Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 53
Futuro - Lucius Malfoy




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—Severo Snape, meu velho amigo - Lucius disse enquanto entrava em suas alas se sentindo bastante confortável e a vontade ali, certamente não havia momento menos oportuno para recebe-lo que aquele, Severo precisava atuar, papel que ele desempenhava muito bem, desde que não envolvesse seu elo fraco, Shara, a criança agora estava presa no banheiro, situação nada convencional, ele havia isolado os ruídos, então o mundo poderia literalmente acabar daquele lado que Lucius não perceberia, agora ele só precisava contar com a sorte de não tê-lo desejando usar o banheiro, algo que dificilmente aconteceria, já que ele era um bruxo puro sangue e prezava pelas regras de etiqueta e bons costumes - pela demora, achei que não quisesse me receber - ele zombou

—Talvez - ele respondeu de forma arrastada – não tenha lhe ocorrido, que eu tenha coisas mais relevantes a fazer, ao invés de ficar sentado em frente à minha lareira esperando de forma deprimente que algum ilustre visitante apareça - ele usou ironia - já que eu não recebo visitas Lucius - ele foi enfático.

—É claro - ele disse enquanto se servia de uma bebida, isso nunca o desagradou tanto como agora - havia me esquecido do seu lado sociável, aquele que não existe no caso - ele riu com malícia - pelo menos me diga que estava ocupado com alguma vadia e que ela está te esperando no quarto – Lucius brincou, Severo o encarou visivelmente irritado, aquilo foi totalmente inapropriado - o que foi? Não me diga que aquele velho maluco a quem você presta esse desserviço não permite esse tipo de divertimento por aqui - Lucius tinha um péssimo comportamento e quando se sentia à vontade, com amigos, um péssimo vocabulário também, a verdade é que Lucius era político, ele sabia muito bem como se comportar em situações diversas, ele era moldável as pessoas e ocasiões o que lhe trazia inúmeros benefícios, era alguém com prestígio e riqueza, coisa que Severo gostava de usufruir no passado, embora ainda assim era difícil acreditar que pessoas tão diferentes como eles pudessem ter sido amigos um dia, se é que aquilo poderia ser chamado de amizade, agora havia uma preocupação eminente, uma criança de 11 anos podia ouvi-los, Severo precisava se livrar dele o mais rápido possível.

—Tenho outras formas de me divertir - ele se limitou em responder - a propósito tenho alguns compromissos importantes, relacionado às minhas responsabilidades com essa escola, pode parecer um desserviço como chama, mas não se esqueça que leciono para aquele cabeça oca que chama de filho, então diga de uma vez a que veio  - ele se aproximou tirando a garrafa de whisky da mão de Lucius, aquela não era uma ocasião para isso - imagino que deve ser algo de caráter urgente já que não pode esperar até amanhã - Severo pontuou irritado, Lucius estaria na escola para assistir o maldito jogo de Quadribol, o que poderia ser tão relevante que não podia esperar um único dia sequer?

—Amanhã não será apropriado - Lucius disse sério, mudando a postura - Edmundo, aquele bastardo, estou o monitorando a meses e preciso da sua ajuda com algo que desconfio - ele explicou pegando Severo de surpresa.

—Edmundo Diaz - Severo bufou - achei que fossem colegas de ministério - Lucius riu.

—Ele conseguiu o cargo que possui, por minha influência e indicação, mas ele se acha mais esperto do que eu, tentando me passar para trás como tem feito - Lucius disse, bebendo de uma vez só a bebida que ainda havia no seu copo - ele apenas se esqueceu de um detalhe, que seus colaboradores são fiéis a mim e não a ele.

—O que precisa Lucius? - Severo perguntou tentando encurtar o máximo possível aquela conversa.

—Tenho certeza que se lembra da lenda de Medusa - Lucius disse e aquilo fez com Severo perdesse o chão, as coisas não deveriam ir por aquele caminho, não com a criança ouvindo o que estava sendo dito, e por que Merlin, como e por que Lucius estaria interessado nisso, justamente agora?

