Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 56
Futuro - Lembranças




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Shara havia adormecido rapidamente, uma prova do quão cansada ela podia estar ali, se para ele que era adulto, se regular em situações de estresse como aquela já era um tanto quanto difícil, imagina para ela que ainda estava aprendendo a lidar com suas próprias emoções e pelo que ele a conhecia, ele tinha acabado de presenciar mais um episódio de crise, ela as tinha com uma certa frequência e aquilo podia ser ainda mais difícil para ele agora, que assistia tudo de fora, do que até mesmo para ela que as vivia, ele suspirou cansado enquanto a olhava dormir de forma tão serena.

E justamente por estar cansado que ele havia decidido encerrar o dia mais cedo, pedindo pelo jantar em seus aposentos privativos acompanhado dessa vez de uma boa taça de vinho, e pensar que no passado, após um jogo como aquele, ele estaria com suas cobras, fazendo um discurso inflamado e vazio sobre o desempenho do time em campo, mas que de alguma forma servisse para alimentar o ego, já que a grande maioria deles precisava e era movido por esse tipo de motivação, desde quando ele se importava tão pouco assim com Quadribol? A resposta para aquela pergunta, dormia em seu sofá. 

Ele estava compenetrado, olhando ela dormir, e se lembrando que mais cedo ele havia transfigurado aquele sofá em uma cama, quase como se pudesse premeditar o que iria acontecer ali depois, mas a verdade é que ele havia feito aquilo, para manter uma falsa sensação de como seria ter uma criança por perto e dormindo por lá, sim ele que nunca achou que poderia se importar tanto com uma até ter a sua própria, e ela era real, Shara era de carne e osso e a forma como ele assumia isso agora também o assustava, ele se importava com ela e abrir seus aposentos daquela maneira respondiam isso muito bem.

Em toda a sua trajetória, ele nunca tinha visto uma criança tão forte como ela, e não por que ela fosse dele, mas ele se orgulhava dela por isso e por tantas outras coisas, já que a maioria das crianças quebrariam com o menor daqueles problemas, ela não, ela era diferente, e por mais difícil que tivesse sido sua história, ela continuava a lutar e o mais importante ela continuava sendo boa e tudo que vinha acontecendo, o colar, aquela última experiência, provavam isso, Shara podia ser uma rocha, porém ao estar mais próximo dela, ele podia olhar além de toda aquela fortaleza, e enxergar um lado frágil e por vezes tão vulnerável, era ali onde habitavam suas frustrações, todos os traumas, medos e as dores do passado que por vezes a sobrecarregavam, e então aquilo o fazia lembrar de que na verdade ela era apenas uma criança que precisava ser cuidada e protegida e ele sabia e podia sentir que de alguma maneira ela buscava esse tipo de conforto nele, aquela troca de olhar no corredor dizia muito, na verdade ela gritava por socorro, e estava tudo ali, naqueles olhos verdes, os olhos da sua mãe.

E por um incidente desagradável como aquele que ela se sentiu traída justamente por aquele em que ela buscava proteção, sim ele deveria protegê-la, ele mesmo não podia se perdoar por ter permitido que Lucius fosse tão longe como foi, mas ele não podia... inferno, maldita posição e maldita guerra. Alvo tinha razão Lucius nunca o tinha irritado tanto assim antes, mas agora ele havia desencadeado o pior nele, como a muito ninguém fez, e se ele pudesse aquele seria um momento bem oportuno para encaminha-lo, para uma viagem além vida, ele merecia, mas Severo não podia, ele precisava desempenhar aquele papel, era importante e ele sabia que não aquele, mas em outros momentos, ele teria que mais uma vez se manter completamente apático diante de situações como aquela, mesmo ao perceber a dor que a marca no ombro da sua filha poderia estar causando a ela, e ainda assim não fazer nada, ele não sabia se conseguiria aquilo outra vez, e a dor na marca só provava o que ele já sabia, Lucius era um perigo eminente para ela, por sorte assim que Shara havia saído correndo do grande salão, um outro aluno o abordou com uma dúvida estupida qualquer e ele usou aquela oportunidade para cumprir seu papel de professor exemplar, e na primeira oportunidade sair de cena e ir atrás dela, sim ele se importava com ela e com o que tinha acontecido ali e se importava tanto a ponto de estar velando seu sono naquele exato momento e pensando em formas de como encontrar aquele maldito gato branco, que ele sequer sabia que ela possuía, ele odiava animais de estimação, especialmente os gatos, quem havia sido o imbecil que tinha dado um presente como aquele? Ele pensou, estava exausto, mas ele sabia exatamente o que devia fazer, ele se levantou.

