Lobo em pele de cordeiro escrita por Madoro to Amesu


Capítulo 1
Nosso novo irmão


Notas iniciais do capítulo

Faz tempo que eu não escrevo um texto mais comprido, mas essa história pedia por mais detalhamento, algo que eu não conseguiria reproduzir com um textinho de 100 a 200 palavras.

Dessa vez, eu me inspirei na expressão e fábula do "Lobo em pele de cordeiro" e fiz a minha própria versão do conto. Contudo, o texto acabou saindo como algo muito maior que uma simples releitura da história. No geral, foi algo bem divertido de se escrever. Espero ansiosamente pelo próximo desafio.

Então, sem mais delongas, boa leitura!



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Éramos três ingênuos irmãos ovinos que estavam enjoados com o próprio lar. A cada novo raiar do sol sobre o largo e aberto campo, éramos agraciados com a mesma vista do esverdeado pasto, além das neblinas a cobrir a imensidão azul do céu por completo. Nossos dias, apesar de pacíficos sempre haviam sido monótonos até então, de forma que por vezes desejávamos que algo inesperado acontecesse para mudar nossa rotina entediante.

~*~

Certa noite, eu, o caçula, notei algo incomum pairando na atmosfera enquanto estava a contemplar o céu em sua profunda e misteriosa obscuridade. As nuvens pareciam falar comigo. Elas alertavam para termos cuidado com o que desejamos, pois o prenúncio de uma grande desgraça estava prestes a nos suceder. 

Estando completamente desacreditado no que eu estava em tese testemunhando, decidi por me recolher e ignorar por completo aquele delírio mental. Afinal de contas, as nuvens não eram sequer capazes de falar! 

~*~

Na manhã seguinte, enquanto estavamos a pastar, como de costume e, de súbito, nossa atenção havia se voltado para um chamado peculiar a ecoar mais distante do campo aberto onde nos situavamos. Fomos então surpreendidos por um lobo cinzento que saltou por detrás dos arbustos que o escondiam, sua aura parecia emitir uma vibração deveras sombria à atmosfera. 

— Minhas queridas ovelhinhas, venham se divertir comigo! – Chamara o carnívoro.

Em meio à apreensão, todos ficamos em silêncio. Como ele ousava invadir nossa propriedade e nos chamar para brincar tão inescrupulosamente? Sua mentira era descarada. 

No entanto, as próximas palavras proferidas pelo predador nos pegaram desprevenidos:

— Tudo bem, eu entendo que vocês desconfiem de mim, estou acostumado com esse tipo de tratamento. Mas a verdade é que me arrependo tanto de devorá-los, meus queridos amigos. Hoje venho em paz, sou um lobo diferente e só peço uma chance para poder provar através de atitudes que minhas intenções são as mais puras. – Suplicara o lobo em tom de remorso. Suas palavras pareciam sinceras e carregadas de dor.

Depois de ouvi-lo, automaticamente sentimos o peso da culpa por o termos julgado injustamente apenas por sua aparência, pois até mesmo alguém como ele era digno de perdão. 

— Pois bem, estamos convencidos. O que você sugere que todos nós façamos juntos agora? - Perguntara meu irmão mais velho. 

— Que tal um jogo de "caça ao tesouro"? Sabiam que além desta longa e densa floresta existem pastagens que são muito ricas e, sem sombra de dúvida, superiores às terras aqui?  – Retrucou o lobo. – Já que eu conheço o caminho, permita-me guiá-los através da floresta. Eu estarei bem atrás de vocês para evitar que sejam atacados pelas costas. – Oferecera, em seguida.

Era espantoso constatar o quão atencioso ele poderia ser. Nós realmente havíamos o julgado mal. 

 Já nos imaginava brincando juntos em um futuro muito próximo, em meio aos novos e ricos pastos longínquos. Pedimos por mudanças e ganhamos um novo irmão. O que mais poderíamos querer?

~*~

Todos estavam de acordo e assim, começamos nossa caminhada pela floresta com o lobo nos protegendo como prometido. Estávamos ficando cada vez mais ansiosos e animados para chegar ao outro lado. No entanto, a cada passo que davamos, a floresta parecia escurecer ainda mais. Não sabíamos o caminho de volta, nem era nosso desejo estragar os planos que nosso novo irmão havia considerado com tanto carinho.

Distraído em meio aos meus pensamentos, de súbito eu estava completamente sozinho e cercado pelo breu. 

 "Onde estariam meus irmãos?" Pensei comigo mesmo temendo que algo os acontecesse. 

Quase como se eu tivesse previsto, dois gritos agonizantes podiam ser ouvidos não muito distantes dali.

 "Estas são as vozes dos meus irmãos! eles... Estão em perigo! Mas por que o lobo não os ajudou?" A resposta para essa minha pergunta tola veio milésimos de segundos depois de eu ter clamado por eles.

Senti minha jugular sendo forçada contra o chão por duas patas com garras extremamente afiadas. Perto do meu abdômen, presas sedentas por minha carne rasgaram minha pele e minhas entranhas. Em minha morte iminente, consegui reunir forças suficientes para murmurar:

— Por...quê? Você era...como um irmão para nós...

— O sucesso de um predador depende do quão bem ele conhece suas presas. Eu sempre estive ali, à espreita de vocês três. – Disse o lobo friamente.

— Não pode ser...nós...confiamos...em...você...

O predador, ao ver o pequeno carneiro agonizar, rasgou as veias em seu pescoço fazendo com que perecesse em poucos segundos de hemorragia fatal. Talvez tenha sido seu primeiro e único ato de misericórdia para com sua presa.

~*~

Na verdade, as ovelhas tinham tudo para viverem em fartura, mas tão cegas de ganância estavam que caíram na lábia do lobo faminto e em retribuição, pagaram amargamente pelo seu erro.

Infelizmente, aprendemos a valorizar o que nos é mais precioso apenas quando perdemos tudo, inclusive nossas próprias vidas, restando nada mais que o sabor amargo do arrependimento pelas escolhas erradas.

Então, agora, eu vos pergunto: Quem são os verdadeiros lobos dessa história? 


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