Jimin estava assustado com a atitude de Jungkook, ele nunca tinha agido daquela forma, nunca tinha tratado ele como um mero objeto. Começou a se questionar se Yoongi tinha razão a respeito de Jungkook. 

— Kookie? — Chamou baixinho, receoso.

— Fala — Disse com frieza. 

— Pra falar a verdade eu tô com um pouquinho de medo.

— Medo de que?

— É que eu nunca fiz isso antes.

— Como assim? — Jungkook se afastou, sem conseguir prosseguir com seu plano. 

— É a minha primeira vez. Eu to com um pouco de medo mas acho que é normal né? 

Jungkook o olhou e desviou o olhar, Jimin parecia aflito mas mesmo assim estava disposto a fazer tudo o que ele pedisse. Entendia porque Yoongi era tão protetor com ele. Se quisesse de fato fazer algo com Jimin não seria difícil, já havia conquistado sua confiança, mas não conseguia prosseguir com o plano. Por mais que se esforçasse, não conseguia agir como um escroto para fazer Jimin odiá-lo. 

Sabia o que estava em jogo, fazer Jimin se afastar era a melhor decisão. O único problema era que não conseguia tratar Jimin de forma tão cruel. Só de imaginar Jimin chorando, seu coração doía. Mas era melhor ver Jimin sofrer uma desilusão amorosa e odiá-lo, do que ter vida em risco. Mesmo diante desse fato tão importante, não era fácil tratar mal alguém que você tanto amava. 

— Jimin, me desculpa, eu não posso fazer isso com você.

— Por que não? É por que eu disse que estou com medo? 

— Jimin, é a sua primeira vez, isso não está certo. 

— Kookie, não tem problema, eu quero. 

— Não Jimin, sua primeira vez precisa ser com alguém especial pra você, alguém que você ama e que realmente te ame.

— Mas, esse alguém é você, Kookie — Jimin sentiu seus olhos marejar, mas tentou engolir a vontade de chorar — Você disse pra eu fazer isso com alguém que me ame de verdade, isso significa que você não me ama?

Aquela pergunta despedaçou Jungkook, mas ele tinha que seguir com seu plano, precisava deixar seu coração e suas emoções de lado, aquilo era para o bem de Jimin. Nunca deveria ter se envolvido emocionalmente com ele. 

— Não Jimin, eu não te amo. Desde o começo eu só queria sexo, nunca tive o mínimo interesse em namorar com você.

Os olhos de Jimin se encheram de lágrimas, transbordando de tristeza e dor. Ele não conseguiu mais conter as emoções que o inundavam, e as palavras cruéis que ouviu fizeram seu coração sangrar, dilacerando sua alma.

— Por que está me contando isso ao invés de ter me usado como bem queria? — Perguntou Jimin, esperançoso de que tudo aquilo fosse mentira. 

— Não confunda as coisas, Jimin. Eu sou uma pessoa horrível, mas não tanto ao ponto de arruinar sua primeira vez. Só não queria que fosse com alguém que não liga pra você, com alguém que pensa em você apenas como uma fonte pra satisfazer seus desejos.

— É assim que você me vê? — Jimin soluçou um choro contido. 

— Sim, é assim que eu te vejo. Só sinto algo carnal por você. Nunca vou te amar — Aquelas palavras doíam em Jungkook tanto quanto em Jimin. 

— Eu te odeio, Jungkook. Te odeio mais do que tudo. 

Jimin o empurrou com força, levantando-se aos prantos. As lágrimas escorriam por seu rosto, turvando sua visão e engasgando sua voz. Com um misto de tristeza e raiva, abriu a porta para partir, sem sequer querer encarar o rosto de Jungkook novamente. O arrependimento o consumia amargamente, enquanto lamentava ter confiado nele e entregado seu coração sem reservas.

Era madrugada e os ônibus não circulavam mais. Jimin tateou os bolsos à procura do seu celular para ao menos chamar um carro no aplicativo, mas se lembrou que tinha deixado tudo na casa de Taehyung quando Jungkook o levou pro carro dele. Sentou-se na calçada e desabou a chorar.

— Não posso voltar lá... Não depois da minha saída dramática. Vou ter que dormir na rua. Jungkook eu te odeio — Abraçou as próprias pernas, enterrou a cabeça entre os joelhos e chorou sozinho naquela rua assustadora e escura.

Sentiu leves batidinhas em sua cabeça e olhou para cima, Jungkook o encarava com uma expressão séria.

— Jimin, entre no carro, vou levá-lo pra sua casa. Eu sei que suas coisas ficaram na casa do Tae, não vou deixá-lo aqui sozinho, é perigoso.