—______

Shara acordou com uma sensação inusitada, como se uma bola de pelos muito macia estivesse de forma insistente se esfregando em seu nariz, dando ali a falsa sensação de que ela precisasse espirar a qualquer momento, ela abriu os olhos, e para sua surpresa havia mesmo algo, Flocos… e ele parecia querer mesmo chamar sua atenção passando a pata no seu rosto em movimentos circulares.

—Flocos – ela exclamou enquanto se sentava, ela o apertou com tanta força contra si que ele reclamou com aquela demonstração excessiva de afeto – onde você esteve? Eu estava tão preocupada... menino mau, você é muito, muito desobediente sabia – ela disse brigando com ele de forma carinhosa, não tinha como resistir aquele focinho gelado – e isso foi muito feio e de agora em diante você terá regras e terá que cumpri-las do contrário estará de castigo – ela o repreendeu, passando a mão pelo seu dorso, ele imediatamente se deitou de barriga pra cima, pedindo para que ela o acariciasse mais, sem dar a mínima importância para a sua reprimenda.

—Regras? – ela ouviu a voz do professor Snape, se dando conta ali de onde ela estava e se sentindo envergonhada por ter sido tão literal – está tentando ser o exemplo sobre regras? – ele pediu com sarcasmo - Para um gato? – ela ficou de joelhos naquela cama improvisada, mas ainda assim a melhor e mais confortável cama que ela já havia dormido em toda a sua vida, se apoiando em seu encosto, apenas para identificar de onde a voz estava vindo, ela o encontrou sentado na mesa da cozinha, lendo um jornal, enquanto tomava uma xicara de café, a mesa estava posta e o cheiro era muito agradável, ela estava com fome.

—Bom dia professor – ela disse não querendo parecer tão animada como de fato estava, mas era tão bom ter Flocos de volta, um alivio na verdade – obrigada, honestamente... por ter encontrado ele pra mim, Flocos... o meu gato – certo, ela não podia disfarçar aquilo, ela estava mesmo feliz, como ele havia conseguido acha-lo? Ela havia pensado em inúmeras possibilidade e lugares para procura-lo pelo castelo ontem à noite, mas nada que fizesse sentido, ele era realmente muito bom em encontrar, pessoas e coisas e pelo visto também animais. 

—O que a faz pensar que eu o encontrei para você? – ele pediu sem sequer desviar os olhos do jornal, mas ela sabia que não havia simplesmente como Flocos ter entrado ali, aquilo era por si só obvio demais, e sem falar que essa tinha sido a última coisa que ele havia dito para ela na noite anterior, ela se lembrava, ele havia perguntado sobre o gato, ela sorriu com o pensamento que lhe ocorreu.

—A menos que o senhor tenha sequestrado o meu gato a alguns dias atrás, o que não me parece algo provável, não vejo mais nenhum outro motivo para ele estar aqui essa manhã – ela disse sorrindo – e isso me faz pensar que tenha buscado ele por mim – ela estava convicta disso. 

—Você tem uma hora para se livrar dele e deixa-lo onde sei lá suas regras acharem adequado – ele disse baixando o jornal e a encarando – essas são as minhas regras Epson, fui claro? – ele pediu – e livre-se dos pelos - ela assentiu.

—O suficiente... claro – ela ainda sorria porém de forma mais discreta – obrigada senhor – ela se levantou – onde o senhor o encontrou? É que ele sumiu por tanto tempo, que cheguei a achar que algo muito ruim tivesse acontecido com ele... e bem ele me parece mais magro também – ela disse analisando o felino com bastante atenção agora. Flocos havia ocupado seu lugar na cama improvisada, se aninhando de forma confortável lá.

