Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 26
Futuro - Uma detenção diferente




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—Com licença senhor - Shara disse abrindo a porta, ela estava tão nervosa para essa detenção, que ela havia simplesmente esquecido de bater, a última conversa na enfermaria com ele no dia anterior havia sido completamente diferente de qualquer coisa que Shara pudesse esperar, é claro que ela sabia que não seria uma conversa fácil, nunca era e que ele poderia estar furioso, mas o que se desenrolou na sequência, foi muito pior, ele foi duro mais do que o normal e ele estava tão desapontado com ela, fazendo com que ela se sentisse excepcionalmente frustrada e isso a quebrou, desencadeando um turbilhão de lembranças ruins do seu passado, quase que ao mesmo tempo, era tanto barulho que ela não podia controlar e ela passou a repetir aquelas terríveis considerações em voz alta sem sequer se dar conta do que poderia estar fazendo, ela nunca tinha feito isso antes, uma crise, bom pelo menos foi assim que ele chamou aquilo, e então ela havia revelado ali o seu maior e mais atemorizante segredo e tudo da forma mais constrangedora possível, não havia mais volta, estava feito, ela era um caos completo e agora ele sabia, apenas haviam tantos pedações para ajuntar, mas ele a surpreendeu, tentando acalma-la, ele havia segurado a sua mão, ninguém nunca a havia tocado daquela forma, e depois pedido para que ela confiasse nele, e por mais reconfortante que pudesse ser, agora ela se sentia perdida, isso não era comum e ela não fazia a menor ideia de como as coisas poderiam ser entre eles daqui em diante e isso também podia ser suficientemente intimidante.

—Entre - Ele sinalizou sem fazer qualquer comentário sórdido, ela estranhou, mas ele parecia concentrado, ele estava trabalhando em algo, e mal havia olhado para ela, Shara se aproximou silenciosamente não querendo desconcentra-lo, ela ergueu um pouco as mangas de sua camisa apenas o suficiente para não as sujar tanto assim e passou os olhos pela sala tentando encontrar onde ele havia deixado os caldeirões para que ela pudesse começar a limpa-los, mas não os encontrou, mais estranho ainda, será que ele havia esquecido de pegá-los? Enfim ela teria que interrompê-lo de qualquer forma, já que ficar parada ali daquele jeito era bastante constrangedor, ela pigarrou chamando sua atenção e ele levantou os olhos a analisando.

—Desculpe - ela pediu - mas não estou encontrando os caldeirões sujos senhor - ela disse por fim, aquela detenção já estava começando mal.

—Tenho outros planos para hoje Epson, se não se importar - ela assentiu, o que mais ela poderia fazer? - me responda honestamente, você gosta de fermentar? - aquilo era algum tipo de teste? Ele era o mestre de poções da escola, e ela estava de detenção na sala de poções dele, era evidente que haviam apenas duas respostas certas para aquela pergunta, uma era sim e a outra era com certeza.

—Sim... senhor - ela respondeu escolhendo a primeira opção e tentando não parecer tão animada com aquilo, embora no seu caso fosse verdadeiro, aquela era a matéria da qual ela mais havia se identificado até o momento.

—Vejamos - ele disse - aproximar-se - ele pediu – então hoje estaremos trabalhando em uma poção mais avançada - ele havia dito estaremos? aquela era uma palavra no plural, então isso significava que ela iria trabalhar com ele em algo? Eles fariam algo parecido com uma dupla, assim como ela e Gina durante as aulas e ela engoliu seco, havia algo muito errado acontecendo ali, será que ele estava bem de saúde? Ela se aproximou olhando para o livro que ele havia deixado aberto, estava sobre a bancada principal, a bancada dele, ela leu o nome poção, poção pulmonar, essa era a poção que ela havia tomado na enfermaria e que ele havia comentado que levaria alguns dias para ficar pronto.

—Não reconheço os ingredientes - ela comentou lendo a lista que o livro indicava.

