo aquilo - precisamos encontra-la - ele disse entre os dentes - confesso que nunca vi prazer em torturar alguém antes, mas nesse caso, faço questão e me submeto a esse difícil sacrifício, apenas vêla sofrer e implorar pela morte – sim aquele era mesmo um desejo genuíno, depois de Noah ela certamente seria a próxima, ele a faria pagar por todo trauma, toda dor causada a menina.

—Precisamos encontrá-la? – Alvo perguntou – Se refere a você e ao Antony suponho – ele considerou.

—Sim – Obviamente que Severo preferia fazer todo aquele trabalho sujo sozinho, mas aquele era um prazer que ele não podia simplesmente tirar da ave, Antony tinha todo o direito de se vingar – Antony foi enfeitiçado por Elza para que dormisse por todos esses anos, foi ela e não Maeva que o fez… Elza não queria que a ave intervisse, pelo menos não até que Shara recebesse a carta de Hogwarts, a ave estava com o colar e com a carta deixada por Maeva… de alguma forma Elza queria que a peça chegasse até a criança – Alvo suspirou cansado - que espécie de jogo é esse Alvo? - Severo perguntou confuso, o que diabos aquela bruxa pretendia com todo esse arranjo?

—Elza foi uma bruxa muito poderosa e também muito astuta, muito a frente para a sua época, toda essa trama, tudo que ela fez e tem feito refletem apenas em uma coisa - Alvo o encarou com certa urgência - que ela entendeu quais eram os pré-requisitos, aqueles que seria necessários para acessar a magia do colar e quebrar a maldição.

—Do que está falando Alvo? - Severo deu a volta, ficando de frente para o diretor.

—Como você mesmo, bem pontuou Severo, Elza escolheu o orfanato com o pior crivo possível, propositalmente para que Shara crescesse tendo a pior experiência de vida, conduzida por sentimentos ruins como o de abandono, forçada a abusos, traumas, medos e dor… um plano cruelmente orquestrado para tornar a criança apta ao trabalho, um plano um tanto quanto arriscado eu diria – ele formulou – mas que de alguma forma acabou dando certo, já que Shara passou a cumprir os requisitos.

—ELZA É UMA MALDITA GUARDIÃ - Severo gritou - como ela pode se virar contra a sua própria origem, a sua família? Maeva era sua neta, ela confiava nela e Shara é sua bisneta… como ela pode?

—Eu a conheci, a muitos anos atrás, Elza era uma bruxa brilhante, de inteligência impar e muito encantadora, em nada se parece com a bruxa que me abordou semanas atrás, algo mudou, eu vejo, talvez ela tenha se deixado corromper ao descobrir o poder que poderia possuir em suas mãos – ele disse vagamente – e isso não a faz muito diferente de Voldemort por exemplo, ou de seus seguidores.

—Claro Alvo, uma pena... talvez eu estenda o convite para que ela se junte a causa, sabe talentos assim não deveriam ser desperdiçados, não é mesmo? - Severo disse com certa ironia - mas acho que ela será ainda mais útil no inferno, já que é pra lá que pretendo encaminha-la quando a encontrar.

—Foi Elza que me contou sobre o colar da primeira vez - o diretor disse ignorando ali o seu acesso de fúria - eu me lembro do quanto ela estava deslumbrada por esse assunto naquela época, não que isso tenha chamado minha atenção, afinal aquilo tudo era sobre ela e sobre a sua origem, quem não ficaria deslumbrado numa situação dessas? – Alvo falava como se estivesse voltando no tempo – Naquele tempo, ela já sabia muito sobre a peça, certamente havia corrido atrás de informações, e se aprofundado sobre o assunto, lembro dela me contar sobre as propriedades do colar, bem como a sua função de proteção, ela sabia sobre o fato do colar responder apenas a guardiã mais nova, e sabia também sobre a magia antiga que havia nele, ela sabia que haviam condições especificas para liberar e ter acesso a aquilo, uma guardiã predestinada, foi assim que ela chamou… aquela que atendesse os pré-requisitos impostos por Atenas, na época que conversamos, Maeva havia acabado de ingressar em Hogwarts, Shara sequer existia... Elza teve muito tempo para pensar e elaborar algo nesse sentido, e certamente deve ter chegado à conclusão de que poderia manipular o futuro, já que é evidente o quanto ela tem interferido desde então – Alvo fez uma pausa – Sabe Severo, uma das principais regras de todo e qualquer viajante do tempo é nunca interferir, e Elza interferiu, ela forjou a situação, vendo uma oportunidade no nascimento da filha de Maeva, ela orquestrou isso tudo, colocando as peças em seus devidos lugares para que Shara se tornasse apta, se tornasse a guardiã predestina, e para isso se concretizar, era necessário que ela…. Sofresse - Alvo precisou se apoiar na bancada, buscando algum tipo de sustentação ali, era óbvio o quanto aquilo podia ser difícil até mesmo para ele - eu já havia entendido isso, os requisitos... de alguma maneira e isso ficou ainda mais claro pra mim, quando Shara acessou a magia da primeira vez lá fora com a Hidra e principalmente depois do ocorrido na sala precisa… mas por alguma razão, embora mesmo sendo algo bastante difícil, eu achei que Maeva… sim eu achei que ela…. Havia submetido a menina a isso tudo por entender ser algo… necessário, como se Maeva pudesse ser fria o suficiente e almejasse a quebra da maldição a qualquer custo.

