Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 24
Futuro - Verdades


Notas iniciais do capítulo

Olá, esse é um capitulo muito difícil, e aqui vai um alerta de gatilho.

Foi um dos mais difíceis de escrever até aqui, por que eu sei o quanto isso tudo pode ser real, e portanto eu sei que pode ser bastante difícil de ler.
Talvez você tenha crescido num lar com pouca estrutura e você foi essa criança que teve que lidar com situações difíceis, mas o que quero dizer aqui, parafraseando ao personagem do Severo Snape, é que é mentira... essas não são verdades ao seu respeito, e isso não é quem você é... precisamos silenciar essas vozes! (quando você ler, vai entender)
Boa leitura!



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Shara abriu os olhos lentamente, de alguma forma ela sabia exatamente onde ela estava, não porque fosse algo que ela sentisse como costumava acontecer em outras ocasiões das quais ela normalmente não saberia explicar o motivo, mas sim por que ela tinha a sensação de que já havia aberto os olhos antes em alguns outros momentos daquele mesmo dia, se é que fosse o mesmo dia, ela estava confusa, ela piscou devagar deixando a luz entrar gradativamente nos seus olhos tentando se acostumar.

—Vejo que acordou - ela ouviu alguém lhe dirigindo a palavra – finalmente – ele disse.

—Draco? - aquilo a surpreendeu, ele se levantou da cadeira onde estava, se espreguiçando, sinal de que ele já estava ali a algum tempo, eles nem eram muito próximos e portanto era um tanto quanto improvável receber a visita dele assim.

—Te assustei? - ele perguntou 

—Não… claro que não, eu só não estava esperando - ela disse de forma sincera e ele apenas deu de ombros.

—Então é mesmo verdade o que dizem… - ele disse - que você foi atacada por uma criatura do lago? - E aquela realidade a atingiu em cheio, sim aquilo era mesmo verdade, foram momentos agonizantes e ela podia se lembrar com precisão do sentimento que a acometeu enquanto tentava lutar em vão contra algo que não podia ser visto, por um momento ela teve a certeza de que não conseguiria sair dali com vida e isso a fez refletir sobre o fato de que ela não fazia a menor ideia de como havia conseguido se desvencilhar daquela criatura e muito menos o que teria acontecido depois disso que a fizesse chegar até a enfermaria, mais uma vez, talvez Beta tenha realmente conseguido acerta-lo com algum feitiço, bem pelo menos aquilo fazia algum sentido.

—Sim… eu me lembro, me lembro de tudo agora, não sei se conseguirei entrar em um lago alguma outra vez na minha vida - ela não era muito dada a esportes aquáticos, mas era verdadeiro, aquilo sim havia sido uma experiência traumática e seja o que fosse aquela criatura, ela parecia muito disposta a arrastá-la para o fundo - foi assustador - ela completou.

—Claro que se fosse comigo eu certamente estaria processando essa escola - ele disse com ar de superioridade e não restavam dúvidas para ela de que isso seria exatamente algo que um Malfoy faria naquele caso - mas você está bem? - Ele perguntou na sequência, soando preocupado, isso estava certo?

—Eu… penso que sim... Draco, como você soube do acidente? - ela detestava chamar a atenção para si, da última vez o professor Snape havia conseguido contornar qualquer rumor, tratando tudo da forma mais discreta e sigilosa possível, mas não era o que parecia ser dessa vez.

—A escola toda sabe - ele disse, confirmando suas suspeitas, aquilo não podia ser mais constrangedor, podia? e pensar nisso a fez afundar ainda mais no travesseiro, querendo sumir.

—Que ótimo - ela suspirou - ser o centro das atenções sempre foi o meu grande objetivo aqui – sarcasmo puro era óbvio.

—Logo todos esquecem, acredite - Draco disse tentando animá-la - ainda mais em Hogwarts onde novidades acontecem todos os dias, aliás soube da última? É de hoje de manhã - ele disse começando a rir, enquanto ela balançava a cabeça negativamente, quanto tempo ela estava ali? aquela seria sua próxima pergunta - o monitor chefe da Lufa Lufa prendeu o pé dentro do vaso sanitário, no banheiro dos monitores, patético eu sei, meu palpite é que ele estava sonhando com uma passagem secreta para o ministério - Draco continuava rindo, enquanto ela se perguntava o que uma coisa tinha haver com a outra, ministério, banheiro e pé dentro do vaso, por que alguém colocaria o pé dentro de um vaso? mas ela não quis perguntar.

