Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 14
As promessas de Song Wu


Notas iniciais do capítulo

Yunhe se encontra...

Chang Yi fica...

Song Wu promete...



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Yunhe comeu a refeição e tomou o medicamento obedientemente sem qualquer reclamação ou pedido sair dos seus lábios como acontecia antigamente porque desejava ardentemente conversar com Song Wu.

Porém, não podia fazer isso enquanto o seu carcereiro continuasse no local.

Ela queria gritar, esbravejar e delirar com fúria porque o tritão ainda não havia se retirado do recinto, algo que podia ser considerado incomum.

Afinal, sempre que terminava de tomar o medicamento, ele se levantava e saía pela porta, para depois, voltar a colocar todas as trancas mágicas que somente podiam ser abertas por aqueles que possuíam os tokens capazes de destrancar todos os selos.

Porém, por mais irada, aborrecida ou irritada estivesse no momento, nada demonstrava em seu semblante assim como fazia no Vale Demoníaco ao mesmo tempo em que mantinha uma conduta exemplar e conforme comparava a sua situação naquele momento e quando estava no Vale, preferencialmente na frente daqueles que detinham o controle e domínio da sua vida, a jovem conseguia restringir ao máximo o seu temperamento, personalidade, sentimentos assim como pensamentos desde que era criança, não permitindo que nada transparecesse para o bem dos seus amigos e por ela mesma.

A única diferença da sua situação atual e a que vivenciou no Vale do demônio é que a sua contenção e fingimento era para proteger Sanyue e Li Shu, além de manter oculto a existência de Luo Jinsang. No reino do Norte era para proteger Song Wu.

Afinal, ela não duvidava que se o seu carcereiro tomasse conhecimento de que Song Wu a tratava como amiga e que ambas conversavam, ele iria transferi-la para outra local ao mesmo tempo em que colocaria outra no lugar dela que entraria e sairia muda assim como as outras criadas porque não aceitaria que Yunhe tivesse interação com ninguém além dele que por sua vez, era restrita.

Pela sua amiga, a jovem se calava e se restringia como fez tantas vezes no passado. Nenhuma reclamação ou desrespeito devia sair dos seus lábios e gestos.

A mestra de demônios confessava que era estranho retornar a esse velho hábito considerando que fez isso a sua vida inteira e acreditava que esse sentimento era porque por seis anos ela não precisou fazer isso, com exceção de fingir não se importar com Chang Yi quando a sua torturadora comentava sobre ele e o mais irônico de tudo era que o único lugar em que teve a liberdade de agir e falar o que desejava, mesmo que enfrentasse as consequências como as torturas brutais de Shunde, embora ela iria torturar Yunhe de qualquer forma, foi na prisão do Grão-mestre porque ali, nas terras do Norte após conhecer Song Wu, ela precisou restringir brutalmente a sua personalidade e prender a sua língua enquanto que precisava manter o seu rosto impassível, a fazendo relembrar vividamente da época que viveu no Vale demoníaco.

O problema era que ele podia sentir os seus sentimentos e por causa disso era necessária uma supressão maior para reduzir as sensações que a tomavam enquanto sabia que seria impossível suprimir por completo por mais que treinasse esse controle.

Ambos saem dos seus respectivos pensamentos com as batidas na porta que fez Chang Yi falar ao virar o rosto levemente para trás:

— Entre.

Era um dos servos do palácio que entra e que se curva a ele, falando respeitosamente:

— Beijing-Zunzhu, Kongming-daishi (daishi – mestre ou grande mestre, além de ser usado como referência para alguém que possuí grandes realizações em uma determinada área fazendo os outros julgarem que essa pessoa é poderosa) acabou de chegar e deseja conversar com o senhor. Ele está no escritório.

— Fale que em breve eu estarei com ele.

— Sim, Zunzhu. – O servo se prostra novamente antes de se retirar.

Chang Yi suspira e se levanta, com os seus olhos passando por Yunhe e ao ver que ela mostrou brevemente felicidade embora tenha sido um momento fugaz, além de ter sentido isso pelo vínculo entre eles, os seus punhos cerram enquanto era tomado pela tristeza e raiva por ver que a sua presença era indesejada, algo que não ocorria antes que ele a marcasse.

O jiaoren nunca se arrependeu tanto de um ato quanto naquele momento ao marcar alguém a força porque acreditava que foi a marca que mudou a conduta e comportamento dela, com ele vendo a antiga Yunhe do Vale demoníaco na sua frente quando ela ficava em frente ao mestre do Vale demoníaco e de outros mestres de demônios. Ou melhor, não a antiga, mas, uma versão ainda mais restrita.

Então, o tritão sai e após se certificar que o seu carcereiro saiu, um sorriso de alegria brota no rosto dela e quando a porta é aberta novamente, revela Song Wu que entra, a cumprimentando com o seu usual sorriso para em seguida, ficar ao lado de Yunhe.

— Eu fico feliz que o seu carcereiro foi embora. Será que ele não tem tanta ocupação quanto eu esperava que ele teria? Eu sempre pensei que um reino exigia muita atenção.