—Ele certamente se porta como sua dona, que acha que pode se aventurar por conta própria pelo castelo e então acabou preso em um armário na sala de artefatos trouxas – o professor informou, sala de artefatos trouxas? Isso era estranho, não certamente esse lugar não estava na sua lista de buscas, de alguma forma algo lhe dizia que Flocos não havia conseguido tal façanha sozinho, gatos são criaturas bastante inteligentes, não havia dúvidas de que alguém havia o prendido lá, ele miou para ela, como quem quisesse confirmar aquilo que ela estava pensando, isso certamente merecia ser melhor explorado, porém por hora ela se concentrou apenas naquela sutil provocação, já que ele não perdia a oportunidade.

—Eu não estava me aventurando ontem à noite - ela respondeu - eu estava apenas procurando pelo meu gato, qualquer aluno faria o mesmo - ela se defendeu.

—Errado Epson – ele se inclinou na mesa - qualquer aluno procuraria a ajuda de um professor e certamente não faria buscas noturnas depois do toque de recolher - ele a corrigiu – afinal existem regras, um bom ponto a ser considerado aqui caso insista em ser o exemplo para algo ou alguém– aquele era um risco que ela havia decidido correr, sendo assim, ela achou melhor não argumentar e ele estava certo sobre as regras - antes que me esqueça, estou descontando 10 pontos da casa por essa infração - ele estava sério agora - não quero mais vê-la circulando pelos corredores a esse horário e isso é uma ordem – ele mandou - e trate de fazer um bom trabalho daqui pra frente, para recuperar todos os pontos quem vem perdendo, já que seria bastante lastimável se a casa perder a posição que vem conquistando por sua falta de responsabilidade. 

—Sim... eu farei - ela respondeu acuada, afinal o que mais ela poderia dizer? Ela se sentou à mesa, na frente dele, aquilo era estranho, ela não sabia muito bem como se comportar ali, não era como no grande salão e em nada parecido com o café que ela tomava no lar, mas ela se sentou mesmo assim, ainda de pijama, será que ela deveria ter ido se trocar antes? Quais eram as regras dele sobre isso? certamente haviam algumas, mas ele não havia dito, ela se sentia nervosa, e ela tinha algumas perguntas sobre os motivos dele em deixa-la tão à vontade ali, não que ela de fato estivesse a vontade, não era tão simples assim, eles ficaram em silencio por um tempo, e então ela não viu mal em tentar explorar aquela dúvida.

—Por que o senhor me deu acesso aos seus aposentos privativos? - ela perguntou, soltando aos poucos o ar que nem ela notara que segurava, enquanto se servia de um pouco de café, por que ela estava se sentindo tão tensa?

—Vejamos – ele a encarou – digamos que nenhum aluno antes de você tenha conseguido se envolver em tantos problemas de uma única vez, o que me obriga a tomar certas medidas, que eu jamais tomaria - ele sorriu com malícia e ela sentiu um frio percorrendo sua espinha - não pense aqui que te dei acesso a um parque de diversões Epson...  estou tentando manter as coisas sob controle, portanto faça bom uso de seus privilégios – um lugar para ir quando precisasse e uma cama extremamente confortável, bem aquilo era mesmo algum privilegio, mas ainda assim passava bem longe de se parecer com um parque de diversões, embora ele nunca tivesse ido em um, ela pensou.

—Certo... nunca imaginaria isso senhor - ela disse enquanto bebia um pouco do café para tentar disfarçar todo aquele desconforto - de qualquer forma, obrigada por isso também... - ele arqueou a sobrancelha.

—É... por que a escola tem uma sala de artefatos trouxas? – ela perguntou para tentar elevar um pouco a temperatura, já que ela tinha a sensação de que ela havia caído alguns graus, e também por que aquela era uma curiosidade genuína, afinal o que de tão interessante havia no mundo trouxa, para eles que eram bruxos?

