Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 51
Futuro - Mudanças Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas :)
Esse foi um capitulo que exigiu bastante revisão, espero que tenha conseguido deixa-lo a altura já que esse é um capitulo muito especial.
Ele fala um pouco de cada um de nós... da nossa visão de mundo e de como isso pode impactar nas nossas escolhas.

E por isso, que proponho algo diferente aqui, para você que assim como eu, e gosta de imergir na história, sentir o que os personagens sentem... então eu proponho ler metade desse capitulo (na parte que está escrita pela ótica do Snape, onde Shara usa um instrumento musical e canta, um dom maravilhoso que ela tem) ouvindo a musica que imaginei para esse momento... https://www.youtube.com/watch?v=vuWdP9ClmZo
Se chama Nella Fansia, cantada pela banda Celtic Woman.
É uma canção estilo celta, remete a uma época antiga (não grega eu sei, sorry... difícil achar algo nesse sentido) mas foi perfeito pra mim, e perfeito para o enredo da história, acreditem fará a diferença!
E peguem os lencinhos ☺️

Obrigada, boa leitura :)



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Shara fez aquele trajeto todo em silêncio, na verdade todos fizeram e não é por que ela não estava falando ali, que sua mente estava silenciosa, não, na verdade havia um turbilhão de informações sendo repassadas, e inúmeras conexões sendo feitas, era loucura pensar que justamente ela que vinha com pouquíssimas referências do seu passado em uma pequena fração de segundos, passou a ser a guardiã que mais detinha conhecimento sobre aquilo que de fato havia acontecido, sobre a verdadeira história e não aquela contada em livros, agora ela sabia sobre a origem de tudo e não, Shara não acreditava que as outras guardiãs pudessem ter tido visões ou sequer visitado lembranças parecidas assim antes dela, não depois de ouvir Poseidon sussurrar seu nome.

Eles entraram no escritório do diretor que fez menção para que todos se sentassem, ela e Draco o fizeram imediatamente, buscando cadeiras próximas a mesa do diretor, ele mesmo havia se sentado ali já o professor Snape havia pego um copo e aberto uma garrafa de bebida que o diretor guardava em uma de suas estantes na lateral da sala.

—Ah claro Severo, fique à vontade caso deseje se servir de alguma bebida - o diretor disse de relance o provocando pelo fato dele ter pego aquilo sem que tivesse sido oferecido, o professor sorriu com malícia com o canto da boca - Embora, seja um pouco cedo para isso, já que ainda terá aulas para ministrar no período da tarde - ele o repreendeu, de forma sutil, o professor que havia se servido de meio copo e estava prestes a guardar a garrafa no lugar, retomou a abri-la, apenas para encher o copo por completo até a borda, sorrindo de forma provocativa e aquilo fez tanto ela como Draco se remexerem de maneira desconfortável de onde estavam, o professor também se sentou numa poltrona um pouco mais afastada e de maneira mais relaxada, enquanto ingeria metade daquele líquido de uma única vez.

—Aprecio a hospitalidade - ele disse seco – então, Alvo quais os planos? - ele perguntou, Shara não soube dizer muito bem, mas parecia conter alguma ironia dito da forma como foi, de qualquer maneira ambos olharam para o diretor, esperando que algo viesse dali.

—Bom crianças - ele de fato começou - eu posso ver que essa tenha sido uma manhã mais atribulada e fora de rotina, mas peço que tudo que tenha acontecido lá fora, seja mantido em absoluto sigilo - ele pediu.

—Está de brincadeira - Draco disse saltando da cadeira de onde estava, enfurecido - fora de rotina? essa coisa, ela quase nos devorou, nós todos… isso não pode ficar assim - Shara se surpreendeu com a audácia dele e de como ele se portava ali, não que ela fosse alguma referência para bons modos, é claro.

—Sr. Malfoy eu posso ver sua preocupação com todos os envolvidos e com o restante da escola - o diretor falou pesando os olhos sobre ele, Shara não acreditava que ele estivesse se preocupando com a escola ali, e ela não achava que o diretor realmente acreditasse nisso, mas por hora seria prudente não questionar os métodos dele ali - porém existem boas razões para que isso se mantenha em sigilo.

—Tipo quais? - Draco perguntou de forma inconveniente.