—Sim, como falei é uma poção bastante avançada, você pode começar picando o que eu separar na bancada, use luvas – ela apontou para um par de luvas separadas na bancada do lado – do contrário pode ser letal - ela o olhou assustada, não por que os ingredientes pudessem ser letais, mas sim por que ele estava mesmo deixando ela fazer parte daquilo. Detenção não deveria ser algo ruim e desagradável para os alunos? ela tinha acabado de dizer que gostava de fermentar, e ele a estava deixando fazer algo do qual ela disse gostar, numa detenção.

—Algum problema Srta. Epson - ele disse notando que ela ainda não tinha começado o trabalho, lançando um olhar inquisidor sobre ela - eu ainda posso trazer os caldeirões sujos se preferir.

—Não tudo bem, eu só não estava esperando por isso - ela disse honestamente, e ele pareceu ignorar, Shara olhou mais uma vez para o livro, estava repleto de anotações, ele havia mudado algumas instruções do próprio livro, eram anotações feitas a próprio punho, sinal de que ele já havia trabalho nisso inúmeras vezes no passado.

—Os livros nem sempre são confiáveis - ele disse, parecendo compreender aquilo que ela estava pensando, embora houvesse uma dupla referência naquele comentário que ela entendeu prontamente.

—Pode não parecer, mas eu não acredito em tudo que leio - ela se defendeu.

—É claro - ele respondeu com uma dose de ironia, bom pelo menos isso soava mais como ele mesmo, a deixando mais confortável já que aquele era um território conhecido.

—O senhor sabia que existe mais um livro como aquele? - ela perguntou de repente, era sempre difícil começar algo com ele, mas ela achou que aquela poderia ser uma boa oportunidade para inserir aquele assunto que ela mesmo já gostaria de ter discutido com ele antes, a visão, estranhamente ele aparentava estar mais aberto para isso – aquele sobre as lendas bruxas – ela complementou, ela chegaria lá, mas ela queria contextualizar já que aquilo também era importante.

—Livros normalmente possuem mais de um exemplar, isso me parece algo bastante plausível - não aquele, aquele era um livro velho, muito muito velho, não parecia que as pessoas mantinham esse tipo de coisa em suas casas, era quase como uma relíquia para um colecionador, mas é claro que ele sabia disso.

—Certo, bem é que eu não fui a única a procurar pelo livro e por esse tema em específico – melhor não citar as palavras, lenda e Medusa na mesma frase ela ponderou, seria demais para aquele momento em que ela estava literalmente pisando em ovos – e digamos que tenha... – ela fez uma pausa, na dúvida se era mesmo prudente continuar daquele ponto, ela fechou os olhos com força - mais alguém com o livro... um bruxo eu diria - ela soltou por fim, respirando um pouco mais depressa agora, enquanto esperava pelo sermão que com toda certeza viria, algo gritado como "você não deveria estar falando sobre isso" ou “de onde você tirou essa informação? eu já não disse para esquecer esse assunto” mas ele continuava apático e completamente concentrado enquanto mexia com vigor a poção que agora borbulhava a sua frente, talvez ele apenas não estivesse interessado no assunto, ela pensou, o que seria uma pena, havia tanto a ser dito ali e ela tinha algumas perguntas também, e bem ele mesmo havia dito para que ela o procurasse em situações assim e era o que ela estava fazendo ali e agora, ou ela estava fazendo algo errado? Claro que ela estava bem ciente de que deveria ter ido até ele antes de entrar no lago daquela forma e evitar tudo isso, mas mesmo assim onde estavam as perguntas? e aquilo a fez se sentir perdida, não sabendo se deveria continuar e eles ficaram em silêncio por um espaço de tempo, tempo esse que durou uma eternidade pelo seu ponto de vista.