—Pelo mesmo motivo que existe uma sala para feitiços, uma sala para arte das trevas e uma sala para poções – ele disse seco – para estudar e aprimorar seus conhecimentos a respeito – certo, então eles estudavam mesmo as coisas dos trouxas, inusitado, bom pelo menos essa seria uma aula em que ela teria alguma vantagem, agora vamos a pergunta mais pertinente do momento...

—O que é a câmera secreta? – aquele era um assunto que valia a pena, todos estavam falando sobre isso naqueles dias e ela não havia dado tanta importância até então, já que sempre havia tanto acontecendo na sua vida, mas ela tinha visto a frase escrita com sangue na parede daquele corredor e os boatos eram muitos, mas nada de concreto para se embasar e depois de ontem à noite, depois de ver a preocupação do diretor, e depois do que ele disse, certamente aquele era um assunto que ela deveria reconsiderar.

—Você faz perguntas demais – ele disse erguendo novamente o jornal e a ignorando, por que ela achou que ele fosse realmente responder aquilo, ela não sabia – limite-se em responder apenas quando for questionada e a perguntar o mínimo necessário, e lhe garanto que terá uma estadia promissora aqui, do contrário, isso pode ser uma experiencia bastante desagradável, acredite – certo ele podia ser terrivelmente intimidante até mesmo quando estava fazendo algo legal.

—Sim senhor – ela respondeu – eu só pensei, bem ontem o diretor disse... – ela tentou

—Epson, você irá ficar longe desse assunto e esquecer o que o diretor disse está me entendendo? – ela assentiu - se eu souber que está investigando algo, envolvida em seja lá o que for que esteja relacionado a isso, e eu disse... seja lá o que for Epson, eu não terei clemencia, não dessa vez – ele foi enfático ali, não havia mesmo como ter uma conversa decente com ele.

—Por que o senhor não queria que eu contasse sobre a voz para o diretor? – ele suspirou baixando o jornal outra vez – desculpe... eu prometo que essa será a última, mas se eu devo guardar isso, bom... talvez - ela disse sem graça – pelo menos seria bom saber o motivo – ele pareceu considerar aquilo. 

—Se é tão inteligente... como acha que é – ele a encarou a desafiando – penso que poderá chegar a essa conclusão sozinha – talvez, ela pudesse mesmo. 

—Bem... se eu disser a verdade, para ele, talvez ele queira explorar isso de alguma maneira, já que mais uma vez eu sou a única que pode ouvir isso - ela disse baixinho - e então, ele irá precisar de mim para quem sabe procurar a fera... – esse era o seu palpite, e ela não teve dificuldade em expor - e quem sabe encontrar a câmera secreta também - ela finalizou.

—Não vou e não posso permitir isso – ele disse apenas, então ela estava certa sobre isso? Sim ela estava, ela sorriu se sentindo vitoriosa, então ele queria mantê-la longe, longe de mais uma aventura, de mais um perigo, bom aquilo poderia ser chamado de motivação correta? Não poderia? Ela achava que sim – agora chega de perguntas, esse assunto encerra aqui, agora tome o seu café da manhã e da próxima vez lembre-se de ficar apresentável antes de se sentar à mesa - ali estavam as regras dele sobre isso, ela se sentiu constrangida.

—Eu sinto muito, eu não sabia… se quiser eu ainda posso... - ela se levantou da cadeira completamente encabulada - eu só não sei muito bem o que fazer e como fazer eu não quero incomodá-lo… senhor - ela estava nervosa.

—Sente-se Epson - ele ordenou - eu disse da próxima vez... – ele parecia desconfortável também, ela voltou a se sentar, a situação toda era bastante constrangedora, porém ouvir da boca dele que teria uma próxima vez ajudava muito, ele estava mesmo dizendo isso?

—Eu não sei o que se espera... eu nunca tive isso – ela baixou os olhos e ela sentiu a mão dele segurar e apoiar o seu queixo a obrigando a lhe direcionar o olhar – me desculpe, eu não quero decepciona-lo com isso - ela concluiu.