—Necessário - Severo repetiu aquela palavra usada tantas vezes pelo diretor - Alvo, você achou mesmo que Maeva, que ela teria morrido, em sacrifício pela menina… por que ela achava ser necessário? Sabendo que a criança viveria naquele estado... sendo criada num lar como aqueles? E com a pior espécie de trouxa possível? Estamos falando da Maeva, a Maeva que você conheceu e que lutou do seu lado inúmeras vezes antes, você achou mesmo que ela submeteria a própria filha a algo tão cruel como isso? - Severo perguntou, estando completamente incrédulo ali, claro que ele também não havia feito um bom julgamento sobre as decisões que Maeva havia tomado no passado, contudo o lar sempre havia sido uma consequência e nunca, jamais o propósito final - é isso que estava acreditando esse tempo todo e que tentou me dizer aquela vez? Quando você ficava tagarelando sobre esse negócio de ser necessário? - Alvo demorou para responder aquela pergunta, era evidente o quanto tudo aquilo o deixava desconfortável.

—Sim Severo, foi exatamente o que pensei… - ele admitiu - fiz um mal julgamento quando acreditei que Maeva sacrificaria a própria filha, para que ela pudesse um dia, no futuro, quebrar aquela maldição libertando assim sua família, libertando uma linhagem de mulheres, por todos aqueles milhares de anos de injustiça, mas confesso e honestamente estou muito aliviado em saber que estava errado sobre isso.

—Nunca esteve tão errado sobre algo Dumbledore - Severo enfatizou - Maeva se sacrificaria pela menina, sim para protege-la e para resguarda-la de todo e qualquer sofrimento, mas… nunca, jamais o contrário - Severo passou os últimos meses amaldiçoando Maeva por aquela escolha, e agora ele simplesmente a estava defendendo ali, Maeva estava morta, e isso não faria a menor diferença agora, mas por alguma razão ele sentia que devia isso a ela, Maeva teria sido uma mãe incrível, se tivesse tido a oportunidade de fazê-lo e pensar nisso pesava muito -  A existência da criança pode ser um erro, admito - ele disse, sabendo que algo dentro dele gritava que nem ele acreditava mais nisso, mas ele ignorou - mas como ela é real a única a quem deves atribuir todo o seu péssimo julgamento Alvo é a Elza… pouco me importo se um dia ela foi boa ou seja lá o que mais, mas essa maldita bruxa orquestrou todo esse plano perverso, que me parece ter sido apenas e unicamente para benefício próprio embora ainda não tenha ficado claro pra mim, onde ela sai ganhando nisso tudo afinal, me perdoe aqui o comparativo Alvo, ela é velha, se Shara quebrar a maldição que benefício ela teria nisso? - ele perguntou

—Bom, nenhum é óbvio… Severo, Elza quer o colar - Alvo disse e aquilo abriu seus olhos - mas antes ela precisa que Shara libere a magia, a poção… isso é sobre algo que ainda não sabemos, Elza não está interessada no bem estar da menina, na quebra da maldição ou coisa parecida… ela sabe de algo, sobre o colar que ainda não sabemos - Severo olhou para as anotações que havia feito no pergaminho minutos atrás e aquilo ganhou ainda mais urgência agora.