—Sr. Malfoy - essa foi a deixa do professor Snape, que se levantou, se aproximando lentamente do garoto de forma intimidante, Shara podia ver Draco enrijecer ali, ele também tinha medo do professor e ela o entendia, já que ela costumava recuar em situações como aquela, ou chorar, ou quem sabe vomitar, enfim o leque de possibilidades era grande - tenho completa certeza que seu pai irá adorar receber a notícia de que seu filhinho tão estimado - ele disse isso com hostilidade, o provocando e Shara achou um pouco desnecessário já que ela sabia que Draco tinha problemas com as expectativas do seu pai ao seu respeito - será expulso do time de quadribol justamente um dia antes de um jogo tão importante como o de amanhã - Shara viu a cor no rosto da loiro desaparecer - uma pena é claro - o professor parou a centímetros de distância dele, cruzando os braços, Shara percebeu que Draco estava segurando a respiração - digamos aqui que essa seja uma das razões para que você acate o que o diretor acaba de pedir e sem pestanejar, sendo essa a única razão que lhe cabe saber no momento - ele finalizou, Draco sentou-se na cadeira outra vez, sabendo que havia perdido, ele não poderia argumentar contra aquilo.

—Por que? - ele perguntou de forma mais contida agora.

—Por que eu assim decidi - o professor disse sorrindo com malícia, enquanto apoiava ambas as mãos cada qual em um dos encostos da cadeira onde Draco havia sentado, ficando de frente para ele mais uma vez e o encarando - mais alguma pergunta  Sr. Malfoy? - ele pediu num tom letal.

—Padrinho… - Draco disse tentando amenizar algo e aquilo foi uma surpresa, o professor Snape, ele… ele era padrinho do Draco? Isso era completamente irracional, já que Shara tinha certeza de que ele não suportava o menino, já que ele vivia pedindo para ela se afastar dele ou coisa do tipo, bom é claro que ela sabia que o professor não gostava muito de pessoas no geral, mas se ele era o padrinho… aquilo deveria ser diferente, não deveria?

—Não me chame assim, não aqui - ele disse bastante irritado, Draco baixou a cabeça e Shara se sentiu desconfortável por ele, e principalmente por estar assistindo aquilo, se o professor Snape o tratava assim, sendo padrinho dele, não havia esperanças para mais ninguém, e isso a deixou nervosa - Qual a sua escolha Draco? - ele perguntou, ainda mais frio.

—Eu manterei o sigilo senhor - Draco disse olhando para ela, ela tentou se desculpar com o olhar, se não fosse por ela, nada disso estaria acontecendo ali - tem minha palavra - ele concluiu, voltando os olhos para o professor que aguardava aquilo.

—Uma escolha bastante sábia Sr. Malfoy - o professor disse se afastando - por hora, está dispensado, falaremos a sós sobre as consequências do ocorrido e sobre outros assuntos que tenho pendente no decorrer dessa semana - ele disse sinalizando para que ele saísse, Draco se levantou, lançando um último olhar para ela antes de efetivamente sair da sala.

—Obrigada Severo - o diretor agradeceu.

—Não me agradeça Alvo, isso não significa que eu concorde com seus métodos, apenas que estou fazendo, aquilo que acho o correto - o professor disse voltando a se sentar e ingerindo o restante da bebida que havia ficado no copo.

—É o bastante - o diretor finalizou, voltando sua atenção para ela que ainda não havia falado uma palavra ali - Shara - ele a chamou - confesso que estou impressionado com aquilo que vi essa manhã, mas preciso ressaltar aqui o quanto foi arriscado, eu posso ver sua determinação em encontrar as respostas que tanto procura, mas toda ação tem uma consequência e hoje você agiu de maneira imprudente, colocando sua vida e a de Draco em perigo ao chamar propositalmente a atenção de uma criatura como aquela sobre si - Shara sentiu seu estômago embrulhar, ela sabia que o diretor estava certo sobre aquilo e ela podia sentir o olhar furioso do professor pairando sobre ela ali.

—Eu sinto muito - ela disse, ouvindo o professor bufar com aquele comentário.

—Uma hidra é uma criatura bastante arrisca, que não responde ao chamado humano, motivo pelo qual existem tão poucos registros sobre elas, já que suas aparições são mesmo raras, e isso me faz pensar em como você conseguiu chamar a atenção dela essa manhã, já que estando fora da água ela não consegue te ver, te ouvir e nem te sentir - ele informou, Shara não sabia dizer em como exatamente aquilo lhe ocorreu, apenas que lhe pareceu óbvio usar o seu próprio sangue como isca, já que parecia haver alguma relação especial sobre ele, e bem de fato havia.

