Pela primeira vez, Hoseok viu o medo nos olhos de Yoongi. Este encolhia-se e tremia, lágrimas incessantes escorrendo pelo seu rosto. Apesar de Hoseok ser forte, Yoongi também era, mas naquele momento, suas forças pareciam ter se esvaído. Era inacreditável que Hoseok, a pessoa em quem mais confiava, pudesse tentar fazer algo assim. Yoongi estava devastado.

Uma dor intensa atravessou o coração de Hoseok. Se o arrependimento tivesse o poder de matar, ele estaria morto. Queria desesperadamente consolar Yoongi, mas o choro dele era uma consequência de seus próprios erros. Tentou tocar o rosto de Yoongi para enxugar suas lágrimas, mas foi afastado por um empurrão brusco.

— Não toque em mim, seu cuzão de merda —Yoongi se levantou da cama, seus pulsos ardiam e estavam vermelhos.

— Yoon, me perdoa… — Hoseok se ajoelhou aos seus pés com os olhos marejados — Por favor, Yoon, me perdoa.

— Se levanta, agora.

— Yoon, por favor, eu não sei o que deu em mim... Me desculpa... Me perdoe.

— Falei pra você se levantar, não vou repetir de novo.

Hoseok se levantou enxugando as lágrimas. Yoongi olhou em seus olhos tentando conter sua raiva. 

— Eu gostava muito de você. Mas olha o que você fez — Mostrou seus braços e pulsos com manchas avermelhadas — Você me machucou... Não só fisicamente, você traiu minha confiança. Eu nunca esperaria isso de você. 

— Yoon — Disse em lágrimas — Por favor me perdoa…

— Não me peça isso, só quero que você esteja bem ciente do mal que tentou me fazer. Bom, é óbvio que já não tem mais clima pra ficar aqui, vou embora.

— Não, Yoon, por favor, fica. Vamos conversar — Pediu com a voz rouca.

— Não, reflita no que você fez — Yoongi pegou o celular para chamar um Uber, afinal, já eram mais de duas da manhã, os ônibus já haviam parado de circular.

— Yoon, deixa eu pelo menos te levar?

— Pelo amor de Deus, não quero ficar perto de você hoje. Não dá pra ver que estou magoado?

Profundamente decepcionado com Hoseok, Yoongi sentia uma atmosfera de desconforto, o clima entre eles tornara-se pesado e insuportável. Pegando sua mochila, Yoongi tomou a decisão de partir sem olhar para trás, nutrindo secretamente a esperança de que, um dia, Hoseok pudesse verdadeiramente se arrepender de suas ações.

...

Naquela tarde, Jimin se preparou com expectativa e ansiedade, sabendo que iria sair novamente com Jungkook. Dessa vez, era Jungkook quem escolhera o local: uma balada. Jimin nunca tinha ido a uma antes, mas tinha consciência de que suas roupas do dia a dia não seriam adequadas para um lugar como aquele. Por isso, decidiu comprar roupas novas.

Após um longo banho, Jimin hidratou os cabelos e começou a se arrumar. Optou por uma calça vermelha justa que realçava seu corpo, uma escolha perfeita para provocar Jungkook. Completou o look com uma camisa branca de manga longa e suspensórios pretos. Para um toque final, penteou os cabelos para trás, dando um ar mais sexy e misterioso. Ao marcar seus olhos amendoados com delineador, Jimin conseguiu um olhar fatal. Quando Jungkook o viu, ficou sem reação, olhando-o dos pés à cabeça, com a boca entreaberta, mostrando sua surpresa diante do novo visual.

— Estou bonito?

— Bonito é pouco, estou até sem palavras. Você está lindo, Jiminnie.

Abriu a porta do carro para que ele entrasse e seguiram caminho ouvindo música e conversando animadamente. Quando chegaram ao local, os olhos de Jimin brilharam com tantas luzes. Porém, a fila enorme o assustou.

— Acho que vamos ficar a noite inteira nessa fila.

— Meu caro Jimin, esqueceu que está comigo? — Pegou sua mão e entrou no clube sem precisar passar pela fila quilométrica. Os seguranças o chamaram pelo nome e deram boas vindas.

“Jungkook deve vir muito nesse lugar... com outros” — Uma certa tristeza lhe afligiu —

“Não posso pensar nessas bobagens agora, afinal de contas é comigo que ele está essa noite”.

