Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 107
Futuro - Reciprocidade


Notas iniciais do capítulo

Sim... Temos um momento de Draco e Shara e a música desse capítulo, cheia de significados é dedicada a eles dois.
https://youtu.be/3YlwArJLXf8?si=lIEbgk3yhimX3NIS



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“A paternidade muda tudo Severo, principalmente por que você sabe que existe alguém que depende de você agora” a voz de Cissa ecoava em sua mente, ao mesmo tempo que ecoava a confissão de Shara “pai… eu não sei mais viver sem você” confirmando o que sua velha amiga havia dito com tamanha sabedoria, aquilo não era apenas sobre o que ele sentia, aquilo era sobre proteger alguém que ele amava, e aquelas palavras passavam como um looping sem fim, uma prova de que essa havia se tornado a sua nova realidade, sim ele precisava viver e ele precisava sustentar as consequências que viriam disso, tudo isso por ela... unicamente por ela, a verdade é que ele desejava viver por ela, e isso era completamente diferente de tudo que ele já havia sentido até ali, quando é que viver, havia se tornado uma ação altruísta da sua parte? Era tão improvável como tudo até ali... Seus pensamentos foram interrompidos pelas batidas na porta... ele estava na metade de uma poção, daqueles dias intermináveis, ele suspirou.

—Entre – ele disse, não estava esperando ninguém a aquele horário.

—Boa noite Severo – o diretor sorriu – vejo que tem estado bastante ocupado ultimamente – ele se aproximou dos caldeirões ferventes.

—Os novos lotes de mandrágoras estão prosperando e estou fazendo alguns testes aqui – esse era um dos motivos que o faziam ficar até mais tarde em seu laboratório nas ultimas noites. 

—Sprout comentou sobre o progresso, enfim uma boa notícia afinal – Severo assentiu, aquilo havia demorado muito mais do que o esperado, mas parecia dar algum retorno agora.

—Precisa de algo Alvo? – Severo perguntou de forma direta, ele odiava as informalidades e a forma como Dumbledore cavoucava um buraco, demorando para chegar ao fundo, se ele estava ali era por que havia algo obviamente.

—Sim - ele disse o analisando de forma profunda - sabe Severo, curiosamente tenho me perguntado o que poderia ter acontecido de diferente para que a Sra. Malfoy entrasse em contato comigo e retirasse uma de suas doações mais significativas já feitas para essa escola – Alvo disse sem rodeios.

—Doação? - Severo perguntou sem entender a razão pela qual Alvo estaria disposto a discutir esse tipo de assunto com ele, as questões filantrópicas de Hogwarts não eram de interesse dos docentes, Severo mesmo pouco se importava com isso.

—Sim, me refiro a um piano… um instrumento bastante antigo e de valor inestimável – então Severo entendeu, Narcisa havia retirado a doação do piano, ele não fazia ideia do que ela pretendia com aquilo, mas ela sequer possuía qualquer senso de discrição, ele suspirou… 

—Não faço ideia – ele respondeu dando de ombros, enquanto apoiava as duas mãos sobre a sua mesa de trabalho.

—Achei que soubesse – ele ajeitou os óculos meia lua – já que curiosamente ela o está doando para outra pessoa… uma aluna dessa instituição por sinal, sim uma aluna da Sonserina, uma aluna do seu interesse Severo – Dizer que Narcisa era previsível, sim era uma verdade, mas dizer que ela nunca o surpreenderia não... o que exatamente ela pretendia com isso? Severo bufou de indignação, não cabia a ele ter que explicar aquela situação para o diretor, quando aparentemente nem ela o havia feito... e onde exatamente Narcisa estava com a cabeça? Como ela explicaria algo assim ao seu marido Lucius? Ela honestamente não estava esperando ver o marido sorrir depois disso... por que as coisas tinham sempre que piorar? Já havia o bastante. 

—O instrumento está encantado – ele se obrigou a dar alguma resposta – e me parece que Shara pode tocá-lo de alguma maneira, e bem, Narcisa sabe sobre isso, já que em sua última visita no final de semana passado, ela se deparou com Shara na sala de música e ambas, tiveram... digamos que um momento juntas – ele massageou as têmporas, talvez as poções de enxaqueca não fossem o suficiente para aquela semana.