—Eu… bem… eu acho que a atrai com o meu sangue - ela disse notando o olhar surpreso e direcionado que estava recebendo dos dois, ela achou que seria mais fácil exemplificar, erguendo assim as vestes para mostrar o corte que ela tinha feito no próprio braço, aquilo por sinal estava incomodando bastante agora, o professor levantou num impulso a assustando.

—Sua garota estúpida - ele vociferou - mas é óbvio, por isso o canivete, você se cortou com ele não foi? - ele segurou o braço dela para inspeciona-lo melhor, lançando um feitiço de limpeza sobre o ferimento, aquilo ardeu um pouco e ela fez cara feia - pelo menos se deu ao trabalho de higieniza-lo antes? - ele perguntou, bem não que ela tivesse tido tempo para isso, mas ela não precisou responder - não sei o porquê me dou ao trabalho de perguntar, obviamente que não… você o usou para cortar os ingredientes mais cedo e sequer pensou em limpa-lo achei que estivesse aprendendo alguma coisa naquela sala de aula, mas pelo que vejo tem sido tão cabeça oca como os demais - ele parecia mesmo indignado - qual era mesmo o plano aqui Epson? bom deixe me ver, chamar a Hidra, se colocar em perigo mais uma vez, e bem se aquela criatura não conseguisse concluir a tarefa de exterminar a sua vida, você mesmo faria, se encarregando de adquirir uma infecção que poderia ser letal, já que parece ignorar os princípios básicos de manipulação dos insumos de uma poção, motivo pelo qual usamos luvas - sim ele estava muito bravo - você não tem um pingo de auto preservação  - muito, muito, bravo, mas como ela poderia ter se lembrado disso?

—Não pensei nisso senhor - ela respondeu de forma sincera, sentindo vontade de chorar, era impressionante como ela conseguia ser sempre tão tola na frente dele…

—Não pensou… é claro que não pensou, você NUNCA pensa Epson - ele se exaltou, ela se recolheu assustada - esse é o seu maior problema, não pensar - ele disse enquanto lançava mais um feitiço sobre o braço com aquilo que parecia ser um curativo provisório, ele estava brigando com ela ao mesmo tempo em que estava cuidando, será que ela poderia se acostumar com isso?

—Bom, bom… bom, vejo que já resolvemos isso - o diretor disse chamando a atenção dos dois - Shara, outro ponto curioso é sobre o que aconteceu quando você estava de frente com a Hidra - ele seguiu dizendo, os ignorando e os fazendo lembrar do motivo pelo qual eles estavam ali - é evidente que algo tenha acontecido - o diretor enfatizou enquanto se levantava e começava a andar pela sala pensativo - a mudança de postura que você adquiriu ali foi impressionante e a magia que liberou usando o colar também, como fez aquilo? - Shara suspirou, havia muito a ser dito sobre nesse sentido.

—Bom se eu vou mesmo fazer isso agora - ela disse - eu realmente gostaria de fazer da maneira certa - ela ponderou.

—Maneira certa? - o professor perguntou com ironia

—Antony - ela respondeu notando a surpresa nos olhos dele -  ele é o meu passado - ela disse sem qualquer rodeio, revelando saber a verdade.

—O que disse? - o professor perguntou, ele parecia chocado, na verdade o diretor também, ela sorriu.

—Eu sei sobre ele - ela os encarou, como era satisfatório dizer aquilo, ela havia conseguido as respostas, sem precisar ou depender deles, bem talvez ela não tivesse conseguido sobreviver sem a ajuda deles, não tantas vezes, mas aquele detalhe não importava agora e portanto não precisava ser mencionado - sim, eu sei sobre o meu passado - ela finalizou - não há mais necessidade de mentir sobre isso, ou tentar encobrir algo, eu simplesmente sei - ela sorriu em sinal de vitória - a verdade.

—Uma visão - o professor concluiu pensativo, ele estava certo.

—Sim, uma visão - ela admitiu, notando uma longa troca de olhares entre eles ali.

—Antony deve estar na ala hospitalar, vou mandar chamá-lo - o diretor avisou.

—Na verdade - ela interrompeu - eu gostaria de usar algo também - ela pediu - eu gostaria de ter isso antes dele chegar - o diretor a olhou confuso - a escola, bem Hogwarts possui alguns instrumentos musicais trouxas? - ela pediu, sabendo que não estava fazendo nenhum sentido ali.