Toda a tristeza de Jimin evaporou ao deparar-se com a pista de dança. Ele amava dançar, mas até então, limitava-se a fazer isso em casa, sozinho. Nunca havia experimentado dançar na frente de outras pessoas. Jungkook percebeu o olhar ansioso de Jimin em direção à pista de dança.

— Quer dançar comigo?

— Eu sou um pouco tímido...

— Vem — Jungkook puxou sua mão e se enfiou no meio da multidão que dançava loucamente.

Jimin o observava e imitava seus movimentos curtos e simples. Jungkook não era exatamente uma máquina de dança, mas também não passava vergonha. 

Conforme a música foi tocando, Jimin começou a se soltar mais, seus movimentos que antes eram tímidos agora estavam provocantes, o que arrancava alguns olhares desejosos dos rapazes presentes ali, Jungkook os encarou, queria deixar bem claro que Jimin estava com ele, o que era bem óbvio, já que muitas vezes Jimin o puxava para ficarem com os rostos colados. Jimin queria que Jungkook sentisse vontade de beijá-lo, e estava dando certo. Ficou de costas para ele e o provocou ainda mais.

— Jimin, não dá, preciso beber alguma coisa, tô queimando. Espere aqui, vou pegar algumas bebidas e já volto.

Jimin assentiu e continuou dançando. Assim que Jungkook saiu, um rapaz se aproximou.

— Oi, você é o rapaz que está com Jungkook?

— Sim, sou eu.

— Ele pediu para que você me acompanhasse.

Jimin sentiu uma leve estranheza, mas decidiu segui-lo. Eles deixaram o clube para trás e entraram numa área posterior do estabelecimento, adentrando um beco escuro.

— Tem certeza que o Jungkook está aqui?

O rapaz não o respondeu, empurrou Jimin com força contra a parede. Jimin tentou gritar mas ele tapou sua boca violentamente.

— Quietinho, quietinho. Eu sei que você quer ser fodido, dançando daquele jeito e chamando a atenção de todos.

Jimin se debateu, mas o rapaz era forte e robusto, o dominou com facilidade. Desesperado, o coração de Jimin acelerou e ele se debateu com ainda mais intensidade. O homem, perdendo a paciência, desferiu um soco violento em sua boca, fazendo seus lábios sangrarem. Jimin chorou de medo, chamando por Jungkook, e suas preces foram atendidas em um instante.

Com violência, Jungkook chegou a tempo de evitar o pior e atacou o agressor com um soco poderoso, como se estivesse possuído por uma fúria incontrolável. Se debruçou sobre o homem e continuou golpeando-o, suas mãos sangrando no processo. Enquanto Jimin chorava, implorando por sua ajuda, ele permaneceu caído no chão, temendo que Jungkook pudesse ir além.

— Kookie...

Jungkook largou o rapaz desmaiado e ensanguentado no chão e correu em direção a Jimin ao ver que ele também sangrava.

— Jimin... — Examinou seu rosto e o pegou no colo — O que fizeram com você? Me desculpa, eu não devia ter saído do seu lado — Jungkook o abraçou apertado e pela primeira vez na vida, chorou por alguém.

Jimin soluçou, lágrimas escorrendo por seu rosto. 

— Eu estava com tanto medo — Disse ele, sua voz embargada — Obrigado por ter chegado a tempo.

Jungkook tocou suavemente a fissura em seus lábios, que sangravam, e o beijou com ternura, cuidando para não causar mais dor. Sentiu o gosto de seu sangue e abraçou Jimin firmemente, deixando suas próprias lágrimas caírem, sentindo-se impotente por ter permitido que Jimin fosse machucado.

— Jimin, eu prometo que nunca mais vou te deixar sozinho — Sussurrou Jungkook com voz cheia de determinação — Vou cuidar de você, não precisa mais ter medo.

Não houve resposta. Jimin desmaiou em seus braços.

...

Tornara-se um hábito carregar Jimin inconsciente para sua casa. Ao chegar no subsolo de seu apartamento, Jungkook o carregou em seus braços, mantendo um olhar atento e cuidadoso, certificando-se de não machucá-lo durante o percurso. Ele o colocou suavemente na cama e o cobriu com um cobertor. Jimin adormeceu profundamente, envolto em conforto.

Jungkook foi para o banheiro tomar um banho, e enquanto se olhava no espelho, passou os dedos pelos lábios, relembrando o beijo que havia compartilhado com Jimin. Não podia mais negar seus sentimentos, estava apaixonado por ele. Desejava protegê-lo e mantê-lo seguro.