— Eu também sempre achei isso. Eu acho estranho ele ficar longe dos assuntos do reino.

— É estranho, né? Ainda mais com a perspectiva de uma guerra.

— Com certeza. Bem, considerando o quanto é obstinado, ele irá continuar seguindo obstinadamente as regras que fez a si mesmo em relação a mim ao fiscalizar as minhas refeições e medicamentos.

A sua amiga finge surpresa e bate uma vez as palmas das mãos uma na outra enquanto abria um imenso sorriso, falando animadamente em seguida:

— Antes que eu esqueça! Vamos ao banheiro.

A mestra de demônios fica confusa, mas, não questiona e com a ajuda dela, ela se levanta e ambas caminham até o local, para depois, sentarem no chão frio após fecharem hermeticamente a porta.

Yunhe olha com curiosidade para a sua amiga enquanto a observava revirar as mangas da roupa até que retira um pequeno pacote envolto em pano, para depois, estender para a jovem que passa a sentir um cheiro delicioso em virtude dos seus sentidos aprimorados e quando abre o objeto, os seus olhos ficam emotivos. Eram bolinhos doces e pareciam deliciosos. Para alguém que comia sempre a mesma comida todos os dias, aquela era a visão do paraíso e os seus sentidos apurados pela sua metade demoníaca a fizeram salivar.

— Desculpe trazê-la para o banheiro. Mas, os doces deixam um aroma persistente no ar. Após comer, você deve tomar um banho para dispersar o cheiro. Por sorte, as criadas que limpam o local são humanas. Mas, o tritão é um demônio. Além disso, pode surgir um demônio entre as criadas para substituir alguma delas. É bom nos precavermos. Eu também procurei decorar a escala de limpeza dessa prisão.

— Verdade. Eles podem sentir o cheiro.

— Pode comer tranquilamente. Eu vou ficar de olho na sua orelha. Se eu ver ele acessando a marca, eu irei avisá-la.

— Obrigada.

Ela pega o embrulho enquanto brotava lágrimas de gratidão em seus olhos ao olhar do doce para Song Wu que finge ficar sem graça enquanto comentava:

— Nunca imaginei que alguém ficaria assim por alguns doces.

— Faz seis anos que não provo um doce e agora, somente provo o amargor. Por isso, eu chorei de felicidade. O cheiro está maravilhoso e com certeza será imensamente saboroso.

— Eu vou trazer pequenas porções de comida diferentes do que você come, assim como doces.

— Muito obrigada.

Ela abraça carinhosamente Song Wu que afaga as costas dela e enquanto Yunhe comia lentamente, buscando saborear minunciosamente cada mordida, com as suas papilas gustativas se sentindo no céu, a mulher pergunta fingindo curiosidade em seu semblante:

— Você poderia me contar o que você fez para esse tritão odiar você dessa forma e onde você estava antes de vir para cá?

Yunhe suspira e conta o que ocorreu, ocultando a verdade do que fez, com Song Wu ouvindo atentamente, para depois, falar:

— Eu não acredito nos motivos que você deu para o seu ato. Eu acredito que o verdadeiro motivo foi para salvá-lo de ir para a bastarda da Shunde. A fama dela a precede.

Ela fica surpresa e depois, fala, terminando de engolir o pedaço de doce que estava na sua boca:

— Você me conhece a pouco tempo.

— Sim. Mas, qualquer um que não é um cego movido por vingança ou por preceitos consegue ver que a história que você contou é estranha, além de possuir vários pontos que não se encaixam na narrativa. Além disso, conheci várias pessoas cruéis em minha vida e você não é um deles. Talvez, seja a sua aura ou algo assim. O que eu vejo é alguém capaz de se sacrificar sem pestanejar. Shunde é uma vadia bastarda. O tritão sofreria nas mãos dela, além de ser humilhado constantemente. O seu ato salvou ele desse destino, mas, ao mesmo tempo a condenou. Eu ouvi rumores sobre o que eles fazem nas prisões e considerando que você tirou o que a bastarda mais desejava, eu imagino que ela a torturou por retaliação como qualquer pessoa mimada faz quando é privada daquilo que mais deseja pelos atos de outra pessoa. Se o tritão não fosse cego pelo ódio somaria tudo o que vivenciou e com certeza, chegaria no mesmo resultado que o meu. Shunde é uma vadia mimada e ele era o prêmio que ela ansiava ardentemente. Uma vez que você o tirou dela, o que ele acha que a bastarda faria com você ao possuir acesso irrestrito a sua prisão? Além disso, que vantagem você levaria o tirando dela? É tão óbvio que somente um estúpido não veria isso e eu não sou uma estúpida como esse jiaoren é.

Yunhe fica surpresa e depois, sorri, sabendo que era impossível negar as palavras dela porque a sua nova amiga viu através dos seus atos enquanto desconhecia o fato de que a mulher a sua frente tinha meios de saber tudo o que ocorreu e o que ocorreria.

A mestra de demônios concordava com o que foi dito porque qualquer um que não fosse cego ou estúpido encontraria essas incongruências e ao pensar em Chang Yi, ela fica aliviada pelo fato dele estar tão tomado pelo ódio que não fez essa associação ou investigação mais profunda.