—Existe uma classe de bruxos místicos e de crenças bastante excêntricas e esses bruxos costumam acreditar em qualquer tipo de ladainha e teorias vãs, como uma lenda por exemplo – ele disse a tirando dos seus devaneios e a provocando com a última parte e ele não havia feito qualquer contato visual até aquele momento o que a fez pensar se ele realmente acreditava que esse era mesmo o perfil de quem estivesse buscando por aquele conteúdo - é tipicamente o público que costuma ler aquela revista ridícula que circula por ai clandestinamente, O Pasquim, então não se surpreenda Epson sempre haverá quem procure por esse tipo de coisa -  ele finalizou, Shara já tinha ouvido falar sobre aquela revista, Luna estava lendo uma outro dia, e por mais que o professor estivesse tentando diminuir os bruxos que tinham suas crenças distintas a dele, Shara estava decidida a não se deixar influenciar por aquele comentário, até por que ela sabia que a lenda era verdadeira, por mais que ele insistisse no contrário, ela simplesmente sabia, principalmente agora após aquela visão e ela sabia também que aquilo estava conectado de alguma forma e que ela deveria buscar entendimento a respeito, e francamente ela não acreditava que o bruxo que estivesse caçando a lenda se enquadrasse nessa classe de bruxos, aquele bruxo em especifico queria o colar e queria para outra finalidade.

—Entendo – ela informou – mas eu só não acredito nisso, não dessa maneira – ela disse despretensiosamente, sem medir o impacto daquelas palavras e nem o que poderia vir depois daquilo, mas ela tinha conseguido a atenção dele de qualquer maneira com aquele comentário e era óbvio o quanto ele não gostava de ser contrariado e seu estômago embrulhou instantaneamente, quando sua mente ligou o sinal de alerta ao vê-lo parar o que estava fazendo e encara-la – o bruxo, ele está atrás do colar – ela finalizou, tentando fazer algum sentido.

—Mas é claro que você não acredita - ele disse com um sorriso de ironia que ele manteve no canto direito do rosto - talvez todos nós devêssemos parar tudo o que estamos fazendo e correr atrás de suas teorias sem fundamento, o que acha? - ele perguntou enquanto gesticulava com as mãos - me responda Epson, quem sabe devemos arriscar as nossas vidas naquele lago, buscando por respostas?

—Não… eu não quis dizer isso - ela estava se perguntando o que havia de errado com ele afinal, ele estava agindo estranho desde o momento que ela chegou naquela detenção, ao mesmo tempo que ele soava menos agressivo do que de costume, ele também parecia tão distante e alheio a tudo aquilo, aquele não era ele… ela o olhou ele estava ali esperando por uma resposta dela, mas ela sabia que ela jamais o venceria com qualquer argumentação - o que há de errado com o senhor? - ela perguntou, enquanto sentia o desconforto abdominal aumentando, ele estreitou os olhos, havia algo naquele olhar que a assustava.

—Resposta errada Epson - ele disse se movendo sorrateiramente para mais perto dela, o que fez com que ela involuntariamente desse um passo para trás, recuando e encostando na parede, aquele era o limite e isso tinha sido ruim, muito ruim seu estômago deu mais algumas voltas –  bem talvez essa não seja uma detenção a sua altura não é mesmo, talvez depois de toda aquela cena deplorável de ontem na enfermaria você esperasse um tratamento especial, algo mais... deixe me ver, quem sabe parecido com uma festa de boas-vindas? - ele disse de forma dura, e ela balançou negativamente a cabeça, sentindo os olhos marejarem, então era isso, ele a estava tratando diferente, depois do que ele havia visto ontem na enfermaria, então ele achava que ela iria quebrar com uma detenção normal ou algo assim? O que isso significava exatamente? que ele estava com pena dela? Ela não esperava nenhum tratamento especial, como ele havia dito, aquilo não fazia nenhum sentido, ela não precisava de ninguém sentindo pena dela ou coisa do tipo, nem a tratando com cuidado, ela não era de cristal e não quebrava tão facilmente e a essa altura isso era algo que ela esperava que ele já soubesse, ela o encarou, visivelmente magoada.