—Talvez - o professor Snape interrompeu - devêssemos deixá-la descansar Alvo, e abordarmos esse assunto em uma outra oportunidade, já que é evidente aqui que aquilo que aconteceu essa manhã, está afetando sua capacidade mental a fazendo conjecturar coisas sem nenhum sentido - ele disse para o diretor a fazendo soar como alguém sem nenhum juízo.

—Não - ela interveio – espera… - ela pediu - eu sei o que parece, eu sei que é estranho e eu sei que não faz nenhum sentido, mas preciso que confiem em mim, por favor, é importante e prometo que isso responderá muito mais que essas perguntas - ela disse olhando para o diretor, ambos se olharam novamente, era difícil dizer o que eles estavam pensando sobre tudo aquilo e ela sentiu vontade de revirar os olhos, mas não o fez por respeito.

—Temos poucos itens trouxas no castelo - o diretor informou - mas posso providenciar o que você precisa - ele sorriu - na sala precisa - ele explicou - onde você só precisa, precisar…  - aquilo soava ainda mais confuso.

—Desculpem, não entendi muito bem - ela olhou para o professor pedindo alguma ajuda com aquilo, notando que ele não parecia nada contente com aquela resolução.

—A sala precisa… é uma sala secreta do castelo, por isso é claro, todos já sabem - o diretor piscou de forma divertida – digamos apenas que ela sempre ajuda aqueles de coração benevolente, quando algo importante se faz necessário e assim que a sala se abrir, o que precisar estará lá a sua disposição - ele sorriu, aquilo era demais para sua compreensão e ela optou em não questionar já que de qualquer maneira parecia ser bom.

—Acho que serve - ela disse dando de ombros, aquilo era um tanto quanto inusitado, mas depois de tudo que já tinha acontecido com ela naquela escola, desde o dia que ela pisou ali, nada mais sobre aquele lugar a surpreendia, já que tudo era possível, absolutamente tudo.

—Severo encaminhe a Srta. Epson, vou chamar Antony e nos encontramos lá - o diretor orientou, o professor concordou meio a conta gosto, mas não se opôs, já ela estava nervosa, afinal se aquele pressentimento estivesse mesmo certo, como ela achava que sim, algo muito importante seria destravado ali, ela fechou os olhos, suspirando… por que dentre tantas, ela havia sido a escolhida?

—____

Aquela havia sido uma semana difícil, ele sabia que a garota o estava evitando a todo custo, mas ele era suficientemente orgulhoso para procurá-la, por seja lá qualquer motivo que fosse, ele se lembrou do bilhete deixado por Maeva a tantos anos atrás "por favor não me procure mais" e ele não fez, ele não iria… mas e se ele tivesse ido? Ele suspirou, era muito tarde para ter esse tipo de questionamento, ele voltou seus pensamentos para a criança, se era uma escolha dela se afastar ao perceber que não poderia lidar com o seu tipo de temperamento, era por que aquilo seria melhor assim, ele também não havia visto e nem tentado falar com Antony depois do ocorrido, ele mesmo não se sentia confortável para isso, já que não fazia o feitio de bom ouvinte e nem tão pouco poderia aconselhá-lo, certas coisas deveriam apenas ficar onde estão, ele pensou.

Ele estava encaminhando Shara até o sétimo andar do castelo, conforme o diretor havia pedido, era ali onde a sala precisa costumava aparecer, pelo menos era assim que ele se recordava que seria, já que faziam muitos anos desde a última vez que ele havia pisado nela, Shara ele notou, parecia apreensiva e completamente distante, era difícil dizer quais seriam as pretensões dela com tudo aquilo e embora ele não concordasse com aquele arranjo, pela primeira vez ele havia decidido não intervir, e confiar no que ela havia sugerido, a verdade é que ela havia tido uma nova visão, e agora ela parecia saber mais do que todos ali, e para ser honesto ele também estava apreensivo para descobrir o quanto de informação ela de fato possuía, eles precisavam ser cautelosos e Severo entendia a urgência de Alvo em faze-lo, ainda mais pela forma como ela havia usado o colar, algo significativamente grande havia acontecido e lhe dado discernimento para isso, naquele momento, segundos depois de puxa-la para si, ele estava certo de que aquele seria seu fim, e por um instante morrer não parecia algo tão ruim, não com ela em seus braços, ele havia a abraçado com intensidade, sentindo vontade de dizer que sentia muito e de que ela merecia ter tido uma vida melhor, por Merlin, aquilo era loucura, e ele suspirou aliviado pela simples percepção do estrago que teria sido, se ele tivesse mesmo feito, já que ela havia os salvado ali, e ela fez usando o colar.

