Jin foi abruptamente despertado às duas da madrugada pelo som estridente do despertador, um alarme que parecia capaz de acordar a vizinhança inteira. Ele esticou o braço e pegou o celular, discando o número de seu pai. Após alguns segundos de tensa espera, a chamada foi finalmente atendida.

— Pai?

— Oi Jin, o que houve pra você estar acordado a essa hora?

— Coloquei o despertador, eu sei que o Senhor está de plantão no hospital, vou ai te ver, faz tempo que não conversamos. Quero tomar um chá ou um café com o senhor.

— Tudo bem Jin, se isso não for te atrapalhar, você precisa acordar cedo amanhã. Se quiser pode vir mais tarde, durma mais um pouco.

— Eu dormi cedo hoje, estou bem.

Jin pegou uma pequena cesta contendo uma garrafa e uma vasilha, em seguida, apanhou as chaves do carro e dirigiu até o hospital. Devido ao horário tardio, as ruas estavam praticamente desertas, sem o tráfego habitual. Ao chegar ao hospital, estacionou o carro e dirigiu-se diretamente para a sala de seu pai.

— Dr. Pai? — Jin bateu na porta e entrou. Seu pai estava estudando algumas chapas de raio-x.

— Jin! — Disse animado e lhe deu um abraço — Venha, entre.

— Trouxe café e um bolo que a mamãe fez ontem a noite.

— E como você está, meu filho?

— Estou bem — Jin ergueu as sobrancelhas. 

— E a faculdade? Está gostando do novo curso?

— Sim sim, é tudo muito interessante.

— Sabe que te apoio em qualquer coisa que quiser fazer, mas quando quiser voltar para a medicina também ficarei muito feliz.

— Obrigado pai.

— E falando em felicidade, como anda a vida amorosa? Você tinha me dito que conheceu alguém interessante.

— Está indo, meio devagar, mas está indo, somos muito amigos, conversamos muito, gostamos da companhia um do outro.

— E você está feliz?

— Só de ficar perto dele eu já me sinto feliz.

— Se você está feliz, eu também estou feliz, mas me apresente a esse rapaz sortudo qualquer dia.

— O senhor será o primeiro a conhecê-lo.

Jin tinha uma relação sólida com seu pai, baseada no respeito às suas escolhas, mesmo quando havia discordância. Durante o café da manhã, compartilharam histórias, conversaram e deram boas risadas. Quando seu pai precisou se retirar para atender uma emergência, Jin se dirigiu ao corredor em direção ao elevador. Algumas dezenas de metros à frente, ele avistou alguém que parecia muito com Yoongi, mas algo estava fora do comum: seus cabelos estavam brancos, usava um sobretudo preto com estilo vitoriano, e o que mais chamou a atenção de Jin foi a presença de uma cicatriz em seu rosto.

“O que Yoongi está fazendo aqui a essas horas? E com essas roupas estranhas?”

Tentou alcançá-lo, mas o elevador fechou.

“Já sei, ele deve ter ido naqueles eventos de animes ou algo do tipo, deve estar fantasiado de algum personagem, depois pergunto pra ele se está tudo bem, melhor não incomodá-lo agora”.

Jin deixou o hospital e retornou para casa para tomar um banho, já que precisava se preparar para ir à faculdade.

...

— Gente, eu tenho uma piada muito boa, vocês vão morrer de rir — Disse Jin, rindo antes mesmo de começar a piada.

— Lá vem — Taehyung revirou os olhos.

— O Jin ri primeiro e depois conta a piada, deveria ser o contrário — Disse Jungkook.

— Tá, escutem essa piada, é muito boa...

— Deixem ele contar a piada — Disse Hoseok — Vá em frente Jin.

— Qual a diferença entre um tijolo e um gato?

Eles olharam curiosos para Jin, tentando descobrir a resposta certa, já que obviamente tinham várias.

— Não sei Jin, qual é? — Perguntou Hoseok.

— É que o gato mia e o tijolo não — Jin caiu na gargalhada sozinho.

Taehyung e Jungkook reviraram os olhos e balançaram a cabeça negativamente, enquanto Hoseok ria apenas para agradá-lo.

— Adoro suas piadas, Jin.

— Obrigado Hobi, você é meu único amigo de verdade. Bom, estou adorando ouvir as gargalhadas de vocês, mas preciso ir pra minha aula, sou um aluno muito aplicado e não posso chegar nem um segundo atrasado. 

...