—Shara teve um pressentimento ruim hoje, custou muito até que ela pudesse se regular - Severo disse enquanto encarava o papel na sua frente de forma vaga - Alvo, algo vai acontecer - ele disse voltando os olhos para o diretor novamente, que parecia assustado agora – você sabe, ela pode sentir isso… Maeva sentiu, como em tantas outras vezes, e bem Maeva está morta.

—Não necessariamente acontecerá com ela - Alvo pontuou como se quisesse tranquilizá-lo, Severo suspirou, mesmo assim, aquilo não ajudava.

—Maeva me pediu para protege-la… de forma desesperada, nas lembranças, quando na verdade eu não posso Alvo - ele admitiu - até às missões que me eram incumbidas por você sabe quem, eram de longe mais fáceis de executar do que isso - ele encarou o fogo na lareira por um momento - como eu posso protege-la de algo que desconheço Alvo? Como posso protege-la sendo quem sou? e como posso protege-la na posição que estou? - ele perguntou aquilo o vinha consumindo, e interferindo no seu sono - isso me atormenta… como Maeva pode fazer isso comigo?

—Você tem feito um bom trabalho Severo… Maeva estaria orgulhosa….

—Estaria? - ele não se importava - Eu não busco aprovação de Maeva ou de ninguém, o que tenho feito, é por achar que devo fazer - Severo riu com desprezo - de qualquer forma isso não funcionaria, somos diferentes e eu a afugento Dumbledore, ela tem medo de mim, como qualquer criança normal teria- Severo se lembrou de Shara mais cedo naquele dia, dessa vez ela não havia fugido… por que ela não tinha fugido? Ela deveria ter recuado e ter fugido como vinha fazendo todas as outras vezes, aquilo quebrava a sua argumentação.

—Na verdade, eu vejo outra coisa, algo diferente nela… um sentimento único - o diretor o encarou - ela te ama Severo, foi o que vi quando ela liberou a magia do colar com a Hidra aquela vez – ele disse, amar? Disse a palavra amor? aquilo era forte demais para ser associada a alguém como ele, Alvo estava perdendo o juízo.

—Claro - ele disse sarcástico - assim como eu amo o idiota do Lockhart.

—Você ainda está cego… apenas se permita ver - Alvo disse chamando sua atenção - a magia do colar é liberada com sentimentos, você estava lá Severo… você sabe disso, ela te salvou do ataque da Hidra naquele dia acessando o colar, ambos deveriam estar mortos agora, mas ela fez isso, por que ela pensou em você, ela queria te proteger, a magia do colar é forte… mas ainda mais forte que a magia que ele produz é o que ela sente por você, esse é o segredo, ela te ama, qualquer um poderia ver isso, aceitando você ou não… essa é a verdade sobre o sentimento que liberou o escudo de proteção que os envolveu naquele dia - Alvo repetiu e agora era ele que queria fugir… ele olhou para a porta, obviamente que não faria, mas ela não podia amá-lo… não ele… não fazia sentido - talvez ela não tenha dito, e se ela for como você, teimosa como um mula, nunca o fará… mas se existe alguém capaz de protegê-la aqui… esse alguém é você - Severo o encarou - afinal você também…

—Não sabe o que está dizendo - foi o que Severo conseguiu dizer antes dele finalizar – não ouse deduzir...

—Você também a ama - ele concluiu mesmo assim.

—CHEGA - Severo gritou, ele não estava preparado para isso - Alvo saiba que você passou completamente dos limites - ele disse se virando e estando prestes a sair - quando tiver voltado a sã consciência, trataremos do assunto novamente por hora…

—Está fugindo - Alvo afirmou o provocando, sim agora ele estava e sim ele não se importava - fugindo da verdade, daquilo que não quer ver… sabe você não é mais como antigamente, o que me faz questionar suas habilidades como espião - Severo se virou, agora ele estava indo longe demais, sentido seu sangue esquentar, mas Alvo parecia estar se divertindo ali, ele sabia que aquilo o afetaria, maldito velho, como ele ousa questionar suas habilidades?

—Do que está falando velho? - ele perguntou visivelmente irritado.