Ele mesmo havia estudado o colar criteriosamente, tentando encontrar algo que pudesse ajudar, aquele não era um colar comum, ele sabia, mas ele não entendia como as proteções dele funcionavam exatamente, aquela não era uma magia comum, a cápsula que formava o pingente era de um material desconhecido, e ela protegia o líquido que havia dentro, líquido esse que ela, a criança, havia sido a primeira a notar, era uma poção ele sabia, mas havia algo a mais... ele lembrou de como se sentiu frustrado por não conseguir identificar as propriedades daquilo aquela vez, ele parou num corredor vazio, eles haviam chegado, depois de um tempo em silêncio ela se manifestou.

—Professor, estamos esperando alguma coisa? - ela perguntou sem entender.

— A sala - ele respondeu dando pouca informação.

— Eu não entendo - ela disse confusa, ele suspirou, por que ele havia sido designado para isso? Seria mais fácil se Alvo tivesse feito, e ele tivesse ido buscar Antony na enfermaria.

—A sala costuma aparecer para aqueles que realmente precisam dela, o quanto você realmente precisa, Epson? - ele perguntou desdenhando um pouco a real necessidade daquilo, ela o encarou por um momento, voltando seus olhos para o corredor, porém para sua surpresa ela se aproximou dele, segurando sua mão, o que ela estava fazendo agora? Ele sentiu aquele choque característico, quando ela o tocou, algo que fazia tempo que ele não sentia, ela pareceu ignorar.

—Eu preciso de ajuda - ela pediu, ele não podia ajudar com aquilo, tinha sido sugestão dela toda aquela maluquice, ele queria ignorar, como facilmente faria com qualquer outro, mas ela... ele não podia… ele se abaixou na frente dela, apenas para ficar a sua altura, o que ele estava fazendo? Ele não respondia alunos assim, se aquilo era algo que ela queria, ela deveria resolver sozinha.

—Feche os olhos - ele pediu, certo um pouco de informação não faria mal algum, ela fez, era assim que ele tinha feito quando ele era apenas um estudante e tudo que ele mais queria era um lugar para se esconder daqueles que zombavam dele, lembranças ruins ele pensou, tentando afastá-las de sua mente - se concentre naquilo que precisa - ele orientou - imagine o lugar, imagine sons, os cheiros… e então imagine aquilo que precisa - alguns segundos depois eles ouviram as paredes mudando, a sala estava ali, bem à sua frente agora, ela abriu os olhos surpresa, e sorriu, aquilo foi satisfatório - vamos ver o trabalho brilhante que você fez - havia um pouco de ironia - você primeiro - ele pediu irritado, já que ela não se movia, ele sabia o quanto estava saindo do repertório ali, será que era a bebida? Alvo tinha razão sobre isso, ele tinha mesmo exagerado.

A sala havia se transformado em algo parecido com um casebre, num vilarejo trouxa de uma época diferente daquela que viviam, ele podia ver pelas janelas e eles estavam num cômodo onde tudo era bastante rústico, havia um violino no centro em cima de um grande tapete de fibras, e uma flauta… ele olhou para a criança, ela havia se sentado no chão, e parecia emocionada com aquilo que via ali, o que isso tudo significava? Ele estava prevendo uma dor de cabeça se aproximar.

—Isso é fantástico - ela esboçou, maravilhada.

—Pelo menos a imaginação é algo que me parece funcionar adequadamente dentro de um cérebro que eu suspeitava não existir - ele zombou e ela abriu um sorriso largo… por que aquilo o fazia se sentir tão bem?

—Se parece muito com o lugar que vi na visão, a casa de Antony - ela explicou - exceto pelo tapete… mas os instrumentos são parecidos ou até mesmo iguais, os barulhos… também - ela estava tentando reproduzir um lugar - o senhor sabia que Medusa cantava? – ela perguntou, e agora ele podia entender onde tudo isso ia dar e sim ela sabia muito mais do que ele podia imaginar, afinal ela usou o nome de Medusa com familiaridade ali, ela sabia, ele apenas a encarou enquanto ela parecia analisar o instrumento a sua frente, testando suas cordas, e começando a tocar uma melodia que ele nunca havia ouvido antes, mas era bonito, aquilo o atraia, desde quando ela tocava violino? Ela era mesmo repleta de surpresas. Ele ouviu Alvo chegar e entrar na sala, Antony o acompanhava logo atrás e pela expressão em seu rosto, Alvo não havia adiantado nada do que poderia acontecer ali, Pomfrey também os acompanhava.