Após o banho, Jungkook deitou-se ao lado de Jimin e foi recebido com um abraço carinhoso, que aqueceu seu corpo e seu coração. Um sorriso iluminou seu rosto, entregando-se por completo a esse novo amor.

— Acordou? Volte a dormir, amanhã te levo pra casa, você deve estar cansado. 

— Kookie... — Chamou manhoso — Você promete que não vai embora quando eu acordar? Promete que não vai me deixar sozinho?

Jimin tinha a incrível habilidade de fazer o coração de Jungkook disparar com poucas palavras e um sorriso. 

— Sim Jiminnie, não vou mais te deixar sozinho — Jungkook beijou sua testa. 

...

Acordaram no outro dia, de frente um pro outro, ambos se olhando e sorrindo.

— Bom dia, Jiminnie.

— Bom dia, Kookie.

— Vamos tomar café juntos?

— Sim! — Disse animado, Jimin sentia como se fossem recém casados.

Passaram a tarde inteira conversando e assistindo aos doramas que Jimin tanto adorava. Jungkook nunca faria isso com qualquer outra pessoa, mas com Jimin era diferente. Sentia-se motivado a experimentar coisas novas e até mesmo a se envolver em momentos constrangedores típicos de casais apaixonados, mesmo que eles ainda não fossem oficialmente um casal.

— Kookie, vou fazer algo gostoso pra você comer, é um pagamento por ser o meu herói.

— Sabe que não precisa me pagar, fiz isso porque gosto de você e me preocupo com seu bem estar. Mas fico feliz pelo gesto, não sabia que você gostava de cozinhar.

— Gosto de cozinhar e se for pra você é melhor ainda — Jimin fez carinho no cabelo de Jungkook, o que o deixou feliz e sorrindo como um bobo. 

Enquanto Jimin estava ocupado na cozinha, Jungkook o admirava atentamente. Perdido em pensamentos, ele começou a fantasiar, mas, surpreendentemente, não eram fantasias eróticas como costumava ter no passado. Em vez disso, ele imaginava como seria viver ao lado de Jimin: trabalhar e estudar juntos, voltar para casa juntos, tomar banho juntos, compartilhar momentos íntimos, cozinhar juntos e desfrutar de jantares românticos em sua própria casinha. Ele começou a desejar essa vida simples e feliz ao lado de Jimin.

Quando a comida finalmente ficou pronta, Jungkook sorriu e arregalou os olhos ao experimentar o sabor delicioso que deslizava em sua boca.

— Jimin, você cozinha muito bem — Disse com a boca cheia, adorava bife, ainda mais tão saboroso, suculento e macio.

— Calma, Kookie, tem bastante — Jimin sorriu, feliz por ele ter gostado de sua comida. 

Jungkook recebeu uma mensagem que não lhe trouxe boas notícias, e seu rosto imediatamente se fechou. Era seu pai o convocando para uma conversa em seu escritório. Sentindo-se um tanto perturbado, Jungkook deixou Jimin em sua casa e seguiu em direção ao escritório. Sabia que não era algo trivial, pois conhecia bem a índole de seu pai, que nunca o chamava sem motivo.

Ao adentrar o escritório, O Sr. Jeon já o aguardava em sua imponente poltrona, com uma expressão séria estampada no rosto.

— Entre Jungkook — Ordenou.

— Sim pai, o que deseja?

— Pai?

— Desculpe, sim Sr. Jeon, o que deseja?

— Não é nenhuma novidade que você é o meu único fracasso. Não é capaz como seu primo. Mas tem algo que quero que faça.

Jungkook olhou para o chão e apertou o punho, tentando controlar suas emoções.

— No mínimo olhe para mim, moleque covarde.

Jungkook ergueu os olhos num misto de raiva e tristeza.

— Você é uma perda de tempo, mas infelizmente tem meu nome, fará o que eu mandar.

— E o que o Senhor deseja que eu faça?

— Negócios Jungkook, negócios. Precisamos de conexões e alianças para aumentar nossa influência e pra isso você se casará com a filha de um CEO milionário.

— Mas pai, eu não...

— CALE A BOCA, IMPRESTÁVEL! Isso não é um pedido, é uma ordem. Esteja preparado, em breve irá conhecer sua noiva.