—Tudo que falamos até aqui, sobre Elza, ainda não explica como eu cheguei à conclusão de que as lembranças que acessou ontem à noite na penseira com Antony eram de Maeva - Alvo sorriu, sim ele estava certo sobre isso, não explicavam.

—Não me importo - Severo disse ameaçando sair outra vez, virando de costas, velho senil, ele estava jogando.

—Bem, talvez Elza tenha mencionado sobre uma certa carta, destinada a você, carta que você receberia e só poderia ler quando… - Alvo fez uma pausa, Severo se sentiu um tanto quanto encurralado - quando houvessem sentimentos, algo fundado da sua parte, você recebeu a carta, não é mesmo? - Severo não queria responder, ele apenas se manteve paralisado onde estava - Elza não mencionou sobre as lembranças, achei deveras curioso, talvez fosse algo que ela não soubesse, como mencionei… ela consegue acessar fragmentos do futuro e não tudo.

—Maeva depositou as lembranças em momentos distintos - ele respondeu dando sentido a aquilo que Alvo estava apontando ali, porém se mantendo de costas para ele, Severo não queria encara-lo.

—Compreendo, e é aí que temos alguma vantagem - ele disse, Severo se virou - Elza não sabe, que a gente sabe - sim ele entendeu aquilo, mas que vantagem haveria naquilo? – existe muita vantagem na incerteza do inimigo – Alvo disse quase que entendendo a sua dúvida.

—Por qual motivo ela mencionaria a carta? - Severo perguntou encarando a lareira ele nunca havia se interessado tanto por aquela lareira antiquada antes.

—Saber como estava lidando com a paternidade - Alvo sorriu outra vez - de qualquer forma, a duas semanas atrás o cenário era outro, e ela me pareceu frustrada quando eu respondi que não para ambas as perguntas, sem magia do colar e sem paternidade, mas é evidente como as coisas podem mudar rapidamente - Alvo piscou.

—Alvo - Severo não queria permanecer, mas ainda havia algo que precisava ser dito - Você comentou certa vez que além dessa característica de visitar o futuro, Elza também podia manipular sonhos - agora Severo o encarou - de alguma forma, ela tem feito isso com a menina - Alvo estava sentado e se levantou - existe um sonho, que Shara vem repetindo, em momentos bons e também momentos ruins, descobri isso… - era difícil falar daquele assunto, logo depois de ouvir Alvo discursar sobre amor… Shara havia dito e demonstrado o quanto se sentia segura com ele ali - mais cedo, quando Shara levantou as barreiras pra mim, na sala precisa, sim ela as materializou na minha frente - ele explicou ao ver a expressão de dúvida feita pelo diretor - sabemos que uma barreira mental, ela não permite mudanças, não as ruins é claro… afinal ela serve justamente para esse tipo de coisa… foi nesse lugar que Shara se escondeu, quando estava em coma na ala hospitalar Alvo, e é ali que Shara vai quando sonha…

—Que tipo de lugar? - Alvo perguntou

—Uma praia - Severo respondeu - a menina se sente atraída pelo mar, por água… embora tenha desenvolvido um medo absurdo, com um fenômeno climático, a tempestade.

—Poiseidon o Deus dos mares… com o reino da água dividido por ele, ele passou a governar as águas salgadas… Zeus seu irmão mais velho e também governante de todo o Olimpo controla a tempestade, o raio e o trovão… reza a lenda Severo, que quando Medusa foi amaldiçoada, Poseidon caiu… Zeus o seu irmão com toda a sua fúria, trouxe sobre a terra a pior e mais avassaladora tempestade que já foi vista… foi a partir daquele momento que os Deuses, todos eles…. Foram banidos de visitar a terra - Alvo o encarou – é evidente que a maldição deve ser quebrada no mar… e certamente em um dia de tempestade, Elza como suspeitei não tem interesse nisso, pelo contrário, ela está afastando a menina do objetivo, instigando o medo, já que Shara jamais conseguiria fazer o ritual em uma circunstância como essa, o medo nos limita.

—Está me dizendo que Elza incutiu o medo de tempestade na menina, por que ela já sabia sobre as circunstâncias pelas quais o ritual deveria ser feito? - Severo perguntou incrédulo – como?