—Estou bastante ciente sobre o feitiço, já que poucos alunos aqui se interessaram pelo instrumento, contudo nenhum deles foi capaz de toca-lo – Dumbledore afirmou – contudo essa é uma colocação bastante interessante Severo, já que não vejo como a menina possa toca-lo também, sendo que ela não caminha por uma linhagem puro sangue como é requisitado que seja – maldito velho enxerido, ele o estava manipulando a entregar as respostas, daquele que no momento era a maior pedra em seu sapato.

—Existe outra prerrogativa – Severo pigarreou desconfortável em ter que expor aquilo, e Alvo o encarou ainda mais sério, sem opções ele se viu obrigado a dizer o inevitável – ser aceito pela família, algo assim. – ele gesticulou com as mãos para que Alvo apenas deixasse passar, mas obviamente que não funcionaria.

—Ser aceito pela família? – ele repetiu evidenciando sua suspeita - isso me parece algo simples demais para um Black conjurar – Alvo era mesmo meticulosamente inconveniente.

—Aceito por um... elo de amor – Severo cuspiu a última parte, vendo as expressões do velho suavizarem, enquanto ele abria um largo sorriso em sua direção – por acaso disse algo engraçado Alvo? – Severo perguntou completamente irritado.

—Oh não... muito pelo contrário meu menino – ele continuava sorrindo – o amor é mesmo um sentimento poderoso – ele piscou, Severo se manteve sério, pena que aquilo não iria durar, não se dependesse dele, e ele estava ciente de que talvez tivesse que intervir – posso ler e sentir seu desconforto a quilômetros de distância – Alvo complementou – tenho certeza de que o destino se encarregará disso no futuro...

—Não ouse... – Severo parou ao encarar o velho a sua frente de forma defensiva – falar sobre o destino dessa maneira... não para mim e muito menos nessas circunstancias – ele finalizou, vendo Alvo o estudar com cautela...

—Entendo – ele disse – a propósito... deveria parabenizar Draco pela excelente redação – ele complementou, obviamente que o diretor seria certeiro em sua dedução dos fatos... mas ele havia dito redação? Agora era a sua vez de o encarar confuso – Draco fez um excelente trabalho, afinal não é todo dia que um aluno ganha para a sua casa um total de 100 pontos... E já que é sua responsabilidade mantê-los na linha, como chefe da Sonserina, também deveria ser dar o devido reconhecimento aqueles a que é merecido – não... ele não podia estar insinuando que...

—Alvo... está me dizendo que aquele garoto insolente... que ele foi o responsável por escrever aquela maldita redação, aquela que você leu no outro dia? – Severo tinha um aluno em mente, mas certamente não se tratava de Malfoy... um Malfoy jamais teria sido tão sensível... aquilo era uma espécie de complô contra a sua sanidade mental? Ao que tudo indicava sim.

—Pois é exatamente isso que estou dizendo – Alvo se mantinha calmo, Severo bufou… um sorriso de puro escárnio começando a se formar.

—Imagino o quanto deve ter sido difícil para um Malfoy receber um prêmio dessa magnitude e não poder ser reconhecido por tal feito – Severo usou ironia, tudo que aquele pirralho mais gostava era de se exibir perante os demais – e não sei por que deveria parabeniza-lo por algo, já que fui mantido completamente às escuras até aqui – isso era algo que o incomodava de certa maneira.

—Na verdade, ele me pareceu bastante preocupado, e me fez prometer que eu não dissesse o seu nome publicamente, essa... antes de mais nada foi uma decisão dele e não minha, embora é preciso concordar que não caberia qualquer holofote sobre o menino nesse sentido e ele entende isso com bastante maturidade – Severo caiu para trás, se jogando literalmente em sua cadeira, onde estava o garoto mimado, egocêntrico e cheio de si? Maldito piralho Malfoy... ele vinha frustrando todas as expectativas em relação ao seu comportamento, isso desde o momento em que ele manteve o segredo sobre o colar, mentindo até mesmo para Lucius, isso sem mencionar as vezes que agiu protetiva mente, como quando ele o alertou sobre Shara ter ido a floresta proibida... se não fosse pelo loiro... não, definitivamente isso não podia prosperar... de qualquer maneira ele ainda era um maldito Malfoy e ele não podia simplesmente agir como se não o fosse. 

—Não vejo como... – era difícil acreditar, era até mesmo difícil formular qualquer coisa que fizesse sentido, Severo desejava evitar aquele assunto. 