—Uma lenda sim e você sabe, não acredito em lendas - Severo respondeu sem emoção, tentando mostrar completo desinteresse, e sem falar que apenas alguns meses atrás essa era de fato uma verdade absoluta para ele, e que ele poderia sustentar muito bem, até que aquela garotinha estúpida entrou na sua vida, virando seu mundo e suas crenças de cabeça para baixo.

—Pois deveria Severo - Lucius disse enfático - Maeva, se lembra dela não? - Lucius havia dito o nome da mãe da criança, obviamente Shara seria esperta para associar aquilo, Lucius não tinha ideia do que estava fazendo até Severo ouvi-lo continuar, afinal sempre tinha como piorar, vindo dele não lhe restavam dúvidas para isso - foi você que fez a poção que o Lorde iria usar no ritual com ela, você estudou aquilo e preparou tudo… nenhum mestre de poções havia conseguido sequer chegar perto, mas você fez, lembro de como o Lorde havia ficado orgulhoso ao seu respeito, fez um bom trabalho admito, lembro também como ele te presenteou com aquelas adoráveis trouxas, todos nós ficamos com inveja acredite, você sendo o braço direito dele, chegou longe Severo - Lucius disse com desgosto, aquilo foi terrível e completamente intragável, ele não tinha lançado um feitiço de privacidade, pois jamais poderia imaginar que as coisas iriam por aquele caminho, bem pelo contrário ele havia optado em deixa-la ouvir as vozes para que sendo esperta como era, deduzisse que não deveria sair ele não queria assusta-la, mantendo-a presa sem aviso prévio, antes tivesse feito, seria mais fácil para administrar, já que tudo aquilo estava sendo um estrago completo, e agora qualquer movimento tardio para conjurar um feitiço nesse sentido não passaria despercebido por Lucius, ele sentiu seu peito apertar ao imaginar em como ela poderia estar lidando com isso - Maeva, aquela vadia insuportável era protegida pela ordem e conseguiu fugir e se esconder por tanto tempo, infelizmente não conseguimos prosseguir com os planos, queria ter posto minhas mãos nela, ela era deliciosa - Lucius disse, Severo sentiu suas entranhas e o desejo de fazê-lo sofrer por cada palavra imunda dita ou pensada sobre ela ali.

—Onde quer chegar? - ele perguntou sério, estava feito, quanto antes Lucius saísse, melhor.

—Tenho razões para acreditar que um valioso colar, relacionado à lenda, esteja em Hogwarts e, portanto, preciso de sua ajuda para encontrá-lo – ele disse indo direto ao cerne da questão.

—Interessante, ainda assim eu não vejo por que isso seria da minha preocupação, Lucius? Hogwarts é uma escola, não um museu para objetos de valor perdidos. E por que você precisa desse colar? – Severo perguntou, já que eles haviam ido tão longe, ele queria saber do que se tratava aquilo.

—Snape, você sabe muito bem que sou um homem de negócios e que minha influência se estende além das paredes do Ministério. Essa relíquia tem um valor inestimável e poderia trazer-me grandes benefícios. Mas é importante também porque acredito que Maeva não seja a última guardiã – ele havia entregado o jogo, Severo sabia onde ele estava querendo chegar, e aquilo não era nada bom, ele podia ver o segredo de Maeva desmoronar bem a sua frente.

—Esclareça - ele pediu.

—Faz pouco mais de um ano que o ministério vem acompanhando alguns casos de magia ancestral na Londres trouxa, bem e você sabe o que isso significa – Lucius o encarou, Alvo já havia comentado sobre isso em outra oportunidade – infelizmente não foi possível conseguir a localização, mas subornando um dos funcionários que estava envolvido nas pesquisas, constatei que a assinatura mágica era semelhante a de Maeva, informação que eu detinha já quem havia sido o responsável por traça-la aquela vez e pela proporção e falta de controle, certamente aquilo veio de um menor de idade - Lucius explicou, Severo o encarou por um momento, será que Alvo tinha essa informação e simplesmente não havia comentado com ninguém, mas nesse caso ele suspeitava que não - Maeva como sabemos está morta, eu mesmo me certifiquei disso na época, então obviamente deve haver outra guardiã - ele disse parecendo apontar o óbvio.