Ao adentrar a sala de aula, Jin escolheu um lugar na primeira fileira e abriu seu notebook. Admirava Namjoon secretamente, observando-o enquanto ele organizava alguns materiais. O charme do rapaz era avassalador, com seus cabelos loiros penteando para trás e alguns fios teimosos que insistiam em cair sobre sua testa.

“Como pode existir alguém tão perfeito?”— Pensou Jin.

— Bom dia, Jin. 

Seu corpo inteiro congelou quando seus olhares se encontraram. Namjoon exibia um sorriso encantador, acompanhado por covinhas que, na opinião de Jin, deveriam ser ilegais. O professor merecia ser punido por afetar tanto o coração de seu aluno com apenas um sorriso.

— B-bom d-dia, Namjoon — O coração de Jin estava tão acelerado que parecia querer sair pela boca.

Os alunos começaram a entrar, e aquele breve momento em que estavam a sós se acabou muito rápido, para infelicidade de Jin.

— Bom dia turma. Hoje temos um novo aluno.

Todos na sala se voltaram para o aluno que se levantou. Era notavelmente jovem, com um rosto atraente e uma altura impressionante. Fez uma reverência ao professor e sorriu para seus colegas, exibindo seu aparelho e suas charmosas covinhas.

— Esse é Jeongin — Disse Namjoon — Ele estará conosco a partir de agora.

— Bom dia — Disse Jeongin — Podem me chamar de I.N, vim pra somar e espero que possamos nos dar bem. Cuidem de mim, por favor — I.N se sentou e deu uma breve olhada para Yoongi, seus olhares se cruzaram.

“Estranho, sinto que o conheço de algum lugar” — Pensou Yoongi.

— I.N seja muito bem vindo, se precisar de alguma coisa é só me chamar... Agora vamos começar a aula.

Yoongi olhou mais uma vez para Jeongin, e ele o encarava como se o conhecesse de algum lugar.

...

Após o fim da aula, os alunos saíram rapidamente para o intervalo. Jin, por outro lado, guardava suas coisas lentamente, aproveitando cada segundo para admirar Namjoon, que estava ocupado corrigindo algumas provas.

— Jin? — Namjoon o chamou com os olhos ainda colados no papel.

Jin se assustou, pois já estava olhando para ele, não esperava ser chamado. Levantou-se tremendo e dirigiu-se à mesa de Namjoon.

— Sim? Me chamou, Pro?

— Está tudo bem com você, Jin?

— Sim, tudo ótimo, melhor impossível. Mas… por que a pergunta?

— Jin, eu sei que você é muito inteligente, mas não entendo porque não foi muito bem na prova, está prestando atenção nas aulas?

“Não, estou prestando atenção em você” — Pensou Jin. 

— Sim sim, muita atenção… na medida do possível.

— Está com dificuldade em alguma parte da matéria?

— Pra falar a verdade, eu acho que sim.

— Entendo, acontece, olha Jin, você é um dos alunos que mais gosto, se quiser eu posso te ajudar.

— Me ajudar? E como seria isso? Tipo eu ir na sua casa pra você tirar minhas dúvidas? — Os olhos de Jin brilharam.

— Bom, eu estava pensando em fazer isso aqui mesmo — Namjoon riu — Mas não vejo problemas na sua sugestão. Tenho um tempo livre hoje, podemos ir pra minha casa revisar algumas matérias, assim posso te ajudar melhor onde você tem mais dificuldade.

Jin corou.

“Meu Deus! Ele está me chamando para ir na casa dele, quer dizer, eu me convidei, mas não importa”.

— Está tudo bem, Jin? Você está vermelho, está com febre? — Namjoon tocou em sua testa, seus olhares se cruzaram. Jin mal conseguia respirar com aquele toque repentino.

— Não, não, estou bem, só estou com calor, está meio abafado aqui.

“Na verdade eu tô com fogo mesmo”.

— Eu também, Jin.

— Você também? — Perguntou surpreso.

“Será que ele ouviu o que eu pensei?”

— Sim, eu também estou com calor, o ar condicionado quebrou por isso está abafado aqui. Mas voltando às suas aulas extras, quer mesmo que eu te ajude? Caso você não se sinta à vontade comigo, não tem problema, posso pedir pra outro aluno te ajudar e...

— NÃO! — Gritou — Eu quero você!

— Hum?

— Como professor... eu quero você como professor... — Jin forçou uma risadinha.

— Ok, depois do intervalo, terei mais duas aulas, me encontre aqui na sala às dezesseis horas, está bom para você?

— Perfeito!

— Vou me preparar para a próxima aula, nos encontramos às dezesseis então.

Jin assentiu, fez uma reverência e saiu, sentindo seu corpo todo tremer, o coração acelerado e o rosto quente.