—Está enganado - ela disse limpando as lágrimas teimosas que ainda estavam ali - eu sinto muito se dei a entender, depois da minha cena deplorável como o senhor mesmo disse na enfermaria ontem de que eu deveria receber um tratamento especial - ela repetiu se sentindo ainda mais doente – o senhor não sabe nada ao meu respeito, nada! - ela devolveu no mesmo tom de voz e ela percebeu que aquelas palavras haviam surtido um impacto diferente nele - sabe professor eu posso não ter um passado com o qual eu possa me orgulhar, mas eu não preciso que as pessoas sintam pena de mim por isso - ela complementou não conseguindo conter as próximas lágrimas que desciam mas aquelas não eram lágrimas de tristeza, aquelas eram lágrimas de ódio, ódio por ter se permitido mostrar sua fraqueza assim, ela colocou a mão sobre o colar, buscando um pouco de conforto, enquanto buscava as próximas palavras ela sabia que os olhos dele estavam sobre si - eu não vou mais incomodá-lo - ela disse se afastando, ela sabia que estava prestes a vomitar ali e ela precisava sair, fugir afinal ela não queria dar para ele o prazer de mais uma "cena" do quão fraca e vulnerável ela poderia ser, ele já havia tido o suficiente e ele era um idiota, o idiota do qual todos comentavam.

—Epson… - ele a chamou e ela ouviu os grilhões da porta travando - pare… o que quer que você esteja pensando em fazer apenas pare - ele reforçou, agora havia algo diferente no seu tom de voz, algo parecido com uma suplica, ela não sabia e ela não se importava, ela estava tão magoada e humilhada ali, ele era seu professor e chefe de casa, mas ele não tinha o direito de tranca-la numa sala de aula.

—Abra a porta – ela pediu, de costas para ele.

—Sente-se Epson, você não pode sair pelo castelo nesse estado – ele orientou, como se ele se importa-se com isso agora, ela estava furiosa e ela se virou.

—Sabe professor… - Ela respirou fundo segurando a ânsia que insistia em vir - eu apenas estava pensando em contar sobre a minha visão – ela disse mantendo o contato visual, seu coração podia sair pela boca a qualquer momento agora, ela estava sendo audaciosa - eu só não sabia como chegar lá, mas eu estava tentando... – ela falhou um pouco – e bem o senhor disse que eu deveria procurá-lo, é o que eu estava tentando fazer... eu sei que posso não atender as expectativas e que deveria ter feito isso antes, mas eu simplesmente não sabia como fazer... – era isso, ela havia dito, sentindo que agora poderia vomitar a qualquer momento, ela odiava essa sensação e ela sempre se sentia assim quando ficava nervosa além do habitual, e ela havia chegado ao extremo ali – eu nunca fiz isso com um adulto antes – ela disse em meio as novas lágrimas, ele parecia estar sendo golpeado de alguma maneira pois ele não a interrompeu – eu só não sabia como… o senhor me pediu para confiar, mas eu não posso confiar em alguém que sente pena de mim - ela gaguejou - então eu vou parar o que estou fazendo - ela disse colocando uma das mãos no abdome, como se aquilo fosse ajudar, ela estava próximo de uma mesa e ela se apoiou nela, não se importando mais com o que ele poderia pensar sobre aquilo, estava arruinado e a porta estava trancada.

—Essa detenção ainda não acabou – ela ouviu ele dizendo, mas ela não podia mais levantar a cabeça naquele ponto e ele se aproximou, ela podia ver suas vestes se movimentando pelo chão, ele chegou perto o suficiente para que ela visse que ele estava segurando algo, uma poção, ela não iria beber a droga de uma poção, não agora que estava a segundos de vomitar, Shara havia perdido a conta de quantas vezes no passado Noah a havia feito se sentir assim, e no final ela sempre acabava tendo que esfregar o chão.

—Sobre a detenção – ela disse com dificuldade - eu prefiro os caldeirões sujos professor – e ela respondeu com frieza.

—Beba isso - ele pediu, ela não faria, ela não pegou, ele se aproximou um pouco mais, colocando uma das mãos em suas costas, o que ele estava tentando fazer agora? Ela se desvinculou, aquele era mais algum tipo de demonstração do quanto ele poderia sentir pena dela?

—Eu não quero que o senhor sinta pena de mim - ela reforçou, ela estava um lixo - não precisa fazer isso, eu posso lidar com isso.