—Não vejo como isso seja possível - ele disse tentando não demonstrar interesse, mas Lucius era esperto e o raciocínio obviamente estava certo.

—Que seja Severo, de qualquer forma Edmundo está atrás das mesmas informações, ele também quer o colar - Lucius disse tirando uma página dobrada de suas vestes a entregando para ele, Severo a abriu apenas para ver ali uma cópia da página daquele livro sobre lendas bruxas, onde havia uma ilustração da peça tal qual ela de fato era, Severo manteve sua expressão vazia, mas a verdade era que ele podia sentir o peso do colar que ele havia guardado em suas vestes.

—O que quer que eu faça? - ele pediu, com receio de ouvir a resposta.

—Nós precisamos chegar ao colar antes dele – Lucius, disse olhando vagamente para a chaminé.

—Nós? - Severo perguntou intrigado – E por que acha que o colar está na escola? -tentando entender a lógica daquele raciocínio, Lucius nunca foi muito bom em traçar planos.

—Não sei, um palpite apenas - ele disse vagamente – Maeva era protegida pela ordem, talvez esteja em posse daquele velho excêntrico, e bem ele confia em você não é mesmo Severo? – Lucius pediu com certa desconfiança, de qualquer forma pedi a Draco para ficar à espreita, ele tem olhos treinados para identificar algo assim, mas pelo que ele tem relatado, não temos nada no radar - Severo encarou Lucius tentando manter sua solidez, mas a verdade é que ele estava surpreso, então Draco estava mentindo para o próprio pai? As custas de que ele estaria acobertando Shara assim? Isso era algo completamente novo e fora do padrão, quais as intenções daquele garoto? Ele que achava que o conhecia suficientemente bem, quem sabe haviam algumas coisas a serem reconsideradas, talvez houvesse uma esperança - De qualquer forma vou precisar da poção, você ainda está em posse dela? - Lucius pediu.

—Não - ele se limitou a dizer.

—Imaginei…, mas se já fez uma vez, certamente poderá faze-la novamente - Lucius basicamente afirmou não lhe dando nenhuma opção de escolha. 

—Certamente - ele disse de forma vazia.

—Muito bem - Lucius bateu de forma afetuosa em seu ombro - Preciso que a refaça Severo, leve o tempo que precisar, não estou com pressa, certamente será bem recompensado por isso, pagamento será como preferir – ele sorria - em dinheiro ou em garotas trouxas – ele disse fazendo menção ao que havia acontecido no passado - algumas boas é claro, posso escolher a dedo para você meu amigo, garanto que não irei decepcionar e bem a diversão será garantida e depois as mate como fez da outra vez… - Severo cerrou os pulsos, tentando se conter, ele não havia as matado e nem sequer se divertido com elas, ele tinha dignidade, algo que Lucius não entenderia, ele havia apagado a memória delas e as devolvido para suas casas, é claro que ele não havia mencionado sobre isso com ninguém, seria seu fim.

—No momento Lucius a única coisa que quero é apenas que se retire - ele disse com sarcasmo, mas era verdadeiro.

—Tão gentil, como nos velhos tempos - Lucius disse se aproximando da chaminé ainda sorrindo - vejo você amanhã - ele disse saindo, Severo precisou respirar fundo antes de se voltar para a porta do banheiro e decidir abri-la, ele não precisava de muito para saber que aquilo seria bastante difícil, tudo que ele não queria era encarar a garota agora, ele não suportaria, isso era um erro, mantê-la por perto era um erro, quem ele estava tentando enganar? 