—Draco, você sabe quanto tempo eu estou aqui na enfermaria? - Ela estava preocupada com a resposta.

—Desde ontem, hoje é domingo e estamos perto da hora do jantar - ele respondeu, havia se passado um dia inteiro então? E ela realmente conseguiu dormir por todo esse tempo? apesar de que lapsos de memória a diziam que não, de certa forma ainda era um dia inteiro do qual ela não se lembraria, numa cama da enfermaria, e dito assim nem soava tão ruim dessa vez, já que ela ainda não havia sequer cogitado em fugir, talvez as coisas estivessem mudando um pouquinho, ela suspirou, ao mesmo tempo em que se dava conta de que Draco já estava ali antes mesmo dela acordar e ela estava deitada a um bom tempo, não conseguindo sequer ver sua imagem no espelho desde então, ou pentear os cabelos que fosse, não que ela fosse vaidosa ou coisa do tipo, mas ela não se sentia tão à vontade na frente de Draco para simplesmente não se importar com sua aparência relaxada, ainda mais ele sendo um Malfoy com toda a pompa que vinha com esse sobrenome e ela suspirou outra vez – acho que essas visitas deveriam ser proibidas e liberadas apenas depois que o aluno estivesse um pouquinho mais composto - ela disse completamente sem graça enquanto passava as mãos pelos cabelos, obviamente que ele entendeu o que ela estava tentando dizer com aquilo.

—E você continua radiante mesmo assim - ele disse de forma despojada corando segundos após, Shara nunca tinha ouvido nenhum menino falar dela daquela maneira, ela deveria dizer algo? Mas ela achou melhor não comentar - Shara por que você entrou no lago negro? É proibido nadar nele, você sabia? - ele perguntou mudando de assunto.

—Eu não ia nadar… honestamente aquela água é congelante - ela fez uma careta se lembrando da sensação - eu queria apenas molhar as mãos e nada mais, mas acabei precisando entrar um pouquinho pra isso - ele franziu a testa com aquele comentário, mas acabou optando em não interrogá-la a respeito, e ela agradeceu, embora soubesse que o verdadeiro interrogatório viria logo mais, ela estava bem ciente de que havia quebrado uma regra da escola e havia sido pega se colocado naquela situação outra vez, e isso não poderia ser nada bom.

—Onde estava sua varinha? Um feitiço simples teria derrubado qualquer criatura - ele pontuou, a verdade é que ela ainda não havia se acostumado com isso, então ela esquecia a varinha na maioria das vezes.

—Eu acabei deixando no bolso das minhas vestes, e eu as tirei, para não correr o risco de molhar, mas de qualquer forma não funcionaria, já que conheço poucos feitiços e nenhum que fizesse algum efeito aqui - ela disse dando de ombros.

—Bom, eu conheço inúmeros feitiços de ataque, e posso te ensinar alguns se você não se importar - ele propôs bastante disposto, por que Draco faria aquela oferta? ela se lembrou daquilo que o professor Snape havia dito sobre ele naquele dia, de que sempre haveria algum interesse por trás de qualquer oferta, mas não é como se ela tivesse algo para oferecer, então isso não estava fazendo nenhum sentido ali, de qualquer forma ela precisava evitar problemas, e ela estava pronta para agradecê-lo quando o próprio o fez no seu lugar. 

—Muito generoso da sua parte Sr. Malfoy – o professor Snape disse com bastante ironia – uma pena é claro que isso não seja possível, já que alunos não têm autorização para praticarem esse tipo de feitiço fora da sala de aula ou sem a presença de um professor responsável, mas é claro que você já sabe disso – ele disse, enquanto gesticulava com a cabeça para que Draco se retirasse, e ele o fez sem dizer qualquer palavra, Shara sentiu seu estômago embrulhando.

—Boa tarde, Severo - Madame Pomfrey disse se aproximando segundos após - onde está Malfoy? - ela perguntou.

—Ele estava de saída - o professor respondeu com sarcasmo, enquanto lhe direcionava o olhar, e Shara engoliu em seco, sabendo que aquela não seria uma conversa fácil e dado ao humor do professor, tendia a ser ainda mais desagradável.