—Isso – ele enfatizou – não me decepciona, me decepciona muito mais vê-la infringindo regras, perdendo pontos e se colocando em perigo, o resto você pode aprender já que é sim muito inteligente – ele não estava brigando agora, aquilo foi diferente – agora que superamos isso, quero que separe e me traga suas atividades, aquelas que vem recuperando no decorrer dessa semana, seguindo o plano que tracei, quero e vou revisar todas, já que amanhã iniciamos com as detenções, não pense que se livrou delas.

—Não senhor – ela estava bem ciente daquilo – como e com quem vou cumprir?

—Parciais, metade com Hagrid e metade comigo – ele informou – nessa primeira semana podem ser feitas com o Hagrid e na semana seguinte comigo.

—Com o Hagrid – ela exclamou animada enquanto ele a encarava sério, certamente nada satisfeito com aquela reação, quando ela se deu conta do que havia acabado de fazer – não que eu não esteja animada para cumprir as suas, é claro que estou... eu estou, eu só... bem limpar caldeirões é divertido também, o senhor sabe e de certa forma... bom certamente ambas vão ser boas– ela resolveu concluir, aquilo estava fazendo tudo, menos melhorar, ele sorriu com o canto da boca.

—O dia que um aluno ficar animado ao cumprir uma detenção do qual sou responsável, certamente estarei pedindo desligamento de minhas atividades nessa escola – ele disse, mantendo a postura, naquela voz sutil, mas perigosa – já que prefiro prestar serviços voluntários em Azkaban, do que ficar para presenciar uma cena tão deplorável como essa, lá com certeza será bem menos torturante – ela não entendeu bem a referência, mas achava que boa coisa não podia ser, melhor não comentar aquilo – Tenho reunião com o diretor mais tarde e preciso que me forneça suas lembranças sobre o que aconteceu com a Hidra naquele dia – não era bem uma opção, ela entendeu aquilo, porém estranhou, afinal como ela faria isso? 

—Fornecer uma lembrança? – ela repetiu confusa

—Foi exatamente o que eu disse – ele não era muito paciente também.

—Como exatamente se fornece uma lembrança? – ela resolveu ser mais objetiva, já que ela não fazia a menor ideia.

—Vou extrair um lapso da sua memória com um feitiço, enquanto seu único trabalho é pensar sobre ela – ele explicou, isso parecia algo terrível, tirar um pedaço da memória assim? Ela certamente deve ter deixado transparecer o quanto aquilo a deixou desconfortável, para não dizer assustada – é indolor Epson e não se preocupe, isso não vai afetar o bom funcionamento do seu cérebro, que a propósito você deveria usar melhor – ele sorriu com o canto da boca.

—Ei... o senhor acabou de dizer que sou inteligente – ela devolveu indignada.

—Ser inteligente e usar a inteligência são coisas bem distintas – ele disse fechando o jornal e se levantando enquanto buscava um recipiente de vidro – concentre-se naquele dia – ele disse se aproximando, então ele ia fazer isso agora? pelo visto sim, ela se mexeu de forma desconfortável na cadeira – como você ainda não tem preparo e controle da mente não vai conseguir separar uma memória específica para mim, dessa forma estarei capturando as memórias do dia, e depois estarei filtrando com o diretor – ele informou – se concentre apenas naquilo que é importante, isso irá servir – ela assentiu de forma positiva – ela se lembrou de como havia cortado o braço, de como a hidra surgiu da água, da visão, e então ela viu ele se mover com algo parecido com água dentro do recipiente que ele havia separado, era só isso? Apenas isso?

—Como o senhor vai... – ela olhou para o recipiente na mão dele – ver as lembranças assim? – aquilo era algo completamente novo.

—Uma penseira – ele respondeu – é um recipiente onde as lembranças são depositadas e podem ser assistidas, quantas vezes forem necessárias, é encantado para isso, são bastante raras, o diretor possui uma em sua sala – ele havia fornecido bastante informação sobre isso, e aquilo era muito fascinante.

—Incrível – ela exclamou maravilhada, havia tanto sobre o mundo magico que ela ainda não conhecia, lá tudo era possível, tudo – é por isso que estudar artefatos trouxas não faz muito sentido pra mim, quando vocês bruxos possuem essas coisas mágicas – ela completou.