— E desde quando você se importa comigo? Você não liga pra mim, sou só uma fonte pra satisfazer seus desejos. Você nunca vai me amar — Jimin chorava tanto que Jungkook se segurou para não abraçá-lo e dizer que todas aquelas palavras cruéis que tinha dito eram mentira. Queria dizer o quanto o amava e o quanto se importava com ele. 

— Que bom que você entendeu. Mas agora pare de drama e vamos pra casa, não posso deixá-lo aqui, venha — Estendeu a mão.

Jimin segurou a mão de Jungkook, sentindo-se sem opção a não ser acompanhá-lo. Enquanto caminhavam até o carro, ele olhou para as mãos entrelaçadas e deixou lágrimas silenciosas escorrerem pelo seu rosto. Jungkook permanecia em silêncio, evitando qualquer contato visual. Ao chegarem no carro, Jungkook abriu a porta e indicou que Jimin entrasse. Ele obedeceu, colocou o cinto de segurança e lutou para controlar seu choro.

Jungkook sentiu uma dor profunda ao presenciar aquela cena, não esperava que causar tanto sofrimento a Jimin fosse ser tão doloroso para si mesmo. Cada segundo que passava ao lado dele era um desafio para manter seus planos intactos, pois ansiava por abraçá-lo e confortá-lo.

— Jimin, você já é um adulto, pare de chorar — Disse Jungkook, forçando a voz para que não tremesse. Ele sabia que, se Jimin continuasse a chorar daquela forma, seus planos poderiam desmoronar completamente.

Jimin encarou Jungkook com olhos cheios de raiva e optou por ignorá-lo. Virou-se e encostou a cabeça na janela do carro, chorando baixinho até adormecer e permanecer dormindo durante todo o trajeto. Ao chegarem em frente à casa de Jimin, Jungkook decidiu não acordá-lo, temendo que suas lágrimas se intensificassem ainda mais. Com cuidado, ele o pegou no colo e o levou até a porta de sua casa.

Jimin murmurava enquanto dormia, dizendo coisas que eram impossíveis de compreender. No entanto, Jungkook conseguiu captar claramente quando ele balbuciou que o amava e pediu para que não o deixasse. Seu nariz estava vermelho e seus olhos inchados. Jungkook suspirou tristemente ao vê-lo naquela condição e ainda mais triste por saber que ele próprio era a causa de tudo aquilo. Tocou a campainha e aguardou pacientemente até que a Senhora Park abrisse a porta. Explicou que Jimin havia bebido demais e, por isso, estava profundamente adormecido. Com cuidado, Jungkook o levou para seu quarto e o colocou na cama. Em seguida, cobriu-o com o cobertor e beijou delicadamente sua testa, observando o seu rosto triste. Em um sussurro, ele disse ao pé do seu ouvido:

— Jimin, eu te amo... mas por favor, me esqueça. Não posso permitir que meu pai faça mal a você.

...

Yoongi acordou com uma leve sensação de confusão, sua cabeça latejando. Abriu os olhos lentamente e percebeu que estava no quarto de Taehyung. Seu primeiro instinto foi verificar se ainda estava vestido, e um suspiro aliviado escapou de seus lábios ao constatar que sim. Aparentemente, nada havia acontecido. Levantou-se com passos cautelosos e saiu do quarto. Ao adentrar a sala, deparou-se com Taehyung dormindo no sofá, encolhido e visivelmente sentindo frio. Pelo barulho, a festa ainda rolava no andar de baixo, mas Taehyung estava ali, esperando para ver se Yoongi estava bem. 

— Tae? — Sussurrou baixinho mas ele não respondeu, estava dormindo profundamente. Se sentou ao seu lado e tentou acordá-lo novamente. Taehyung o puxou para que ele se deitasse e o abraçou. 

— Podemos ficar assim por cinco minutos? — Perguntou Taehyung sonolento — Preciso disso pra me recarregar — Você está bem?

— Não sei ao certo, mas to vivo — Yoongi ficou imóvel, mal conseguia respirar. O abraço de Taehyung apesar de reconfortante, o deixava um tanto apreensivo — Tae, como eu vim parar aqui? Me lembro de estar com o Jimin e tudo se apagou.

— Quando eu entender o que aconteceu juro que te explico.

— Cadê o Jimin?

— Jungkook o levou pra casa

— Aquele filho da puta — Yoongi ia se levantar mas Taehyung o abraçou novamente — Yoon, ainda é meu aniversário, fique comigo. Jimin está bem, Jungkook parece ser um babaca mas jamais faria mal a Jimin, confie em mim.