Ele caminhou até a porta do banheiro, desfazendo o feitiço e a abrindo, Shara estava sentada no chão, ela estava chorando de maneira silenciosa, havia sangue em sua camisa, que ele imediatamente identificou ser da cicatriz, é claro, Lucius era um perigo eminente para ela em todos os sentidos, Shara era apenas uma criança, ele podia ver isso, e ainda assim ela já tinha tanto em suas costas, certamente ela não deveria ter que ouvir aquilo que foi dito por ele ali  e muito menos da forma como ele fez, sobre  aquela que era a sua mãe e ele se sentiu duplamente culpado, primeiro pelo passado, aquilo iria depor contra ele para sempre já que era algo do qual ele se arrependia mas não podia mudar e segundo pelo futuro, sendo que ele não podia defende-la, não da forma como ela merecia, não na posição que ele se encontrava, mas ela não merecia, não merecia ter que lidar com mais isso, ela levantou a cabeça, e eles tiveram uma longa troca de olhares ali, ele podia ver a dor que ela sentia, e ele a entendia, quando ela num salto ficou em pé a sua frente, sem dizer nenhuma palavra e segurando sua bolsa contra o corpo, ela passou por ele apressadamente caminhando em direção a porta de saída. 

—Shara - ele chamou pelo primeiro nome, ele sabia que não havia nada que pudesse ser dito e que justificaria aquilo que ela acabará de ouvir, ele sequer tentaria, ele era culpado, ela o havia condenado, e ela estava certa sobre isso, mas ele não podia ficar com o colar, aquilo era dela. 

—Não ouse se direcionar a mim, não ouse dizer o meu nome - ela disse entre os dentes, ele sentiu a forma afiada com que cada uma daquelas palavras o tinha acertado ali e havia um brilho diferente naquele olhar, algo que ele ainda não tinha visto vindo dela, aquilo era tão diferente da criança cheia de compaixão que ele tinha presenciado mais cedo essa manhã, aquilo no olhar era algo que ele conhecia muito bem, ele podia se reconhecer ali, e isso o assustava, ele retirou o colar que estava no bolso de suas vestes o deixando à mostra revelando suas intenções ali.

—Use o colar e o mantenha longe das vistas dos outros, tenho certeza de que não precisarei explicar o motivo dessa vez - ele pontuou estendendo a peça para ela, que se inclinou em sua direção apenas para pegá-lo enquanto saia porta a fora. Ele a viu partir, ouvindo a porta se fechar com força atrás de si.

—Eu sinto muito – ele sussurrou apenas para si mesmo, era verdadeiro – é assim que deve ser – ele queria acreditar nisso, ele ainda era um comensal da morte, e ele continuaria sendo um, aquela era uma escolha que ele havia feito no passado, uma escolha errada e que ele estava tentando concertar, e justamente por isso que ele precisava continuar sendo um, esse era seu papel agora e aquilo que acabará de acontecer ali era apenas a prova de que o quanto antes ele entendesse isso, mais fácil seria para ambos. 

 _____

Shara correu como se não pudesse mais, ela não era a pessoa boa que Poseidon achava que ela era, não... aqueles pensamentos de longe poderiam ser comparados a inclinações positivas, ela literalmente foi do amor ao ódio com ele ali, a única coisa boa era que agora ela tinha um nome, o nome da sua mãe era Maeva, ela fechou os olhos, tentando imaginar se a figura da mulher incrível que invadia seus sonhos por vezes e caminhava com ela naquela praia paradisíaca combinava com aquele nome, ela decidiu que sim.

—Maeva – ela sussurrou, sentindo seu peito apertar, ter um nome era muito mais do que ela podia imaginar conseguir – Maeva – ela disse mais alto quem sabe para se acostumar com a ideia do nome dito por ela, era assim que ela se chamava, minha mãe, ela continuava correndo sem destino, sentindo a dor da perda, não deveria doer mais... mas ter um nome parecia fazer com que aquilo tudo fizesse ainda mais sentido e portanto fosse mais doloroso, era como se ela a estivesse perdendo outra vez, Maeva a sua mãe. 