"Será que hoje vai rolar alguma coisa entre nós?” — Pensou esperançoso. Estava eufórico, queria contar a notícia para seus amigos.

…

— Kook, ele me chamou pra ir na casa dele, isso só pode significar uma coisa...

— Sexo! 

— Você só pensa nisso, né? Talvez role apenas uma conversa agradável, ou um abraço, ou quem sabe um beijo... — Jin sorriu como um idiota apaixonado. 

— Ou talvez ele só queira te ajudar com a matéria mesmo — Disse Taehyung jogando um balde de água fria em Jin.

— Tae, não estrague o meu momento... vou pra casa me arrumar, seja lá o que for que aconteça, quero estar mais lindo do que já sou, Namjoon não vai resistir a mim.

Foi para o seu carro e dirigiu rapidamente para casa, sabendo que ainda tinha duas horas antes do suposto “encontro”, tempo suficiente para se preparar como havia planejado. Tomou um banho demorado, aproveitando para relaxar e cuidar de todos os detalhes. Passou óleo perfumado em todo o corpo, desejando estar cheiroso e com a pele macia para qualquer eventualidade que surgisse.

No armário, trocou de roupa diversas vezes até encontrar a combinação perfeita, embora qualquer peça lhe caísse bem. No final, optou por uma calça social preta, sapatos de couro elegantes e uma blusa de seda cor-de-rosa que realçava sua aparência. Antes de sair, borrifou perfume em seu pulso e espalhou suavemente no pescoço, querendo estar impecável para o encontro com Namjoon.

— Estou lindo — Se admirou no espelho e olhou para as horas no celular — Cinco e vinte, preciso ir.

Entrou no carro novamente e dirigiu-se até a universidade. Foi direto para a sala que Namjoon dava aula, não havia ninguém lá. Ficou aguardando por alguns minutos. Estava eufórico, o coração a mil, iria ficar a sós com seu amado professor. Começou a ficar ainda mais nervoso. Um frio na barriga lhe veio instantaneamente quando viu Namjoon se aproximar.

— Uau, Jin! Está bonito! Já sei! Você vai em um encontro com alguma garota depois, não é? — Namjoon sorriu pra ele — Quem é a sortuda?

“Você é o sortudo” — Pensou Jin. 

— O-obrigado, eu costumo me arrumar assim mesmo. Não tem nenhuma… sortuda. 

Desceram até o estacionamento, e com um clique no alarme, Namjoon ativou o destravamento do carro. Poucos metros à frente, um veículo respondeu com um breve piscar de faróis.

— Eu sei que você está acostumado a dirigir carros esportivos, mas apesar do meu carro ser popular, está muito conservado e com a vistoria em dia, é seguro e confortável. Tudo bem pra você irmos no meu carro?

— Tudo ótimo, o seu carro é perfeito.

— Perfeito? — Namjoon riu.

— Eu quis dizer que é um bom carro — Jin sorriu sem graça.

Jin entrou no carro de Namjoon e, por alguns instantes, se viu paralisado pelo nervosismo. O interior do veículo emanava o inconfundível aroma do professor, uma mistura de amaciante de roupas, naftalina e café, um perfume que Jin adorava. Apesar da bagunça aparente, era uma bagunça que ele amava, pois refletia o mundo do professor. Pilhas de livros se acumulavam no banco de trás, pastas cheias de papéis, dois copos de papelão vazios que um dia contiveram café, e até uma sacolinha de lixo com a logo de um evento literário, vazia agora, pois os papéis amassados estavam espalhados pelo chão. Era o lugar perfeito para Jin.

Namjoon sorriu e balançou a cabeça quando viu que Jin estava mais interessado na bagunça do carro do que em colocar o cinto de segurança. Com um gesto gentil, ele puxou o cinto do banco de Jin e o encaixou. Nesse momento, estavam com seus rostos muito próximos, e seus olhares se encontraram de forma intensa.

— Pronto, está seguro agora, tenho que cuidar bem dos meus alunos.

Jin já estava nervoso, mas agora a situação ficou ainda mais intensa. Sua respiração se tornou descompassada, e suas mãos começaram a suar. Fazer contato visual tão próximo com Namjoon era uma experiência avassaladora para o seu pobre coração.

Namjoon girou a chave e olhou para trás para dar ré. Jin admirou seu pescoço, queria beijá-lo. Desceu o olhar para as mãos de Namjoon, agarradas ao volante, e seus braços com as veias saltadas. Começou a imaginar suas fantasias acontecerem ali mesmo no carro, estava perdido em seus pensamentos quando Namjoon o chamou. 