—Eu quero fazer isso  - ele disse a segurando com firmeza ao mesmo tempo que a puxava com cuidado contra si, ela nunca havia notado o quanto ele podia ser forte, já que ela não conseguiu se esgueirar daquele contato e ela havia tentado, ela parou de se debater sentindo o gosto do suco gástrico voltar na sua boca, ela sabia que não teria mais volta, por mais autocontrole que ela pudesse ter, as coisas sempre podiam piorar, e ela se abaixou com a ajuda dele, tentando apenas evitar um estrago maior e então ela vomitou, o pouco que ela havia conseguido comer no jantar daquela noite, ele ainda a estava amparando, ele puxou os cabelos dela com cuidado para trás e aquilo não era mais apenas constrangedor era muito pior, era humilhante.

—Eu posso limpar... – ela mal tinha acabado de pronunciar aquelas palavras quando ele mesmo já havia lançado um feitiço de limpeza sobre o lugar, óbvio, será que um dia ela iria se acostumar com aquilo? - Eu... quero ir embora – ela disse sentindo a dificuldade que era dizer aquelas palavras, ela não poderia sustentar mais aquela humilhação – se o senhor preferir pode direcionar a minha detenção para outro professor, ou o Filch ou o Hagrid tanto faz eu não me importo, honestamente – ela mentiu, ela se importava, ele se abaixou ainda mais do lado dela, ela não esperava por aquilo, por que ele não estava fritando agora? teria sido mais fácil - por favor me deixe ir - ela pediu, soluçando, aquela sim era uma cena em tanto.

—Não… - ele a puxou para os seus braços, e então ela se entregou, ela chorou, chorou toda a dor, toda a humilhação, e ele a manteve ali tão perto permanecendo em silêncio por um tempo até que ela se acalma-se, ela podia ouvir o coração dele assim e sentir o cheiro dos ingredientes da poção que estavam impregnadas em suas vestes, ela jamais poderia imaginar o quão boa aquela sensação poderia ser, até senti-la, será que era assim que um pai acalentaria sua filha? Ela não sabia, ela jamais saberia -  venha ele pediu, enquanto se levantava e lhe estendia a mão, ela olhou para aquele gesto era desconcertante para ela e pelo visto para ele também - eu falhei com você - ele disse finalmente, percebendo que ela não se movia, o que ele estava tentando dizer com aquilo? ela aceitou a mão dele sentindo aquela vibração que havia entre eles e que ela já estava começando a se acostumar, isso soava quase como um pedido de desculpas - eu falhei - ele disse novamente para que ela entendesse – eu sei o que isso parece, mas eu não estou com pena Epson, você realmente acha que alguém como eu, sentiria pena de alguém? – ele perguntou, a fazendo parar para refletir sobre aquilo apenas por um instante, se não era pena, era o que então?

—Eu não entendo – ela disse pensando sobre tudo aquilo – eu fiz algo de errado? Bem eu sei que se não fosse por mim, o senhor não precisaria estar fazendo essa poção hoje, eu entendo que o senhor esteja chateado com isso - ela disse, talvez ele estivesse sendo obrigado a fazer algo do qual não queria… talvez isso o chateasse além do normal… talvez…

—Eu sou o mestre de poções dessa escola a anos e isso definitivamente não é um problema pra mim - ele disse a corrigindo.

—Então sou eu, eu sou o problema… - ela sussurrou, era evidente, ele estava saturado dela, de tudo aquilo que ele precisava lidar em função dela, quem não estaria afinal? Ela era uma bagunça, um caos completo e hoje ela conseguiu ser ainda pior… quantos alunos ele já precisou segurar em seu braço daquela forma? Ela não precisava pensar muito pra saber que a resposta para aquela pergunta era nenhum.

—Não - ele disse passando a duas mãos na testa - não tente entender isso, você apenas precisa saber que isso não é sobre você, é sobre mim, eu já disse, eu não sou a melhor pessoa para se ter por perto, compreenda isso e isso será o bastante - ele disse e ela quase podia ler aquilo, ele estava em algum tipo de conflito consigo mesmo, talvez ele também não soubesse muito bem o que fazer com toda aquela situação que ele havia visto ontem.