—Eu daria tudo, qualquer coisa para tê-la comigo, qualquer coisa – ela chorou compulsivamente, sentindo o colar esquentar no seu bolso, ela o segurou, o encarando, não fazia sentido que estivesse esquentando agora e ela odiava aquilo, odiava aquela marca maldita que carregava, odiava aquele colar, aquela história... ela não queria ser isso, ela queria uma vida normal, ela queria ser uma criança trouxa voltando da escola todos os dia e sendo recebida com um xicara de achocolatado no inverno, uma criança comum que recebe um beijo afetuoso na testa ao tirar notas boas na escola. Era pedir demais? No outro bolso Shara segura a moeda que o professor havia dado para ela, ela sentiu vontade de arremessar aquilo pela primeira janela que encontrasse, sorte não haver janelas nas masmorras, ela o guardou outra vez.

Então o dono daquela voz era Lucius Malfoy, ela havia conhecido ali o pai de Draco e descoberto que ele estava completamente envolvido na morte da sua mãe, assim como o próprio professor Snape, já que ele tinha sido o responsável por ter feito a poção para o ritual, ela tinha entendido isso muito bem, naquela que havia sido a conversa mais cruel e mais nojenta que ela já tinha escutado em vida, nem Noah desceu tanto o nível, ela mal podia enxergar, já que as lágrimas cobriam completamente a sua visão, ela entrou naquele que era o banheiro do 3 andar, ela não sabia como tinha conseguido chegar lá tão rápido, ela fechou a porta atrás de si, encostando seu rosto na madeira e desabando. Sua mãe havia confiado a sua vida ao homem que havia preparado o território para aquele maldito ritual onde ela teria sido morta para elevar e emponderar aquele maldito bruxo das trevas, ela sentiu nojo daquilo que o professor Snape havia feito, seu estomago estava completamente embrulhado, era como perder o chão, mais uma vez.

—Shara está tudo bem? - ela ouviu aquela voz familiar, droga ela sequer tinha se dado ao trabalho de verificar se estava mesmo sozinha, no caso ela não estava, o que era estranho já que ninguém nunca ia ali.

—Hermione - Shara exclamou, se virando, a morena estava lhe olhando de forma apreensiva, não por menos ela estava uma completa bagunça.

—O que aconteceu, quem te deixou nesse estado? - ela pediu se aproximando devagar, enquanto levava as duas mãos até a boca – está sangrando – ela disse assustada, aquela maldita cicatriz, Shara respirou fundo.

—Não é nada demais – ela disse tentando manter o controle, enquanto deixava seu corpo deslizar até o chão – por favor não me pergunte nada – ela podia implorar.

—Precisamos ir até a enfermaria Shara – ela disse – está me assustando – Shara notou que Hermione estava trabalhando em algo parecido com uma poção, não... na verdade era mesmo uma poção, por que ela estava fazendo isso no banheiro, sozinha e naquele horário? pelas suas contas faltava muito pouco para o toque de recolher.

—Não Hermione... pelo que posso ver – Shara disse de forma vazia – você me parece estar trabalhando em algo, que implica na quebra de pelo menos meia dúzia de regras dessa escola – ela notou Hermione congelar com aquela constatação – olha não é da minha conta Hermione, e honestamente pouco me importo com o que seja lá que esteja tentando fazer, mas façamos uma troca, você não me pergunta mais nada e eu também não falo nada sobre isso – Aquela era a mentalidade Sonserina entrando em ação, e Shara notou que ela havia assentido, assim seria melhor para ambas, ela suspirou e Hermione voltou a trabalhar em silêncio.

Era sábado, o grande dia e toda a escola tinha acordado animada, não se falava de outra coisa, o jogo de Quadribol seria no meio da tarde e até o assunto da câmera secreta tinha sido esquecido, era como se nada mais importante acontecesse no mundo. Os meninos estavam completamente inacessíveis, Draco parecia ainda mais nervoso naquela manhã, sempre rodeado pelo resto do time e ela estava péssima, aquela havia sido a pior noite em tempos, ela detestava essa sensação de vazio que sentia, mas era inevitável. 