—O amor pode mudar as pessoas Severo – Alvo disse - e você deveria saber disso melhor do que ninguém – Severo enrijeceu, como Alvo ousava tocar naquele assunto de forma tão deliberada – mas... preciso admitir que a redação foi de fato uma grande surpresa até mesmo para mim, e não ache que o mantive às escuras por desejar deixa-lo de fora disso simplesmente, não cabia mencionar naquele momento – Severo suspirou – Draco tem todos os motivos do mundo para fazer péssimas escolhas, e entendo que seja esperado o pior dele nesse sentido, contudo aquela redação me trouxe clareza sobre algo... isso não é o que ele realmente deseja... – Alvo até podia ter alguma razão, mas ainda assim essa não era uma opção... - existe esperanças… 

—Ele não terá alternativas – Severo interrompeu de maneira hostil, e isso colocava por terra qualquer esperança por melhor e bem intencionada que fosse sobre aquele menino, que o velho ousasse alimentar - simplesmente não acontecerá... - ele podia entender o posicionamento de Cissa, sendo ela a mãe, era natural se apegar a esperanças infundadas como aquelas, mas Alvo não... não havia desculpas para alimentar algo assim, e qualquer um poderia enxergar aquilo, e não era necessário qualquer esfera mágica para prever aquele tipo de futuro... estava traçado, o sobrenome Malfoy não era algo para se ignorar, como Cissa havia sugerido – Malfoy tem 12 anos... garotos podem ser bastante tolos nessa idade Alvo – sim, era exatamente o que Draco era, um garoto tolo... 

—Discordo – Alvo foi enfático – a redação é um reflexo de que suas inclinações não são exatamente aquelas que são esperadas de alguém como ele... – Alvo levantou a mão antes de ser interrompido novamente – Draco fez um texto desencorajando qualquer um a machucar a sua filha Severo... e por mais que não tenha sido explicito, obviamente não seria... mas é sobre isso que ele estava falando ao relatar a miséria de um ser imortal, quem desejaria uma vida como essas afinal de contas? Agora é uma pena que não possa ver isso... – Alvo o encarou – de qualquer maneira, deve admitir que ele foi muito sábio, para alguém que você considera um tolo... – aquele comentário fez Severo se mover desconfortavelmente em sua cadeira – talvez ele mesmo não tenha percebido ainda… e sim ter 12 anos de idade é ser igualmente ingênuo em muitos aspectos... contudo um feitiço familiar lançado sobre um piano como aquele, revelam ser verdade aquilo que o garoto mesmo, pode não entender ainda e que você meu caro não quer enxergar... mas quanto a isso, não se preocupe o tempo se encarregará de revelar... e não a nada que possa fazer nesse sentido – Se aquele não fosse Alvo Dumbledore, Severo o teria azarado... por sorte Alvo se virou, indo em direção a porta, se voltando uma última vez para ele – a propósito, o piano ficará na escola até Shara completar sua maioridade bruxa, depois disso ela poderá fazer com o piano o que bem entender, afinal é dela... passar bem – Alvo saiu, ele não havia lhe dado espaço para argumentar aquilo, de qualquer forma Severo não faria, ele não teria conseguido fazer sem se exaltar, aquilo havia sido o bastante e melhor que fosse assim... ele se levantou e colocou ao chão todos os itens que estavam sob a sua bancada de trabalho naquele momento... ele se opunha completamente, e nada, absolutamente nada e nenhum sentimento seja ele qual fosse mudaria aquilo... aquele ainda era o maldito pirralho Malfoy, seu afilhado mimado e egoísta, o filho de sua melhor e única amiga, mas também o filho de Lucius Malfoy a quem ele substituirá num futuro, futuro esse não tão distante dali... Lucius havia arruinado a vida de Narcisa, logo esse era o ponto….

E definitivamente ninguém machucaria sua filha e sairia impune, ele mataria se fosse o caso... e pensando nisso, exatamente nisso que Severo caminhou até a porta, deixando toda aquela bagunça para traz, ele havia aguardado por esse momento pesarosamente por todas aquelas últimas semanas e definitivamente aquele assunto indigesto não estragaria seus planos para a noite, não... honestamente ele podia se sentir ainda mais compelido a colocar em prática uma fração de sua vingança, então ele saiu... se Malfoy fosse esperto, embora não se tratasse dele, pelo menos não ainda... aquilo lhe soaria como um alerta.