— Jin?

— O-oi?

— Você parece distraído, está tudo bem?

— Sim, está tudo ótimo.

— Posso pôr uma música?

— Claro, adoro ouvir música.

Namjoon ligou o rádio, uma seleção de músicas de seu pendrive começou a tocar, e a primeira da lista foi Best of You do Foo Fighters.

— Eu sei que vocês jovens costumam ouvir mais kpop, me sinto até um idoso ouvindo Foo Fighters.

— Apesar de ser meu professor, nossa diferença de idade não é tão grande assim. Oito anos não é muita coisa. Você tem 30 e eu 22. Você não é idoso. 

— De certa forma é verdade, mas me sinto meio velho as vezes — Namjoon sorriu — Mas se quiser eu troco de música. 

— Não! Eu amo essa música.

“E agora essa música vai me fazer lembrar de você”.

— Você também gosta?

— Sim, é uma letra linda, embora seja triste. Me faz pensar se alguém está tirando o melhor de nós e nos deixando vazios por dentro. 

— Me pergunto isso também — Namjoon suspirou com uma expressão cansada — Não entendo o porquê, mas algumas pessoas sugam nossas boas energias e já outras nos recarregam. 

— Espero ser a pessoa que recarrega — Disse Jin sem pensar, mas tal comentário fez Namjoon deixar por um momento sua expressão fatigada e dar lugar a um sorriso sincero. 

Não demorou nem meia hora e já chegaram à casa de Namjoon, que ficava bem próxima ao campus. Ao sair do carro, Namjoon pegou as chaves de casa e seguiu em direção à porta, com Jin ao seu lado, observando tudo ao redor para registrar cada detalhe da casa do professor.

— Entre, Jin. Sinta-se em casa.

Era uma casa pequena, com a sala integrada à cozinha, e parecia ter apenas um quarto. Apesar de simples, o ambiente era agradável e confortável.

— Jin, pode se sentar no sofá, aceita uma bebida?

— Estou bem, obrigado.

— Fique à vontade, antes de começarmos vou tomar um banho, estou suado, o dia hoje foi quente. Vou ser breve, já volto.

“Meu Deus, ele vai tomar banho. Não brinque com a minha imaginação Sr. Namjoon”.

Jin se sentou no sofá enquanto Namjoon dirigiu-se ao banheiro. Ouviu o chuveiro ser ligado e sua imaginação fértil começou a trabalhar.

“Droga, não posso ficar pensando nisso, já estou começando a ficar animado, e aqui não é a hora muito menos o lugar”

Ouviu o chuveiro ser desligado e rapidamente pegou uma almofada para esconder seu estado vergonhoso, já que tinha ficado daquela forma tão rápido, tudo por causa de um gatilho bobo como o barulho do chuveiro.

— Demorei muito? — Perguntou Namjoon entrando na sala sem camisa e secando os cabelos que ainda pingavam gotas de água que escorriam por seu tórax. Jin engoliu em seco, não conseguia parar de olhá-lo e muito menos disfarçar. 

“Ele só pode estar de brincadeira. Deve estar me provocando, não é possível uma coisa dessas. Esse idiota acaba com meu psicológico”.

— Algum problema se eu ficar sem camisa? Está meio abafado hoje.

— Não, imagina, sem problema nenhum.

“Só quero ver como eu vou sair desse sofá sem levantar suspeitas”.

Namjoon pegou seu notebook, alguns livros e os colocou sobre uma escrivaninha no canto de sua sala.

— Sente-se aqui Jin, vou explicar melhor sobre a matéria que você estava com dificuldade.

Jin se levantou sem se desgrudar da almofada e se sentou na cadeira o mais rápido possível. Namjoon estava em pé atrás dele, se inclinou para frente e envolveu seus braços ao seu redor, seus rostos estavam paralelos e bem próximos, ambos olhando a tela do notebook. Namjoon explicava algumas coisas, uma de suas mãos estavam sobre o touchpad e a outra sobre o teclado. Jin não conseguia escutar nada, estava concentrado demais em sentir o cheiro de shampoo em seus cabelos recém lavados. Respirava com dificuldade e tentava inútilmente controlar as batidas descompassadas de seu coração ansioso. Queria desesperadamente beijá-lo e quase o fez quando lentamente se aproximou de Namjoon, até que ouviu a porta abrir, o tirando completamente de seu transe.

— Ela chegou — Disse Namjoon com um sorriso.

— Ela quem?

— Ah sim, minha esposa, você vai adorar conhecê-la.