Shara havia pulado o café da manhã, mas não havia simplesmente como pular o almoço, já que sua barriga estava roncando a essas alturas, sendo que ela também não havia jantado na noite anterior, ela desceu para almoçar um pouco mais cedo do que de costume, não teriam tantos alunos e seria mais confortável, mas ciente de que não teria a menor motivação em ver o jogo da tarde, ela havia decidido voltar para o seu quarto depois e quem sabe aproveitar que a escola estaria vazia mais tarde para procurar por Flocos, ela podia sentir os olhos de Hermione sobre si, mas ela ainda não queria discutir aquilo, então optou por simplesmente ignorar, já que ela não entenderia. O professor Snape não estava naquela refeição e isso era uma das coisas boas, ela havia pensando em inúmeras formas diferentes de devolver aquela maldita moeda para ele e em tudo que ela falaria, ela se sentia traída, era difícil mensurar ou explicar aquilo que estava sentindo, mas decidiu que o melhor mesmo seria deixa-la na mesa dele, na próxima aula de poções apenas, ele não merecia explicações e ela estava cansada de discutir aquilo que deveria ficar onde estava, no passado.

—Você não me parece nada bem – Goyle mencionou – por acaso está doente?

—Apenas uma noite difícil – ela disse de forma vazia, não era em todo uma mentira.

Ela estava praticamente finalizando seu almoço, quando percebeu o professor Snape entrar pela porta principal do salão acompanhado por um homem loiro de cabelos compridos, lisos e muito bem acomodados, ele tinha muita classe e usava uma bengala enquanto se movia de forma imponente, ela não precisou olhar duas vezes para identificar que aquele se tratava do pai de Draco, ela sentiu seu estomago embrulhar ao se lembrar do que ele havia dito no dia anterior, não havia nenhum sinal de Draco na mesa, o que ele estaria fazendo ali afinal de contas? Enquanto eles se aproximavam, ela fingiu simplesmente não notar, baixando a cabeça, e tentado procurar algo muito interessante em seu prato vazio, ela não poderia encara-lo, ela não conseguiria, então ela resolveu que tentaria sair assim que eles passassem, sua cicatriz começou a queimar, ótimo, assim ficaria cada vez mais difícil curar aquilo, ela escuta os passos e a vozes diminuindo a medida que se aproximavam dela, toda a mesa parecia em silêncio agora, eles pararam? na frente dela? Ela sentiu Goyle a cutucar, Ok, melhor olhar já que não havia mesmo outra opção, ela suspirou tentando encontrar forças para fazer aquilo, e principalmente tentando não demonstrar aquilo que sentia ali, talvez mais medo do que dor propriamente dito, o loiro sorria com desdém e o professor Snape, bem não tinha como le-lo ali, ele havia incorporado aquela figura vazia e sem expressão de sempre.

—Veja só o que temos aqui – o pai de Draco disse olhando para ela - então você deve ser a famosa Srta. Epson, aquela de quem Draco tem falado, correto? - disse o Sr. Malfoy naquela voz que ela jamais conseguiria apagar de sua mente, ele era ainda mais desprezível pessoalmente, além de ser completamente arrogante e cheio de si, e sem falar que aquela aproximidade  lhe causava repulsa. 

Ela engoliu em seco, ele a estava avaliando de cima a baixo, e por que Draco falaria dela, para ele? Ela sabia que podia confiar em Draco, afinal sem que ela pedisse ele havia se provado fiel e guardado seu maior segredo, ele havia mentido para seu pai, por sua causa e ela era grata a ele por isso, mas ainda assim, por que ele a mencionaria, ela não sabia muito bem como reagir a aquilo, ontem ela não demorou a entender que o professor a havia trancado naquele banheiro, como uma maneira de esconde-la e evitar qualquer contato, já que era evidente que aquela visita não havia sido programada, sim ela podia entender aquilo, ele não queria que o Sr. Malfoy a visse e então o certo ali era com que ela fingisse não conhece-lo, ela poderia fazer isso, ela se levantou, com muita dificuldade, mas fez. 

—Boa tarde Sr. Malfoy – ela tentou soar educada, o que mais ela poderia dizer? E sorriu, embora a dor a incomodasse, não era tão simples assim fazer aquilo. Ele se aproximou dela, aquilo era muito desconfortável, a cicatriz estava queimando cada vez mais forte, certamente estava sangrando e involuntariamente ela deve ter expressado o desconforto, pois ele o encarou de forma estranha.