—O que significa isso? - Antony perguntou perplexo, se aproximando do centro da sala ao se dar conta do cenário a sua volta, e paralisando ao ouvir a melodia da música que estava sendo tocado por ela ali, olhando surpreso para Shara… - isso… essa música? - Shara o olhou rapidamente e sorriu, ela sinalizou para que ele se sentasse ali ao seu lado, mas antes de responder ao chamado, Antony o olhou desesperado, Severo podia entender a dúvida dele ali… dessa vez, com mais cautela, ele não queria revelar nada para a criança que ela não pudesse saber, possivelmente traumatizado com o que havia acontecido da última vez, o diretor também parecia compreender aquilo.

—Ela sabe a verdade Antony - o diretor disse para ele, o tranquilizando e sorrindo de uma maneira triste, Antony se voltou para Shara outra vez.

—Onde… onde, ouviu essa melodia? - ele perguntou para Shara, ela não respondeu, apenas continuou tocando, estendendo para ele a flauta que estava no chão - minha flauta – ele a pegou confuso – como conseguiu isso? - ele estava visivelmente abalado, Severo queria entender o sentido, o motivo dela estar agindo assim, quando ela começou a cantar, Antony colocou as duas mãos no rosto - você canta… canta exatamente como ela... - ele disse sem mencionar nomes, ao afastar as mãos, Severo notou havia lágrimas em seus olhos, algumas, Shara também parecia emocionada, porém concentrada naquilo que estava fazendo ali, por Merlin, ele não estava preparado para demonstrações mentais como aquela, ele sentiu Pomfrey colocar a mão no seu ombro.

—Shara é tão especial Severo - ela disse próximo ao seu ouvido, ele estava paralisado naquela cena, a voz dela… era como se fosse a voz de um anjo, havia tanta intensidade, ela parecia replicar uma canção cantada por Medusa já que Antony reconheceu aquilo e Pomfrey tinha razão, ela era especial... e ele não merecia nada disso, ele não merecia uma criança assim, Maldita Maeva.

—Antony - Shara chamou, pedindo mais uma vez para que ele se sentasse e agora ele fez… - sua vez - ela pediu, olhando para a flauta que ele segurava com tanta força - tenho certeza que ainda pode se lembrar mesmo depois de todos esses milhares de anos - ela disse, ele pareceu entender definitivamente que ela sabia sobre ele e sobre o seu passado.

—Eu me lembro, como se fosse ontem - ele sussurrou - eu jamais poderia esquecer… - ele disse olhando de forma vazia para a flauta a sua frente, visivelmente emocionado – apenas... não sei se consigo - Shara se aproximou um pouco mais colocando a mão sobre a dele o incentivando.

—Por favor Antony - ela pediu, quando ele aproximou a flauta na boca, parecendo esperar o momento certo para entrar naquela melodia, ele fechou os olhos enquanto Shara continuava a tocar e voltava a cantar, a letra da canção falava de um mundo novo, um mundo diferente, livre, um mundo melhor, então era isso Antony tocava aquele instrumento, e Medusa cantava… Shara estava reproduzindo uma lembrança, mas por que? Severo notou o diretor se aproximar, haviam lágrimas escondidas atrás daquele óculos meia lua, Severo não podia se lembrar se alguma vez durante todos aqueles anos, se ele já havia visto o diretor chorar, quando uma borboleta azul adentrou no lugar, pousando sobre o nariz da garota, Shara riu daquilo mas Antony estava ainda mais emocionado.

—Essa música, bom… ela fala de um lugar de justiça… um mundo sem escuridão, onde todos podem ser livres… - Shara disse para ele, mantendo a melodia - é linda, honestamente… e vocês acreditavam nisso, não acreditavam? - ela perguntou.

— Nós idealizamos isso – ele disse com certa dificuldade - era apenas um sonho e costumávamos acreditar em sonhos - ele respondeu vagamente - uma fantasia e bem... fantasias não existem, éramos tão jovens e veja só quem nos tornamos, depois disso… depois de tudo - ele desabou, aquilo parecia ser muito difícil para ele - ela, se tornou tão dura, tão fria e amarga, se afastando de todos… eu nunca mais a vi sorrir, ela que tinha um sorriso tão encantador – ele parecia tentar se lembrar – foi tudo minha culpa - Antony disse com bastante dor, do que ele estava falando? Severo o analisou com mais precisão – e eu bem, ainda estou aqui... quando tudo que eu mais queria era ser esquecido – ele começou a chorar.