—Garoto atrevido aquele, acredita que ele teve a audácia de me oferecer dinheiro essa manhã? - ela disse de forma séria para ele, aquilo soava bastante errado, e Shara se esforçou para ler o que ele pensava sobre aquilo, mas as expressões dele eram na maioria das vezes indecifráveis, ela desistiu.

—Suborno? - ele perguntou parecendo desinteressado.

—É o que estou dizendo - ela respondeu - mas é claro que ele ouviu umas poucas e boas, quanta petulância, espero ter sido clara o suficiente para reforçar que o dinheiro de um Malfoy não tem nenhum valor aqui – Madame Pomfrey parecia bastante ofendida - de qualquer maneira eu estava mesmo vindo enxotá-lo, está ficando tarde e ele já estava aqui a um bom tempo – por que Draco havia feito isso? E por que ele estava ali? toda essa situação com Draco a estava deixando tímida.

—Não me surpreende, vindo de um Malfoy – o professor disse pairando os olhos sobre ela dessa vez – sabemos que um Malfoy sempre age com segundas intenções – aquilo foi pra ela? Sim certamente que foi, mas o que ele queria que ela fizesse? Ela não havia pedido pela visita dele pra início de conversa, e ela não podia simplesmente ignorá-lo - Falarei com ele mais tarde sobre o ocorrido - o professor Snape informou.

—Faz bem Severo - Madame Pomfrey dizia enquanto lançava um daqueles feitiços que Shara reconheceu ser de diagnóstico - mas penso que ele estava com um pouco de despeito, já que o Sr. Potter esteve aqui essa manhã e havia conseguido falar com Shara e claro que fui bastante intransigente quanto a isso, permitindo que apenas um aluno entrasse por vez, por Merlin estamos numa enfermaria e não em uma feira - espera, ela havia falado com Harry antes? por que ela não conseguia se lembrar? 

—Eu não me recordo de ter falado com Harry - ela resolveu interagir direcionando aquela afirmação para Madame Pomfrey - como eu posso não me lembrar de algo assim? - ela sentiu uma leve pontada na cabeça.

—Normal não se lembrar querida, isso acontece em decorrência de algumas poções que você  precisou tomar e esse é um dos efeitos colaterais - ela explicou - aliás você acordou inúmeras outras vezes no decorrer do processo - Shara sabia, ela se lembrava, mas muito vagamente - está sentindo algum desconforto criança? Vejo que seus exames estão estáveis agora, estive tão preocupada, agradeça pois você foi um milagre - não podia ter sido tão ruim, podia? 

—Apenas uma leve dor de cabeça - ela explicou - nada demais - ela queria dizer que sentia seu estômago embrulhado também, mas ela sabia que isso se dava unicamente ao fato de ter a presença tão imponente do professor Snape naquele lugar, já que ela podia sentir que os olhos dele pesavam sobre ela desde a hora que ele havia chego ali, ele estava de braços cruzados, com as mesmas feições sérias e frias de sempre, e isso a deixava ainda mais apreensiva.

—Tome beba isso - Madame Pomfrey disse enquanto estendia o braço e lhe oferecia algum tipo de poção - vai melhorar querida, estarei na minha sala caso precisem de mim - ela disse saindo, enquanto Shara segurava o frasco intocado com bastante força, agora sim ela queria fugir, mas por outro  motivo.

—Beba a poção Epson, não temos a tarde toda - ele disse de maneira seca, enquanto ela percebia que havia paralisado ali, tomando-a imediatamente e aquele silêncio que se formou entre eles depois disso fez a tensão subir ainda mais, talvez ela devesse começar se desculpando. 

—Eu sinto muito – ela disse finalmente, essa era sua segunda vez na enfermaria em tão pouco tempo e por razões igualmente sérias, e ela sabia que ele não estaria nada satisfeito com aquele panorama, ele se aproximou lentamente afastando a cadeira onde Draco estava sentado com um feitiço, ela se encolheu um pouco, ciente de que estava muito encrencada. 

—Claro que você sente – ele disse friamente enquanto a analisava.

—Eu ia procurá-lo, eu juro senhor... é que aconteceu algo, e bem eu só não queria aborrecê-lo com esse assunto outra vez sem que eu tivesse provas e eu tinha tanta certeza de que eu as conseguiria – ela disse envergonhada, sentindo seus olhos marejarem.

—Eu não lembro de ter pedido para que a Srta. me provasse algo – ele disse de forma ainda mais hostil.