— Algum problema Srta.? – ele disse parando a centímetros de distância dela, a analisando, o professor Snape sequer havia se movido. 

— Não, nenhum – ela respondeu tentando se recompor, ela precisava sair dali antes que aquilo a fizesse desmaiar.

—Talvez a Srta. devesse passar em uma costureira, as suas vestes lhe cairiam muito melhor se fossem ajustadas ao seu tamanho – ele disse ao analisa-la de perto, enquanto Pansy que estava sentada um pouco mais a frente soltou um pequeno risinho – mas é claro, como posso te sido tão indelicado – ele sorriu com malicia -  talvez nunca tenha ido a uma costureira, já que é evidente que a Srta. é do subúrbio e portanto não teria condições de pagar por esse tipo de serviço, então... – ele disse retirando um cartão do bolso e lhe entregando –  essa é uma cortesia da família Malfoy pela sua digamos que amizade desinteressada com meu filho – ele sorri de forma ainda mais maliciosa, Shara olhou para o professor Snape, esperando algo, qualquer coisa, algum comentário sequer, mas não, ele não fez... nada, ela se sentiu ainda mais desamparada, por que ela esperava por algo dele? 

Ela não estava acreditando, aquele homem tinha a humilhado na frente de todos e sem nenhum pudor, ele era muito mais que asqueroso, e o que ele estava querendo dizer com amizade desinteressada com seu filho? Por acaso ele estava mesmo achando que ela teria segundas intenções com Draco, só por que ele tinha dinheiro, sobrenome, prestigio ou seja lá o que for... sendo que eles pouco se falavam e de todas as vezes era o filho dele quem tinha tomado a iniciativa, ela sentiu vontade de chorar, mas ela não daria a ele esse gostinho, ela era mesmo do subúrbio e com muito orgulho e ela jamais aceitaria algo de pessoas como ele, e sem falar que sua marca continuava a queimar a fazendo se lembrar de que ela deveria mesmo sair dali. Então num impulso ela pega o cartão da mão dele, sorrindo, apenas para rasga-lo na frente de todos, deixando um silencio constrangedor por todo o lugar, aquela expressão era impagável, mas ela sabia que lhe custaria um alto preço, por um momento ela não se importou.

— Agradeço a gentileza – ela disse enquanto rasgava e olhava fixamente para ele – mas prefiro não ter veste alguma, do que aceitar qualquer coisa da sua família – Ela diz enquanto se apoia na mesa, se virando para dar as costas a ele e sair, ela só queria fugir, mas ela sente a dor dilacerante sobre a parte de cima da sua mão, e ao se dar conta do que havia acontecido, pelas expressões apavoradas daqueles que estavam perto, ela entende então que ele a havia a agredido com aquela bengala de cobra, o professor Snape parecendo acordar de um sono profundo entende a gravidade daquilo que acaba de acontecer na sua frente, puxando a bengala dele de volta com certa rispidez.

—Lucius, isso é inadmissível – ele esbravejou para o loiro, Shara sente seus olhos marejarem, ele havia mesmo feito isso? Ela olha para sua mão, aquilo doeu, na alma, ela não choraria, não… - o que pensa que está fazendo? - Ela ouviu a voz do professor Snape, ma Shara não se importava agora, respirando fundo ela se concentra naquilo que queria fazer, que era justamente, sair dali.

—Foi um acidente é claro, não deveria ter sido com tanta força - ele disse sorrindo com o canto da boca - é claro que ela pode entender isso, não é mesmo? - ele se virou novamente para ela - tudo em você parece desajustado, exceto pelos brincos, os brincos são de muito bom gosto por sinal – ele a provocou, ela havia dito não aceitar nada da sua família, quando na verdade ela havia feito, ela simplesmente havia se esquecido dos malditos brincos, ela estava completamente sem reação diante do homem que possivelmente havia assassinado sua mãe, ele a segurou com força pelo braço. Fazendo a dor no ombro dela explodir - Sabe a Srta. deveria ser mais cuidadosa, talvez a próxima vez em que entrar na floresta proibida, não tenha a mesma sorte – ele pisca a soltando com força.