—_

—Você sabe, o castelo tem muitos outros lugares para se esconder além deste... - ele sorriu - estar sempre no mesmo lugar te torna previsível demais, e bem… a previsibilidade nem sempre é uma aliada... Não quando ela te expõe dessa forma, tornando você vulnerável - Shara estava apoiada sobre o parapeito da torre de astronomia e se virou assim que ouviu a voz dele, ele era sempre tão cheio de si, ela não estava prestando atenção e sequer havia ouvido ele se aproximar e tão pouco esperava ter companhia, afinal, ela vinha quase todos os dias no final do dia ali... ela gostava da solitude, de apreciar a vista e de sentir a tranquilidade que só aquele lugar podia lhe proporcionar, sim, aquilo podia ser bastante previsível até, mas ela não necessariamente se importava com isso, afinal, ela não estava se escondendo e de qualquer maneira ele era um dos poucos que conheciam o seu lugar preferido e não secreto, e definitivamente  não,  isso nada tinha haver com vulnerabilidade - foi bastante fácil acha-la - ele complementou.

—Draco – ela exclamou com alguma surpresa – achei que estivesse me evitando e não o contrário – ela o provocou, voltando a olhar para a frente, Shara estava com os cabelos presos, era mais favorável prende-los, principalmente em dias com aquele, que ventavam além do habitual… e portanto ela podia observa-lo sem necessariamente olhar para ele, apenas de relance – e quem foi que te disse isso? sobre vulnerabilidade - ela riu - Foi o seu pai? Não foi? – ela perguntou, usando um pouco de sarcasmo ao se referir ao pai dele daquela forma, isso era o tipo de coisa que Shara imaginava que ele dissesse... 

—Bem... sim – ele respondeu se aproximando.

—Sim... para quais das duas colocações? – ela perguntou, apenas para ter certeza.

—Para as duas – ele disse ficando ao lado dela.

—Bem, sendo assim... devo perguntar o que mudou? Digo… se estava me evitando, então…. – se ele a estava a evitando naqueles dias, o que teria feito ele mudar de ideia agora... talvez a mãe dele tenha comentado algo, talvez... ela esperou que ele dissesse, do contrario ela não citaria aquele encontro.

—Queria ser o primeiro a te contar... Algo – ele corou – achei que fosse gostar de saber – ela arqueou a sobrancelha, confusa… do que ele estava falando afinal? 

—Bem... então continue – ela incentivou.

—Flint está afastado do time de Quadribol - ele disse de forma direta... espera, Marcus Flint era o atual capitão do time... Shara encarou Draco, ela estava entendendo a lógica ali... Sim, ela detestava Flint com todas as suas forças, pelo que ele havia feito com Flocos, o seu gato... e se pudesse, ela se vingaria dele de alguma maneira, mas ela havia prometido não se envolver... E pensar que ele estava se dando mal em algo que gostava e que era importante para ele... era de certa forma um pouco reconfortante, Draco tinha razão sobre ela gostar disso... afinal, Flint meio que merecia isso - Houve um acidente hoje durante o treino da Sonserina no campo de quadribol - ele explicou - A vassoura de Flint foi azarada e... estava completamente descontrolada, ela o elevou a uma altura consideravelmente alta e fora do raio permitido, e bem, ele não conseguiu manter-se sobre ela... Quando ele caiu, foi tudo muito rápido e ninguém conseguiu impedir, ele teve sorte em estar vivo... Mas fraturou várias costelas, além de quebrar o braço e a perna... foi feio - Shara enrijeceu...

—Bem... sim, saber que ele foi afastado... me soa bem, mas pensar que ele quase morreu... e que foram nessas circunstâncias nem tanto – ela engoliu em seco, se sentindo mal em ter se sentido bem com aquilo, Draco deu de ombros.

—Sim… ele teve sorte... eu diria... ficará alguns dias na enfermaria – Draco continuou – embora seu afastamento se deu por outros motivos e não específicamente por isso... – Draco disse.

—Outros motivos? – Shara perguntou, que outros motivos seriam esses?

—Bem... Madame Pomfrey o curará com alguma facilidade, você sabe - sim, isso fazia algum sentido, os acidentes em campo nunca foram um empecilho para que os jogadores deixassem de participar de uma nova partida... A menos que eles morresem é claro, o que não parecia ser tão incomum - Mas Flint, bem, digamos que ele já estava meio que marcado pelo professor Snape, depois daquele episódio com a bomba de bosta… aquilo, foi interessante, você tinha que ter visto a cara de Flint na época - Draco piscou para ela e Shara se sentiu ainda pior, por ter feito parte daquela mentira, embora Draco tenha se servido ao incriminá-lo de maneira tão explícita ali, de qualquer maneira seu pai sabia a verdade sobre isso, ele sabia que Flint não havia sido o verdadeiro responsável por aquilo, já que ela mesmo havia dito, confessado naquela noite lá na vila...  - Então Snape disse que ficaria de olho nele, sabe de uma maneira mais intimidante eu diria… e você sabe como Snape é sobre isso… e bem o incidente de hoje chamou ainda mais atenção sobre Flint do que deveria...