—Eu sei... mas eu precisava testar algo, porque talvez assim o senhor acreditasse… é difícil... mas por favor... escute eu posso explicar…– ela tentou, ciente de que não estava fazendo sentido e de que poderia estar piorando tudo, aquela não era a maneira adequada de iniciar aquele assunto, ainda mais por que ele havia ordenado para que ela o esquecesse, mas aquilo era sobre ela, era sobre o seu passado, era sobre o colar e agora havia aquele outro bruxo também e ela não podia simplesmente ignorar tudo isso, a lenda, a visão… e o lago era sim uma boa oportunidade para conseguir provar tantas teorias, ela só não conseguia entender o por que não havia funcionado, o que ela havia feito de errado?

—Epson, eu a alertei, eu fui claro sobre o que eu pensava sobre isso – ele disse aumentando o tom de voz – mas você não ouve, não é mesmo? – ele disse com total indiferença e soava tão duro – você age por impulso, desobedece seu professor e chefe de casa, descumpre as regras da escola, se coloca em perigo de morte, coloca seus amigos em perigo, os faz se sentirem culpados, deixa todos preocupados a sua volta e tudo isso por que? por que você está buscando respostas de uma teoria que existe apenas na SUA CABEÇA – ela sentiu as lágrimas descerem livremente, dito daquela forma, parecia mesmo muito ruim.

—Eu não queria.... eu – ele a interrompeu

—Você não queria, você não sabia, você não entendia, chega de desculpas aqui Epson – talvez ela merecesse mesmo ouvir tudo aquilo, ninguém nunca havia explicado para ela as coisas daquela forma e ele estava certo... - você sabia que Madame Pomfrey passou a noite toda acordada? – ele perguntou, ela não podia imaginar que podia ter sido tão grave também – sabia que ela precisou te medicar além do permitido, preocupada que você pudesse sofrer algum tipo de sequela? – ela não sabia, parecia ainda pior agora – sabia que pra isso ela usou TODAS a poções pulmonares do estoque, deixando a escola sem nenhuma, sendo essa uma poção que levará dias para ser produzida, me responda Epson, você sabia?

—Não senhor – ela disse tentando conter os soluços – eu não sabia – ela se encolheu, envergonhada, ela havia decepcionado o professor, era por isso que as pessoas se afastavam dela, era tão óbvio, ela era uma criança problemática e ninguém gostava de crianças assim por perto, as coisas não seriam diferentes ali em Hogwarts, do que haviam sido no seu passado, era ilusão achar que poderiam, nem com o professor Snape, nem com Beta, Gina, Draco... por que no final ela iria decepcioná-los todos, outra vez e mais outra, não se muda quem se é, essa era a verdade... ela queria por um momento não existir, queria ter se afogado no lago de uma vez.

—Como imaginei...– ele disse fazendo uma pausa - seus atos imprudentes, geram consequências, se você pudesse ver além de seu próprio nariz, talvez pudesse enxergar – não tinha mais volta, ela sabia que havia estragado tudo dessa vez, mas não deveria ter sido assim, ela queria contar para ele o que ela tinha ido fazer no lago, mas ele não parecia sequer interessado, ela queria poder falar sobre a sua viagem até Londres, contar detalhes sobre a visão que ela teve, mas ele não havia sequer perguntado, ela realmente o havia decepcionado tanto assim? Sim ela havia, ela havia perdido aquilo que por um curto espaço de tempo achou ter construído, e era tudo a sua culpa, ela podia ouvir a voz de Noah ecoando em sua mente outra vez “você é uma completa decepção, você não é ninguém para ninguém” ele tinha razão.

—Eu sou uma completa decepção, eu não sou ninguém para ninguém... – ela repetiu aquela afirmação apenas para si mesmo, fechando os olhos, enquanto puxava as duas pernas para perto do seu corpo, notando assim as marcas nos seus calcanhares e pés, aquilo era terrível, tudo era terrível, aquelas marcas eram apenas mais uma prova de quem ela era e do que ela era capaz de fazer, ela se machucava e machucava os outros.