—Ela te odiou, é verdade - Shara disse para ele, Severo ponderou aquilo - eu pude sentir quando estava lá e por um momento…  Confesso que também o odiei - Shara se aproximou dele um pouco mais, tirando o colar do bolso de suas vestes, enrolando a corda em seu pulso e colocando o pingente na palma da mão dele, ela estava repetindo o mesmo que havia feito com ele mais cedo, Alvo parecia completamente fascinado com tudo aquilo, Pomfrey soluçava  - injustiça - ela destacou aquela palavra - a vida dela foi bastante injusta eu sei, e a de todas as guardiãs sucessivamente também… - ela assegurou.

—A sua - ele completou, agora ele também soluçava ali - eu sinto muito Shara, eu já disse antes e reforço, você não merecia... e você é.... Exatamente como eu a conheci no passado, você sorri e luta por uma causa, mesmo quando a vida nunca pareceu favorece-la, ela também, ela era assim na sua idade... ela era ingênua, eu, nós todos fomos... mas a música, ela é uma mentira, não é real, me perdoe... – Antony pediu mais uma vez - eu estraguei tudo, eu fui o responsável por trazer a maldição sobre vocês… - Ele admitiu e Severo sentiu o peso daquela confissão, Antony havia mentido para ele sobre aquilo, certamente por que sabia que a sua reação não seria nada amigável, Severo podia sentir seu sangue esquentar, aquele idiota... então havia sido ele, esse tempo todo, por milhares de anos, ele havia condenado uma genealogia completa, Maeva... e agora a sua filha, Severo segurou sua varinha com mais força, prestes a usa-la e Alvo deve ter percebido a mudança em seu semblante, já que ele não podia disfarçar aquilo, Severo sentiu o diretor se aproximar, repousando sua mão com cautela sobre o seu braço.

—Eu não penso que a música seja uma mentira – Shara devolveu com ternura – o problema Antony é justamente quando nós deixamos de acreditar nela - ela disse, como ela podia ser tão boa? sendo que aquilo era justamente sobre a miserável e medíocre vida que ela tinha vivido até ali, aquilo era sobre tudo que ela teve que passar, toda dor, todo medo, os traumas, sobre Noah, sobre o lar... - Severo estava completamente abismado, como ela podia agir assim ao descobrir aquilo? Talvez ela fosse mesmo ingênua demais.

—Shara… você não entendeu, eu fiz... toda essa bagunça... você precisa me odiar, me odeie, por favor me odeie – ele pediu em prantos - eu mesmo me odeio, essa é minha sina... – Aquela maldita ave, pela primeira vez, ele tinha razão sobre algo.

—Você cometeu um erro, sim… eu posso ver isso, você estava cego Antony, pela dor da perda de quem você tanto amava, alguém que você achou que seria eternamente sua - Shara disse para ele, Severo paralisou naquelas palavras - e então você viu uma oportunidade e achou que a teria de volta ali, ao entregar aquelas informações para Atenas aquele dia - Severo fechou os olhos com força, doeu ouvir aquilo, dito daquela maneira e dito por ela, não pela maldita ave em si… mas pelo seu próprio passado, aquilo também era sobre ele... ele não era tão diferente da ave como achava ser, na verdade ele não tinha sequer moral para julgar aquilo, já que foi ele que contou sobre a profecia para Voldemort, ele também estava cego e ele também havia condenado o amor da sua vida ao fazê-lo, a única contestação ali era que as consequências tinham proporções diferentes, apenas… no resto, eram iguais, ele precisou buscar algo para se apoiar, sentindo o corpo pesar.

—Sim, eu fiz - Antony sussurrou, ele estava uma bagunça completa e agora Severo entendia - isso é imperdoável Shara, não há redenção para mim - ele disse por fim, quando Shara entrelaçou os dedos da sua mão com os da mão dele, que parecia não se importar.

—Foi injusto para todos nós, inclusive para você - ela falou, Severo a encarou por um momento, Antony também parecia faze-lo - todos erram Antony, todos… sem exceção, não é justo que você carregue o peso de um erro que cometeu por tanto tempo - Severo sentiu seu peito apertar, a ave tinha razão sobre não haver redenção para pessoas como eles, era assim que ele se sentia.