—Não que eu esteja defendendo Marcus, ou coisa assim, mas se a vassoura dele foi azarada, como dito... bem não é como se ele tivesse alguma culpa e quisesse cair de uma altura dessas e se ferir tão gravemente – Shara achou deverás injusto, se esse foi o caso… e então ela encarou Draco desconfiada – Draco... me diz que você não foi o responsável por azarar a vassoura dele... Draco... – ele sorriu... Ele tinha um belo sorriso... "Foco Shara".

—Não – ele respondeu levantando as mãos como se ela o estivesse acusando – sabe... apenas alunos e o chefe de cada casa tem acesso ao armário de vassouras de seu time de quadribol... um aluno não faria algo assim, já que poderia ser facilmente rastreado e não haveria motivos de sabotar alguém de seu próprio time haveria?... então eu não seria tão estupido para algo como isso – ele explicou... - e bem… apenas me deixe terminar - Shara o encarou, havia mais? - Snape alegou que Flint estava sendo perseguido de alguma forma… já que essa era a segunda vez que ele era… bem você sabe incriminado, e para não tornar as coisas piores para ele… Snape decidiu o afastar, como se isso soasse de forma protetiva é claro, "medidas de segurança" - Draco sinalizou com as mãos zombando da sua última afirmação - Sonserinos defendem Sonserinos… os pais de Flint concordaram e agradeceram Snape prontamente, mas Flint me parece bastante arrasado com os seus novos arranjos, Quadribol era a sua vida aqui e ele se doava pelo time, ainda mais por que ele tinha pretensões de se tornar um jogador oficial no futuro e isso dificulta um pouco as coisas - Draco concluiu - uma pena… não acha? - ele estava sendo malicioso.

—Espera… - Shara estava processando aquilo tudo… - alguém que ninguém sabe quem, consegue acessar o armário de vassouras e azarar justamente a vassoura de Flint, do capitão e então ele quase morre ao usa-la… e o professor Snape o afasta por… pura precaução - ela disse... isso soava suspeito - mas se não foi você Draco, que outro aluno faria? - ela perguntou - sobre a vassoura me refiro… já que teria que ser algo bem planejado…

—Não acredito que tenha sido um aluno Shara – Draco afirmou e Shara paralisou... Merlin, era óbvio até… - não - ela exclamou.

—Sim – Draco sinalizou, confirmando suas suspeitas - Eu acredito que o responsável pelo incidente tenha sido o professor Snape - Draco disse sombriamente – Apenas considere Shara, ninguém vai lhe atribuir a culpa, até por que não seria sustentável prova-la, e quem em sã consciência faria isso não é mesmo? E considerando o que aconteceu com você... ao seu gato, penso que ele planejou isso muito bem... e que está apenas esperando o momento certo, para se vingar por tudo o que Flint te fez... achei genioso de certa forma… na verdade ardiloso e sutil, algo bem Sonserino – Shara sentiu um calafrio percorrer sua espinha... Fazia sentido, e as palavras de Draco a atingiram como um soco no estômago... Embora ele parecesse de certa forma orgulhoso com aquela trama, ela lutava para processar a ideia de que seu próprio pai pudesse ser responsável por um ato tão cruel e potencialmente mortal, com um de seus alunos... mesmo que fosse por vingança a algo feito a ela, ele a havia feito jurar, e ele havia prometido se vingar, sim ele havia aguardado o momento certo... Draco estava certo, era genioso sim, assim como era igualmente terrível.

—Não pode ser... - ela murmurou, sentindo um nó se formar em sua garganta, o que mais ele seria capaz de fazer? - ele não faria algo assim, faria? - Ela olhou para Draco, buscando por uma confirmação de que tudo aquilo era apenas um mal-entendido, mesmo sabendo que não era.