Afinal, ela estava morrendo e se a vingança de Chang trouxesse satisfação para ele, que assim seja. Falar a verdade não adiantaria nada e Yunhe não podia se permitir ser uma distração porque no Norte havia muitos que dependiam dele e considerando a loucura e crueldade de Shunde, assim como o desejo do Grão-mestre de se vingar do mundo, a jovem acreditava que o Norte, em breve, seria o único refúgio que restaria. Era questão de tempo para a princesa tomar o poder do seu irmão que atualmente era o imperador porque graças ao apoio do homem considerado como uma lenda e o mais poderoso do mundo, além de intocável, Ru Ling detinha mais poder do que o próprio irmão.

A jovem até confessava que estava surpresa por Shunde não ter tomado o poder ainda embora soubesse que era apenas uma questão de tempo.

Afinal, alguém com o caráter dela era incapaz de amar verdadeiramente alguém e muito menos a sua família. Talvez, o que faltava era um último empurrão em sua vida para ela fazer o seu movimento e acabar com a vida do imperador de Dacheng, mesmo ele sendo o seu irmão.

O problema era que se isso acontecesse, a corte entraria em um estado caótico e tudo o que um reino em guerra não precisava era de uma corte imperial caótica.

Ela sai dos seus pensamentos e segura ambas as mãos da sua amiga após colocar a comida no canto enquanto implorava:

— Por favor, não conte para ninguém. Eu mesma nunca revelei a ele por mais que ele me perguntasse o que ocorreu há seis anos, atrás.

— Não se preocupe. Eu não vou contar. Afinal, somos amigas. Quem cabe contar a verdade ou não é você.

Yunhe fica aliviada pela promessa e voltar a saborear a comida.

Então, ela termina de comer os doces e ambas conversam alguns assuntos até que param de falar quando Song Wu vê que a marca começa a brilhar, com a mulher fazendo um gesto e depois, ficando invisível enquanto a mestra de demônios se levantava e usava selos para preparar um banho, com Wu percebendo que a marca parou de brilhar quase que instantaneamente.

— Ele parou de observá-la. Pelo visto, ele não é um pervertido.

— Eu fico feliz por ele não ser um pervertido, além de ter se mantido muito reservado e um imenso defensor do código de etiqueta entre homens e mulheres mesmo após tudo o que ocorreu. É um grande alívio saber que apesar dele ter mudado, ainda resta algo do antigo Chang Yi. Confesso que eu estava protelando tomar um banho por receio dele me ver nua porque no dia que eu fui retirada da prisão do grão-mestre, ele agiu sem o autocontrole e restrições do passado. Portanto, eu não sabia até onde ele mudou e o que ainda restava do antigo Chang.

— Ninguém pode culpa-la por agir assim considerando que ele pode observá-la, não importando onde esteja, além de sentir o que você está sentindo, embora agora você tenha meios adicionais para ajudar a impedi-lo de sentir com plenitude. Bem, eu tenho que ir. Eu vou falar com Luo Jinsang e marcarei um dia para que ela possa visita-la.

— Muito obrigada e até mais tarde.

— Até mais tarde. Cuide-se.

Ocultando a trouxa de pano agora vazia em sua manga, ela se retira, pegando em seguida a cesta onde foi trazida a comida ao mesmo tempo em que recolhia a louça suja para levar de volta à cozinha do palácio do Norte enquanto Yunhe voltava a preparar o seu banho para remover qualquer odor doce em seu corpo e no ambiente.

Afinal, se o seu carcereiro sentisse o cheiro, descobriria sobre Song Wu e ela voltaria a ficar sem qualquer contato com o mundo exterior ao ser privada de qualquer interação, além de não poder mais provar comidas gostosas.

Longe dali, conforme caminhava em direção ao seu escritório, ele ignorava as demônias que o olhavam com desejo, assim como as humanas, com algumas se aproximando quando tinham algum relatório para informar quando eram servas ou subordinadas dele enquanto era visível o fato de muitas delas procurarem deixar suas características físicas a mostra, fazendo com que ele se afastasse o quanto antes enquanto suspirava porque antes de marcar Yunhe, o jiaoren não se interessava por outras fêmeas e agora, com a marca, elas eram completamente desinteressantes e sequer podiam atiçar a sua libido que era reservada exclusivamente a quem ele marcou.

Inclusive, mesmo que ficassem nuas e dançassem eroticamente, elas não iriam arrancar qualquer reação dele. O vínculo era profundo e muito poderoso para quem marcava desde que fosse um demônio ao mesmo tempo em que não influenciava na libido e desejos dos humanos porque eles não eram influenciados ao contrário dos demônios que sentiam todo o peso e influência do vínculo.

Além de ter que desviar das fêmeas, ele precisava recusar a cada dois dias os pedidos de Luo Jisang para ver Yunhe enquanto precisava ignorar também os pedidos da Fênix de Jade para vê-la, com a lendário demônio começando a solicitar essas visitas desde o dia anterior, com o tritão sabendo que ela fazia esses pedidos porque Jisang havia pedido a ajuda dela.


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