—Epson – ele tentou chamar sua atenção – do que é que você está falando? Eu não disse isso – ela o ouviu dizendo, mas soava um pouco distante agora, ela colocou as duas mãos cada qual em um ouvido, ela queria silenciar de alguma maneira todo aquele ruído dentro da sua cabeça, mas ela não conseguia, ela poderia repetir cada uma daquelas malditas frases, que foram ditas no decorrer da sua vida, ela as ouvia mesmo quando ninguém às estava dizendo, ela as ouvia no silêncio da noite quando estava sozinha, ela as ouvia quando se sentia em alguma dificuldade e com medo, ela sempre as ouvia... aquelas eram as verdades ditas ao seu respeito, elas sempre estariam ali, não se pode mudar alguém como ela.

—“você faz tudo errado” “as pessoas nunca vão querer ficar perto de alguém como você, sua garota imunda” “será que você não consegue fazer nada direito?” “olhe só para você, quem você pensa que é?” “você é asquerosa, saia da minha frente” ”lixo, você é pior do que lixo” “ninguém se importa com alguém como você” “você não é ninguem” .

—Epson – ela sabia que ele a estava chamando outra vez, ela só não conseguia parar para ouvi-lo – SHARA – ele gritou a tirando daquele transe, ele a havia chamado pelo seu primeiro nome, ela abriu os olhos e ele estava em pé na sua frente agora a encarando, oh céus ela havia dito todas aquelas coisas em voz alta? Os olhos negros do professor penetraram nos seus de uma forma completamente diferente, era como se ele pudesse enxergar muito além e a ver da forma como ela era de verdade, quebrada, ele estava tão perto que ela podia sentir sua respiração e ele alcançou uma das suas mãos a segurando com força, ela sentiu mais uma vez aquela vibração estranha que vinha daquele contato entre eles, mas ele não pareceu se importar, não dessa vez e esse gesto era tão diferente de qualquer outro, ele a estava acalmando e estava dando certo - Nunca mais repita isso - ele disse depois de um certo tempo e a voz dele parecia ter falhado ali - nunca mais, está me entendendo? – ela assentiu, ela estava tão miserável e exposta ali.

—Me desculpe... eu apenas não sei o que aconteceu… só que tinha tanto barulho na minha cabeça - ela conseguiu dizer em meio a toda aquela bagunça – eu posso ouvi-lo aqui dentro – ela apontou para o peito – ele parecia processar tudo aquilo.

—Com que frequência você tem esse tipo de crise? - ele perguntou enquanto soltava com cuidado a sua mão, ela não sabia do que ele estava falando, crise? Ela havia tido uma crise na frente dele, não tinha como se sentir ainda mais arruinada ali, depois de tudo aquilo, se tivesse uma ala psiquiátrica na escola, certamente ele a estaria levando para lá agora mesmo.

—Eu não sei... – ela disse colocando as duas mãos no rosto envergonhada – eu não queria dizer aquilo em voz alta. 

—Entendo - ele disse fazendo uma pausa – bem, acredito que nenhum outro adulto tenha te explicado alguma vez na vida sobre as consequências dos seus atos antes de aplicar qualquer tipo de correção, não é mesmo? - ela assentiu negativamente, Noah não era muito de conversar e Shara sabia que quanto menos ela falasse também mais rápido seriam as consequências – percebo – ele parecia estar escolhendo as próximas palavras - que você costumava ser repreendida sem um motivo aparente, castigada físico e verbalmente, sendo tratada de forma abusiva por todos esses anos – Shara se encolheu com aquelas palavras, ele estava descrevendo algo, algo que doía, e doía muito e ele tinha finalmente chegado lá, ela sabia o que aquilo poderia significar, ainda mais depois de tudo que ela tinha dito ali, e se ele levasse isso a diante? Assim como todos os outros fizeram no passado, Noah o convenceria com muita facilidade do contrário e tudo iria piorar, afinal era assim que as coisas funcionavam.

—Não é tão ruim... - ela tentou - não é tão ruim como parece, eu juro… eu não quis dizer aquilo daquela forma, eu não quis… eu só estava... 

—Repetindo… repetindo algo que lhe disseram – ele interveio -  Epson… - ele suspirou cansado mas ele ainda continuava perto, ele não havia desviado o olhar por nenhum segundo sequer - eu posso ver você sabe... – e agora ele a estava olhando daquele jeito outra vez, era como se ele pudesse ver até mesmo a sua alma – olhe pra mim – ele pediu - não é verdade - ele disse com bastante dificuldade, lá estava… ela sabia, isso sempre acontecia no final, sempre… o que ela poderia esperar? que fosse diferente com ele? ele não acreditava nela, e ela não poderia julgá-lo por isso, ninguém nunca acreditou afinal… ela baixou os olhos, enquanto as novas lágrimas surgiam, mas ele segurou seu queixo, ela queria poder se esquivar, gritar com ele para deixá-la sozinha, mas ela não tinha forças pra isso – não é verdade, aquelas não são verdades ao seu respeito, quem quer que as tenha dito, mentiu, são mentiras, nada daquilo te define, você está me ouvindo? você precisa silenciar essa voz – espera o quê? Isso não estava fazendo sentido – portanto eu não quero ouvi-la dizendo algo assim outra vez.