—Você tem alguma dúvida? – ele arqueou a sobrancelha... suspirando, sua expressão ficando séria – Olha, eu sei que parece ruim... mas ele está apenas te defendendo... todas as evidências apontam nessa direção... achei que fosse receber isso melhor – agora ele parecia confuso.

—Ele quase matou Flint... e se ele tivesse morrido? – Shara perguntou horrorizada... 

—Não é como se ele nunca tivesse matado alguém antes – Draco disse, se a intenção era soar de forma natural, para que ela recebesse aquilo melhor, obviamente não havia funcionado…

—Matar… matar é errado – ela o encarou chocada – como pode dizer isso? Draco… e Flint por pior que tenha sido… ele ainda é apenas um estudante… isso soa completamente desajustado… meu pai, ele é o professor dele, deveria protegê-lo… discipliná-lo ok… Mas isso… consegue ver como está errado? - sim, ela não podia ignorar o passado do tão temido e com razão professor Snape, um comensal… ela sabia, contudo ele era um docente agora e por alguma razão… talvez porque Shara desejasse vê-lo assim, ela achou que ele pudesse simplesmente ter mudado.

—Ele… Flint, matou seu gato primeiro – A afirmação de Draco ecoou em sua mente, deixando-a ainda mais perturbada... ele não deveria ter feito o que fez, mas ainda assim não era a mesma coisa, Shara queria acreditar que seu pai entendia isso e que era incapaz de cometer tais atos, mas uma parte dela sabia que ela estava apenas se iludindo até porque ele nunca havia negado suas origens ou mentido sobre elas, ele era capaz de qualquer coisa e isso a assustava… e por mais que ela soubesse disso não de agora, era como se uma sombra do passado sombrio dele se manifestasse diante dela, desafiando todas as suas crenças sobre ele... suas mãos tremiam levemente enquanto tentava processar a gravidade daquilo... "Mas... isso não justifica..." ela lutava para neutralizar aquilo e encontrar as palavras certas… ciente de que seu pai, pudesse ser mesmo tão impiedoso.

—Sei que você não quer acreditar nisso, mas às vezes, as ações que tomamos… por pior que pareçam ser, isso em nome daqueles a quem amamos se fazem necessárias… e provam o quão longe podemos ir para defendê-los - disse Draco, tentando transmitir uma visão diferente da situação… Shara processou aquela colocação, sentindo um nó se formar em sua garganta. Necessárias? Ele havia dito necessárias? Draco aparentemente achava aquilo tudo muito aceitável… Shara era de fato a estranha no ninho… não havia como mudar isso.

—Foi seu pai que te ensinou isso também? A pensar dessa maneira?... Que por amor vale tudo... inclusive matar… - ela perguntou, incrédula. Como ele podia achar algo assim certo? 

—Não – ele respondeu prontamente – meu pai não... – ele parou, por um momento – ele não se importa, portanto ele não mataria em defesa de alguém... além de si mesmo e de suas convicções é claro – ele concluiu com frieza.

—Draco... independente das circunstâncias... é errado - ela disse, sua voz agora mais calma, porém firme. Já não estava mais com raiva. Aquela era a maneira como ele havia crescido, ela se lembrou da mãe dele pedindo para que ela o ajudasse a tomar boas escolhas, certamente ciente que pelo seu histórico, ele não as faria - Eu... acho que o amor pode nos proporcionar outras maneiras de proteger aqueles a quem amamos - Shara disse, e ele a olhou confuso - Bem... estar presente, ouvir... quem sabe um abraço, afeto... são por vezes as melhores alternativas... nada além disso precisa ser feito... acredite - ela disse de forma verdadeira. Não, ela não queria que as pessoas saíssem correndo e decidissem matar alguém a cada vez que ela reclamasse de algo...

Draco se aproximou dela lentamente, seus olhos azuis encontrando os dela em um silencioso entendimento. Shara sentiu seu coração acelerar enquanto ele se aproximava, uma mistura de ansiedade e curiosidade se instalando em seu peito. Era difícil dizer o que ele estava pensando, talvez a achasse estúpida demais por pensar dessa maneira, ingênua talvez... nada sonserino com toda certeza.