—Não diga - Antony pediu - eu não mereço - ela ainda o olhava com ternura, Severo não conseguia acompanhar aquilo, ele estava ficando sem ar.

—Antony de Cistina – ela disse em voz alta – eu, em nome de todas as guardiãs do seu passado, em meu nome, em nome da minha mãe… em nome dela, Medusa, te concedo o perdão e te eximo de qualquer culpa - ela disse decidida - você está livre - ela o abraçou e ele retribuiu, chorando intensamente em seus braços, aquilo significava muito, até mesmo para ele, foi quando ele notou uma luz azul intensa proveniente do colar irradiar pelo lugar, criando uma espécie de redoma em torno deles, Severo estava chocado com aquilo, ele nunca tinha visto nenhuma magia tão forte assim, como ela havia liberado aquilo? Então era isso que ela havia feito e teria os protegido lá fora? Por isso Alvo estava tão impressionado, ele tinha razão sobre isso.

—Shara isso foi tão… tão - Antony disse depois de um tempo, ele parecia ter dificuldade em encontrar as palavras certas ali, Severo podia entender, ele mesmo havia sentido aquilo um pouco antes, lá fora.

—Intenso – ela sorriu – eu sei.

—Como fez isso? o colar... isso tudo? Nunca achei que algo assim fosse possível… mas você faz, e como consegue perdoar? Depois de tudo... – ele estava tremendo, eles já haviam se desvencilhado do abraço ali, Alvo se movimentou pela sala, ele parecia sedento pelas respostas.

—O colar – ela disse olhando para a peça – acho que eu finalmente descobri o propósito dele –  inevitávelmente todos os olhos estavam sobre ela naquele momento – e sobre o perdão... bom, digamos apenas que eu nunca deixei de acreditar num mundo, como o descrito pela canção Antony, você deveria fazer a mesmo - ela respondeu com os olhos marejados – eu sei que Medusa deixou de acreditar um dia, e não posso culpa-la por isso, mas enquanto puder... eu acredito - ela disse voltando a atenção para o violino, voltando a tocar aquela melodia, Antony usou a flauta – falta tão pouco Antony, está ansioso para o fim? - ela pediu sorrindo para ele.

—É aquilo que eu mais desejo – Antony disse ao fechar os olhos, enquanto a borboleta azul ressurgia voando pela sala, pousando sobre o seu ombro, Severo não a afastou, ele a contemplou de forma curiosa, já que borboletas significavam mudança e transformação, ele se voltou para a criança a sua frente, ela parecia ter notado aquele movimento, retribuindo o olhar e sorrindo de forma genuína para ele, que retribuiu.

Severo sequer podia lembrar de quando havia sido a última vez em que ele havia retribuído um sorriso, talvez ele tivesse mesmo exagerado na bebida ou talvez ele ainda pudesse mesmo voltar a sorrir.


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Notas finais do capítulo

Estou tão ansiosa, espero mesmo que tenham gostado, precisei dividir o capitulo em duas partes... queria separar o racional do emocional.

Eu me emocionei muito com esse capitulo (mais uma vez) acho muito forte quando alguém libera perdão em situações tão extremas, confesso, não sei se conseguiria... e você pode estar se perguntando que sentido tudo isso terá, e caso se pergunte, que bom... espero conseguir explicar isso no próximo capitulo, já que agora Shara parece ter entendido a funcionalidade do colar em sua essência.

E Shara fez algo incrível aqui, vocês não acham?... a analogia das duas histórias Snape X Antony e o perdão.
Eu mencionei isso em um comentário que li, de uma leitora incrível que mencionou sobre a mitologia, sobre o fato da injustiça cometida por Atenas e sim essa foi uma fic criada para tratar de injustiça, essa é a trama principal, Severo um personagem injustiçado demais, Medusa,Maeva, Shara... Antony, Draco... Diaz (delicado mas falaremos sobre isso) e por isso a trama é pesada as vezes...
Afinal ninguém é 100% mal ou 100% bom (ok talvez alguns kkkk) mas a diferença, a nossa história e quem nos tornamos no final, está naquilo que acreditamos e deixamos de acreditar! Shara x Medusa... são escolhas!
Continuemos acreditando num mundo melhor!

Obrigaduuuuuu
Vou amar saber o que acharam :)



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