— Assim espero, senão ele será um homem morto. Que horas são?

— Deve ser quase onze da noite. 

— Meu Deus,Tae. Preciso ir embora.

— Dorme comigo hoje? Ainda é meu aniversário.

— Não posso, preciso ir pra casa, senão meus pais me matam. 

Partindo pela rodovia em direção à casa de Yoongi, o silêncio pairava no interior do carro. Taehyung parecia estar distante, um ar de tristeza envolvendo-o. Yoongi lançou-lhe um olhar repleto de ansiedade, sentindo seu coração acelerar. Era o momento de dizer as palavras que havia ensaiado incansavelmente ao longo da semana.

— Tae, você pode encostar o carro?

— Por que?

— Não me questione, encoste o carro — Yoongi costumava ser um pouco rude quando estava timido. 

— Tudo bem, Senhor Marrento. Você que manda.

Taehyung estacionou o carro no estacionamento de um terreno baldio que, um dia, fora uma lanchonete animada. Ele lançou um olhar curioso para Yoongi, ansioso para ouvir o que ele tinha a dizer. O ambiente deserto ao redor proporcionava uma sensação de intimidade e privacidade, criando um cenário perfeito para a conversa que estava prestes a acontecer.

— Diga Yoon. Por que paramos aqui?

— Porque eu quero te dar...

— Eita, assim do nada? Sem um jantar romântico antes? — Taehyung arregalou os olhos fingindo estar chocado mas adorando a ideia. 

— Dar o seu presente de aniversário. Seu idiota. 

— Ah sim, claro. Eu já sabia.

— Na verdade, são dois presentes.

— Dois?

— Sim, um eu vou te dar depois, está embrulhado, deixei em casa. O outro quero te dar agora.

Taehyung procurou com os olhos pra ver se Yoongi tinha algo em suas mãos, mas não tinha nada.

— E onde está o presente?

— Não é algo tangível… como posso explicar? — Yoongi respirou fundo, suas mãos suavam e seu coração estava acelerado, se perguntava por que era tão difícil dizer aquelas simples palavras. 

— Não estou entendendo — Taehyung tombou a cabeça e arqueou as sobrancelhas. 

— Tae… eu quero te dar isso — Yoongi colocou a mão no coração. 

— Sua blusa? 

Yoongi revirou os olhos. 

— Não, seu idiota. Meu coração. 

— Yoon, você… — Taehyung ficou com os olhos rasos d'água.

— Espera. Não fala nada. Deixa eu falar… — Yoongi reuniu toda sua coragem, Taehyung já estava emocionado antes mesmo dele começar a falar —  Tae, hoje eu quero que você saiba o quanto você é especial para mim. Há tanto tempo, carrego essas palavras no meu coração, esperando o momento certo para dizer o que sinto. Eu sempre soube que amar alguém verdadeiramente significava se abrir, se entregar e permitir-se ser vulnerável. E, para ser sincero, essa sempre foi uma tarefa difícil para mim. Mas aqui estou eu, reunindo toda a coragem que tenho, porque você merece ouvir o que carrego em cada batida do meu coração. Eu te amo. Essas três palavras tão pequenas, mas tão poderosas, contêm todo o amor, carinho e admiração que sinto por você. Eu sei que, às vezes, sou desajeitado com minhas palavras e minhas demonstrações de afeto podem parecer tímidas, mas cada gesto, cada olhar e cada toque são uma tentativa sincera de mostrar o quanto você significa para mim. Então, por favor, receba essas palavras como um presente do meu coração. Elas são um reflexo do amor profundo e genuíno que sinto por você. E mesmo que eu não as diga com a frequência que deveria, saiba que a cada respiração, a cada momento que passamos juntos, meu amor por você se fortalece. Obrigado por ser paciente e compreensivo. Obrigado por aceitar e amar todas as partes de mim, mesmo quando eu tenho dificuldade em expressar meus sentimentos — Yoongi sentiu vontade de chorar de felicidade, se sentia leve por expressar tão sinceramente seus sentimentos, Taehyung não conseguia falar nada, apenas chorava como uma criança — Kim Taehyung, eu te amo, mais do que as palavras podem descrever.

— Yoon... — Taehyung soluçava, suas palavras interrompidas pelo choro intenso. Yoongi envolveu-o em um abraço acolhedor, acariciando seus cabelos com ternura. Enquanto as lágrimas e risos se misturavam, Yoongi sussurrou repetidamente as palavras que tanto queria expressar: "Eu te amo... eu te amo..." O calor do abraço e as palavras carinhosas preenchiam o coração de Taehyung, fazendo-o sentir-se amado e compreendido como nunca antes.