—Mas o senhor disse - ela estava uma bagunça - disse tudo aquilo... eu apenas achei que… - ele gesticulou para que ela ficasse em silêncio.

—Não Shara... – ali estava o nome dela outra vez, e não havia sido dito de qualquer maneira  - eu estava explicando as consequências do seus atos, atos pelos quais você será disciplinada mais tarde, você se comportou de forma inapropriada outra vez, foi impulsiva e já havíamos falado sobre isso antes, você quebrou regras e obviamente que terá consequências, e isso não vai mudar, não enquanto você estiver sobre a minha autoridade, mas quero que você entenda que por mais chateado que eu possa estar, e acredite eu estou bastante chateado no momento, mas nada válida qualquer uma das considerações erradas que você tem de si mesma – ela nunca teve um adulto que a corrigisse com algum tipo de critério antes, mas agora havia ele, e não que ele fizesse isso de forma amena ou algo assim, ele era exigente, era rígido com as regras e por vezes era inflexível, mas ele tinha um excelente juízo crítico, ela havia confundido tudo, as voz dele definitivamente não era a voz de Noah, e era a voz de Noah que ela precisava silenciar.

—Eu sinto muito, é que soava tanto como ele...

—Não se iluda Epson, eu não serei delicado, principalmente quando estiver de mal humor, e uma situação como essa me deixa bastante mal humorado – era evidente o quanto ele queria enfatizar aquilo - mas acredito que você já tenha percebido isso – ela assentiu – e por vezes palavras duras serão necessárias, isso também tem a ver com amadurecimento, mas...

—O senhor não é como ele – ela o interrompeu complementando.

—Mas... essas palavras nunca definirão quem você é – ele disse finalizando, enquanto ela abaixava a cabeça sentindo que estava corando – de qualquer forma, não eu não sou e não pretendo ser como ele – aquela afirmação a fez levantar os olhos outra vez.

—Professor... ele vai me punir se souber que eu contei – ela podia ver a cena se desenrolando na sua frente, isso já havia acontecido tantas outras vezes no passado – ele pode – ela sussurrou aquilo com tanta dificuldade, percebendo a feição dele mudar gradativamente com aquela declaração, aquilo o havia aborrecido, e ela tinha conseguido ler isso com bastante facilidade, ele estava aborrecido, mas não com ela, ele estava aborrecido com o Noah.

—Epson me responda uma coisa – ele disse parecendo pensar em algo -  o quanto você pode confiar em mim? – ele perguntou, ela confiava nele, ela confiava muito, ele tinha sido o único ao qual ela havia se permitido em toda a sua vida.

—Bastante – ela disse, sentindo que estava chorando mais uma vez, mas aquele era um choro diferente, ela havia se lembrado de Catie dizendo que aquilo era bom, muito bom, e ela havia conseguido dizer para ele, ela queria poder correr até a amiga e abraçá-la, ela queria poder contar que ela havia conseguido dizer, claro que ela omitiria todo o resto, mas ela havia conseguido.

—Dessa forma – ele cruzou os braços de maneira bastante característica - essa deixará de ser uma das suas preocupações daqui pra frente e portanto você não deverá mais falar sobre isso – ela não entendeu, era evidente que ele tinha algo em mente ali mas o que ele iria fazer exatamente? 

—Mas... – ele a interrompeu

—Se você confia, como diz – ele estava bastante sério agora – terá que me provar, o que me faz pensar o quão difícil será essa empreitada para você não é mesmo? – ele sorriu de maneira irônica.

—Eu... farei – ela disse por fim.