—Nós bruxos – ele a corrigiu e ela sorriu voltando a comer.

—____________

Era estranho ter uma criança em seus aposentos privativos, ainda mais uma criança usando pijamas e meias, sentada bem na sua frente, na sua mesa de jantar e compartilhando o seu café da manhã, se alguém um dia lhe dissesse que isso poderia acontecer no seu futuro, certamente ele não acreditaria, embora ele ainda se questionasse se aquela era mesmo a coisa certa a se fazer, mas algo nele dizia que sim, era evidente que ela deveria ser assistida mais de perto já que ela não era uma criança como outra qualquer e ele era o pai dela, ele que já havia assumido para si uma pequena parcela daquela responsabilidade e sem falar que ter a companhia de alguém de vez em quando podia ser algo bastante tolerável, desde que... não houvessem tantas perguntas é claro, aquilo era algo que precisaria ser ajustado.

Ele estava a caminho da sala do diretor com as lembranças que ele havia coletado mais cedo, Alvo acreditava que podia haver algo importante naquela visão que ela pudesse estar deixando passar, e as motivações do diretor era algo que ele gostaria de monitorar sem muita distância.

—Boa tarde Alvo – ele disse entrando na sala, não havia pretensões de ficar por muito tempo, claro aquelas lembrança precisariam ser lapidadas, quem sabe ele perderia um certo tempo ali, afinal Shara ainda era muito nova e nunca havia feito nada parecido com aquilo antes, então não tinha como simplesmente exigir que ela fragmentasse momentos específicos de um dia inteiro ainda.

—Ah que bom revê-lo Severo – Alvo disse animado se levantando – e como ele está? – ele perguntou.

—Ele? ele quem? – aquele velho ficava cada dia mais senil.

—O gato é claro – Alvo sorriu, e aquilo o desconcertou – fica difícil não notar, me refiro aos pelos é claro... é um gato branco não é mesmo? sabe nas vestes pretas acaba destacando um pouco mais – Severo não pode deixar de se culpar por ter sido tão descuidado sobre isso, era obvio que Alvo não deixaria passar e esse era apenas mais um dos muitos motivos que o faziam não gostar de gatos, os malditos pelos. 

—Alguém prendeu o animal na sala de artefatos trouxas – ele se limitou em responder – aquela criatura pareceu aliviada em me ver, afinal ninguém entra naquela sala a meses – Alvo sorriu com o comentário.

—Que bom que o tenha encontrado Severo, tem se saído muito bem – ele disse caminhando e tirando a penseira do armário, Severo decidiu ignorar o comentário.

—Teremos que lapidar – ele informou, pegando o frasco com as lembranças – aparentemente temos as memórias de um dia inteiro.

—Imaginei que seria – Alvo disse sinalizando para que ele as depositasse na bacia ornada – podemos entrar juntos, vou precisar da sua ajuda para desfragmenta-las e analisar as partes mais importantes – Severo tinha visto o suficiente naquele dia, ele não achava necessário revisitar aquilo novamente, mas não se opôs, normalmente Alvo tinha um sexto sentido muito bom e eles entraram.

As primeiras memórias eram dela trabalhando em sua sala de aula, naquela manhã enquanto conversava com a garota Weasley. “O que tem te deixado tão chateada?” a ruiva  havia perguntado, Shara não conseguia disfarçar quando algo a incomodava “Começando com o fato de que minha vida toda é uma mentira” ela havia dito “Ir atrás de respostas... do meu jeito, e por conta própria... eu só preciso ligar alguns pontos” Criança estupida ele pensou, de fato ela havia ligado bons pontos ali naquele dia... “Apenas faça, confie em mim, sabe nem sempre os livros são confiáveis” ela orientou a Srta. Weasley e ele não pode deixar de sentir um tanto orgulho ao ouvir aquilo, pelo menos alguns ensinamentos haviam sido absorvidos e não restava dúvidas de que ela era a melhor da turma em poções, o diretor havia sinalizado para passar o tempo um pouco mais para a frente, era difícil coordenar o tempo dentro da lembrança de outra pessoa, poucos conseguiam, ele era um deles.