—Infelizmente não tenho uma resposta para essa pergunta Severo – Alvo parecia pensar sobre isso – me deixe refletir sobre, Elza me parece saber muito bem o que estava fazendo, precisamos pensar com cautela antes de agir… por hora Severo, preciso que fique atento, um pressentimento ruim, nessas circunstâncias certamente não é um bom presságio - Severo sabia muito bem e justamente por isso que estava preocupado - Shara deve voltar a frequentar as refeições coletivas e usar seu dormitório, precisamos ser discretos.

—Claro - Severo concordou, um tanto quanto de má vontade, era mais fácil mantê-la segura quando estava por perto, mas até ele podia entender que uma ausência por tanto tempo, chamaria a atenção e isso era tudo que eles não precisavam ter no momento.

—Farei o anúncio do clube de duelos no jantar dessa noite - Alvo disse mudando de assunto - esteja presente - Severo assentiu positivamente, dobrando as anotações que havia sido feitas, e dessa vez se direcionando de forma efetiva para a porta - Ah Severo… leva um tempo até a gente se acostumar… - ele disse o obrigando a se virar uma última vez - mas já dizia um amigo meu, o amor é a força mais sutil do mundo - Severo não respondeu, ele saiu, batendo a porta com bastante força.

—__

—Atenção, um minuto de atenção de todos – Alvo disse ao se levantar, enquanto Minerva batia freneticamente em seu cálice - Queridos alunos, tenho um aviso importante, e quero aproveitar o momento em que quase todos estejam presentes, durante essa noite - um silêncio absurdo varreu todo o grande salão - Muito bem, muito bom... dado aos últimos acontecimentos, resolvemos reabrir o clube de duelos de Hogwarts – alguns burburinhos podiam começar a ser ouvidos - amanhã no período da tarde será feita uma demonstração de como irá funcionar, o professor Lockart nosso professor de defesa, estará à frente do clube junto com o nosso professor de poções, o professor Snape, as aulas desse período estarão canceladas e serão substituídas por esse compromisso, lembrando que é imprescindível a presença de todos os alunos sem nenhuma exceção. Obrigada e desejo a todos uma boa noite - ele disse se sentando enquanto os barulhos voltavam a explodir.

Aquele barulho todo lhe causava dor de cabeça, ainda mais quando misturado com o correio da semana, diversas corujas entraram ao mesmo tempo no recinto, deixando os alunos que já estavam um tanto quanto eufóricos ainda piores, Shara estava na mesa, seguindo as recomendações do diretor, e ele notou que ela também havia recebido uma correspondência, fato nada incomum, já que ela vinha trocando correspondências com sua amiga trouxa a algum tempo agora, mas algo ali chamou sua atenção, aquele embrulho colorido parecia um tanto quanto familiar, ele bebeu um gole do seu suco de abobora, tentando se lembrar de onde ele já tinha visto aquilo, quando num salto ele estava de pé e a caminho da mesa da Sonserina, aquele era o mesmo papel usado para embrulhar a varinha no Olivaras, Shara o estava abrindo, de maneira completamente despretensiosa... Severo podia sentir seu coração disparar, não seria bom causar nenhum alarde, mas conhecendo o remetente daquilo era quase impossível, ele notou quando ela tirou de dentro de uma caixa, algo que o fez congelar, Elza havia mandado para a menina a adaga que ela mesmo havia entregue para Maeva a tantos anos atrás, a adaga que Severo havia visto na lembrança, aquele instrumento que havia sido usado para... Severo engoliu seco, Shara o estava analisando com cuidado, aparentemente havia um bilhete, ele se aproximou dela, colocando a mão em seu ombro, a pegando completamente de surpresa ali, nenhum outro aluno parecia estar prestando atenção a aquilo, já Shara se virou assustada, ela tentou dizer algo mas antes mesmo de conseguir concluir aquilo, ela desmaiou. 


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Notas finais do capítulo

A história é tão complexa, tão cheia de nós, uma trama difícil de ordenar, pois todo cuidado é pouco, para que haja uma coerência.

Amo escrever Alvo e Severo conversando, sério amo, ambos são de uma inteligencia e sabedoria, que não poderia ser de qualquer jeito.
As explicações são sempre mais elaboradas já que precisam ser suficientemente claras.
Próximo capitulo prometo fortes emoções :)

Alvo falando claramente sobre o que ambos (Shara e Severo sentem um pelo outro) faz a gente sorrir

Obrigada a aqueles que não desistiram e estão aqui comigo :)



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