—Eu o sujei - ela apontou para as vestes dele, envergonhada - ela havia chorado ali.

— Eu posso lidar com isso desde que você me prometa que não irá comentar a respeito do que aconteceu aqui com mais ninguém - ele disse, como se alguém fosse acreditar nela, ela pensou - eu apenas não estou preparado para receber abraços calorosos dos alunos e os consolar de forma afetiva, não ainda - aquilo fez ela gargalhar genuinamente, ele havia feito uma piada? – pense na fila que iria se formar fora da minha sala de aula.

—Seria um desastre – ela sorriu, imaginando aquela situação completamente improvável.

—Certamente – ele disse enquanto a analisava, ela voltou seus olhos para a bancada onde ela havia cortado os ingredientes para ele e passando os olhos pelo caldeirão, espere... a poção ela o olhou assustada.

—A poção está… - ele havia parado de mexer nela por um bom tempo agora e isso não poderia ser bom.

— Arruinada – ele disse com pouca emoção, oh céus aquilo era terrível, ele havia perdido material e desprendido tempo naquilo, e era culpa dela também, mas antes que ela pudesse fazer qualquer comentário a respeito ele complementou – apenas não peça desculpas por isso, desculpas em excesso pode ser bastante irritante – era o que ela estava prestes a fazer e ela se conteve achando melhor não contraria-lo – sente-se Epson eu tenho algo para você – ele disse caminhando até uma estante e retirando um livro, ela se sentou esperando o que poderia vir daquilo, ele voltou colocando o livro em cima da mesa.

—Um livro? – ela perguntou curiosa.

—Uma observação bastante perspicaz – havia sarcasmo, pelo menos ele havia voltado ao normal – mas antes que ela o pudesse alcançar – ele colocou uma das mãos sobre a capa para que ela não o abrisse ainda – antes, você irá responder uma pergunta – ele disse e ela passou os olhos pelo livro e voltou toda a sua atenção para ele, sinalizando positivamente - Do que se tratava a visão? - ele perguntou a pegando completamente de surpresa como eles tinham ido daquele desastre completo para isso? Era melhor não tentar entender.

—a visão era sobre uma mulher - ela disse enquanto ele aguardava interessado - eu apenas a vi de costas, ela estava em frente a um lago, um muito similar ao lago negro, e ela estava fazendo magia, a varinha, era exatamente igual a minha, e ela estava com o colar na mão, o colar da minha mãe, ela estava tentando convocar algo, mas eu não podia ouvi-la, se parecia muito com uma espécie de ritual - ela explicou e ele acompanhou aquilo com bastante atenção, ele caminhou pela sala, parecendo pensar sobre aquilo.

—Você já teve uma visão como essa antes? - ele perguntou.

—Não senhor - era verdadeiro – e por nunca ter tido nenhuma experiência assim eu meio que me assustei e eu posso ter perdido algo - ela lamentou - mas foi muito rápido, eu estava em Londres, na visita com o diretor, eu estava conversando com a Catie a respeito, me desculpe por isso -  e ele lhe lançou um olhar analítico - Catie trabalha na biblioteca pública e achei que poderia me ajudar com o assunto.

—Foi ela que te contou sobre o livro, e o bruxo eu suponho - ele completou.

—Sim, ela fez - Shara disse

—Você poderia mensurar o que causou a visão? – ela achava que sim, mas estava verdadeiramente frustrada nesse sentido, ela suspirou.

—Eu pensava que sim, mas agora não tenho tanta certeza – ela disse de forma triste - aconteceu quando eu toquei um objeto, havia uma fonte de água pequena na estante de troféus da escola, eu apenas me levantei para vê-los mais de perto e ver se o meu ainda estava por lá, quando a fonte chamou minha atenção, e foi quando tudo aconteceu.

—Imagino que esse seja o motivo que te levou a ir até o lago negro naquele dia, você queria, testar sua teoria, correto? – ele parecia compreender bem aquilo.