 _Você está certa, Shara - ele disse, sua voz suavizando de forma sincera - Eu nunca vi as coisas dessa maneira antes... Sempre pensei que proteger alguém significasse... agir de maneira decisiva, mesmo que isso significasse cruzar certas linhas... - Ele parou por um momento, como se estivesse ponderando sobre suas próprias convicções - Mas é isso... é isso que você esperaria nesse caso... Eu posso ver - Não parecia ser uma pergunta, apenas uma afirmação enquanto ele processava tudo aquilo, mesmo assim, ela assentiu, reconhecendo a complexidade do que estavam discutindo -... Mas e se isso não for o suficiente? E se o perigo for tão iminente que apenas medidas extremas possam garantir a segurança daqueles a quem amamos? – ele perguntou… Shara o olhou nos olhos, vendo mais uma vez a sinceridade e a preocupação refletidas neles…. Sim ela podia compreender a luta interna que ele travava, entre as convicções que havia aprendido e a nova perspectiva que ela estava oferecendo... bem talvez ela não fosse tão ruim assim em ajudar, e nem ele tão ruim em ouvir e acatar.

—É uma questão difícil, Draco... - ela começou, ela não tinha todas as respostas... - Entendo a necessidade de proteger aqueles que amamos a qualquer custo, mas acredito que sempre haverá alternativas... bem às vezes, a solução mais corajosa não é necessariamente a mais violenta – era isso que ela acreditava, ela estava sendo honesta ali… 

—Você, é tão... diferente... - Shara ficou momentaneamente sem palavras... bem talvez ela fosse mesmo diferente, ela vinha de uma realidade completamente diferente da dele e era estranho pensar nisso por essa perspectiva, mas ela podia ver a vulnerabilidade nos olhos dele, uma faceta que raramente ele revelava… e um calor reconfortante começou a se espalhar dentro dela, uma sensação de conexão genuína que transcendia as diferenças entre eles... ele não era como o pai… ela estava cada vez mais convicta disso.

Shara estava completamente submersa naqueles pensamentos, que mal pode notar que ele estava se aproximando ainda mais dela, quando ela sentiu o rosto dele se aproximando do seu com uma suavidade inesperada. Shara sentiu um arrepio percorrer sua espinha, seu coração batendo descompassado no peito. Antes que pudesse processar completamente o que estava acontecendo, Draco surpreendeu-a, depositando um breve selinho em seus lábios. Foi um gesto delicado e inesperado, deixando Shara sem palavras por um momento. Ela piscou, tentando assimilar a súbita intimidade entre eles... aquele beijo havia sido diferente dos anteriores… era de alguma forma, ainda mais intenso… mesmo sendo algo tão simples… Draco recuou um pouco, olhando para ela com ternura.

—Obrigado, Shara - ele disse suavemente, uma nota de sinceridade em sua voz - Por me fazer enxergar as coisas de uma maneira diferente... Você é verdadeiramente especial - A confusão se espalhou pelo rosto dela enquanto ela tentava entender as palavras de Draco… era isso que ele queria dizer com ser diferente? Ele a achava mesmo especial? Ela não estava acostumada com esse tipo de interação, e suas emoções estavam em tumulto e antes que ela pudesse formular uma resposta, Draco deu um sorriso terno e se afastou, sim aquele breve momento de intimidade deixou-a atordoada, fazendo-a questionar suas próprias emoções e o que realmente significava para ela tudo aquilo.

—Draco – ela chamou antes que ele pudesse descer as escadas e fosse tarde demais, ele se virou...

—A redação... – ela disse – aquilo foi incrível – seu coração acelerou... – verdadeiramente incrível… parabéns - ela o parabenizou, havia muito mais para ser dito, quem sabe em outra ocasião.

—Acho... – ele a olhou de uma maneira profunda – que minha fonte de inspiração, era muito boa – ele sorriu dessa vez maliciosamente então ele sumiu escada abaixo, Shara colocou as mãos nos lábios, confusa... o que havia sido aquilo? Shara se questionou sobre o significado por trás daquele gesto inesperado, sobre o que ele realmente sentia por ela... será que ele estava apenas agradecido por sua ajuda e amizade, ou havia algo mais, será que Draco via nela algo além de uma amiga? E afinal por que ela estava preocupada com isso?... Não… aquela preocupação não deveria sequer estar em seu radar.

Enquanto se debatia com esses questionamentos, uma verdade começou a se materializar em sua mente, clara e inegável. Shara percebeu que, ao longo do tempo, e depois de tudo e de todos os momentos que eles haviam tido juntos, das conversas e de algumas parcerias… que seus sentimentos por Draco tinham crescido além da amizade… ela se importava… de uma forma diferente com ele do que se importava com seus demais amigos, e esse era o real significado do frio na barriga que ela sentia quando o via, e toda vez que ele se aproximava… Por merlin… não podia ser… mas ela estava mesmo apaixonada por Draco Malfoy… Shara fechou os olhos, aquilo não podia estar acontecendo.