—Lucius já chega - o professor Snape se posiciona entre eles o obrigando a se afastar dela - temos o bastante - ele havia dito.

Shara encara o pai de Draco pela última vez, fazendo o mesmo com o professor Snape, ele não tinha tirado os olhos dela por nenhum instante e agora parecia mesmo preocupado, mas ela não se importava, ela aproveitou a deixa para sair praticamente correndo, sem olhar para trás, agora haviam lagrimas, de dor e de ódio e ela não queria que ninguém a visse assim, ela corre entre as mesas em direção a porta de saída, enquanto escuta o comentário do Sr. Malfoy em voz alta para que todos da mesa pudessem ouvi-lo em alto e bom som – “o chapéu seletor deve estar ficando mesmo velho, ele já foi muito mais coerente com a escolha dos alunos dessa casa” enquanto ela podia ouvir alguns dos alunos rindo. 

Shara corre até às escadas, entrando naquele que era o primeiro banheiro que ela encontrou pelo caminho, dessa vez tomando o cuidado de trancar a porta adequadamente, antes de avaliar se não havia mesmo mais ninguém ali dentro, ela sente a primeira onda de enjoo surgir, mas aquilo poderia esperar, em meio as lágrimas, ela tira as vestes jogando-as no chão, mal se importando se estava sujo, e ela abaixa o suéter e a camisa deixando o ombro completamente a mostra tentando inspecionar a cicatriz que estava sobressalente e cada vez mais avermelhada, havia sangue, aquilo era realmente uma maldição e não um sinal de alerta, já que a dor a fragilizava diante dos seus inimigos, ela entra em uma das cabines, encontrando o vaso para deixar ali todo o ase almoço, ela estava soluçando agora, aquilo foi muito mais que humilhação e o professor Snape não tinha movido uma pena para a defende-la dele, quer dizer, não como ela esperava que ele o fizezse, enfim quem sabe ele também concordasse com tudo aquilo.

Ela escuta as batidas na porta, sério?! Se a porta estava trancada era por que obviamente estava ocupado, ela definitivamente não iria abrir, existiam pelo menos mais uma infinidade de banheiros naquela escola.

—Vai embora – ela gritou para seja lá quem fosse, mas as batidas continuaram de forma bastante insistente - me deixe em PAZ! Estou falando sério, ela ouve a porta se abrir com um feitiço. Qual era o problema das pessoas daquela escola. Ela se levantou do chão, disposta pela primeira vez a enfeitiçar seja lá quem aparecesse na sua frente - eu disse para me deixar em PAZ – em tempo ela vira em direção a porta principal, com a varinha em mãos, prestes a atacar, mas antes que ela pudesse pensar em fazê-lo, ela já havia sido desarmada.


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Notas finais do capítulo

Coitada da Shara, ter que ouvir aquilo, depois de tudo que havia acontecido, depois de admitir para si mesma que o amava de um forma fraternal, descobrir que o professor Snape havia sido o responsável por fazer a dita da poção que ia ajudar a matar a sua mãe naquele ritual macabro... Pesado. Ela que foi toda misericordiosa com Antony, será que ela consegue fazer o mesmo com o nosso querido/odiado professor de poções? bom quem sabe ela só precisa de um tempo para assimilar as coisas... Afinal conhecemos o coração dela né.

Shara associando a imagem da mulher dos seus sonhos ao nome da sua mãe (única parte fofa desse capítulo) mas também foi triste. E Draco, mentindo para o pai? Ah o primeiro amor, lembrando que foi com essa mesma idade que Severo se apaixonou por Lily.

Apesar de Lucius fazer toda aquela cena no salão principal, Shara rasgando o cartão dele foi recompensador.

E Snape até onde ele consegue ser sangue frio, para manter um disfarce?

E agora... O que será que vai acontecer?

Obrigada a todos que tem perseverado e acompanhado até aqui, em especial aqueles que deixam seu comentário, eu pulo de alegria toda vez que eu leio sobre o que estão achando.



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