—Sim, eu tinha tanta certeza que daria certo - ela estava tão decepcionada por não ter acontecido, o que ela poderia ter feito de errado? Ela podia sentir a conexão com a água, talvez tenha sido algo que ela possa ter deixado de fazer, ela não sabia – por que não deu certo? – ela perguntou.

—Nem sempre é tão simples – ele respondeu – Por isso, preste atenção – ele disse - você tem minha autorização para ler esse livro – Shara olhou para o livro que estava a sua frente, o título estava apagado impossibilitando sua leitura, mais um livro velho ela pensou, enquanto abria as primeiras páginas, passando os seus olhos pelo sumário, quando eles brilharam ao se dar conta dos assuntos que aquele livro abordava, parecia ser um material bastante denso, mas era um livro que falava especificamente sobre visões, ela olhou para o selo na parte inferior do livro, fazendo sua fisionomia mudar imediatamente.

—É um livro da sessão restrita? - ela perguntou incrédula - mas eu não posso ter acesso a esse material? - ela não estava compreendendo, era algum teste? Outra piada?

—Você pode - ele disse – e tem apenas uma semana e então você irá me traze-lo outra vez.

—Mas e as regras? - não tinha como não se sentir confusa assim, ela perguntou vendo ele cruzar os braços a sua frente.

—Admiro o seu apreço pelas regras Srta. Epson – e lá estava a ironia outra vez, mas ela nem se importou – as regras são claras, nenhum aluno do primeiro e do segundo ano podem retirar qualquer livro da sessão restrita - ela havia compreendido aquilo - você retirou algum livro da sessão restrita Epson? - ele perguntou como se fosse a primeira vez, ela engoliu seco, mas gesticulou negativamente - então não existe nada de errado aqui, não é mesmo? - ele finalizou, espere, ela não podia estar entendendo aquilo certo, ele retirou um  livro da sessão restrita para ela, ele a estava ajudando a entender aquilo que havia acontecido com ela mesmo que aquilo pudesse em algum momento ter alguma ligação com a lenda, a lenda que ele não acreditava e que havia pedido para que ela passasse longe, isso estava mesmo acontecendo? Essa detenção está mesmo sendo real? ela segurou o livro com apreço, era evidente que ela queria aquilo, assim como ela queria ter lido o outro.

—Espere - ela disse finalmente - esse livro já estava na estante quando eu cheguei… o senhor iria oferecê-lo para mim hoje de qualquer maneira? – ela perguntou desconfiada, ele não respondeu – como o senhor sabia sobre isso?  Sobre a visão... se eu apenas comentei a respeito disso minutos atrás? – aquele comentário fez com que ele sorrisse com o canto da boca outra vez.

—Excelente senso crítico – ele reconheceu - digamos  apenas que a Srta. Vicente foi coagida a me dar algumas informações adicionais sobre a sua ida até o lago, enquanto você estava sendo atendida pela Madame Pomfrey na enfermaria - Beta não havia comentado nada  sobre isso e elas haviam conversado algumas vezes, tanto na enfermaria como no jantar mais cedo, Shara estava preocupada com o que ela diria, já que Beta tinha sido bastante enfática naquele dia e era a segunda vez que Shara se prejudicava, não dando ouvidos ao conselho da amiga, mas Beta a surpreendeu sendo muito receptiva, e ela havia abraçado Shara tantas vezes, que Shara teve que literalmente pedir para que a amiga parasse um pouco, já que ela estava se sentindo sufocada, mas Beta havia omitido essa parte, Shara sabia o quão intimidador o professor poderia ter sido, então ela não julgaria a amiga por isso, no seu lugar ela certamente teria feito o mesmo.

—O senhor sabia sobre a visão então - Shara disse sorrindo, era óbvio agora, ele já sabia, por isso ele não havia perguntado, aquilo fez ele arquear a sobrancelha.