E foi ali naquele lugar… na torre de astronomia que ela se deu conta daquela verdade pela primeira vez… sim ela nutria sentimentos por ele e foi assim que ela se deu conta também do tamanho do problema que ela os havia colocado… enquanto ela imaginava as consequências devastadoras disso, afinal se o seu pai descobrisse aquilo, seria imensamente ruim… podia ter sido qualquer um, qualquer outro garoto da escola, mas era justamente ele, Draco... seu pai o detestava, e a proximidade com ele já havia sido motivo de inúmeras discussões entre eles anteriormente... Ainda mais agora, que ela sabia até onde Severo Snape o seu pai era capaz de ir para protegê-la, e isso não soava bem... nada bem, seu pai não acreditava em qualquer redenção para Draco, ele não acreditava que algo de bom pudesse vir de alguém com o sobrenome Malfoy... Ela não podia julgá-lo sobre isso, Lucius era mesmo terrível… mas Draco não era como ele… contudo se Snape tivesse uma lista, Draco estaria incluído nela, agora no topo da linha… sim Shara até conseguia ler a manchete do profeta diário anunciando a notícia “então o herdeiro Malfoy caiu no lago acidentalmente e morreu” ou “acordou morto sem motivo aparente” para o bem dele, ela teria que manter seus sentimentos encobertos e completamente escondidos isso se ela quisesse ver Draco respirando, e não ela não estava exagerando ali… Flint era a prova que ela precisava e ele havia sobrevivido por pura sorte... talvez se afastar de Draco fosse de fato a melhor alternativa, quem sabe aquilo que ela sentia por ele passasse com o tempo, sim ela teria que fazer passar... Aquilo não era amor… não podia ser… afinal não se podia amar com a sua idade, podia? De qualquer maneira estava errado e ela sabia que precisava consertar.

 


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Notas finais do capítulo

Começamos o capítulo com um Snape um tanto quanto chocado com aquilo que descobre sobre Draco, sobre a redação e sobre ele não ser exatamente como Severo achava que ele fosse... Embora não que isso mude algo, já que Snape está convicto de que Draco será tão ou até mesmo pior que o próprio pai num futuro não tão distante assim (e honestamente não sei se pensaria diferente dele aqui).

E num segundo momento temos uma conversa pra lá de interessante entre Draco e Shara...

Enfim a ideia não é aprofundar num relacionamento entre os dois, até pq eles são bastante novos ainda, mas não queria encerrar esse ano (Câmara Secreta no caso)... Sem colocar os personagens em algum patamar significativo, e sim é amor, e sim é recíproco genteeee (oinnnn) e queria que eles estivessem devidamente conscientes disso, e todos definitivamente estão, até pq tô cheia de spin off deles no futuro dramas adolescentes e tudo mais, não se iludam que não é tudo flores e não será.

Obviamente que Shara sequer suspeita que seu pai saiba sobre os sentimentos de Draco por ela, afinal ela ainda não sabe sobre o encantamento do piano assim como TB não sabe que o ganhou... aquele piano caríssimo (e quem achou que era isso que Draco tinha vindo contar? Hahaha no primeiro esboço era, mas mudança de planos...) Afinal tinha a vingança do Marcus Flint... (Que não, não estava esquecida) apenas esperando a temporada de quadribol recomeçar hahaha tinha que ser naquilo que ele mais gostava né... Afinal ele tinha que sentir a perda.

Mas o garoto meio que quase morreu ali e isso traz a tona, o lado do Snape que Shara finge não existir... Ou que ela não quer ver... Alguma dúvida de que Snape mataria por ela? (Sério não tenho nenhuma) pode soar frio... Pode, mas ele nunca negou ser quem era e vamos lá né gente, é errado é... Mas ele não é um personagem exatamente "bom" e muito menos politicamente correto hahaha e ainda assim ele é perfeito... Mas esse é o modo comensal ON (do tipo não mecham com minha filha que já vimos antes) e achei a vingança bem elaborada e sutil...

E o beijinho tão cheio de significados desses dois
E Shara percebendo que Draco poderia ser o próximo da lista do pai é ótimo hahaha (e convenhamos ela está certa)

E aguardem o próximo capítulo com direito a Basilisco e tudo mais haha

Obrigaduuuuuu



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