“Pessoal? ... aqui fora... sozinha?” – era Draco, eles estavam na parte de fora do castelo agora e ele parecia ter vindo de um treino de quadribol  “você vem treinando a dias... não quero que se meta em problemas, não por minha causa” – ela estava tentando fazer aquilo sozinha e ele como sempre estava sendo um garoto petulante “Deveria significar algo, mas pelo visto você é a única nessa escola que não se importa com isso” – ele disse para a forma como ela desdenhava o seu sobrenome, espera o que aquele garoto estava tentando fazer? Severo sabia, ele estava perto demais agora e por que ela simplesmente não estava se afastando? ele sentiu seu sangue começar a ferver, aquilo não era bom, Alvo sinalizou para que ele avançasse o tempo um pouco mais, mas não, não ainda... ele havia beijado ela e ele iria matar aquele moleque atrevido, sim isso era exatamente o que ele iria fazer “Façamos uma troca” Draco havia proposto – “sou um Sonserino, você sabe” – ele sorria - “O que você quer? – ela havia perguntado - “algo bastante simples.. Outro beijo” – ele encarou aquele loiro, definitivamente ele tinha ido longe demais, Severo estava prestes a transforma-lo em uma barata, e esmaga-lo com o força do seu pé, pena ser apenas uma lembrança, ele passou o tempo mais para frente conforme o diretor havia pedido, não havia muito mais que aquilo, e eles estavam agora revivendo os momentos com a Hidra, mesmo uma criatura tão esplendorosa como aquela não foi capaz de distrai-lo o suficiente, para fazê-lo esquecer o que tinha acabado de presenciar ali, o Sr. Malfoy mal podia esperar pelo que lhe aguardava. 

Agora eles estavam dentro da visão dela e isso era de fato curioso, ver Medusa ali, aquela Medusa da lenda era algo interessante e ela era muito diferente de como ele imaginou que ela seria, até mesmo Poseidon, eles na verdade se pareciam mesmo com pessoas comuns, ele viu o colar e Shara tinha mesmo razão sobre isso, ele também achava ser feito de agua, e aquela não era uma visão dentro de outra visão, isso foi algo equivocado, ela não poderia entender justamente por que ela não conhecia e nunca tinha visto uma penseira antes, o que ela havia visto era na verdade uma lembrança única, e o que havia acontecido era que Medusa assim como ele e Alvo estava na verdade visitando aquelas lembranças, ele viu Poseidon chamar pelo nome da sua filha, aquilo era mesmo impactante e então eles saíram.

—Eu não entendo – Alvo foi o primeiro a dizer – Poseidon não fez nenhum comentário sobre o colar, em como liberar a magia dele e mesmo assim ela fez, ela entendeu isso de alguma maneira, mas como? – Alvo se sentou confuso – Severo... – Alvo chamou sua atenção e ele encarou o diretor por um momento – O que acha disso tudo? – ele perguntou, Severo caminhou em direção a porta.

—Alvo peço perdão, falamos sobre isso mais tarde, no momento tem algo que preciso fazer – ele estava decidido.

—O que vai fazer Severo? – Alvo perguntou se levantando.

—Estou indo matar o Sr. Malfoy – ele disse saindo do recinto.

—__________

Shara estava sentada naquela que havia se tornado a sua poltrona preferida no salão comunal, organizando o seu material e o deixando o mais bem apresentável possível, já que ela teria que entrega-lo para o professor Snape mais tarde e bem ele costumava ser bastante exigente quanto a isso, ela não via muito sentido em tê-lo revisando tudo aquilo, já que os próprios professores das respectivas matérias o fariam, mas como ele havia traçado aquele plano de estudos para ela que aliás havia funcionado muito bem, quem sabe ele esteja apenas querendo validar se ela o tinha cumprido à risca ou não, mas ela tinha. 