—Epson, para levar o livro preciso que me prometa algumas coisas - ele disse bastante sério, ela podia fazer isso - primeiro, independente do que encontre aqui, você não deve agir sozinha em hipótese alguma – era justo e fazia sentindo, ela corou mas assentiu - segundo você não deve tirar o colar em hipótese alguma - eles já haviam repassado isso, ela estranhou, mas achou melhor não comentar, assentindo mais uma vez - e por último, você está proibida de se aproximar daquele lago outra vez - essa seria fácil, nem que ela quisesse.

—Sim senhor para todas as condições - ela disse enquanto ele se virava para lançar um feitiço que fez sumir com o caldeirão com a poção arruinada que ainda estava sobre a bancada dele – professor – ela chamou - por que o senhor está me deixando ler o livro? - ela perguntou curiosa.

—Estratégia – ele deu de ombros – talvez se eu preencher o seu tempo livre com atividades extras curriculares e que mantenham ele comprometido, eu consiga finalmente mantê-la longe de problemas - ele disse ironicamente, e ela achou engraçado.

—Madame Pomfrey comentou que nunca houve um acidente como esse no lago antes, o que me faz pensar que eu seja realmente predestinada a isso – ela disse.

—O que disse? – ele perguntou, mudando sua expressão e ficando visivelmente incomodado, ela havia dito algo de errado?

—Eu só ia comentar sobre ser predestinada a me envolver em problemas, é o que o senhor sempre diz e estava me dizendo não é mesmo… - ele a analisou por um segundo, por um longo segundo.

—Sim – ele disse fazendo uma pausa, o que ele estava pensando agora? – Epson você está liberada –ele disse finalmente – e leve isso – ele estava com aquela poção na mão outra vez – é uma poção calmante, para quando se sentir apreensiva – ela pegou, talvez fosse mesmo útil.

—Obrigada senhor – ele assentiu – por tudo na verdade, significou muito – ela disse abraçando o livro que com certeza ela iria devorar, mas não era sobre ele que ela estava se referindo, ela recolheu seu material, e estava se direcionando até a porta.

—Epson – ele a chamou e ela se virou para encara-lo – qual era o seu troféu?

—Como? – ela perguntou apenas para ter certeza de que ela tinha mesmo ouvido corretamente, não seria possível que ele estivesse interessado por isso a ponto de perguntar, poderia? Na verdade nada naquela detenção parecia fazer algum sentido.

—Havia um troféu com seu nome na estante foi o que você disse – sim havia e sim ele queria mesmo saber, ela tinha jurado para si mesma que não comentaria sobre isso com ninguém no seu novo mundo, simplesmente por que aquilo não se enquadrava mais, haviam outras preocupações e outras prioridades agora.

—Musica – ela disse corando – eu aprendi a tocar piano sozinha quando era pequena com bastante facilidade, e eu canto também, participei de alguns festivais de música e ganhei alguns troféus pela escola, mas é coisa trouxa, não importa muito aqui, talvez o senhor não conheça... não é nada na verdade... – ela disse se esquivando, ele estava a olhando de uma forma estranha, outra vez, antes de responder.

—Minha mãe cantava – ele disse – e tocava piano também, não é apenas coisa de trouxa.

—Bom, acho que temos algumas coisas em comum professor – ela sorriu, enquanto se virava, saindo pela porta.


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Notas finais do capítulo

Difícil manter uma conversa civilizada entre os dois.
Severo como sempre sendo Severo, ele não vai mudar da noite para o dia, ninguém muda, ele está completamente desajustado nesse capitulo, oscilando entre ser ruim e ser afetivo, mas temos o primeiro abraço deles, gente sério, eu me emociono nessas partes por que eu quase consigo sentir o que ela esta sentido e ele também.
E na medida que eles vão se conhecendo, ele vai descobrindo o quanto eles tem em comum, agora tem a musica, algo da sua família (apenas nessa fic né, versão oficial não é assim) e ele perguntando interessado, é a filha dele né gente, ele perdeu tanto sobre ela, e me parece que ele esta querendo recuperar um pouquinho :) ele quebrando uma regra por ela, bem ele... por favor né, o livro foi uma boa ideia!
Por favor, comentem amo saber o que você estão achando!



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