—Eu posso ver – ele concluiu - e agora isso nos leva ao lugar de onde paramos anteriormente, acredito não ter tido a oportunidade de mencionar qual seria o seu castigo, já que a disciplina sempre será a consequência de quando algo for descumprido aqui  – ele a olhou apenas para verificar que ela havia mesmo entendido aquilo, sim ela havia, com muita clareza, e por alguma razão, mesmo depois de tudo aquilo que havia acontecido entre eles ali, Shara se sentia bem com isso, ela entendeu qual era o critério, afinal existiam critérios e isso não soava injusto ou coisa assim.

—Me desculpe… eu entendo isso senhor, eu realmente me sentirei melhor se for castigada – ele estreitou os olhos com aquele comentário – quer dizer com os critérios e tudo mais…

—Você será – ele disse – Menos 20 pontos para a Sonserina por desrespeitar as regras da escola e não seguir a orientação do seu professor e detenção, amanhã à noite na minha sala às 19hrs não se atrase – ela queria poder sorrir, mas achou melhor não abusar, ele ainda era o professor Snape e poderia dobrar ou triplicar as penas por bem menos que isso, porém por mais estranho que pudesse soar, ela sentia que precisava ter ouvido tudo aquilo.

—Sim senhor, eu estarei lá – ele a analisou uma última vez antes de sair, e a medida que ele ia se afastando ela sentiu o peso de uma bagagem sendo removido de suas costas, o peso de algo que ela jamais deveria ter carregado por todo esse tempo - obrigada - ela sabia que ele não poderia ouvi-la mais.

—--------

Severo saiu da enfermaria com uma terrível dor de cabeça, ele podia sentir a opressão que aquela menia carregava dentro de si, foram anos de abuso psicológico também, e de uma imagem completamente distorcida de si mesma, ele precisava pensar, ele precisava espairecer, mas ele precisa agir, aqueles dias estavam sendo insanos e ele tinha tanto para processar, mas no momento ele tinha apenas um desejo, ele desejava uma morte bem dolorosa para aquele trouxa miserável, ele caminhou em direção a parte externa do castelo, passando a mão pelos cabelos, estava escurecendo, e ele não era muito de passeios noturnos, mas ele sentiu a necessidade ali, ele caminhou apressadamente, passando pelo pátio central e indo em direção ao lago negro, parando em frente daquele exato lugar onde Shara poderia ter perdido a vida, se não fosse por aquele colar misterioso, Maeva qual a razão de tudo isso? ele não tinha aquela resposta, ele olhou para a extensão do lago, ele era ainda mais bonito a noite, era calmo, e ele conseguia ouvir cada frase que a criança havia dito e a maneira como ela tinha feito aquilo, ele podia sentir seu sangue ferver, aquele trouxa iria pagar caro por aquilo, Severo olhou para o lago, ele se abaixou molhando as mãos, o ataque daquela criatura não poderia ser apenas uma coincidência qualquer, as conexões mentais que ele havia feito depois do ocorrido lhe diziam que não, havia algo ali, algo que queria machucar aquela criança e havia também um motivo. Severo suspirou, ele estava prestes a se virar para voltar ao castelo, mas ele era um espião habilidoso, um dos melhores e nada passaria por ele, não assim tão facilmente, ele sorriu com o canto da boca.

—Eu sei que você está aí – ele disse sem ao menos se virar, esperando por uma resposta que ele sabia que viria.

—Severo Snape, quanto tempo  – a voz disse por fim.


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Notas finais do capítulo

Esse capitulo inicialmente foi escrito do ponto de vista de Snape, mas ainda assim não fazia sentido, já que aquilo era sobre ela e não sobre ele, apenas ela poderia falar sobre suas emoções, eu sei que poder parecer forte para uma criança na idade dela, mas nossas dores, a grande maioria delas vem de nossa infância.
Esse é um capitulo importante também, por que é onde ela "conta" pra ele sobre o seu passado, é claro que ele já sabia, a gente viu isso nos capítulos anteriores, mas pra ela foi um passo importante, confiar algo assim para um adulto outra vez. Li várias fanfics principalmente entre Harry e Snape, e essa parte do abuso (que normalmente esta presente) sempre é resolvido (na grande maioria das vezes) em um capitulo apenas, aqui eu quis fazer diferente, já que esse é o passado da nossa personagem e fala muito sobre o que ela é hoje, o assunto vem sendo tratado a alguns capítulos, e aqui no capitulo 24 é ela que "conta" o que foi um grande passo para nossa Shara, nos próximos capítulos vou desenvolver melhor, afinal ainda existe tanto pra ser dito! Fique por aqui :)


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