Haviam alguns alunos espalhados pela sala, aparentemente um pouco mais animados, era impressionante como uma boa noite de sono podia mudar muita coisa, ela pensou, Flocos estava brincando com uma bola de lã que Hermione havia lhe dado nos primeiros dias, aparentemente deixava o gato entretido por tempo suficiente, quando mais uma vez é ouvido o som da porta principal batendo contra a parede e os passos apressados do professor Snape entrando no recinto, ela se levantou aflita, o que podia ser agora? e automaticamente todos os olhares estavam sobre ela, normal afinal era sempre com ela... mas ele apenas lhe lançou um olhar enfurecido, e subiu as escadas em direção ao dormitório dos meninos, a capa dele parecia dançar diante daquela entrada dramática e ela se sentou aliviada, embora a sensação ainda era como se o seu coração fosse sair pela boca, mas pela primeira vez aquilo não era com ela.

Não demorou muito para que ele voltasse, escada abaixo arrastando consigo Draco o puxando pela orelha, o garoto parecia completamente perdido e ele estava vermelho tal qual a bandeira da Grifinória, já que a cor da sua pele não ajudava muito nesse sentido, ele parecia tentar argumentar algo mas sem o menor sucesso, eles passaram pelo restante dos alunos e saíram, Shara estava segurando a respiração, o que tinha sido aquilo?

—Gregory – Shara chamou, vendo o amigo de Draco descer as escadas confuso – o que aconteceu? – ela perguntou.

—Pelo que me parece, nem Draco sabe ao certo – Gregory disse dando de ombros – mas foi assustador, nunca vi o professor Snape tão bravo – ele disse se encolhendo, ela sim, algumas vezes – espero que ele sobreviva.

—Estranho – Shara disse olhando para a saída 

—o suficiente, sabe dificilmente Draco deixa rastros – Gregory parecia pensar a respeito – ele costuma ser muito cauteloso e pela fúria do professor Snape, me parece ser algo recém descoberto, o que torna tudo ainda mais confuso já que Draco só tem respirado quadribol ultimamente – Shara assentiu, o professor Snape podia mesmo ser bastante imprevisível, ela se lembrou que ele havia dito que estaria com o diretor essa tarde, mas se bem que eles estariam revisitando as suas lembranças e parecia ser alguma coisa, já que era um dia inteiro para filtrar... e então, ela congelou.

—Droga – ela disse sentindo a sua própria cor sumir, ele havia visto aquilo? O professor tinha visto o beijo? – não, não... não – ela queria sumir.

—O que foi Shara? – ele perguntou preocupado – você não me parece muito bem – ela não estava, aquilo ainda era com ela, e o professor havia visto aquilo, ela tinha quase certeza pelo olhar enfurecido que ele havia lhe direcionado, sim ele tinha descoberto, mas... aquilo era algo tão pessoal, ele não deveria se enfurecer por isso e nem usar aquelas  informações, Draco iria odiá-la pelo resto dos anos letivos agora, como ela podia ter simplesmente se esquecido daquilo? Era tudo sua culpa.

—Eu... preciso subir – ela disse tentando segurar as lagrimas, estava arruinado, ela subiu os degraus até seu dormitório tropeçando em praticamente todos enquanto se jogava em sua cama e se cobria como quem quisesse e pudesse se esconder ali para sempre, exatamente como nos velhos tempos, enquanto sentia as lagrimas silenciosas descendo pelo seu rosto, ela tirou os brincos, decidindo que simplesmente não merecia mais usa-los. 


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Notas finais do capítulo

Eles tomando café juntos, literalmente juntos pela primeira vez! Até que não foi tão ruim né... Ao modo Severo Snape é claro hahaha

Ele indo atrás do gato dela e Dumbledore não perdendo a chance de zuar ele ;)

Severo não prestando atenção em nada que Dumbledore estava falando, Draco me parece que vc tem um problemão.

Agora esse final, tadinha né gente... Mas ela, entregando a lembrança de forma tão inocente (Sorry por isso gente minha criatividade me obrigou a fazer isso) e ela nem percebeu o que estava fazendo, agora vamos lá, Severo pega leve, foi só um selinho, ele é ou não é um pai mega ciumento?



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